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Os sambas de 1982

Os sambas de 1982

A GRAVAÇÃO DO DISCO - 1982 é um ano que reúne algumas obras-primas do carnaval, entre elas Bumbum Paticumbum Prugurundum (Império Serrano) e É Hoje (União da Ilha). O formato de gravação da bateria no disco é a seguinte: os tamborins são os instrumentos de maior destaque, aparecendo com muita força e mostrando uma excelente harmonia com o cavaquinho. Cuíca e agogô também estão bem presentes (este último instrumento, porém, com menos destaque em relação aos discos de 83 e 84. O prato de bateria também aparece em alguns trechos dos sambas. Já o formato do canto é o clássico: a voz do intérprete é destaque na primeira passada e o coral entra na segunda passada do refrão primeiramente e, em seguida, assume em definitivo o canto na segunda passada do samba. Trata-se de um ano com uma safra bem qualificada, não tão destacada em relação aos dois anos seguintes, mas de nada podemos nos queixar dos sambas de 1982. NOTA DA GRAVAÇÃO: 9 (Mestre Maciel).

Arlindo Rodrigues? Joãosinho Trinta? Ou Viriato Ferreira?  Nenhum dos três! A dupla de carnavalescas Rosa Magalhães e Lícia Lacerda conquistaram pelo Império Serrano o disputadíssimo carnaval de 82. Tanto Imperatriz como a Beija-Flor brincaram com a sorte, desobedecendo a ordem do regulamento da época, que impedia figuras vivas de desfilarem nas alegorias. Consequentemente perderam pontos preciosos. 1982 também ficou marcado pela ultima dobradinha das agremiações de Madureira - Império campeã e Portela vice.  Em matéria de sambas, a safra é agradabilíssima, onde destaco os sambaços do Império Serrano, União da Ilha e Mocidade. A gravadora Top Tape, mais uma vez (e pela ultima vez) exaltou os verdadeiros personagens do nosso carnaval, ilustrando na contra-capa do LP, as fotos dos compositores vencedores das eliminatórias de samba em suas agremiações, para o carnaval de 81. NOTA DA GRAVAÇÃO: 10 (Luiz Carlos Rosa).

1A - IMPERATRIZ - Um clássico da escola, que vivia na época o regozijo de seu primeiro bicampeonato (em 80 e 81). No último ano de Dominguinhos do Estácio em sua primeira passagem pela Imperatriz, o intérprete, também autor do samba, canta um que é a sua cara: com muita animação, aliado a uma melodia muito qualificada e variada. Os dois refrões são sensacionais (o primeiro é envolvente, aliás, este adjetivo até está presente nele e o segundo possui um tom mais clássico) e o seu canto é bem fácil com audição bastante agradável. Não é a toa que, como diz a letra, "neste samba envolvente, nossa gente chegou". NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel).

A escola vivia excelente momento em matéria de samba-enredo. Esta obra de 1982 é bem curtinha como a do ano anterior, com dois refrões espetaculares e maravilhosamente cantados por Dominguinhos. Minha única restrição à faixa, não ao samba, é o andamento acelerado da bateria. Com este samba de ótima melodia, a Imperatriz tinha tudo para chegar ao tricampeonato, mas acabou perdendo pontos por colocar elementos vivos em alegorias. Plasticamente a escola foi até melhor do que o Império, que levou o caneco com seu samba antológico. Mas a Imperatriz também teve um dos grandes sambas do ano. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Fred Sabino).

