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Os sambas de 1986

Os sambas de 1986

A GRAVAÇÃO DO DISCO OFICIAL - Após 18 anos de serviços, a recém criada Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA) jogou a Top Tape para escanteio. A tradicional gravadora realizava os discos anuais de sambas-enredo desde 1968, quando, na ocasião, fora registrado o "Festival de Sambas-Enredo". A LIESA, que permitia às próprias escolas a total organização dos desfiles, assinou contrato com a gravadora BMG e criou um selo próprio: a Gravadora Escolas de Samba. A partir de 1986, o disco oficial passaria a ser organizado pela BMG/RCA. Sua capa está acima, à esquerda, com a destaque em cima do carro alegórico, mais o reclame da Brahma no canto inferior direito. Aliás, foi a primeira vez que a capa do disco de samba-enredo carregou consigo uma propaganda. Porém, cinco das quinze escolas que desfilariam no Grupo Especial em 1986 preferiram participar do disco do Segundo Grupo, que seria organizado pela velha Top Tape, visando obter mais lucros. As cinco agremiações que rejeitaram a BMG foram Caprichosos, União da Ilha, Estácio, Salgueiro e Unidos da Tijuca. O disco da Top Tape (cuja capa está acima, à direita, mostrando o casal de mestre-sala e porta-bandeira da Caprichosos, a "campeã do povo" conforme o escrito no canto inferior direito da capa) também contou com cinco faixas de escolas que desfilariam no Acesso-86: São Clemente, Unidos de Lucas, Santa Cruz, Engenho da Rainha e Em Cima da Hora. Portanto, quatro escolas do Acesso-86 tiveram de incluir seus sambas-enredo no disco do Terceiro Grupo: Jacarezinho (que seria a campeã), Independentes de Cordovil, Arranco e União de Jacarepaguá. Ao todo, foram nove escolas que desfilaram no Segundo Grupo em 1986. A qualidade da gravação do disco oficial de 1986, o primeiro produzido pela BMG/RCA, é perfeita. Com uma bateria bem cadenciada e executada de uma maneira que permita que todos os instrumentos sejam escutados, os dez sambas presentes no álbum aparecem maravilhosamente bem, com a bateria dando um verdadeiro show. Ela já desponta marcante na primeira passada do samba, onde o intérprete canta acompanhado do coral. Nessa parte, sua voz se sobressai bem mais. Mas, a partir da segunda passada, as intensidades da bateria e do coral crescem, proporcionando um verdadeiro espetáculo. Aliás, 1986 é o primeiro ano em que, no disco, é possível ouvirmos cada um dos instrumentos da bateria, como caixas, surdos e repiques. É bom lembrar que tivemos, em 1985, um total clima de gravação ao vivo e, até o disco de 1984, a bateria das gravações possuía um formato diferente, com um som mais distante, quase produzido por completo por tamborins, e uma participação destacada dos agogôs. Sobre a safra de 1986, é bem qualificada e, com o definitivo fim da ditadura militar, a maioria das escolas escolheram sambas de enredo animados, quase sempre incrementados com protestos sociais, para desfilar. Ou seja, 1986 foi o ano dos sambas-protesto. Portela, Vila Isabel, Caprichosos e Unidos da Tijuca aparecem com sambas mais escrachados, de versos polêmicos que serão debatidos ao longo dos comentários. A minha nota sobre a gravação do disco da Top Tape (juntamente com a minha visão dos cinco sambas do Especial gravados nele) está localizada depois do comentário sobre o samba da Cabuçu. NOTA DA GRAVAÇÃO DO DISCO DA BMG/RCA: 10 (Mestre Maciel).

Em 1986, tivemos dois LPs para as escolas do Grupo 1.A. Enquanto o principal, que marcava a estréia de Jamelão no disco oficial das Escolas de Samba, era produzido pela RCA e tinha uma sonoridade mais moderna - uma gravação que serviu de modelo para os anos seguintes - o outro, da TOP TAPE, e que também continha escolas do Grupo 1B, tinha uma sonoridade retrógrada, muito inferior à excelente produção do ano anterior. Por sorte, os melhores sambas ficaram no LP da RCA, que foi o primeiro da história a ser lançado em CD, para o mercado francês. A safra é muito boa, apesar de poucos sambas terem se tornado antológicos. Interessante é notar como o clima dos sambas era totalmente diferente do que escutamos hoje em dia - eram sambas leves, frutos de enredos criativos. Nada de letras estapafúrdias. Mesmo quando o enredo era indigesto, como o da Imperatriz, que tratava de "bandeiras", os sambas eram feitos para se sustentar por si só, não eram apenas trilha sonora para os desfiles. Por isto, os discos eram muito mais interessantes, vendiam mais e os desfiles eram melhores. Cada escola tinha um estilo próprio, os sambas não se pareciam entre si. Interessante notar como esta safra, que nem é tão sensacional assim, é absurdamente superior a de 2006. Em 20 anos, a qualidade artística do samba carioca caiu demais e só quem viveu a época pode entender isso. Em 1986, os jurados julgavam o samba no pé e a resposta do público. O componente podia brincar. A criatividade era recompensada. Em 2006, os jurados julgam apenas se a escola seguiu o manual da Liga. O povo ia ver o desfile para se divertir. Hoje, vai para comentar as escolas do ponto de vista técnico. O resultado está aí, só não vê quem não quer. NOTA DA GRAVAÇÃO: 8,5 (João Marcos).

Para o ano de 1986, houve dois discos distintos para as escolas de samba do Primeiro Grupo. O primeiro álbum, lançado pela RCA, continha os sambas de dez escolas, enquanto o segundo, produzido pela tradicional Top Tape, continha os das cinco restantes. Em ambos os LPs, tivemos a fórmula básica de gravação, com as baterias bastante audíveis e o coro entrando com força total na segunda passada de cada faixa. Porém, a diferença entre a qualidade destas gravações é indiscutível. O disco da RCA é excelente, possui um ar de leveza fantástico e as baterias, com destaque aos agogôs, tamborins, pandeiros e repiques, são incrivelmente afinadas, em equilíbrio com o tom de voz do intérprete de cada faixa. Já o disco da Top Tape nem de longe lembra a gravação histórica do ano anterior, pois o "clima ao vivo" de 1985 foi chutado para escanteio, substituído por baterias pesadas, baseadas nos surdos e cavacos, que praticamente empurram os sambas "com a barriga", arrastando-os com as interpretações arcaicas das pastoras. A safra, no geral, é inferior a de 1985, porém temos vários belos sambas, feitos como manifestação popular e não como mera trilha sonora de desfile, como na atualidade. Mangueira e Império Serrano apresentam os melhores sambas do ano. NOTA DA GRAVAÇÃO DA RCA: 10 (Gabriel Carin). NOTA DA GRAVAÇÃO DA TOP TAPE: 6 (Gabriel Carin).

Não vou usar o espaço para encher lingüiças e ficar enumerando fatos sobre a produção dos LPs da RCA e Top Tape, já que os colegas acima transcreveram com notória exatidão. Fiquei apenas desapontado com a equipe de arte e fotografia. Poxa!!! Fico imaginando a cara de decepção dos sambistas e colecionadores - principalmente da Mocidade - que na época compraram o LP do Grupo Especial (RCA) e observaram na capa a deslumbrante destaque Beth Andrade ao invés de enfatizarem o abre-alas por inteiro da agremiação de Padre Miguel, a campeã de 1985. A safra de 1986 é de qualidade razoável. Algumas agremiações optaram em apresentar os "sambas-protestos" - como bem denominou Mestre Maciel - que a meu ver tirou um pouco do brilhantismo da safra, já que pegaram pesado nas críticas. Pelo menos três agremiações se destacaram em 86: os dois Impérios (o Serrano e da Tijuca) e a campeã Mangueira. NOTA DA GRAVAÇÃO RCA: 8 (Luiz Carlos Rosa).

Com muita satisfação, eu vou comentar a safra de 1986 do carnaval carioca. Para começo de conversa, o João Marcos falou tudo o que eu penso sobre os hinos daquele ano: uma safra que não é tão sensacional assim, mas, muito superior às ridículas safras do século 21, que com raras exceções, são de jogar fora. No LP daquele ano, nós temos os fantásticos sambas da Mangueira e dos dois Impérios. Já nas safras atuais, os hinos são quase todos japoneses, com as mesmas estruturas e soluções de sempre. Na década de 80, os sambas se sustentavam por si só e hoje são meras trilhas sonoras para os desfiles.  As obras daquela época eram muito melhores do que quase todas as bobagens professorais dos tempos “modernos”. Na era da máquina de escrever, os os discos eram mais agradáveis, vendiam muito e os desfiles eram bem melhores. Em 1986, o samba era uma manifestação popular e não apenas um hino que descreve o que a escola vai levar para a avenida. Sobre o LP, o pessoal do Sambario já fez um relato mais preciso sobre isso. (Daniel Benfica)

1A - MOCIDADE - Belíssimo samba da agremiação de Padre Miguel! Seus dois refrões deliciosos têm uma presença marcante e as demais partes possuem melodias bem variadas e qualificadas, além de uma bela letra. Samba-enredo muito elogiado e reconhecido pelos bambas. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel).

