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Os sambas de 1985 A GRAVAÇÃO DO DISCO - O disco de 1985 é o marco zero da mudança do estilo de gravação dos LP's de samba-enredo. Até 1984, a bateria no disco consistia num som um pouco mais distante, feito quase que exclusivamente por tamborins, com os agogôs tendo um certo destaque. O LP de 1985 inovou ao colocar nos sambas um clima de gravação ao vivo, mudando o estilo de gravação por completo. O intérprete dá o grito de guerra acompanhado por dezenas de vozes que gritam junto com o puxador. Não é exagero considerar que essa seja a única vez que dê para ouvir com perfeição a voz do intérprete, pois ela é totalmente abafada pelo gigantesco coral que o acompanha. Sua voz, durante o canto do samba, praticamente não é ouvida. Desta maneira, cantar o samba-enredo acompanhando o disco só mesmo com o encarte da letra dos sambas nas mãos, já que a dicção dos intérpretes é muito prejudicada pelo coral. As faixas, que duram em média três minutos e meio, são encerradas com um novo grito da torcida, que aplaude e assobia enquanto o som vai diminuíndo. Já é possível ouvirmos mais instrumentos da bateria em relação aos discos anteriores. As caixas têm grande destaque e os tamborins também aparecem bem, casando bem seus sons com os as caixas. Adoro este estilo de gravação de 1985, cujo clima ao vivo fica claro no encarte com as letras, que diz "Foram dispensados todos os cuidados técnicos na gravação desse disco, no sentido de aproximá-lo o mais finalmente possível do desfile das Escolas na Passarela do Samba". Ah, que tempos aqueles! Quem dera se eles tivessem este tipo de cuidado ao realizar as gravações dos CD's de samba-enredo de hoje... E, pela primeira vez no disco, despontavam os alusivos das escolas cantados no início de cada faixa. 16 escolas desfilaram no Grupo Especial em 1985. Porém, o disco incluiu apenas 12 faixas, deixando de fora os sambas da Santa Cruz, da Em Cima da Hora, da São Clemente e da Unidos do Cabuçu, escolas promovidas de Grupo no ano anterior. Essas quatro escolas gravaram seus sambas-enredos para um compacto (lembram-se daqueles disquinhos com uma faixa em cada lado?), de estilo de gravação semelhante ao do disco principal (com o clima ao vivo e a participação da galera), que foi comercializado de maneira independente. A Santa Cruz, no entanto, gravou seu samba-enredo não só para este compacto como também para o disco do Acesso-85, cuja qualidade de gravação é a seguinte: a bateria é comandada pelos tamborins, cujos sons emitem um pouco de eco, e o canto dos sambas é normal, com o intérprete entoando sozinho o samba na primeira passada e o coral cantando aí apenas os refrões e assumindo a supremacia musical a partir da segunda passada. Temos uma safra bem qualificada, de sambas de muito bom agrado. NOTA DA GRAVAÇÃO: 10 (Mestre Maciel). 1985
é uma safra interessante. Observando todos os 16 sambas das
escolas que desfilaram pelo grupo principal, não vemos nenhum
"É Hoje", "Contos de Areia",
"Liberdade, Liberdade" ou "Kizomba". Não há
um samba realmente antológico, apesar da Caprichosos ter
apresentado, provavelmente, a melhor marcha-enredo da história.
Entretanto, esta talvez seja a ÚNICA safra em que TODOS os
sambas são bons. Isto mesmo, não há um samba ruim, seja no LP
oficial, seja no compacto que foi distribuído em separado.
Nenhuma safra é tão equilibrada quanto a de 1985. O
interessante é que temos todos os tipos de sambas enredo
presentes, desde os pesadíssimos hinos de Salgueiro e União da
Ilha até os sambas leves de Vila Isabel e São Clemente. Além
disso, o disco tem uma produção única, que resolveu dar um
"clima de desfile" às faixas, com um som caótico,
super reverberado, com coros que abafam as vozes dos interpretes.
Os cacos estão presentes em quantidade abundante. O disco tem
uma energia fortíssima, única, fantástica. A bateria está na
cadência exata, com os cavacos se sobressaindo. Além disso,
pela primeira vez temos uma preocupação com os alusivos,
escutando sambas de quadra e exaltações iniciando as faixas -
de cara, o disco inicia com o refrão do lindíssimo
"Jequitibá", de José Ramos ("Madeira de dar
em doido é o jequitibá/Deixa a Mangueira passar").