A vinda de Arlindo Rodrigues para a Imperatriz em 1979 fez com que a agremiação Leopoldinense em apenas três anos transformasse de mediana (almejava apenas colocações intermediárias) a status de superescola de samba. Em 1982 a GRESIL buscava o seu primeiro tricampeonato e gastou rios de dinheiro. Na época, Fernando Pamplona -que na ocasião comentava os desfiles na TVE - afirmou que a suntuosidade das fantasias e adereços era tamanha que dava para desenvolver em pelo menos 10 escolas. Entretanto, mesmo tendo feito um senhor desfile, a escola acabou perdendo pontos de bobeira por trazer em suas alegorias, destaques em carne e osso, o que não era permitido pelo regulamento. A teimosia rendeu a Imperatriz um "modesto" terceiro lugar e o então tricampeonato só foi alcançado muitos anos depois, no carnaval de 2001. De qualquer forma a Imperatriz contribuiu aos sambistas com um belo samba. "Onde Canta O Sabiá" é uma obra extremamente leve e de melodia bastante contagiante. Destaque absoluto para o refrão "Chove chuva / chove sem parar...". Sambaço que abre com empolgação o inesquecível LP do Grupo Especial 1982. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Luiz Carlos Rosa). Clique aqui para ver a letra do samba 

2A - UNIDOS DA TIJUCA - Legítima obra-prima do carnaval! A letra é algo extraordinário, feita em momento de inspiração singular do compositor Adriano (isso mesmo, o samba é de um homem só). E a melodia clássica é daquelas que de maneira nenhuma enjoamos. Dá gosto ouvir um sambaço desses, ainda mais cantado pelo fenomenal intérprete Sobrinho. O hino da Unidos da Tijuca de 1982 possui um formato bastante antigo, dos anos 50 e 60, que infelizmente está ausente nos dias de hoje. Um exemplo claro de que o formato é antigo: o primeiro verso "Vamos recordar Lima Barreto". Antigamente era de praxe a letra do samba começar ressaltando que estava homenageando alguma personalidade ou alguma cidade. Só não precisava dar um ênfase tão grande no triste final de vida do escritor. Mesmo assim, é um grande samba. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Mestre Maciel). 

Apesar de ser um samba com um apelo triste e dramático, não deixa de ser uma obra esplêndida. Como curiosidade, sua construção diferenciada, com dois refrões no final do samba e nenhum no meio. O trecho "Inocente, Barreto não sabia/Que o talento banhado pela cor/Não pisava o chão da Academia" é o melhor momento do samba. Para completar, excelente interpretação de Sobrinho. NOTA DO SAMBA: 9,8 (Fred Sabino).

"Lima Barreto, Mulato Pobre Mas Livre" marcou o ultimo trabalho do carnavalesco Renato Lage na agremiação unitijucana. A obra que exaltava o jornalista e escritor Lima Barreto divide opiniões: uns acham bonitinho, uma obra-prima. Outros, nem tanto... Eu fico na turma dos "nem tanto" por que é um samba muito baixo astral e que tem um "Q" de complexo de inferioridade. Vejamos o inacreditável refrão "Sem amor / sem carinho / esquecido morreu na solidão". É muito direto, apelativo sem necessidade. Qualquer que seja o homenageado, quer ser lembrado pelo seu legado e não pela sua decadência ou momento de fraqueza. A melodia alterna bons momentos com outros de pouca inspiração. A bem da verdade, daria uma nota bastante baixa se não fosse a emocionante interpretação de Sobrinho que valorizou muito esse sambinha. NOTA DO SAMBA: 7,6 (Luiz Carlos Rosa). Clique aqui para ver a letra do samba

3A - MANGUEIRA - Sobre o hino mangueirense de 1982, é pouquíssimo comentado pelos bambas - quer dizer, quase nunca. Mas trata-se de um outro primor de samba-enredo. Sua melodia é toda envolvente, de alto astral, e o formato da mula-manca no disco é interessante: possui um ritmo de batucada africana que fica evidente no refrão central (incrementado com o verso "os negros batucando na senzala em louvor à Oxalá"). Uma parte na minha opinião magistral em termos de melodia está no final do samba: "Os nossos carnavais de antigamente/o pierrô e a colombina encantando a gente/e no carnaval de hoje cheio de loucura/Vem a nossa verde-e-rosa que ninguém segura". Este samba-enredo (cantado por Flavinho Machado, também autor do samba), para mim, está na minha lista particular dos dez melhores da Mangueira. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Mestre Maciel).