Samba leve, tem como momento chave o bom refrão de cabeça e o final da segunda parte, que lembra o estilo do samba do desfile campeão do ano interior. A letra conta bem o enredo, mas é direta demais em algumas partes, muito didática. Em certos momentos, o estilo da letra muda bruscamente, como se fosse dois sambas distintos. O refrão do meio não é muito feliz, apesar de ser um alívio melódico entre as partes. É um samba que tem a cara da Mocidade dos anos 80, apesar de ser bem inferior ao de 1985. A interpretação de Ney Vianna é brilhante, dando vida a um samba morno. NOTA DO SAMBA: 8,8 (João Marcos).

A campeã de 1985 não teve muito a oferecer do ponto de vista sonoro para 1986. "Bruxarias e estórias do arco da velha", obra de Tiãozinho da Mocidade, grande vencedor de sambas-enredo na agremiação, possui uma letra ótima, que conta o enredo com clareza e descontração, sem entrar em detalhes supérfluos. A melodia, no entanto, insiste em alternar entre belos momentos e outros nem tão inspirados assim, passando um certo ar de insossidez em suas primeiras audições. O samba carece de algo que cative, de fato, o componente da escola, como, por exemplo, os valentes refrões de "Ziriguidum 2001". De qualquer modo, o hino de 1986 tem como seus ápices melódicos o romântico refrão de cabeça e o trecho "Tantos mistérios ao redor/Que medo nas estórias da vovó...". Bom samba, embora não seja grande coisa. NOTA DO SAMBA: 8,3 (Gabriel Carin).

"Bruxarias e Estórias do Arco da Velha" é um bom samba, mas está longe, mas muito longe mesmo das grandes obras apresentadas pela verde e branco de Padre Miguel ao longo da história. A primeira parte é sensacional, tanto em letra - com sacadas inteligentíssimas - quanto em melodia. Destaco o verso "Padre Miguel/tua estrela minha guia..." excelente, melodicamente falando. O grande problema da obra é quando surge o refrão central "Esconjuro, pé de pato/mangalô três vezes..." que não é explosivo. Tanto que a segunda parte torna-se chata, apesar da letra contar o enredo com mais precisão. A sensação, pelo menos na minha opinião, é de torcer para acabar a segunda parte para entrar logo no embalo do refrão principal "Ô luar clareia/clareia deixa clarear...". No desfile, o samba não empolgou, talvez o maior motivo para a Mocidade não ter conquistado o bicampeonato. NOTA DO SAMBA: 8,7 (Luiz Carlos Rosa).

Um bom samba, mas muito inferior a outras obras da escola de Padre Miguel. O hino é leve e tem um bom refrão de cabeça, mas sinceramente, o hino carece de momentos mais marcantes e apenas a interpretação de Ney Viana faz com que a obra ganhe vida. A letra descreve bem o enredo, mas é didática demais em algumas partes. Para completar, o refrão do meio não é muito feliz. É um mero coadjuvante na safra de 1986. NOTA DO SAMBA: 8,8 (Daniel Benfica). Clique aqui para ver a letra do samba

2A - VILA ISABEL - Um samba-enredo que possui o chamado "Padrão David Corrêa de Qualidade", apesar de, neste caso, a última palavra não combinar tanto assim. Tal padrão indica um samba pra cima, juntamente com monossílabos espalhados com o intuito de fornecer animação à sua melodia. Mas o samba da Vila de 1986 tem monossílabos em demasia. E a letra é muito coloquial, parece obra da famigerada e odiada dupla Lourenço e Adalto Magalha, autores dos recentes e criticadíssimos sambas da Tradição. Ela contém trechos perseguidos pela crítica como: "Será, ô será/Que o samba ginga na voz Brasil/Mas deixa isso pra lá/E vá na pura no barril" e, principalmente, "Não venha agora me sacanear", vocábulo cuja presença era, até então, inexistente numa letra de samba-enredo. Samba, aliás, muito inferior ao anterior da Vila, também composto por David Corrêa. E tal composição também não é nem sombra das obras-primas que o compositor fez pra Portela. Sua boa melodia, porém, faz com que sua nota não seja tão baixa assim. NOTA DO SAMBA: 8,8 (Mestre Maciel).

Apesar de não ser o desastre apregoado por muitos, e de ter trechos excepcionais, pela primeira vez David Correa faz um samba apenas bom, mas que não é arrebatador. É leve, com versos simples e com letra trazendo diversas imagens poéticas. A melodia tem a cara do compositor e funcionou bem no desfile. No entanto, pela primeira vez, o samba parece forçado. Depois de seis anos usando a mesma fórmula, com sucesso inquestionável, ficou claro que, desta vez, ele teve de se utilizar de monossílabos para completar trechos vazios na letra. O desgaste ficou evidente. Mas o samba é agradável e superior a quase tudo feito neste ano de 2006. NOTA DO SAMBA: 8,6 (João Marcos).

Eu particularmente assumo que não faço parte da ladainha generalizada realizada contra este samba-enredo dos mestres David Correa e Jorge Macedo. Muito pelo contrário, considero-o excelente, um dos maiores destaques do LP. A letra, extremamente interpretativa, é bastante simples e possui alguns momentos poéticos de grande beleza, como os versos “Já joguei minha tristeza, iaiá/Nas ondas de prata do mar” ou “Ô ô ô ô ô ô/Canto a saudade que ficou, ficou”. Não há enredo algum sendo narrado aqui, somente descrições sutis das diversas imagens apresentadas pela escola em seu desfile. A melodia leve consegue assimilar com perfeição lirismo com irreverência. Os refrões não são oba-obas, porém grudam na memória de maneira exemplar. Infelizmente, a Vila Isabel enfrentou sérios problemas de evolução na avenida e amargou um 10º lugar, apesar do belíssimo trabalho de Max Lopes. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Gabriel Carin).

Mais um samba com a cara e focinho do grande compositor David Corrêa. A letra é extremamente simples, porém muito inteligente - apesar de particularmente não simpatizar e achar os trechos "não venha agora me sacanear..." e "mas deixa isso pra lá/ e vai na pura do barril", muito ousados e sem necessidade de constarem na obra. A segunda parte possui versos curtíssimos. O refrão central "É passo, é pó é paetê/ pro rei rodar/o lelê/mas o mundo é pra eu brincar" é delicioso, provocando assim uma insana vontade de cantarolar. Entretanto, a parte mais feia da obra é o desprezível refrão principal "Ô nãnã ê okê". Enfim, um samba razoável e muito inferior aos dois anteriores apresentados pela Vila Isabel. NOTA DO SAMBA: 8,8 (Luiz Carlos Rosa).

Um samba muito malhado pela critica, mas muito superior a 90% dos hinos atuais. David Correa é um gênio e o grau de exigência é maior por parte dos críticos, mas a obra do compositor para a escola de Noel tem o seu valor.  Sobre a composição em si, ela tem monossílabos em demasia para completar trechos vazios da obra, mas a melodia é boa, a letra é simples, leve e traz diversas imagens poéticas. O samba é agradável, mas está longe de outras obras antológicas dos mestres. NOTA DO SAMBA: 8,6 (Daniel Benfica). Clique aqui para ver a letra do samba

3A - PORTELA - 1986 marcou a despedida da Portela de seu mais célebre intérprete: o imortal Silvinho do Pandeiro. Ele ainda voltaria em 1989, na Império Serrano. O samba-enredo portelense de 1986, considerado também um samba-protesto, possui uma melodia bem animada. Sua letra é bem escrachada (com direito a um verso que diz que o patrão é vacilão), fugindo totalmente da característica portelense de sambas de letra e melodia encantadoras. O refrão principal é marcante: "No país da bola, só deita e rola quem vem com dólar". O refrão central ("Vai meu time, arrebenta/Até parece o escrete de setenta") não combina com o enredo, mas, como estávamos em clima de Copa do Mundo (que aconteceria no México meses depois), o futebol marca presença nos refrões. A animada melodia do samba é muito qualificada, com excelentes variações. Destaco a primeira parte, principalmente a partir do verso "Nessa noite eu vou/Fazer da dor minha alegria...". Muitos bambas detestam o hino portelense de 1986, mas eu, particularmente, tenho adoração pelo mesmo. Quando toca aqui em casa, a festa fica garantida. Ah, e a gravação do samba proporciona um dos maiores shows que uma bateria de escola de samba já realizou num álbum de carnaval. O pandeiro na segunda passada do refrão principal e a empolgadíssima arrancada da bateria a partir da segunda passada do samba são momentos que eu considero um dos melhores da história dos discos de sambas-enredo. Não é a toa que a bateria da Portela foi Estandarte de Ouro em 1986... NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel).

