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Os sambas de 1980 por Cláudio Carvalho A GRAVAÇÃO DO
DISCO -
Não vou comentar a respeito da gravação, pois
não tenho qualificação para isso. Falarei da safra
como um todo. Temos quatro sambas que passaram a fazer parte do
repertório dos melhores de suas respectivas escolas, como
acontece com Imperatriz, União da Ilha, Portela e Vila Isabel.
Todos esses sambas estão na coletânea que a Sony Music
lançou em 1993, com os dez maiores sambas-enredo das dez maiores
escolas de então (coincidentemente, as mesmas que compõem
essa safra). O samba da Portela foi incluído num pot-pourri
junto ao de 1981. Além desses, temos sambas medianos, como os de
Mocidade, Beija-Flor e Salgueiro. Os destaques negativos ficam por
conta de Império Serrano, São Carlos e, principalmente,
Mangueira. A safra não é a melhor da década (me
recuso a considerar 1980 como década de 1970), mas é
emblemática de um ano em que tivemos três campeãs
(Beija-Flor, Imperatriz e Portela) e três vices (Mocidade,
União da Ilha e Vila Isabel). Para dar as notas, usarei como
critério o regulamento do carnaval daquele ano, que previa a
pontuação de 5 a 10 no quesito samba-enredo, sendo Wilson
Falcão o único julgador.
Mocidade: Campeã, capa do LP e faixa 1 pela primeira vez, a verde e branca de Padre Miguel trouxe para 1980 o enredo que talvez melhor traduza a trajetória do pernambucano Fernando Pinto na escola. "Tropicália Maravilha" não é um samba que se destaca na safra, por si só histórica, mas uma boa faixa de abertura. A letra simples peca pelo excesso de clichês e a melodia é repetitiva, sobretudo nos dois refrões. Nota: 9 Imperatriz: O samba que deu o primeiro título à Rainha de Ramos é um clássico do gênero. Dominguinhos do Estácio, que havia chegado à escola um ano antes, imortaliza a faixa com mais uma aula de interpretação. "O que é que a Bahia tem?" é um dos dez maiores sambas defendidos pelo cantor e também da história da Imperatriz. A grande virtude do samba é falar sobre a Bahia, enredo muito comum na época, e mesmo assim se tornar antológico. Nota: 10 Império Serrano: Depois do purgatório do Grupo de Acesso, rebatizado de 1-B para que ela e a Vila Isabel não se sentissem tão rebaixadas, a verde e branca de Madureira falava novamente em Atlântida. Não a de Oscarito, com a qual havia caído em 1978, mas a lendária cidade grega. O verso "o vento trazia poeira (poeira de ouro) e transformava o meu caminho em tesouro" transmitia a busca da escola por dias melhores, que só chegariam dois anos depois, quando o nível dos sambas também voltou a ser padrão Império Serrano. Nota: 8 União da Ilha: Clássico da discografia insulana, esse samba talvez seja menos conhecido fora da bolha do carnaval, pois é posterior aos antológicos do final da década de 1970 e anterior a "É hoje!", talvez o samba-enredo mais popular de todos os tempos. "Bom, bonito e barato", espécie de biografia da União da Ilha, entretanto, não fica a dever nada aos mencionados. Duas curiosidades: o samba foi regravado num compacto pelo intérprete Robertinho Devagar e reeditado pela escola Boi da Ilha, que com ele venceu a Série Bronze em 2024. Nota: 10 Portela: Inconformada com a perda do título em 1979, a Águia Altaneira, que não vencia havia 10 anos, fato inédito em sua história, resolveu fazer um protesto velado em forma de enredo. "Hoje tem Marmelada" fazia referência ao circo, mas também aos gritos de "é marmelada" que ecoaram no Portelão após a apuração do ano anterior. Embalada pelo belo samba de David Corrêa, maior compositor de samba-enredo da escola e em fase áurea, a azul e branca conquistou sua vigésima estrela. Foi a primeira escola a chegar a essa marca, que demoraria quase 40 anos para ser atingida pela Estação Primeira de Mangueira, em 2019. Nota: 10 Beija-Flor: A grande potência do carnaval da época chegou ao seu quarto título em cinco possíveis com um samba-enredo lúdico, muito lembrado até 1998, quando passou a ocupar outra prateleira no quesito. Os enredos de Joãosinho Trinta costumavam redundar em grandes desfiles, mas quase nunca em bons sambas. Um pouco parecido com o que acontece em relação a Paulo Barros atualmente, guardadas as devidas proporções. O trecho "P b, P ru, P xá", por exemplo, é de gosto pra lá de duvidoso. Nota: 9 Vila Isabel: Inspirado na obra de Carlos Drummond de Andrade, o enredo da escola de Noel foi agraciado com um samba assinado por outro gênio: Martinho José Ferreira. O hino, que pedia "prisão sem tortura" e "puro amor na clausura" ainda na Ditadura Militar, se imortalizou no cancioneiro da escola e do carnaval. Na versão gravada para a coletânea da Sony Music, Martinho menciona o famoso discurso "eu tenho um sonho" de seu xará Luther King e pede: sonhem mais, sonhem mais! Sonhar não custa nada, como descobririamos 12 anos depois em outro clássico do gênero. Uma última curiosidade: o samba recebeu nota 9, enquanto outros indubitavelmente inferiores, como os de Beija-Flor e Salgueiro, foram contemplados com a nota maxima. Nota: 10 Salgueiro: A década de 1980 foi de poucos sambas antológicos para a Academia, que influenciou diretamente o gênero na década de 1960, com enredos que traziam o negro como protagonista, e na de 1970, com o revolucionário Pega no Ganzê. Isso não quer dizer que não houve sambas bons, como é o caso deste. Apenas que eles não costumavam ser os destaques da safra, como aconteceria somente em 1984 e 1989 naquele decênio. Um detalhe interessante é que o estribilho "Epahei Yansã, ilumine o dia de amanhã" tem, na saudação à orixá, letra e melodia idênticas ao do lendário samba de 1984 da Portela. Nota: 9 Unidos de São Carlos: Ainda como o nome antigo, que perdurou até 1983, a vermelho e branca trouxe como enredo, em 1980, a Deixa Falar, agremiação pioneira na adoção do termo "escola de samba", embora nunca o tenha sido de fato. A faixa é animadinha, mas pobre em letra e melodia. Interessante observar o quanto a Bateria Medalha de Ouro, já naquela época, era acelerada. A escola, porém, ainda se ressentia muito da saída de Dominguinhos do Estácio após o carnaval de 1977. O retorno só aconteceria em 1984, quando a já rebatizada Estácio de Sá deixou de ser "ioiô" e participou do desfile principal até 1997, sendo campeã em 1992. Nota: 8 Mangueira: Em termos de samba-enredo nessa década, a verde e rosa era 8 ou 80. Alternou clássicos como os de 1984, 86 e 88 com obras de gosto pra lá de duvidoso, pra ser politicamente correto. É o caso dessa, que tem no paupérrimo refrão inicial o prenúncio do que estaria por vir no restante da letra e da melodia. O desfile teve a melancólica participação do craque Garrincha, que, já debilitado física e psiquicamente, passou pela avenida sentado na alegoria. Ano para a Estação Primeira esquecer. Nota: 7 |
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