Poucos sabem ou se lembram, mas a Estação Primeira teve um desfile sob a batuta do grande Fernando Pinto, que teve a sua carreira marcada pela identificação com a Mocidade. "As mil e uma noites cariocas" foi um interessante enredo desenvolvido pelo brilhante carnavalesco e que teve uma excelente trilha sonora. De melodia agradável e "pra cima", o samba cresce ainda mais na segunda (e mais longa) parte. No disco, a bateria tem interessantes bossas e um ritmo africano no refrão central. Mas, para mim, o final do samba é o ponto alto: "Os nossos carnavais de antigamente/o pierrô e a colombina encantando a gente/e no carnaval de hoje cheio de loucura/Vem a nossa verde-e-rosa que ninguém segura". Como curiosidade, no disco o intérprete é o grande compositor Flavinho Machado, que canta o samba em tom bem agudo. No desfile, Jamelão usou um tom mais grave. NOTA DO SAMBA: 9,8 (Fred Sabino).

Os compositores niteroienses Heraldo Faria e Flavinho Machado, atravessaram a Baía de Guanabara e juntamente com Tolito (na época tricampeão de sambas na Manga) compuseram um ótimo samba pra verde e rosa: "As Mil E Uma Noites Cariocas". A obra possui letra bem compreendida e melodia valente além de ser bastante animada o que não se via na Manga desde "Avatar" do próprio compositor Tolito. O refrão central "Êla êla / o Nãna / êla êla / Ôri-rá..." é absolutamente contagiante e com certeza é a marca registrada da dupla Flavinho e Heraldo. 1982 foi o único carnaval que o saudoso carnavalesco Fernando Pinto desenvolveu na Manga. NOTA DO SAMBA: 9,2 (Luiz Carlos Rosa). Clique aqui para ver a letra do samba

4A - SALGUEIRO - Um dos mais fracos sambas salgueirenses da era pré-Ita (diz-se da época em que a Academia ainda não fazia sambas pra "sacudir e balançar a Sapucaí"). Segundo relatos e declarações, o samba afundou o desfile salgueirense, que finalizou a apuração em oitavo, portanto sua pior colocação de todos os tempos no carnaval (a colocação seria a mesma no ano seguinte, ou seja, o tempo era de vacas magras). Embora sua melodia seja bonita, por ter uma letra longa acaba por acarretar o tão temido arrastamento que destrói a atuação do samba na avenida. É um samba-enredo que os salgueirenses procuram não se recordar muito... Detalhe: a bateria só entra a partir da segunda passada do samba no disco. Curiosidade engraçada: a chiaçada do intérprete e autor do samba Zé Di ao pronunciar a palavra "coche" do refrão central na primeira passada do samba-enredo chega a doer nos ouvidos. Clareia o coshhhhhhhhhe dos leões! Sinixxxxxxxtro... NOTA DO SAMBA: 8,5 (Mestre Maciel).

Bem, o enredo foi "No reino do faz de conta", mas, com o perdão do trocadilho, não vou fazer de conta que gosto deste samba... Depois do excelente samba de 1981, a Academia desfilou com uma trilha sonora que, pelo enredo, tinha de ser leve e agradável, mas que acabou ficando longa demais e, segundo consta, arrastou a escola no desfile. A melodia não é tão ruim, mas o conjunto da obra não ficou dos melhores. Além disso, Zé Di não tem uma interpretação que me agrada - bem lembrada pelo Mestre Maciel a chiaçada no "coccccccccccccccchhhhhe dos leões". Imagino que o Rico Medeiros tenha dado uma incrementada no samba, que mesmo assim é bem mais ou menos. NOTA DO SAMBA: 8,5 (Fred Sabino).