Um samba único na história da Portela, fruto de um enredo criativo e interessante. Infelizmente, apesar de bem construído e de ter ótimas variações melódicas, peca na letra, muito datada. Até mesmo o fantasma da seleção da Copa de 70, que atormentou as Seleções Brasileiras posteriores que não conseguiam vencer o mundial, está presente no samba. Enfim, é um samba característico da segunda metade dos anos 80, muito bom, mas preso a uma época. NOTA DO SAMBA: 8,5 (João Marcos).

O genial enredo crítico de Alexandre Louzada, retratando inúmeros sonhos impossíveis de serem realizados no Brasil, gerou um samba bastante funcional ao desfile, que, ainda assim, é de um nível artístico extraordinário. A letra é imprenscidivelmente inteligente, conseguindo relacionar com coesão fantasia e realidade. A obra cita de maneira poética, porém bem-humorada, o que seria, na visão de um sonhador otimista, o Brasil perfeito, no qual o Nordeste seria uma terra farta, o índio teria seus direitos garantidos, não haveria dívida externa, entre outros devaneios. O ponto forte do samba, contudo, é sua melodia, talvez a mais rica em variações do ano. Algumas passagens são de uma beleza fantástica, como o quase inacreditável trecho "Deixa Morfeu me levar/Nos seus braços, sonhador...". Sambaço! NOTA DO SAMBA: 9,5 (Gabriel Carin).

A Águia apresentou um enredo absolutamente interessante em 1986. Em seu segundo ano pela Portela, Alexandre Louzada criou um tema criativo que apresentava um Brasil novo em sonhos delirantes. Apesar da letra extensa, principalmente na primeira passada, o belo samba composto por Ary do Cavaco e parceiros possui linguagem satírica, repleta de gírias de época, pouco comuns em sambas portelenses. O ponto alto da obra é, sem sombras de duvidas, a sua extraordinária melodia, com variações tão ricas de deixar o queixo caído. É de se destacar a entrada da bateria na segunda passada, aliada à magistral interpretação de Silvinho do Pandeiro, deixando a faixa portelense viciante. E olha que, equivocadamente achava o sambão mediano!! NOTA DO SAMBA: 9,2 (Luiz Carlos Rosa).

Um enredo muito criativo e interessante do carnavalesco Alexandre Louzada gerou um samba de ótimas variações melódicas e uma letra inteligente que mostra a visão de um Brasil que seria perfeito. Enfim, é um hino bem construído e a bateria da Portela deu um show no desfile. O grande senão é que ele é muito datado. Apesar disso, a obra é muito boa. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Daniel Benfica). Clique aqui para ver a letra do samba

4A - IMPÉRIO SERRANO - Clássico imperiano! Uma letra bem inspirada aliada a uma grande melodia só podia dar num samba Estandarte de Ouro. Algumas expressões são repetidas para fornecer animação, o que qualifica ainda mais a melodia. É mais um samba-protesto, a marca dos hinos de 1986. Conforme o meu amigo Lucas Calvin, o refrão central do samba "Me dá, me dá, me dá o que é meu/Foram vinte anos que alguém comeu" fora cantado pela torcida do Vasco para provocar os flamenguistas na decisão da Taça Guanabara de 1986, vencida pelo bacalhau dois meses depois do carnaval. Porém, o Flamengo abocanharia a Taça Rio, bateria o Vasco na final e se sagraria campeão carioca naquele ano. Talvez por isso, o refrão central do samba-enredo nunca mais fora ecoado no Maracanã... NOTA DO SAMBA: 9,5 (Mestre Maciel).

Do ponto de vista técnico, o desfile do Império foi o melhor de 1986. O samba é o vencedor do Estandarte de Ouro num ano muito equilibrado. Enredos como "Eu Quero" possibilitavam obras assim, que não serviam apenas para o desfile - são verdadeiras pérolas da música popular brasileira, possuem um caráter atemporal e transcendental que os sambas atuais não possuem. O andamento cadenciado, aliado à interpretação fenomenal de Quinzinho, torna este samba um colírio para os ouvidos. Talvez tenha faltado o título para colocá-lo na lista dos grandes sambas da história, mas é sem sombra de dúvidas, um dos melhores da década. NOTA DO SAMBA: 9,9 (João Marcos).

Estandarte de Ouro indiscutível! "Eu Quero", enredo espetacularmente desenvolvido pela dupla Renato Lage e Lílian Rabello, rendeu um desfile excepcional, irrepreensível em todos os quesitos, o que inclui o de samba-enredo. A obra absorveu exatamente o espírito de leveza proposto pelo tema, servindo como um verdadeiro hino de manifestação popular pós-ditadura. A letra foi trabalhada de forma suave e fica evidente em qualquer verso do samba que ele não está ali a fim de meramente "encher lingüiça". Cada frase, cada mínima palavra, tem a intensão de retratar o estado emocional dos compositores perante o enredo. Portanto, além de servir de trilha sonora para o espetáculo imperiano, a obra possui um significado sentimental muito maior que os então 90 minutos de desfile permitidos pela Liga. A melodia pega carona com a beleza da letra e consegue prender o ouvinte pelo seu lirismo e simplicidade. Obra-prima da MPB! NOTA DO SAMBA: 10 (Gabriel Carin).

A pedrada do ano!!! E que pedrada!!! "Eu Quero", enredo que fala sobre a esperança e os desejos de um mundo melhor em todos os sentidos, é um dos melhores sambaços da história da escola e logicamente do nosso carnaval. Simplesmente fantástica a letra, expondo emoção em cada verso, em cada estrofe. Incrível como os compositores Aluizio Machado, Luiz Carlos do Cavaco e Jorge Nóbrega estavam inspiradíssimos ao escreverem essa obra-prima. Os três refrões são de arrepiar os pêlos do gato, principalmente o extraordinário "Quero que meu amanhã (meu amanhã)/seja um hoje bem melhor (bem melhor)/uma juventude sã/com ar puro ao redor". A melodia é verdadeiramente hipnótica, com riquíssimas variações, causando impacto no ouvinte. E a atuação do intérprete Quinzinho é belíssima. Na minha opinião, o último sambaço antológico da verde e branco da Serrinha - evidentemente não incluindo a reedição de "Aquarela Brasileira" de 2004. NOTA DO SAMBA: 10 (Luiz Carlos Rosa).

A letra começa e termina assim: Vem, meu bem, vem meu bem; sentir o meu astral; hoje estou cheio de desejos; quero lhe cobrir de beijos, etcétera e tal. Algo que parece muito comum para o Carnaval, querer alegria. Até aí, o samba conta unicamente com a força do bumbo ao fundo e do puxador Quinzinho inesquecível. Então, começa a genialidade de uma das letras mais bonitas - e provocadoras - de todos os tempos:

Eu quero, a bem da verdade, a felicidade em sua extensão: o eu-lírico já nega a idéia simplista inicial de que, nesse desfile, seus desejos seriam apenas os amorosos e carnavalescos - ele irá atrás de toda a felicidade e, como, vai-nos contar a seguir. Encontrar o gênio em sua fonte e atravessar a ponte na mais doce ilusão: é claro que a primeira coisa que se associa a um desejo é o gênio da lâmpada de Alladin que dá os três desejos, assim como as 'fontes' espalhadas pelo planeta - porém, é preciso encontrá-los num momento ilusório: o narrador já desmascara uma das lendas para a conquista da felicidade. Quero, quero, quero sim (olha a ênfase descalabrosa que ele emprega, cobrando total atenção para o seguinte). Quero que meu amanhã seja um hoje bem melhor, uma juventude sã, com ar puro ao redor. A historinha de país do futuro é subliminarmente condenada, afinal, muito se pensa em fazer o amanhã, mas o hoje é renegado. E como o amanhã é algo abstrato, a melhoria jamais chega, portanto, as melhoras começarão a partir desse momento, com esse desfile. Para tanto, a juventude há de se libertar das drogas e a crítica aos altos indíces poluentes mostra a genialidade dos autores do samba, ao previr um mal que é hoje debatido a todos os cantos do planeta.