Escutamos, também, "Deusa da Passarela", na faixa da
Beija-Flor, e "Portela Querida", de Noca, na faixa da
Portela. Em 1984 tivemos dois campeões e, por isso, a Mangueira
abriu o lado A do disco, e a Portela, o lado B. A partir de 1986,
o disco deixou de ser produzido pela TOP TAPE, passando para a
RCA, que impôs a sonoridade moderna que nos habituamos e ouvimos
até hoje, com pequenas variações, e que apesar de mais
técnica, não passa a mesma energia deste LP. Podem me chamar de
burro, mas se eu tivesse escolher apenas um disco de escolas de
samba, seria este. NOTA DA GRAVAÇÃO: 10 (João Marcos). 1A - MANGUEIRA - Samba de excelente melodia, sem dúvida clássica, e de letra simples. Uma bela homenagem a Chiquinha Gonzaga (a forma de marchinha do samba-enredo também deve ter feito parte dela, já que Chiquinha foi uma grande compositora deste tipo de música). O carnaval mangueirense de 1985 ficou marcado pela única ausência de Jamelão no desfile desde a sua estréia na escola, no ano de 1949. José Bispo, no dia do carnaval, fez um show nos Estados Unidos horas antes e, tentando chegar a tempo, pegou o primeiro avião para o Rio. Para o seu azar, quando chegou à Marquês de Sapucaí, a Mangueira já havia passado. Jurandir da Mangueira, o intérprete do samba no disco, devido ao imprevisto assumiu o posto também na avenida. E pela primeira vez foi cantado no disco o famoso alusivo mangueirense "Madeira de dar em doido é jequitibá/Deixa a Mangueira passar". Ele seria entoado também nos discos de 1989 e de 1991 (instrumentalmente, no cavaquinho). NOTA DO SAMBA: 9,1 (Mestre Maciel). Pela gravação do LP, ficava claro que a boa marcha de Hélio Turco e cia. poderia repetir o grande sacode do ano anterior. Os refrões são excelentes e a letra, simples e poética (como a de todos os grandes sambas do compositor) é coisa de quem sabe o que funciona e o que não funciona num desfile de escola de samba. O problema é que Jamelão, que só gravaria no disco oficial a partir do ano seguinte, não pôde levar o samba na avenida, o que ajudou a esfriar os componentes da escola. Mangueira apática é sempre muito triste e a colocação da escola, o nono lugar, refletiu isto. Mas o samba, se não é uma maravilha, é de audição descompromissada e divertida, abrindo bem o LP. NOTA DO SAMBA: 8,9 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba 2A - MOCIDADE - Clássico da agremiação de Padre Miguel! O brilho do Sol, que atingira o seu auge na Sapucaí no momento do desfile da Mocidade, não abatera nem um pouco a escola, que faturou o seu segundo título com seu enredo futurístico e inovador. E com um samba-enredo maravilhoso, de melodia bela, animada, qualificada e, principalmente, envolvente, que enche de orgulho a comunidade de Vila Vintém. Um carnaval apoteótico da Mocidade, um momento inesquecível do Sambódromo em seu segundo ano. Ah, e estreava o clássico alusivo "Mostrando a minha identidade/Eu posso provar a verdade/A essa gente/Como eu sou da Mocidade Independente". A canção da Identidade deu sorte à Mocidade... NOTA DO SAMBA: 9,8 (Mestre Maciel). A genialidade de Fernando Pinto assombrou a passarela. "Ziriguidum 2001" foi algo diferente, inovador, impactante. O fato de o desfile ter sido de dia (houve um imenso atraso por conta da quebra de carros de algumas escolas, etc.) fez com que o prateado das fantasias e das alegorias funcionasse de forma magnífica. O samba de Tôco, muito leve, com todas as características que marcam suas melhores composições, foi a trilha sonora perfeita, não roubando a atenção da parte visual. O destaque do samba é a entrada do refrão, com uma impressionate variação melódica, ressaltada ainda mais pelo côro que acompanha Ney Vianna na faixa. Excelente samba. NOTA DO SAMBA: 9,2 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba 3A - BEIJA-FLOR - A Deusa da Passarela de Neguinho ("Beija-Flor minha escola/Minha vida meu amor") também marcou presença pela primeira vez no início da faixa. Um dos sambas-enredo mais exóticos da história. Embora