Por muito pouco, o Salgueiro não desfilaria em 82, devido a pior crise financeira que a vermelho e branco atravessava na época. Quanto ao samba, "No Reino Do Faz De Conta" fazia referência a vários tipos de reinos e reinados existentes durante a história. Possui uma melodia contagiante e é o ponto positivo da obra. A letra na minha opinião tenta ser explicadinha com versos longos em diversos trechos do samba. Os refrões são razoáveis e só. O compositor Zé Di fez uma interpretação esquisitíssima e sua voz lembra bastante o interprete oficial Rico Medeiros. NOTA DO SAMBA: 7,9 (Luiz Carlos Rosa). Clique aqui para ver a letra do samba

5A - UNIÃO DA ILHA - Dispensa qualquer tipo de comentários! "É Hoje" é, sem exagero, uma das canções mais famosas da MPB. Dezenas de gravações consagraram este samba totalmente animado, e com satisfação e garra o refrão principal é entoado tanto por cantores de chuveiro como por artistas renomados de nossa música: "Diga espelho meu/se há na avenida alguém mais feliz que eu". Com toda a segurança e mais garra ainda é afirmado: "É hoje o dia da alegria e a tristeza nem pode pensar em chegar". Presente em qualquer espetáculo, desde uma roda de samba até um show com platéia mais burguesa, é mais um clássico de intenso agrado proporcionado pela queridíssima União da Ilha do Governador e seus sambas-enredos maravilhosos. NOTA DO SAMBA: 10 (Mestre Maciel).

Posso estar exagerando, mas, se bobear, "É hoje" é o samba-enredo que mais vezes foi tocado em todos os tempos. Não me refiro à quantidade de gravações, mas às vezes em que ouvimos este hino em rádios, shows, festas, churrascos, eventos e o que quer que seja. O que faz isso acontecer até os dias atuais? Sua melodia animada sem ser oba-oba e sua letra poética e convidativa, não apelativa. Além disso, a interpretação genial do saudoso Aroldo Melodia imortalizou este clássico insulano. NOTA DO SAMBA: 10 (Fred Sabino).

Como já tinha comentado aqui no SAMBARIO quando a própria Ilha reeditou no Grupo de Acesso 2008, "É Hoje" é uma obra eterna e que daqui a cem anos, muita gente estará cantando "A minha alegria atravessou o mar / e ancorou na passarela..." . Concordo plenamente com o colega Fred Sabino: talvez seja o samba-enredo mais cantado na história. A letra é simples, fácil de lembrar e acima de tudo inteligente. A melodia é maravilhosa toda a vida, gostossísima... Enfim, já virou clichê dar nota dez a essa obra-prima. NOTA DO SAMBA: 10 (Luiz Carlos Rosa). Clique aqui para ver a letra do samba

6A - SÃO CARLOS - Samba que passa despercebido no disco. Bem animado a partir da segunda passada com a entrada do coral, talvez o seu único destaque se localize na atuação do saudosíssimo intérprete Abílio Martins e seu timbre clássico, de maneira a fazer o samba-enredo ficar bem lírico na primeira passada, onde sua voz se sobressai. NOTA DO SAMBA: 8,3 (Mestre Maciel).

Um samba muito gostoso de se ouvir, ainda mais com a interpretação de Abílio Martins. É uma obra não lá muito comentada, mas tem vários pontos positivos, como a melodia e os refrões. O refrão "Ô ô ô ô ô ô/No rendar, rendou/A lenda diz que a moça índia foi primeira/Tecelã e que a renda é brasileira" é muito interessante. Não sei como foi cantado na avenida, mas a escola ficou em último lugar. Imagino que não deva ter sido por culpa do samba, que é bem superior à maioria das "marchinhas sem vergonha", como diria Fernando Pamplona, de hoje em dia. NOTA DO SAMBA: 9,2 (Fred Sabino).