Quero o nosso povo bem nutrido, o país desenvolvido, quero paz e moradia. Oras, não adianta ter um bolo grande ou muita comida, se a nutrição não é plenamente satisfeita. A fome pode ser zero, mas é um zero relativo para o efetivo - ainda que pareça absoluta para o passivo -; além disso, o Brasil deixa de estar em crescimento para já estar grande, num patamar de desenvolvimento auto-sustentável e sem preconceitos externos. Como também não é uma entrega utópica ao socialismo - pelo contrário, o capitalismo é vigorante para efeito da realização dos desejos -, vem-se pedir o direito que todo homem inicialmente tem: a propriedade privada, com a segurança oferecida pelo governo. Chega de ganhar tão pouco, chega de sufoco e de covardia. Aqui é um grito de protesto total. Um desabafo por qual muitos de nós passamos, além de cutucar o militarismo, que teria condenado covardemente alguns casos. V'ambora, então, pedindo o troco: Me dá, me dá, me dá o que é meu, foram vinte anos que alguém comeu.

Quero me formar bem informado e meu filho bem letrado ser um grande bacharel. Repare que a alfabetização já obteve o status condicional e necessário para a vida, portanto, o desejo é por um bacharelado, uma formação verdadeira - com informações e conhecimento -, sem ajuda de terceiros ou um sub-emprego para colocar os filhos numa situação incômoda de estudo. Se por acaso alguma dor, que o doutor seja doutor e não passe por bedel. Depois das áreas de segurança, economia e educação, o grito de socorro é para a saúde, disfarçada em funcionários que têm de sofrer para trabalhar e acabam por fazer greves ou atender pouco à alta demanda. Chegamos à lindeza do fim: Cessou a tempestade, é tempo de bonança, Dona Liberdade chegou junto com a esperança. Quer dizer que o querer é poder, naquele pouco instante em que o Império Serrano estivesse presente defendendo o enredo com esses ideais através de um hino justificado, vêm as coisas boas. Com isso, o final ganha um sentido muito mais amplo do que o mero requerimento reclamatório comum: muito antes do "sonhar não custa nada", haveria um desfile para satisfazer o nosso desejo de felicidade, chamando o outro para ser coberto também dessa esperança.
NOTA DO SAMBA: 10 (Cassius Abreu).

Uma das pedradas do ano.Sem sombra de dúvidas, é um hino que tem um caráter atemporal e transcendental que os sambas resumos de sinopse dos tempos atuais não tem. É uma pérola da MPB. O hino é muito lindo. A beleza começa pela melodia, que prende o ouvinte, com seu lirismo e simplicidade. A letra não tem nenhuma expressão estapafúrdia ou que serve para encher lingüiça. Não, mas não mesmo. A letra é trabalhada de forma suave e fala da esperança e o desejo de um mundo melhor em todos os sentidos. É uma letra que trata de um tema comum aos seres humanos. Os refrões são muito lindos e a obra é inspiradíssima. O andamento cadenciado e a interpretação de Quinzinho realçam ainda mais a beleza dessa obra. Para se ter uma idéia do desfile da escola na Sapucaí, aí vai um vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=umW7xMwCS80. É fácil entender a razão de o carnaval ser a festa do povo naqueles tempos. O ouvinte pode observar como o componente canta, brinca e se diverte. Já no carnaval técnico e pragmático de hoje, essa situação é muito difícil de ocorrer. Qual a nota? Obrigado compositores por essa obra- prima. NOTA DO SAMBA: 10 (Daniel Benfica). Clique aqui para ver a letra do samba

5A - IMPERATRIZ - Todo o samba possui uma belíssima melodia, com o refrão principal gozando de estirpe de clássico. Mas, que a voz do intérprete Tuninho é esquisita, isso é... Ela, caracterizada por ser bem aguda (até com alguns traços femininos), é totalmente semelhante a de Flavinho Machado, que cantou os sambas da Mangueira de 1982 e 1983 no disco. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel).

Este samba me lembra um pouco o samba da Imperatriz de 2006. Seja pela leveza, seja pela letra simples e poética, seja pela melodia bem construída, a semelhança é notável. Até o "lá iá lá ia" está presente no início das duas faixas. São dois sambas com a marca registrada de seus autores, Niltinho Tristeza e Tuninho Professor. "Agüenta Coração" foi o que de melhor ocorreu no desfile da Imperatriz, em 1986. A escola veio simples e confusa. Entretanto, o belo samba acabou fazendo com que os componentes e o público estabelecessem uma comunicação que transformou o desfile numa grande festa. A Imperatriz virou um imenso bloco, com o "arrastão da alegria" vindo atrás, sambando e brincando. O samba, com suas subidas e descidas melódicas bem estudadas, funcionou com perfeição no desfile. Mas o impressionante é o seguinte - o samba de 2006 da Imperatriz é o melhor do ano; o de 1986, que é do mesmo nível, talvez seja o quinto ou sexto melhor da safra. Tal constatação mostra a decadência do samba-enredo como gênero. NOTA DO SAMBA: 9,6 (João Marcos).

Belo samba da Imperatriz. A obra chama atenção no LP, principalmente, pela sua animação. A letra é simples e consegue contar o abstrato e inusitado tema sobre bandeiras através de primorosas imagens poéticas, mescladas na dosagem certa com descompromissadas expressões de apelo popular. Os refrões, com destaque ao de cabeça e ao final, se tornam inesquecíveis. Lamentavelmente, a faixa, mal-interpretada por Tuninho Professor, diga-se de passagem, desvalorizou o ponto forte da obra, que é sua melodia, muito bonita e bem elaborada tecnicamente. Porém se trata de um ótimo hino, sem dúvida. Na avenida, apesar dos problemas de evolução, o samba deu um sacode e empolgou as arquibancadas. NOTA DO SAMBA: 9,1 (Gabriel Carin).

O melhor samba da agremiação de Ramos no sexênio 1983 a 1988 - coincidentemente o período em que o interprete Dominguinhos do Estácio esteve afastado da escola. "Agüenta Coração", enredo indiscutivelmente abstrato que fala sobre as bandeiras, acabou gerando um samba muito bonito, de letra simples e criativa. Destaque positivo para a melodia, que possui suavidade singular, proporcionando encanto e sobretudo comoção ao ouvinte sambista. O refrão final "Agüenta coração/há verde e branco em minha vida..." na minha concepção é a melhor parte da obra. Não é uma obra-prima, mas que é um samba de boa qualidade, isso é!!! NOTA DO SAMBA: 9,1 (Luiz Carlos Rosa).

É mais um atestado da total superioridade da safra de 1986 em relação as atuais. O samba tem uma leveza cativante, letra simples e poética, melodia bem construída, com excelentes refrões. A comunicação com o publico foi impressionante no desfile. Infelizmente, a faixa foi pessimamente cantada por Tuninho Professor. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Daniel Benfica). Clique aqui para ver a letra do samba

1B - BEIJA-FLOR - Um dos mais famosos sambas da agremiação de Nilópolis e, junto com o de 1978, é o samba-enredo que até hoje Neguinho mais gostou de cantar na avenida, segundo suas próprias palavras. Sua letra acho, particularmente, bem rudimentar, apesar de considerar que não é preciso uma letra parnasiana para falar de futebol. De melodia animada e, ao mesmo tempo, envolvente, o excelente samba-enredo não precisou de esforços para levantar a Marquês de Sapucaí. Seus refrões maravilhosos, sem dúvida, proporcionaram mais uma apoteose carnavalesca. Não é por pouco que muitos até hoje se queixam do vice da Beija em 1986. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Mestre Maciel).

A trilha sonora do antológico desfile da escola é um samba fraquíssimo, como quase todos os da escola na década. "O Mundo é um Bola" é uma marchinha sem vergonha, com letra paupérrima. A melodia ainda tem algumas variações interessantes, mas o samba não se sustenta sozinho. Joãozinho Trinta estava à frente de seu tempo, já imaginava o samba-enredo funcionando como mero apêndice do desfile. Na época, a coisa não era assim e a Beija-Flor acabava prejudicada por isso, comunicando-se com o público mais pela razão do que pela emoção. Eram tempos de samba no pé e a escola acabava sempre morrendo na praia, mesmo com toda garra de sua comunidade. O desfile foi maravilhoso, mas o samba é fraco. NOTA DO SAMBA: 8 (João Marcos).

Em 1986, Beija-Flor, além de ter realizado um dos maiores espetáculos da história do carnaval carioca, desfilando com uma garra sobre-humana mesmo com água até os joelhos, trouxe, a meu ver, um de seus melhores sambas durante a década de 80, disputando com 1983, 1985, 1987 e 1989 em termos de qualidade. O hino é valente, narra o enredo sentimentalmente e possui desenhos melódicos bem-construídos, como a forte descida de tom presente na entrada do refrão central. O esquema de letra é semelhante aos da Vila Isabel e Imperatriz, baseando-se na criação e retratação de quadros poéticos do enredo sem grande encadeamento entre si, o que permite uma audição mais simples e menos cansativa. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Gabriel Carin).