tenha uma letra um tanto esquisita (devido ao enredo um pouco complexo), a melodia (pesadinha) se encaixa no estilo que se consagraria na escola de Nilópolis nos anos 90. A letra possui uma super pérola da época, como "o crioulo só quer Michael-Jekiar". E há um fato histórico que não compreendo: Eva comeu banana no Paraíso? Eu achava que ela só havia degustado a maçã oferecida pela serpente e depois a ofereceria à Adão (e o resto da história todos devem saber...). Talvez só Joãosinho Trinta tenha a resposta desta tal banana... NOTA DO SAMBA: 9,1 (Mestre Maciel). Um dos enredos mais criativos de Joãozinho Trinta, considerado, no entanto, mal desenvolvido pelos jurados - que provavelmente não entenderam bulhufas do que estava lhes sendo apresentado - deu origem a um dos sambas mais leves e divertidos na agremiação nilopolitana. "Vem loirinha, vem sambar/Que o crioulo só quer 'Michael Jequiar'" é um refrão inteligentíssimo, retratando os modismos da cultura pop na época, pecados que levam o Cristo Redentor a pedir ao pai para nos perdoar. Tudo é muito divertido, a letra não tem aquelas expressões idiotas e gírias sem graça que tentavam fazer a escola ter comunicação com o público e a melodia é rica, com ótimas variações. "A Lapa de Adão e Eva" é o melhor samba da escola nos anos 80 (na minha opinião, o único que realmente presta). NOTA DO SAMBA: 9,4 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba 4A - IMPERATRIZ - Um samba-enredo que passou um pouco despercebido pelos bambas, mas que é divinal. Uma letra esplendorosa e uma melodia fenomenal, principalmente na primeira parte do samba. Além de bonita, a melodia também é "pra cima". Preto Jóia fez a sua estréia como intérprete oficial em 1985, mas, inexperiente, não teve uma atuação convincente, o que acarretou no seu rebaixamento a segundo intérprete, posto que ocuparia até 1991, quando, bem mais amadurecido, assumiria novamente o primeiro microfone da Imperatriz, obtendo a seqüência de carnavais para se consagrar no primeiro time dos intérpretes de samba-enredo. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Mestre Maciel). O samba tem dois refrões contagiantes, que sacudiram o povo na Sapucaí. O resto do samba, no entanto, apesar de uma bela variação melódica no final da segunda parte, não tem a mesma força. A escola, que tinha conquistado respeito com o bicampeonato no início da década, passava por um momento de transição, tentando encontrar sua cara com desfiles leves, buscando comunicação com o público. A Imperatriz só achou o seu rumo em 1989, quando venceu com um desfile técnico, dando espaço para que, anos depois, Rosa Magalhães redefinisse a "cara" da escola. Nesta faixa, temos a estréia do excelente intérprete, mas na época ainda muito "verde", Preto Jóia. NOTA DO SAMBA: 8,3 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba 5A - IMPÉRIO DA TIJUCA - Samba de melodia emocionante e bonita, com bons refrões, aliada a uma letra bastante biográfica homenagando o maestro Custódio Mesquita. Destaque para o belíssimo refrão central "Eu quero ver, eu quero ver a sua ginga/E se você não sabe eu posso lhe ensinar". Que coisa linda! NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel). Tecnicamente, é o melhor samba do ano, coisa de craque. O refrão principal, a princípio sem rimas, foi feito para casar com o verso inicial da primeira parte. Aliás, isso acontece várias vezes ao longo do samba, onde as rimas não são óbvias e geralmente se dão no meio dos versos. Para fazer isso, os compositores se utilizaram de variações melódicas riquíssimas, coisa extremamente sofisticada em alguns momentos. A letra conta a história de Custódio Mesquita, um personagem pouco popular nos dias atuais, com muita clareza e didatismo, com versos sendo repetidos e servindo como mini-refrões, para diminuir o peso do samba. Este é o primeiro de uma trilogia de grandes sambas da escola no especial. NOTA DO SAMBA: 9,6 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba 6A - VILA ISABEL - Sambaço! Melodia envolvente, animada e muito qualificada. Estranho apenas a ausência dos monossílabos e das demais expressões de animação nos refrões (a não ser a repetição de cinco vezes do vocábulo "balão" no refrão principal), já que se trata de um samba-enredo de David Corrêa... Os refrões são fantásticos, devem ter levantado a Sapucaí (não me lembro deste carnaval, pois recém havia completado um ano de idade...). Ah, e o grande Sobrinho solta dois cacos cômicos durante o samba no disco: um esquisito "desempenhem o papel" entre o grito de guerra e o seu conhecido "Vai meu rriiiiiitmoooo..." e um engraçadíssimo "coisa fofa" no começo da segunda passada do samba. Considero esse "coisa fofa" do Sobrinho um dos momentos mais cômicos da história dos discos de sambas-enredo. Rio só de lembrar... NOTA DO SAMBA: 9,4 (Mestre Maciel). Nas eliminatórias mais polêmicas do ano, o consagradíssimo David Correa, recém saído do Salgueiro, venceu o jovem e promissor Pedrinho da Flor, sambista que iria se consagrar no ano seguinte, a partir do sucesso do disco "Raça Brasileira", onde vários dos grandes sambistas da atualidade, como Zeca Pagodinho e Mauro Diniz, foram apresentados ao público. Pedrinho da Flor acabou ganhando sambas na Império da Tijuca e no Salgueiro nos anos seguintes. Já o samba de David Correa fez bonito no desfile, ajudando a escola a chegar a um belíssimo terceiro lugar. É um samba animado, de refrões empolgantes. Tem toda a ginga das obras do compositor, que reinava absoluto em matéria de samba-enredos populares, com sucesso garantido nas rádios e nos desfiles. NOTA DO SAMBA: 9,5 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba 1B - PORTELA - Samba de melodia bela e clássica, recordando os grandes momentos portelenses. Destaque para as palmas no refrão central, ditando o ritmo deste belo samba. E muito bonito o alusivo portelense do começo da faixa "Minha Portela querida/És razão da minha própria vida". NOTA DO SAMBA: 9,4 (Mestre Maciel). Interessante ressaltar que a obra de Noca da Portela e cia. lembra muito o samba "Portela Querida", do próprio autor, que fez parte do disco "Mãos Dadas" e serviu com introdução à faixa da escola no LP. "Portela Querida" é um samba de quadra extremamente empolgante, que canta como a escola é "tão bela" - da mesma forma que o samba-enredo portelense do ano. Consideração à parte, a verdade é que apesar de super animado, a obra não tem um pingo de "oba-obismo". Noca, que não é bobo, tascou refrão com "ôôôô" e fez o samba o mais alegre que podia. O enredo "Recordar é Viver" deu espaço para o compositor ser romântico sem ser piegas, ser irônico sem ser agressivo. Ele reviveu a "marmela", numa referência ao campeonato de 1980. Bom momento portelense na década. NOTA DO SAMBA: 9,1 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba 2B - IMPÉRIO SERRANO - Bom samba, de ritmo bem cadenciado no disco! Uma agradável melodia aliada a uma bela letra do célebre compositor Beto Sem Braço. O excelente Quinzinho, como sempre, conduz muito bem o samba e os agogôs dão um sabor ainda mais especial ao hino imperiano de 1985. NOTA DO SAMBA: 9,2 (Mestre Maciel). Samba de Beto Sem Braço na voz de Quinzinho era sempre uma combinação perfeita. No hino de 1985, o Império cantou a cerveja, de forma simples e poética, numa faixa onde os agogôs fazem a festa. O samba foi visivelmente plagiado pela Camisa Verde e Branco, escola de São Paulo, no seu hino de 1991, "Combustível da Ilusão", que acabou dando o título para a escola. NOTA DO SAMBA: 9,1 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba 3B - CAPRICHOSOS - "Tem bumbum de fora pra chuchu/Qualquer dia todo mundo nu". Já dá vontade de sair cantando, né? A obra-prima da agremiação de Pilares e, na minha opinião, um dos melhores sambas-enredo de todos os tempos! Com este primor de samba, a Caprichosos fez o melhor desfile de sua história. Acabou não obtendo dos jurados o reconhecimento que merecia, já que se classificou apenas em quinto lugar. Mas