Abílio Martins sem sombra de dúvidas é um dos melhores interpretes que o carnaval interplanetário já conheceu. Só ele mesmo para dar vida ao morníssimo samba da São Carlos, que fez uma homenagem as rendeiras. É uma obra que não causa impacto algum, não deixa emoção alguma, mas o simples fato de Abilio Martins cantá-la torna a faixa atraente. A letra é simplória e a melodia oscila muito. Numa parte é contagiante, na outra é reta até o talo. De ponto positivo o bélissimo refrão central "Ôôôôôô / no rendá  rendou ô..." que é de tira o chapéu. Só mesmo o saudoso Abílio Martins, que ainda teve tempo e fôlego para dar uma canja no sambaço-aço-aço da Unidos de Lucas, no Grupo de Acesso no mesmo ano. NOTA DO SAMBA: 7,8 (Luiz Carlos Rosa).  Clique aqui para ver a letra do samba

1B - BEIJA-FLOR - Samba bem animado e de melodia envolvente e contagiante (e também um pouco pesadinha), principalmente na primeira parte, e muito bem interpretado por Neguinho. Embora tenha passado despercebido também, assim como muitas obras em 1982 (mais devido ao sucesso dos sambas da Império Serrano e da União da Ilha), este samba-enredo da agremiação de Nilópolis me agrada muito. NOTA DO SAMBA: 9,2 (Mestre Maciel).

No ano em que perdeu pontos preciosos na briga pelo título por colocar elementos vivos em alegorias, a Beija-Flor pisou na avenida com um samba muito gostoso de se ouvir. O refrão final então é contagiante e deve ter feito sucesso no desfile: "Geme viola, o repente/Vem pro forró si menino/Caruaru tá contente/O Nordeste está sorrindo". A letra é bem descritiva sem ser maçante e a melodia, agradável. Neguinho, como sempre, muito bem na interpretação. Aliás, uma curiosidade: pela primeira vez Neguinho dá o grito de guerra "Olha A Beija-Flor aí, gente!", ao contrário do "Olha O Beija-Flor..." de antes. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Fred Sabino).

"O Olho Azul Da Serpente" foi um dos poucos enredos que Joãosinho Trinta fugiu do seu próprio imaginário para exaltar a cultura brasileira. O tema inspirado na literatura de cordel gerou um samba valente, muito gostoso de se ouvir e (por que não?) cantar. Tanto letra e melodia casam-se perfeitamente bem, formando assim um "samba-repente". Destaque para os empolgantes refrões, principalmente o central "Maracatu bumba ei / tão fascinante chegou..." que é muito fortissimo. Apesar de ser pouco lembrado, é uma obra excepcional e que está na minha lista dos dez melhores sambas nilopolitanos de todos os tempos (logicamente em décimo lugar). NOTA DO SAMBA: 9,3 (Luiz Carlos Rosa).  Clique aqui para ver a letra do samba

2B - MOCIDADE - De melodia bem lírica e toda emocionante, num tom que chega até a ser triste, a Mocidade canta, na minha opinião, um dos melhores hinos de sua história, embora também não seja tão lembrado pelos bambas mais conhecedores do assunto. "O Velho Chico" é um samba maravilhoso, embora em algumas partes pareça que a melodia fora mal costurada. Mas nada que comprometa este belíssimo hino da Mocidade de 1982. O encerramento da faixa com as vozes do coral baixando aos poucos com o som da bateria dos Herdeiros de André (onde aparecem bem o agogô e o repique) é de emocionar. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Mestre Maciel).

Excelente samba da agremiação de Padre Miguel! De melodia e letra agradáveis, é um samba que dá vontade de ouvir várias vezes. Os dois refrões são contagiantes e a interpretação de Ney Vianna é, como sempre, brilhante. No desfile, o andamento da bateria foi mais lento do que no disco e o samba ficou ainda melhor. Entretanto, apesar do ótimo samba, o desfile não deve ter sido lá essas coisas, pois a escola ficou num distante sétimo lugar. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Fred Sabino).

Não dá para entender porque este sambaço quase perfeito não é lembrado pelos sambistas, principalmente os que torcem para a própria Mocidade. "O Velho Chico" possui uma das letras mais inteligente do nosso carnaval, feita por quem entende do assunto. Ela é interpretativa, como se o próprio Rio São Francisco ganhasse vida e contasse sua trajetória, sua história. O refrão central "Vem mergulhar / no meu mundo de água doce..." é de arrepiar o tapete da sala ... simplesmente fantástico!!! É um sambaço pra ouvir quantas vezes quiser e puder!!! NOTA DO SAMBA: 9,8 (Luiz Carlos Rosa). Clique aqui para ver a letra do samba

3B - VILA ISABEL - Samba regular, não é uma obra-prima, mas também não induz tanto desprezo. A melodia é bonita, bem animada e o samba é muito bem interpretado por Marcos Moran. O samba-enredo da Vila de 1982 é, na minha opinião, esteticamente parecido com o de 1981 da escola de Martinho e Noel. A Vila Isabel, evidentemente, possui hinos melhores. NOTA DO SAMBA: 9 (Mestre Maciel). 