Gostaria de saber de onde os componentes nilopolitanos tiraram tanta garra, tanta energia, naquele desfile praticamente fluvial??? E mais inacreditável, é como as fantasias e adereços resistiram àquele dilúvio inesperado??? Apesar das perguntas sem respostas, o fato é inegável: "O Mundo é uma Bola" entrou para os anais da história do carnaval, não pelo samba e sim pela apresentação antológica e inesquecível, assim como "Ratos e Urubus" de 1989 - da própria Beija-Flor -, apontado por muitos como o melhor desfile de uma escola de samba em todos os tempos. Com relação ao samba, "O Mundo é uma Bola" possui letra bastante simplória e que em alguns momentos foge do tema proposto, como está registrado no refrão central "Tudo em cima novamente/sobrevoando a passarela/que beleza a Beija-Flor/sacudindo esta galera". Ora??? O que tem a ver isso com futebol??? Pelo menos no aspecto melódico, o samba tem variações interessantíssimas, a partir desse memo refrão central ("Tudo em cima...") e principalmente na segunda parte onde destaco o bis "O meu Rio de Janeiro/o ano inteiro é samba e Maracanã", que consequentemente dá força à entrada da estrofe final "Se esta/profusão de cores/sensibiliza o visual...". Assim como a Seleção - que acabou ficando em quinto na Copa do México - a Beija-Flor teve que esperar mais alguns anos para gritar "É campeã!!!". NOTA DO SAMBA: 8,6 (Luiz Carlos Rosa).

O desfile foi apoteótico, mas o samba divide opiniões. Alguns gostam bastante, mas outros não vão muito com a cara. Para ser sincero, eu sou do segundo time. Realmente, Joãozinho Trinta estava à frente do seu tempo e escolheu um samba que funciona como mera trilha sonora do desfile. O problema é que o hino está na safra de 1986 e naquela época, o que valia era samba no pé e o hino na boca do povo. O resultado é que a Beija-Flor morreu mais uma vez na praia. Sobre a obra em si, é uma marchinha indigente, com algumas variações melódicas interessantes, mas uma letra fraquíssima. A Beija-Flor era quase inexistente em matéria de samba naquele tempo. Com raríssimas exceções, os hinos da escola eram quase todos medíocres, ruins ou medianos. Em 1997, a ruindade chegou ao ápice, com aquele pavoroso samba sobre as festas. Hoje, a situação melhorou e a agremiação descobriu o que é hino de verdade,mas nos últimos três anos, a agremiação bobeou novamente. NOTA DO SAMBA: 8 (Daniel Benfica). Clique aqui para ver a letra do samba

2B - MANGUEIRA - Um dos mais famosos sambas-enredo dos últimos vinte anos. Sem sombra de dúvida facilitou a vida da verde-e-rosa na briga pelo título, por sinal conquistado. Quem não conhece seu refrão principal "Tem xinxim e acarajé/Tamborim e samba no pé"? Sem dúvida, uma obra-prima de samba, de melodia encantadora e envolvente. Jóia o início com o alusivo "Não estou aqui pra brincadeira/Quero lhe dizer que sou Mangueira", que também marcaria presença no álbum de 1993. Um detalhe curioso: pela primeira vez, Jamelão participava de um disco de samba-enredo. José Bispo Clementino dos Santos, até então, era proibido de gravar os sambas da Mangueira nos discos oficiais devido a um cláusula no contrato de sua gravadora, a Continental. Por isso que, nos anos anteriores, quem cantavam os sambas mangueirenses no disco eram nomes como Jurandir, Dirceu, Beth Carvalho, Flavinho Machado, Sobrinho, Conjunto Nosso Samba, entre outros. Jamelão, a partir de 1986, não estava mais restrito apenas à avenida. NOTA DO SAMBA: 9,8 (Mestre Maciel).

Um dos mais populares e melhores sambas da história da Mangueira, apesar de ter um andamento um tanto quanto marcheado. Jamelão é o grande responsável pela imortalização da gravação, com uma interpretação impressionante. Não existe pessoa que não tenha ficado com o refrão gravado na mente de primeira. O resto é do mesmo nível - emocionante, com uma melodia forte e letra poética. O desfile foi uma aula de samba no pé. Para mim, o grande samba do ano. NOTA DO SAMBA: 10 (João Marcos).

Mais um imprescindível! A homenagem a Bahia de Dorival Caymmi, encabeçada pelo carnavalesco Júlio Mattos, rendeu um dos melhores sambas da Era Sambódromo, além de um desfile fantástico, um verdadeiro show de samba no pé. Após décadas de clausura contratuais, Jamelão enfim marca sua primeira presença em um disco oficial de sambas-enredo e logo de cara nos presenteia com uma pedrada dessa. A letra do hino mangueirense é peculiar, descreve as variadas inspirações de Caymmi de modo clássico e singelo. A melodia possui uma animação imprescindível, aliada a altas doses de li com desra. Um os de louvor...s inspiraçsmabas da pela u uma obra que cumpre o seu prismo, em especial no trecho “Quanto esplendor!/Das igrejas soam hinos de louvor...”. Os refrões emocionam de primeira. Sambão! NOTA DO SAMBA: 10 (Gabriel Carin).

Sambão valorizado ainda mais pela mágica interpretação de Mestre Jamelão, que estreava em LP's de sambas de enredo. A obra-prima é dotada de letra poética e que vem contando o enredo com discernimento. A melodia é impecável, contendo variações relevantes a ponto de fazer o sambista cantarolar o sambão à plenos pulmões. A partir do curtíssimo refrão central "O mundo se encanta/com as cantigas que fazem sonhar", a obra ganha uma força descomunal chegando ao ápice da faixa no trecho final "Bahia terra sagrada/Iemanjá, Iansã/Mangueira supercampeã".  O refrão principal "Tem xinxim e acarajé/tamborim e samba no pé" não sai da cabeça do sambista. A volta do lendário carnavalesco Julio Matos à Manga foi primordial para a conquista do titulo de 1986. NOTA DO SAMBA: 9,8 (Luiz Carlos Rosa).

Sambão. A interpretação de Jamelão é fantástica e a gravação ficou imortalizada na mente dos sambistas. O refrão principal é conhecido até pelo pessoal que não é tão bamba assim. O hino é emocionante, a sua melodia é forte e a letra é poética. O carnavalesco Julio Matos deveria ser muito mais valorizado pelos sambistas. Obrigado compositores por esse samba. Qual a nota? NOTA DO SAMBA: 10 (Daniel Benfica). Clique aqui para ver a letra do samba

3B - IMPÉRIO DA TIJUCA - Sambaço! Bastante longo, mas de melodia emocionante, de excelentes variações, e uma letra bem construída. Muitos bambas chegam a considerá-lo o melhor de 1986. De maneira nenhuma podem ser considerados loucos. Uma das obras-primas da Império da Tijuca! E muito bonito o alusivo da escola cantado no início da faixa ("Vem ver minha escola ensaiando/E toda a Tijuca cantando/Vem ver, meu amor, vem ver..."). NOTA DO SAMBA: 9,9 (Mestre Maciel).

Exaltando o bairro da Tijuca, o "Imperinho" conseguiu mostrar, em 1986, o segundo melhor samba da história da escola, inferior apenas ao de 1971. Muito bem construído, com refrões simples e fortes, e uma letra que mistura didatismo e poesia. É um samba simpático e irrepreensível, talvez o melhor do ano do ponto de vista técnico. Foi reeditado pela escola em 2006. NOTA DO SAMBA: 9,8 (João Marcos).

Assinado por feras como Pedrinho da Flor, Fernando Baster e Marinho da Muda, "Tijuca, cantos, recantos e encantos", homenagem do Império da Tijuca a seu bairro natal, briga com "O mundo de barro de Mestre Vitalino" e "Santos e pecadores" pela medalha de prata de segundo melhor samba da história do agremiação, atrás dos campeões "Exaltação a Cândido Portinari" e "Misticismo da África ao Brasil". Impressiona a maneira com a qual seus autores conseguem a proeza de focalizar o aspecto histórico da região sem cair na mesmice ou no coloquialismo, resultando em versos de pura poesia. A melodia, quase toda em tom maior, possui passagens encantadoras, provando a muitos compositores atuais como é desnecessária a presença de tonalidades baixas e mórbidas a fim de emocionar o ouvinte. Outra maravilha! NOTA DO SAMBA: 9,8 (Gabriel Carin).

A verde e branco da Formiga apresentou o seu samba mais famoso em 86. E que samba!!! Samba não...Sambaço, aço, aço!!! "Tijuca, Cantos, Recantos e Encantos" é dotado de letra perfeita, impecável, contando com precisão e sem rodeios a história do bairro da Tijuca. O refrão central "Desce o Morro da Formiga/do Borel e do Salgueiro..." é excepcional e faz referência às três principais agremiações do bairro. Sua melodia é maravilhosa toda a vida, com variações extraordinárias proporcionando leveza a obra. Em 2006, a escola reeditou o sambaço e acabou conquistando o Bezão. Naturalmente subiu para o Acesso A. NOTA DO SAMBA: 10 (Luiz Carlos Rosa).