é um samba que, mesmo repetido por dez vezes ininterruptas, não enjoa. Seu refrão principal é a sua identidade, já que, até hoje, todos chamam o samba de "Bumbum de fora" (assim como o Ita de 1993 do Salgueiro é reconhecido popularmente como "Explode Coração"). Aliás, tal refrão, carismático, foi a apoteose do carnaval de 1985, conquistando a galera nas arquibancadas! Todo o hino da Caprichosos de 1985 é envolvente e o refrão central também é engraçadíssimo, com um apelo sexual que também estaria presente no refrão central de 1986: "Bota, bota, bota fogo nisso/A vigindade já levou sumiço". Sua letra é bastante escrachada, aliada a uma melodia sensacional e, sobretudo, animada. Chegou a se cogitar a reedição do enredo "E por falar em saudade" pela Caprichosos para o carnaval de 2005. Só assim para a escola recuperar sua identidade perdida... NOTA DO SAMBA: 10 (Mestre Maciel). Este samba disputa com "Peguei um Ita no Norte" e "Festa Profana" o título de melhor marcha-enredo da história. Dois refrões fantásticos, que sacudiram a Sapucaí e tiveram um impacto tão grande na história da escola que a fez se tornar uma das mais simpáticas e queridas do público, mesmo realizando desfiles mornos nos vinte anos seguintes. Além disso, botou no mapa o grande intérprete Carlinhos de Pilares, que na faixa do LP deita e rola na sua especialidade, os cacos engraçadinhos. Poucas vezes, um enredo crítico foi tão divertido e pertinente. A Caprichosos de 1985, ao contrário dos anos seguintes, não foi agressiva e nem ranzinza. Foi a cara do povo brasileiro. Por isso, fez um desfile antológico, tão lembrado quanto o genial trabalho da Mocidade. E o samba caiu na boca do povo. Não é uma maravilha, mas é o destaque absoluto da safra. NOTA DO SAMBA: 9,8 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba 4B - SALGUEIRO - A bateria salgueirense dá um show na faixa da escola no disco, com belos breques ao longo do samba e fabulosas arrancadas depois do alusivo ("Salgueiro, meu torrão amado, onde nasci e fui criado") e do último refrão (quando rufam os tambores do Salgueiro, exaltando Vargas, o grande estadista brasileiro), dando início à segunda passada deste belíssimo samba de enredo, de melodia emocionante, bem variada, e uma excelente letra. É um samba que não agrada a muitos bambas provavelmente pelo seu formato um pouco "pra baixo", sem animação! Mas, particularmente, acho que isso não faz nehuma falta em um samba-enredo. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Mestre Maciel). A escolha de Getúlio Vargas como enredo foi estratégica - vivia-se o governo de Leonel Brizola, no Rio Janeiro. Brizola, que foi um dos governantes que mais interferiu no desfile das escolas de samba, inclusive construindo o Sambódromo, era um político da escola de Vargas, o trabalhismo. O samba escolhido tem um tom respeitoso, alçando Vargas ao patamar de herói nacional. A letra é um impressionante resumo da bela sinopse. O samba, que é pesadíssimo, caiu com uma luva para Rico Medeiros, que fez uma interpretação fortíssima. Resultado - o samba, que passou em branco no período pré-carnavalesco, rendeu de forma impressionante no desfile. NOTA DO SAMBA: 9 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba 5B - ESTÁCIO - Samba gostoso de se ouvir, de maneira a ter abocanhado o Estandarte de Ouro de Melhor Samba, batendo Caprichosos e Mocidade. Com uma letra curta e bonitinha e de melodia animada e refrões deliciosos, o samba-enredo estaciano de 1985 tem a cara da escola nos anos 80. Sem dúvida um grande momento do carnaval! Até hoje os simpatizantes do chorinho estão encantados com esta homenagem. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Mestre Maciel). O samba Estandarte de Ouro do ano é realmente muito bom, mas é a amostra clara de que, tirando a marcha da Caprichosos (que nunca iria ganhar o prêmio com o júri conservador escolhido pelo jornal O Globo), nenhum samba se destacou a ponto de se tornar antológico. Este aqui, se não fosse o prêmio, provavelmente seria pouco lembrado, até porque a escola não obteve uma colocação muito boa na classificação geral. O samba tem bons refrões, apesar de não serem empolgantes. A melodia é leve e a letra é o ponto alto, com sacadas brilhantes para falar da história do chorinho. Muito bom. NOTA DO SAMBA: 9,5 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba 6B - UNIÃO DA ILHA - 1985 foi o ano de estréia da figura mais irreverente do carnaval na minha opinião como intérprete oficial: Melquisedeque Marins Marques, de alcunha Quinho. No disco, a estréia é tímida, já que o coral abafa sua voz e Elza Soares rouba a cena por alguns momentos. Mas o intérprete estreante conduz muito bem o samba. E seu grito, ao invés do famosíssimo "Arrepia Ilha (ou Salgueiro)", se resume num "Avaaaaante Uniããão da Êêêêlhaaa". Ele voltaria a ser segundo intérprete com o regresso de Aroldo Melodia no ano seguinte, mas, a partir de 1988, assumiria o microfone titular da escola, indo três anos depois para o Salgueiro. Demais a introdução da faixa, com a galera cantando "Ôôôô ILHA", e a entrada da bateria logo após o grito de guerra de Quinho é triunfal. É um dos sambas menos famosos da Ilha, mas admiro muito sua excelente qualidade melódica e sua excelente letra. Destaque para a poesia do primeiro refrão: "Unindo a negrura/Sacrifício e destemor/Se o sangue assina a tortura/O sangue se apaga com amor". Sensacional! NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel). Este é um samba único na história da escola. Evidente que a União da Ilha do Governador já teve sambas pesados e líricos, mas vinha seguindo uma linha cada vez mais leve, com sambas animadinhos, simpáticos, feitos para ressaltar a maior virtude da escola - a comunicação com o público. Em 1985, entretanto, a Ilha fez o inverso de tudo o que era esperado - pegou um enredo árido, falando da revolta da chibata e do samba "Mestre Sala dos Mares", que usou este episódio para cutucar a ditadura militar. O samba tem uma melodia extremamente pesada, com momentos emocionantes e belíssimos. Quinho, fazendo sua estréia no microfone da escola, mal balbucia as sílabas, tornando a letra incompreensível, mas passando sentimento de forma impressionante, num desempenho de arrepiar. No LP, Elza Soares dá uma ajuda nos cacos, mas na avenida, Quinho não teve ajuda. A escola desfilou mal e quase caiu (chegaram a anunciar seu rebaixamento, mas a recontagem dos pontos, feita algum tempo depois, salvou a escola). Dizem que o samba é o menos cantado na quadra da escola nos dias atuais, o que é uma pena. Para mim, é belíssimo e fecha bem o LP oficial. NOTA DO SAMBA: 9,6 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba
Aroldo Melodia iniciou aqui sua maldição - a de ser cantou de sambas oba-oba e animadinhos. Toda escola para onde ele foi depois que saiu da Ilha, adquiria essa cara para se "adaptar" a ele, como se ele só pudesse cantar esse tipo de samba. Tal maldição agora está com Quinho, seu sucessor. A Santa Cruz, em 1984, fez um belíssimo samba afro, conseguindo subir para o Grupo Especial, mas resolveu mudar de cara com a chegada do intérprete, que deixou a Ilha depois de ser eliminado na disputa de sambas da escola. O samba que defendeu é uma boa marcha, animada e simpática, a melhor que ele cantou longe da Ilha, mas nada de espetacular. A escola fez um desfile problemático e foi rebaixada. O samba, no entanto, teve dois registros oficiais - Aroldo cantou no que consta do disco do Grupo de Acesso. A versão do compacto é menos interessante porque falta o carisma do intérprete. De qualquer forma, é o pior samba da safra. NOTA DO SAMBA: 8,1 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba EM CIMA DA HORA - Presente no compacto dos quatro sambas restantes, este samba-enredo possui uma letra muito bem inspirada e construída para narrar a vida de um retirante que se muda do Nordeste para a cidade grande, a Metrópole que é o Rio de Janeiro. E a melodia, que não possui traços tão originais, também é animada, com dois bons refrões (sobretudo o principal). 