Também não é um samba muito comentado, mas o acho muito agradável, apesar da letra não ser tão inspirada como em outras obras da agremiação. A participação do cavaco é excelente e o andamento da bateria é acelerado, mas sem exageros. Gosto da melodia e também da interpretação de Marcos Moran. NOTA DO SAMBA: 9,2 (Fred Sabino).

A Vila em suas eliminatórias de samba tinha duas alternativas: a emocionante obra da genial dupla Martinho e Luiz Carlos da Vila, ou, a obra apenas funcional de J. Albertino. A escola acabou optando pela obra funcional de J. Albertino que possui letra bem simples, com rimas fáceis e uma melodia absolutamente animada. Tem até um refrão central contagiante: "De azul e branco / por este mundo sem fim / lembrando Noel Rosa / eu vou cantando assim" que empolgou os componentes na avenida. Entretanto, é muito inferior ao sambaço derrotado, que consequentemente acabou indo parar no primeiro LP do próprio compositor Luiz Carlos da Vila e fora denominado "Vila Isabel, Anos Trinta". NOTA DO SAMBA: 8 (Luiz Carlos Rosa). Clique aqui para ver a letra do samba

4B - PORTELA - A quarta vitória consecutiva de David Corrêa na Águia evidencia um samba cuja melodia é a sua cara, mesclando animação com lirismo. O samba não é muito comentado entre os bambas mais especialistas (não sei por quê), mas, na minha opinião, se trata de mais uma obra-prima portelense. "Meu Brasil Brasileiro" é daqueles sambas que não cansamos de ouvir e com certeza a sua beleza acabou por ajudar a escola a obter o vice-campeonato em 1982. NOTA DO SAMBA: 9,6 (Mestre Maciel).

Na última das quatro vitórias seguidas de David Corrêa, o samba não foi tão bom como os anteriores, mas mesmo assim é uma bela obra. Gosto muito da melodia e do balanço, mas os versos "Amor (ô amor)/Como é gostoso amar (amar)" são bem genéricos e não me agradam. Entretanto, nada que deslustre mais um belo samba do compositor. Samba que funcionou bem no desfile e levou a Portela ao vice. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Fred Sabino).

"Meu Brasil Brasileiro" ficou marcado na história portelense como a quarta vitória seguida de David Corrêa. Ouvi dizer que muitos compositores concorrentes, na época, chiaram uma barbaridade acusando o compositor de plagiar a melodia do sambaço do ano anterior. Particularmente, a obra só tem probleminha: o excesso da palavra "amor" que aparece CINCO vezes ao longo do samba, mostrando que David e seu fiel escudeiro Jorge Macedo estavam com muito "amor" pra dar. A melodia é deliciosa toda vida e os refrões são maravilhosos. Mas é evidente que este sambão é inferior aos outros anteriores do próprio David. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Luiz Carlos Rosa). Clique aqui para ver a letra do samba