Mais um sambaço. Esse hino é muito bem construído, os refrões são simples e fortes e tem uma letra muito boa. Outra obra que é uma aula para os compositores de hoje. O alusivo citado pelo Mestre Maciel é muito bonito. NOTA DO SAMBA: 9,9 (Daniel Benfica). Clique aqui para ver a letra do samba

4B - UNIDOS DA PONTE - Mais um samba espetacular da Ponte. Não é exagero considerarmos que a agremiação de São Mateus é responsável por uma das maiores safras de sambas-enredo de uma só escola nos anos 80. Considero apenas o refrão principal "Ôôô, a Ponte canta Herivelto que hoje sou" aquém da beleza das demais partes do samba-enredo. A letra é sensacional e a melodia é singular. O refrão central é belo e a segunda parte do samba é de arrepiar. Obra-prima do carnaval! E viria outra no ano seguinte, com G.R.E.S. Saudade. Isso mesmo! Sou puxa-saco assumido dos sambas da Ponte dos anos 80! Ah, e a bateria da escola, sempre considerada uma das melhores do carnaval, se solta na segunda passada do samba, dando UM VERDADEIRO SHOW!!! O alusivo "Unidos da Ponte eu sou/Venho lá de São Mateus/Eis o limiar da minha história" também é de intenso agrado. Ele marcaria presença também no CD de 1993, repetição semelhante ao do alusivo da Mangueira. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Mestre Maciel).

David Correa escolheu o samba errado para assinar. Ele também fez este aqui, mas preferiu assinar apenas o da Vila. Este é bem melhor, mais lírico, com uma melodia linda e uma letra maravilhosa. O refrão é o único pecado deste samba, apesar de ter funcionado bem na avenida. Mais um samba histórico da Unidos da Ponte, que de 82 a 88, fez a melhor seqüência de grandes sambas da década. NOTA DO SAMBA: 9,6 (João Marcos).

Outro samba de David Correa para 1986. A exaltação a vida e obra de Herivelto Martins gerou um hino muito bonito, a cara de seu compositor. A letra transcreve em poucas palavras a face sentimental do homenageado com o propósito de reviver emocionalmente toda a atmosfera romântica que envolvia o Rio do início do século XX, sem esquecer ainda de fazer uma crítica sagaz ao distanciamento do samba de suas raízes verdadeiras, no trecho "Hoje aqui em baixo/Enlataram nossa gente/E não há samba que agüente/Este moderno no lugar de cavaco e ganzá". A melodia é simplesmente belíssima, suave nos mínimos detalhes, correspondendo com exatidão ao lirismo presente pela letra. Como ponto fraco, salienta-se apenas o refrão de cabeça, pouco inspirado, principalmente se comparado ao excelente refrão central. NOTA DO SAMBA: 9,6 (Gabriel Carin).

Belíssimo samba da Unidos da Ponte, embora pessoalmente considerá-lo como o "patinho feio" do grande período fertíl entre os anos de 1982 a 1988. A obra é inteiramente interpretativa como se o próprio homenageado, o saudoso compositor Herivelto Martins, narrasse o samba. A melodia é bonita, mas com poucas variações relevantes. O refrão central "Eu vou a Lapa/pego o bonde de cem reís/o capoeira dá um laço com os pés" é tão gostoso de cantar que empolga até quem não é sambista. Já o refrão principal é fraquissímo devido a seu irritante "ÔÔÔ" que conseqüentemente tirou alguns décimos da minha nota sobre esse belo samba. A escola de São Mateus que ficou em penúltimo lugar e acabou sendo rebaixada para o Acesso A. NOTA DO SAMBA: 9 (Luiz Carlos Rosa).

Outro grande samba que a Unidos da Ponte levou para avenida da década de 80. Comparado a outros clássicos da agremiação de São Mateus no período de 82 a 88, o hino é coadjuvante, mas mesmo assim, é uma bela obra. A melodia é linda e a letra é maravilhosa. O já citado refrão é o grande problema da obra. NOTA DO SAMBA: 9,6 (Daniel Benfica). Clique aqui para ver a letra do samba

5B - UNIDOS DO CABUÇU - Um samba-enredo de letra peculiar, homenageando Stanislaw Ponte Preta e suas sátiras históricas. Resultado: um samba longo, de letra escrachada e criativa, e, sobretudo, muito gostoso de se ouvir graças a sua melodia totalmente "pra cima". São cômicas e bem-humoradas partes como "Cabral num 14 Bis chegou", "Chica da Silva, loira pura angelical", "(Carmem Miranda) montada em uma girafa cantarolava thica thica thica bum" (e prossegue com o divertido refrão "Thica thica thica bum") e, principalmente, a chamada "zorra da abolição": "A nega Clementina aboliu a escravidão assinando a Lei Áurea em cima de um fogão". Realmente, deu a louca na história, mesmo! Só faltaria mesmo o carnaval durar 365 dias por ano... NOTA DO SAMBA: 9,2 (Mestre Maciel).

Partindo da brincadeira do cronista Sérgio Porto e seu "Samba do Crioulo Doido", a escola fez a grande viagem estapafúrdia do ano, exagerando ainda mais na grande confusão histórica da composição original. O samba apenas descreve o que se mostraria em matéria de alegorias e fantasias. Falta o grande detalhe do "Samba do Crioulo Doido" original - o compositor endoidou porque tinha de falar da conjuntura nacional. Tal observação seria relevantíssima para um desfile da época, tempos de pós-ditadura. Enfim, é interessante, mas difícil de escutar repetidamente. NOTA DO SAMBA: 6,4 (João Marcos).

O calcanhar de Aquiles do LP é esta marchinha sem vergonha da Unidos do Cabuçu. Fica bastante clara a intenção dos compositores de parodiar o "Samba do Crioulo Doido", de autoria de Stanislaw Ponte Preta, e seus delírios irônicos aos equívocos históricos presentes nos sambas-lençóis dos anos 50 e 60, muitas vezes compostos por sambistas analfabetos e ignorantes. O resultado, contudo, é excêntrico. A letra amontoa de forma confusa os diversos devaneios propostos pelo carnavalesco, longe de ter a mesma lógica interna apresentada na composição original. A melodia não passa grandes impressões, chegando a irritar em certos momentos. A obra, no geral, faz jus a ser classificada como trash. Fraco! NOTA DO SAMBA: 6,3 (Gabriel Carin).

Taí o sambinha mais louco e divertido do ano. A azul e branco do Lins apresentou um verdadeiro "samba do crioulo doido" mesmo, sem pé e nem cabeça, e com a estrutura da obra totalmente comprometida. A letra é exageradamente extensa, e provavelmente o sambinha deve ter se arrastado durante o desfile. A melodia alterna bons com maus momentos, mas não chega a ser um horror ou desastre. O grande achado deste sambinha é o inusitado e, sobretudo, hilário refrão central "Tchica tchica tchica bum/bum bum bum" que é contagiante ao extremo. A bem da verdade, é um sambinha tecnicamente fraco, mas muito engraçadinho. NOTA DO SAMBA: 7 (Luiz Carlos Rosa).

O queijo suíço do LP é esse samba. Apesar de engraçadinho, o hino está muito, mas muito longe das outras obras de 1986. A letra é confusa ao extremo e apenas tenta descrever o que a escola levou para a avenida naquele ano em matéria de alegorias e fantasias. NOTA DO SAMBA: 6,3 (Daniel Benfica). Clique aqui para ver a letra do samba

A GRAVAÇÃO DO DISCO DA TOP TAPE - Gravação também de excelente qualidade, que inseriu ao samba cara de samba mesmo! A bateria, neste disco, aparece mais cadenciada do que no disco oficial da BMG. Surdos e, principalmente, tamborins aparecem com destaque. Na primeira passada, apenas o intérprete canta, com o coral trabalhando apenas nos refrões. O coral desponta, como de praxe, a partir da segunda. NOTA DA GRAVAÇÃO DO DISCO DA TOP TAPE: 9 (Mestre Maciel).

A capa do LP é representada pelo mestre-sala e porta-bandeira da Caprichosos de Pilares, porque em 1985 a escola apresentou um sambão inesquecível tal como o desfile. Se não faturou o inédito campeonato, a Caprichosos foi rotulada de a "Campeã do Povo" pelos sambistas em geral. O bolachão da Top Tape, além da escola de Pilares, conta com a Ilha, Estácio, Salgueiro e Unidos da Tijuca que fizeram parte do Grupo Especial. NOTA DA GRAVAÇÃO DO DISCO DA TOP TAPE: 8,5 (Luiz Carlos Rosa).