1985 foi o último ano que a Em Cima da Hora, uma das agremiações mais queridas do carnaval carioca, desfilou entre as grandes. Rebaixada em último lugar, a escola de Cavalcante jamais imaginaria naquela época que, vinte anos depois, desfilaria no obscuro quinto grupo do carnaval carioca. NOTA DO SAMBA: 8,7 (Mestre Maciel). A escola apostou num enredo que seguia o estilo do de 1984, falando do povo sofrido e sua luta para sobreviver. Em 1984, o foco foi no trabalhador de baixa renda; no de 1985, o retirante nordestino. O samba é menos inspirado - tem uma boa letra, o refrão tem pegada, mas a melodia tem poucas variações. O samba rendeu bem, mas a escola veio paupérrima. Foi um desfile muito digno e marcou a última passagem da escola pelo grupo principal. Particularmente, torço para que ela volte a desfilar entre as grandes em breve. NOTA DO SAMBA: 8,7 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba SÃO CLEMENTE - A figura e o carisma do extraordinário Izaías de Paula despontava no carnaval com a autoria e a interpretação do envolvente samba-enredo "Quem casa, quer casa", recheado com a crítica peculiar da São Clemente, pela primeira vez presente no Grupo Especial desde 1967, até então sua única participação no desfile principal. O samba é excelente, bem envolvente e cantado com garra por Izaías e a comunidade da Zona Sul. Toda a letra despeja a famosa crítica da escola de maneira, por muitas vezes, bem humorada. Destaco os versos: "A natureza/Mostrou ao homem como a vida é/Caranguejo em casa de peixe/Só tem a sua, de acordo com a maré", que enfatizam a relação dos problemas de moradia do homem com o dos animais, onde a competição e a lei do mais forte prevalecem. Ah, e o grito de guerra maravilhoso de Izaías marca o começo da faixa: "Alô, meu povão da Zona Sul! Olha a São Clemente aí! OLHA A CRÍTICA!". Magistral! Pena que a escola desceu de grupo após o desfile. Mas a São Clemente subiria novamente no ano seguinte. O samba foi gravado para o compacto das quatro escolas do Especial que sobraram no disco principal. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel). "Quem Casa, Quer Casa" foi o enredo do ano pelo Estandarte de Ouro, apesar de não ser um enredo - era um tema, do tipo dos que Paulo Barros usa hoje em dia e todo mundo o chama de gênio e inovador. Quem assiste um VT do desfile, tem a mesma impressão que hoje quem assiste os desfiles do carnavalesco - era um desfile para se ver com um sorriso no rosto, algo muito criativo e divertido. O samba tem uma pegada impressionante, apesar de longo. É uma marcha inteligentíssima. Os refrões são bem fortes. É um dos melhores sambas da história da escola. Olha a São Clemente aí! Olha a crítica! NOTA DO SAMBA: 9 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba UNIDOS DO CABUÇU - Belo samba! O refrão principal é um dos mais longos de todos os sambas-enredo (oito versos), chegando a fazer frente com Mocidade-2000. Mas ele é muito envolvente, embora eu ache que ele tenha arrastado um pouco o samba-enredo. A melodia deste samba é muito qualificada, assim como sua letra. Merecem extremo destaque versos como "Os índios antes livres foram massacrados/Trocaram sua tanga pela calça lee" e os do belo refrão central "Quem quer, vai/Quem espera sempre alcança/Do brasileiro ninguém tira a esperança". Grande momento da Cabuçu! O samba-enredo foi comercializado no compacto dos sambas do Especial que não gravaram no disco principal. NOTA DO SAMBA: 9,2 (Mestre Maciel). Belo samba, longo, com três refrões, sendo o de cabeça enorme. A melodia é bem construída, mas um tanto cansativa. A gravação do compacto é muito boa. A escola acabou fazendo um desfile com qualidade suficiente para se manter no grupo principal, onde se manteve até 1990, revezando enredos irreverentes como este e homenagem a personalidades vivas. NOTA DO SAMBA: 8,8 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba |
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