5B - IMPÉRIO SERRANO - Quem vê a extensa letra do clássico "Bumbum Paticumbum Prugurundum" imagina que o samba é oriundo da década de 50 ou de 60, época em que as letras dos sambas de enredo eram quilométricas. E também pode achar iminente o arrastamento nos desfiles dos moldes de hoje. Talvez este conteúdo estético do samba tenha sido traçado propositalmente pela lendária dupla de compositores Beto Sem Braço e Aluísio Machado para dizer que um samba das antigas ainda podia fazer parte do estilo contemporâneo do carnaval, incrementando ainda com uma crítica marcante a este estilo que recém usava fraldas na época. Embora a crítica na letra esteja presente em apenas quatro versos, ela marcou de maneira a citarmos como exemplo até hoje o inconformismo de muita gente com o fato do sambista e as pessoas da comunidade terem ficado em segundo plano para enfatizar as alegorias luxuosas (as super-alegorias), artistas e turistas burgueses que sequer sabem cantar o refrão do samba e, sobretudo, o fato emergente na época, mas já evidente, de que as escolas de samba priorizavam os ganhos financeiros, nem que tivesse que desprezar o melhor samba cantado nas eliminatórias ou um enredo mais rico e qualificado (isso hoje com a contemporânea necessidade de enredos patrocinados). Eram as Super Escolas de Samba S/A, do tipo que havia afastado para sempre o mangueirense Cartola por aquilo parecer desfile militar segundo suas palavras, da mesma laia que proibira Ismael Silva, o fundador da primeira escola, de ver os desfiles por não ter dinheiro para comprar o ingresso. Era a primeira crítica pública do novo estilo das escolas de samba, que para muitos, fora obra do luxo Joãosinho Trinta e do dinheiro do bicheiro Anísio da Beija-Flor. Voltando a falar de Ismael, fora ele quem inspirou o nome do enredo campeão da Império Serrano em 1982. Ele balbuciara, em uma entrevista a Sérgio Cabral, o "Bumbum Paticumbum Prugurundum" numa forma de executar o som da bateria através da boca. O restante da letra conta um pouco da história do carnaval, como se estabilizou o seu formato no Brasil, e ela a descreve numa evolução verso a verso até chegar em 1982 com as Super Escolas de Samba S/A, super-alegorias que escondiam gente bamba numa grande covardia. Já diria Sérgio Cabral: "Brancos, devolvam a escola de samba aos negros". Como este pedido será atendido hoje em dia? Quem sustentaria o carnaval, de maneira a manter o luxo hoje imprescindível que faz atrair milhares de turistas de lugares do mundo inteiro até as arquibancadas da Marquês de Sapucaí? É brabo de admitir, mas os desfiles das escolas de samba de hoje se resultam numa festa capitalista, pouco importando a qualidade do samba e desprezando os mais humildes das comunidades que amam o samba para dar lugar aos endinheirados caras-pálidas que sequer gostam deste ritmo musical tipicamente brasileiro. Esta crítica da Império Serrano fora feita em 1982 e, na época, ainda tínhamos muitas obras-primas do carnaval. A escola acabou, no seu desfile, dando um alerta para mostrar no que o carnaval estava se transformando naquele momento. E, lamentavelmente, o dinheiro e as super-alegorias que escondem ainda mais a gente bamba acabaram definitivamente por diminuir um pouco a apoteose e a magia do carnaval. Por isso que as vendas dos discos de sambas-enredo despencaram consideravelmente, ao ponto de uma pesquisa divulgada no começo de 2004 mostrar que 60% das pessoas não gostam de carnaval, a prova concreta de que a popularidade do samba-enredo descera por ralo abaixo. Tal rejeição melancólica faz com que as músicas mais tocadas do carnaval sejam da estirpe de "Egüinha Pocotó", "Tapinha não Dói" e genéricos. É duro admitir! Isso é profundamente triste para quem tem amor ao carnaval e ao samba-enredo: ver este gênero musical ser desprezado por muita gente (sobretudo os jovens). Sobre o hino da Império Serrano de 1982, se trata indiscutivelmente de um dos melhores sambas-enredo de todos os tempos, daqueles que até hoje se encontram na ponta da língua até de quem não é bamba. Mesmo com uma letra enorme, sua melodia simples, bem variada e encantadora consagram o samba de enredo Estandarte de Ouro de 1982. Foi uma estréia em grande estilo do intérprete Quinzinho na Serrinha, sucedendo muito bem ao imortal Roberto Ribeiro. A propósito, desde 1982 a Império Serrano amarga um jejum de títulos. Outro detalhe é que a escola, no ano anterior, acabou em último lugar. Como não houve rebaixamento naquela ocasião, no ano seguinte, a agremiação da Serrinha simplesmente inverteu a ponta. Só mesmo "Bumbum Paticumbum Prugurundum" para gerar um desabafo desses por minha parte. Dá tempo para mais uma curiosidade? Então lá vai: é o primeiro samba cuja letra consta o nome da avenida onde os desfiles ocorrem desde 1978: Marquês de Sapucaí. NOTA DO SAMBA: 10 (Mestre Maciel).