1A - CAPRICHOSOS - Na minha opinião, um dos mais polêmicos sambas-enredos da história do carnaval, graças a seu refrão central, que faz uma clara apologia sexual. Olha só o que diz: "Não ENFIE O PAU noutra bandeira/Mas TIRA, TIRA e bota a nossa brasileira". Precisa dizer mais???? No mais, este samba, que se enquadra no turbilhão de sambas-protesto compostos para o carnaval de 1986, possui uma letra envolvente e bem feita a fim de denunciar a americanização no Brasil. Mais um grande momento da agremiação de Pilares, que vinha de desfile e samba-enredo espetaculares no ano anterior. A escola vivia o seu auge e, na época, gozava de prestígio e carisma com os bambas, ao contrário dos dias de hoje, em que a galera vê a Caprichosos como uma agremiação que apenas faz número no Grupo Especial, ocupando um espaço que deveria estar destinado a outras escolas de mais tradição, como União da Ilha, Estácio, etc. NOTA DO SAMBA: 8,9 (Mestre Maciel).

Apostando mais uma vez na crítica e na irreverência, a Caprichosos resolveu detonar a influência norte-americana no Brasil, com "Brazil com Z Jamais". A crítica contundente fez com que a escola apresentasse um samba muito azedo, diferente do samba anterior. Resultado: chamou atenção, mas não colheu o mesmo fruto de 1985, não conseguindo estabelecer a mesma comunicação com o público. O samba é apenas mediano, a letra é de mau gosto, mas a obra serviu bem para seu intérprete. NOTA DO SAMBA: 8,1 (João Marcos).

A bomba do ano! Esculhambando as influências culturais e comerciais dos EUA no Brasil, a Caprichosos trouxe um enredo extremamente ácido à avenida, o que acabou por gerar uma conturbada polêmica entre a agremiação e o consulado norte-americano no Rio de Janeiro. Infelizmente, esta acidez excessiva não lembrou nem de longe a leveza e a comunicação de seus dois desfiles anteriores e a conseqüência disto foi um desfile insosso, que deu sono ao público da Sapucaí. O samba seguiu à risca o espírito crítico do tema, "enfiando o pau" (perdoem-me pelo trocadilho) em tudo que aparece pela frente. Na verdade, trata-se de uma marcha pobre e irritante. A letra, repleta de expressões de mau gosto, se utiliza de uma linguagem chula, chegando a quase ser grosseira. A melodia é chatíssima, tão deprimente e pesado ao ouvinte que nem Carlinhos de Pilares e sua animação abusiva deram conta. Uma lástima! NOTA DO SAMBA: 5,7 (Gabriel Carin).

A "campeã do povo" de 85 criticou com toda asperidade e veemência a predominação norte-americana no cotidiano dos brasileiros. O grande equívoco pelo insucesso do desfile da agremiação de Pilares foi que a crítica fluiu muito mais que o próprio samba. No começo de sua apresentação, o público chegou a gritar "já ganhou", mas pouco a pouco notava-se um certo ar de decepção até o final do desfile. Com relação ao samba, é totalmente fiel ao tema polêmico, possuindo letra simples e direta, e com sacadas inteligentes e sobretudo ousadas como estão registrados no refrão central "Não enfie o pau noutra bandeira..." e tambem no de cabeça "Quem comeu, comeu..." . A melodia não é lá essas coisas, pois em algumas passadas torna-se muito chata. Destaque mesmo é a empolagante interpretação de Carlinhos de Pilares, devido a seus inusitados "cacos". Até as pastoras entraram no clima, entoando um "xiiiiiiii" entre os versos "águia não cala meu bico/meu ouvido não é penico...". NOTA DO SAMBA: 7,9 (Luiz Carlos Rosa).

A escola de Pilares criticou mais uma vez as coisas erradas do nosso país. Eu gosto bastante desse tipo de crítica. Naquele ano, a Caprichosos denunciou de forma contundente a americanização do Brasil. O problema é que o samba não tem a mesma categoria da obra do ano anterior. O hino de 1986 tem uma letra de mau gosto e que não caiu nas graças do povo na Sapucaí. NOTA DO SAMBA: 8,1 (Daniel Benfica). Clique aqui para ver a letra do samba

2A - UNIÃO DA ILHA - Belo samba, que concedeu à Aroldo Melodia seu único Estandarte de Ouro de Melhor Intérprete. E olha que o célebre sambista também puxou a Santa Cruz um dia antes... De melodia emocionante e uma letra bem feita, misturando poesia com coloquialismo em alguns momentos. O samba-enredo da União da Ilha de 1986, da maneira cadenciada no qual foi gravado, é deliciosíssimo de se ouvir. E, pra variar, não pode faltar a crítica social, evidenciada no refrão central "O leão só morde o bumbum do pobre/E o rico é quem explode a boca do balão". Grande momento da Uniao da Ilha, que atravessou bem o mar de asfalto e abocanhou o quinto lugar. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel).

Com Aroldo Melodia, um samba contagiante e um enredo inteligentíssimo, a Ilha foi "pras cabeças" em 1986. Talvez a escola tenha sido prejudicada por não estar no LP principal, mas a verdade é que o samba, apesar de alegre, não era o oba-oba completo que a escola começou a cultivar a partir daqui. Um excelente refrão, uma letra irreverente sem ser forçada. Enfim, um "golaço de primeira" da escola. Aroldo Melodia deitou e rolou, levando o estandarte de melhor intérprete para casa. NOTA DO SAMBA: 9,1 (João Marcos).

Samba imprescindível, pano de fundo de um desfile brilhante do saudoso carnavalesco Arlindo Rodrigues, no qual todo o tipo de espanto fora retratado com magistralidade. Com um conjunto plástico impecável, mesmo prejudicada pela chuva, a União da Ilha fez sua melhor apresentação na era Sambódromo e, sem dúvida, essa bela obra colaborou com este feito. A letra cita as partes mais importantes da temática com coerência e simplicidade, mesclando poesia autêntica com termos de comunicação popular. A melodia é leve e descontraída, tornando-se absurdamente instigante no refrão de cabeça, um dos melhores do ano, cuja memorização é de uma facilidade fantástica. Aroldo Melodia, como de praxe, fora-de-série. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Gabriel Carin).

"Quem carrega amor/vai com Deus/sem assombrações/vai com Deus". Amigo... esse refrão de cabeça é de quebrar as janelas!!! Sensacional!!! "Assombrações", enredo que se refere a todos os tipos de medo, pavor ou espanto, fora tão bem desenvolvido pelo carnavalesco Arlindo Rodrigues que a Ilha chegou a ser apontada como uma das grandes favoritas ao título de 86. A agremiação insulana fez um desfile quase perfeito, mas acabou ficando num injusto sexto lugar. Voltando a falar do sambão, é dotada de letra inteligentíssima, poética, aliada a uma melodia agradável e muito envolvente. Faltou mesmo o campeonato para a escola explodir a "boca do balão". NOTA DO SAMBA: 9,4 (Luiz Carlos Rosa).

Um bonito samba da escola e muito gostoso de ouvir. O hino tem um refrão fantástico e uma letra irreverente. Para completar, o enredo inteligentíssimo e muito bem desenvolvido pelo saudoso Arlindo Rodrigues fez com que a escola fosse cotada como uma das candidatas ao caneco daquele ano. O também falecido Aroldo Melodia deitou e rolou com essa obra e levou para casa o Estandarte de Ouro de Melhor Intérprete. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Daniel Benfica). Clique aqui para ver a letra do samba

3A - ESTÁCIO - Mais um samba com a marca de Dominguinhos e cia. Letra e melodia simplórias e deliciosas. A bateria, muito cadenciada, dita o belo ritmo no samba estaciano de 1986. No disco, os tamborins da Bateria Medalha de Ouro aparecem maravilhosamente bem na segunda parte do samba. Seus refrões possuem tons clássicos. Beleza de samba-enredo. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Mestre Maciel).

A escola apresentou uma bela homenagem, com um samba simples, apelando para o emocional, homenageando um personagem dos mais queridos da cultura brasileira. O samba não chama atenção, mas tem bons momentos. Levado de forma cadenciada, acabou com um tom muito respeitoso e o intérprete Dominguinhos teve uma atuação contida. É uma bela composição, mas a escola acabou mudando o estilo de sambas nos anos posteriores, buscando melhor comunicação com o público. NOTA DO SAMBA: 8,7 (João Marcos).

Boa obra apenas do Berço do Samba. A homenagem a Grande Otelo rendeu uma das faixas mais agradáveis do ano de ambos os LPs, na qual Dominguinhos, um dos autores do hino, pode cantar a vontade apoiada pela sempre excelente bateria da escola. O samba em si não tem nada demais, porém não chega a ser ruim. A letra é categórica, singela e narra a vida do homenageado com suavidade, dando foco aos grandes papéis de sua carreira, em especial na segunda parte, sem apelar para informações desnecessárias. A melodia, entretanto, é simplória e, com exceção aos belos refrões, acaba por passar despercebida no disco, apesar de, em momento algum, chegar a irritar. Nota-se claramente que os compositores tentaram criar uma obra tão bela quanto a do ano anterior, todavia fracassaram, infelizmente. NOTA DO SAMBA: 7,8 (Gabriel Carin).

Samba apenas razoável da agremiação de São Carlos, que exaltou com toda singeleza o saudoso Sebastião Bernardes de Souza Prata, conhecido no mundo inteiro como Grande Otelo. A obra possui melodia bastante leve, provocando até mesmo sonolência ao ouvinte sambista. A letra é bem simples, mas com adornos poéticos de bom gosto. O samba possui duas partes aliadas à três refrões. Destaco o segundo refrão "Seu nome criou fama/seu talento criou chão...", muito bonito tanto em letra quanto em melodia. Mas estranhamente, - apesar das boas qualidades que acabei de citar - não considero um sambão como o da Ilha, Portela, Mangueira ou dos Impérios. "Prata da Noite" é a obra mais lírica que a Estácio apresentou nos anos 80. NOTA DO SAMBA: 8,4 (Luiz Carlos Rosa).

Uma boa homenagem da escola para o Grande Otelo. Não é um samba que chama muito a atenção, mas tem bons momentos.  O hino foi levado de forma cadenciada pelo intérprete Dominguinhos. NOTA DO SAMBA: 8,7 (Daniel Benfica). Clique aqui para ver a letra do samba

1B - SALGUEIRO - Um samba-enredo que tem a cara do intérprete Rico Medeiros. De melodia lenta e pesada, chegando a lembrar as obras-primas salgueirenses dos anos 60, o samba faz uma bela e merecida homenagem ao grande carnavalesco (e hoje carrancudo) Fernando Pamplona. A letra também é de muito bom agrado. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel).

A homenagem a Fernando Pamplona rendeu um samba parecido com os de antigamente, pesadão, de letra comprida, bem construída e muito didática. A interpretação de Rico Medeiros ainda fez a obra ganhar mais peso. É um belo samba para se admirar - tem um refrão excelente, apesar de não ser do tipo oba-oba, daqueles feitos para o público aprender na hora e cantar. A escola tentou repetir o efeito do samba de 85, que tinha características parecidas e funcionou esplendorosamente no desfile (de forma surpreendente). Este aqui, entretanto, não foi tão bem. NOTA DO SAMBA: 8,3 (João Marcos).

Outro samba de muito bom gosto, um preito a uma das maiores figuras do carnaval carioca, Fernando Pamplona, que, durante o desfile, estava na função de comentarista da TV Manchete. Embora a obra seja de um estilo que pouco me agrada, descrevendo o enredo com um didatismo voraz, eu particularmente sou obrigado a assumir que ela é de intenso agrado. Cada grande carnaval assinado pelo mestre fora referenciado de forma quase épica. A melodia é pesada e possui belas variações, como no trecho "As bandeiras no varal, no varal/Manga rosa mangueiral, mangueiral...". Uma homenagem à altura do pesquisador e carnavalesco. Pena que, na avenida, apesar de belíssimo, o Salgueiro teve problemas de evolução. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Gabriel Carin).

Assim como a Estácio, o Salgueiro tambem apresentou uma samba de qualidade razoável, que homenageou, com toda justiça, o maior nome da escola na minha opinião: o ex-carnavalesco Fernando Pamplona. O samba possui melodia extremamente pesada, do jeito que o intérprete Rico Medeiros gosta. A letra retrata todos os onze carnavais desenvolvidos por Pamplona. A minha parte preferida da obra é sem dúvida o refrão principal "O Salgueiro chegou/na terra de Yorubá/o Salgueiro brilhou/no céu de Oxalá" uma referência ao sambaço de 78 da escola. Outro destaque: o criativo título do enredo "Tem que se Tirar da Cabeça Aquilo que não se tem no Bolso". NOTA DO SAMBA: 8,5 (Luiz Carlos Rosa).

O fantástico Fernando Pamplona foi o homenageado da escola em 1986. Apesar de ser bem construído e ter um refrão excelente, a obra tem uma letra muito grande e é didática ao extremo. A interpretação de Rico Medeiros ajudou o samba a ganhar mais peso. Na avenida, a escola teve problemas e não repetiu o desempenho do ano anterior. NOTA DO SAMBA: 8,3 (Daniel Benfica). Clique aqui para ver a letra do samba

2B - UNIDOS DA TIJUCA - "Uma só mulher é pouco/Deixa o homem no sufoco/Com tantas que andam por aí", "O arroz com feijão lá de casa é bom/Mas o cozido da vizinha é melhor", "Tem piranha no almoço, tem virado no jantar/Pra quem tem fome qualquer prato e caviar" e, sobretudo, "Lá vai o trouxa crente que está numa boa/Mas não sabe que a patroa está com o Ricardão/E sua filha tem fama de sapatão". O que é isso? Samba-enredo ou samba de Bezerra da Silva? Extremamente cômico! Ah, 1986 marcou a estréia de Nêgo, irmão mais novo de Neguinho da Beija-Flor, como intérprete de escola de samba. O seu tradicional grito de guerra ("Alô povão, agora é sério...") estrearia no ano seguinte (dizem que inspirado numa referência a este bizarro enredo de 1986), pois ficou resumido num "Vamos sacudir a poeira, Unidos da Tijuca". Mas o que ele cantou na Sapucaí foi um samba de raiz que, se fosse feito para este meio, seria bem sucedido. Isso não é samba de enredo nem aqui e nem na China (lá não tem carnaval mesmo...). A conseqüência não poderia ser outra: último lugar na apuração e o rebaixamento solitário (apenas uma escola desceu de Grupo em 1986). NOTA DO SAMBA: 8,2 (Mestre Maciel).

Rotulado como "trash", este samba não é nenhuma obra-prima, mas abriu novas possibilidades para o gênero samba-enredo. Com uma letra altamente interpretativa, a escola veio esculhambando meio mundo com seu "Cama, Mesa, Banho de Gato". Pode se discutir se a letra é de mau gosto, mas a verdade é que o samba em si é altamente ousado e experimental. A escola pagou caro por tentar ser diferente, amargando um rebaixamento injustíssimo. A obra ficou meio amaldiçoada e o desfile foi rasgado das páginas da história da escola. Nunca mais ninguém tentou algo parecido. Talvez se o tema não tivesse sido tão polêmico, a Tijuca pudesse ter tido mais sorte. NOTA DO SAMBA: 7,8 (João Marcos).

Confesso que poucas vezes em minha vida vi uma combinação entre letra e melodia tão errônea como a deste samba da Unidos da Tijuca. O samba é tecnicamente bom e cantá-lo é uma experiência praticamente hilária, contudo a obra tem um ar de estranheza indiscutível. O polêmico enredo do carnavalesco Wany Araújo, ex-parceiro de Joãosinho Trinta, necessitava uma letra exatamente neste estilo, escrachada, sarcástica, cheia de trocadilhos e porque não dizer, pornográfica. No entanto, a melodia, que, por sinal, é excelentemente bem trabalhada, não combina em nada com o tema, pesada demais para críticas tão irônicas como estas, passando até uma certa sensação de morbidez e depressão ao sambista. Um enredo deste aspecto pedia uma melodia mais espontânea e descompromissada, tal como a crítica bem-humorada de 1988, que segue a fórmula certa. Enfim: letra certa, melodia bela, mas errada. NOTA DO SAMBA: 7 (Gabriel Carin).

Aproveitando a transição politca e democrática, e claro, o advento da censura livre, a agremiação do Borel liberou geral em 86 com seu "Cama, Mesa e Banho de Gato", o maior favorito à sambinha mais trash em todos os tempos. A letra é repleta de obscenidade, mas é sarcástica e bem humorada, não tem como reprová-la. Fico imaginando o nível dos outros sambas concorrentes... E concordo com que o Gabriel Carin disse: o maior pecado dste sambinha é a melodia, que não tem absolutamente nada a ver com o irônico tema. Ela é chata em demasia, mórbida, totalmente desinteressante. O enredo é tão polêmico, que com toda minha sinceridade... é dificil de criticá-lo. Mas pelo menos a minha nota para esse sambinha não poderia ser outra. NOTA DO SAMBA: 7,1 (Luiz Carlos Rosa).

É um daqueles sambas que me agradam muito mais do que as coisas insossas atuais. O hino tem muitas coisas ruins como uma letra de mau gosto e uma melodia errônea, mas, é um samba altamente experimental e ousado.  Essa ousadia não deu certo: a escola foi rebaixada. Eu concordo com o João Marcos: um enredo não tão polêmico poderia ter dado mais sorte à escola. NOTA DO SAMBA: 8,1 (Daniel Benfica). Clique aqui para ver a letra do samba

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