Qualquer palavra sobre este samba antológico soa redundante. Confesso que não gosto muito dessa coisa de reedição, mas este é um dos poucos sambas que eu gostaria de ver hoje num desfile ao vivo, já que eu nem tinha completado um ano quando o Império ganhou seu último título. A interpretação de Quinzinho no disco é muito boa e, apesar de ele ter cantado o samba num tom abaixo durante o desfile, o povão foi junto. Sobre o samba, assino embaixo o que o Mestre Maciel escreveu para não ser, insisto, redundante. NOTA DO SAMBA: 10 (Fred Sabino).

Acompanho a emocionante opinião do relator, Mestre Maciel. "Bumbum Paticumbum Prugurudum" não é uma obra-prima qualquer. É talvez a obra mais relevante da história do carnaval. Um grito de alerta dos sambistas avessos ao modismo e que tentaram de todas as formas possíveis e impossíveis resgatar o carnaval de outrora... isso em 1982!!! Pra vocês terem uma idéia do quanto esse sambaço É, que foi cantado durante o desfile da Império da Tijuca, segundo relato de um amigo sambista que estava nas arquibancadas naquele dia na "velha" Sapucaí. Sinceramente não tenho mais palavras para comentar essa obra-prima de outro mundo. O carnaval de hoje precisa de um samba assim, como o "Bumbum" - no bom sentido, claro!!! NOTA DO SAMBA: 10 (Luiz Carlos Rosa).  Clique aqui para ver a letra do samba

6B - IMPÉRIO DA TIJUCA - O refrão principal lembra muito a canção que embala as rodas de capoeira (a do Paranauê, Paranauê Paraná). É um dos melhores sambas de 1982 e um dos melhores da história da Império da Tijuca e sua bela safra musical. Sua melodia é sensacional, de refrões envolventes e incrementada com a bela voz grave de Almir Saint-Clair. Um primor realmente. NOTA DO SAMBA: 9,6 (Mestre Maciel).

Excelente samba! O início da faixa é um dos melhores momentos de todo o disco, com o coral cantando o refrão "Paraná ê, ê Paraná/É o Império da Tijuca/Na avenida a lhe exaltar" só com o surdo e depois com o surdo e os tamborins. Letra e melodia fazem o samba da Imperinho de 1982 um dos melhores da sua história. A interpretação de Almir Saint-Clair também é muito forte! O trecho de cabeça do samba "No sol bonito da manhã/Na imensidão da terra dos Tupis/Iara adorava o Deus Tupã/Pedindo a paz com os Guaranis" é muito inspirado. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Fred Sabino).

Particularmente não sou fã desse competente samba da agremiação imperitijucana. "PÔ?!?! O CARA NÃO É FÃ DO SAMBA MAS ACHA COMPETENTE???" Calma rapaziada!!! Deixa eu fazer uma explicação, um comparativo futebolístico!!! Nunca gostei do Rivaldo - pentacampeão pela Seleção em 2002. Mas ele sempre que jogou com a camisa Canarinho fazia a diferença ao contrário do Ronaldinho Gaúcho. É mais ou menos por aí!!! Voltando a falar do samba, possui letra bem elaborada e descritiva e uma boa melodia. Destaco o pegajoso refrão principal "Paranauê  / e Paraná...". É inegável afirmar que esse samba, mesmo não sendo fã dele, é um dos melhores da história da agremiação do Morro da Formiga. NOTA DO SAMBA: 9 (Luiz Carlos Rosa).  Clique aqui para ver a letra do samba

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