Os sambas de 1979 - Acesso B
Os sambas de
1979 - Acesso B
A
GRAVAÇÃO DO LP: O LP do grupo de acesso B (2A) de 79
apresenta na capa a figura de um surdo. O formato de gravação
das faixas assemelha-se com o álbum do Grupo Especial/Acesso A.
Atabaques e frigideiras ditão o ritmo e, claro, o eco do
coral de pastoras, o que torna os LP's do Acesso de 1979
inconfundíveis. O ano marca tambem a divisão dos Grupos 1
(1A/1B) e 2 (2A/2B). O Grupo 3 automatcamente foi extinto. Com
isso, os Grupos Especial (1A) e Acesso A (1B) passavam a ter oito
agremiações cada. Enquanto que os Grupos de Acesso B (2A) e o
recém-criado Acesso C (2B) contavam com 14 escolas. Com
relação aos sambas, a safra é boa. Se tivesse Estandarte de
Ouro de melhor samba do Acesso B, com certeza a Lins
Imperial ganharia com folga. Inexplicavelmente Santa Cruz, São
Clemente, Cordovil, União de Jacarepaguá e Engenho da Rainha
não gravaram seus sambas. Para o "bolachão" não
ficar "manco" (com cinco agremiações no lado A e quatro
no lado B), a gravadora Top Tape resolveu convidar
Unidos de Nilópolis, Grande Rio e Vila Santa Teresa, todas do
Acesso C (2B). NOTA DA GRAVAÇÃO: 9 (Luiz Carlos Rosa).
LINS IMPERIAL: Sambão lindo, lindo, lindo! A
característica marcante da Lins é a quantidade e qualidade
de sambas em tom menor em seu repertório. "A Guerra do
Reino Divino" não foge à regra. Dotado de melodia
dolente com variações perfeitas, faz com que o bamba sinta
forte emoção ao ouvi-lo. A letra narra com perfeição a obra
de Jô Oliveira, onde os personagens Dom Sebastião, Beato e
Lampião influenciam na vida e na fé do povo nordestino. Seu
único refrão - que serve tanto pra inicio, meio e fim do
samba - "ôôô, senhor/mandai para nós o
salvador/rogado em pleno reino divino/o povo nordestino/sofredor"
é fantástico, antológico. E para abrilhantar ainda mais a
faixa, o saudoso e lendário Carlinhos de Pilares dá um show de
interpretação. Um dos melhores sambas da história da
verde-e-rosa do Lins. NOTA DO SAMBA: 9,8 (Luiz Carlos Rosa). Clique aqui para ver a letra do
samba
IMPÉRIO DA
TIJUCA: A
verde-e-branco da Tijuca apostou num tema afro e se deu muito bem
conquistando o título do Grupo B-79. "As Três Mulheres do
Rei" baseia-se num sonho de um negro, em que o rei Xangô
vivia com suas esposas Obá, Oiá e Oxum. É um samba
competente e agradável. O ponto positivo da obra são os
refrões, principalmente o empolgante "agoiê agoiê
Xangô/agoiê agoiê Xangô/pro Império na avenida contar o
sonho de Jerô". Apesar das poucas variações, a
melodia é atraente e convida o bamba a cantarolar o samba. NOTA DO SAMBA:
9,1 (Luiz Carlos Rosa). Clique aqui para
ver a letra do samba
IMPÉRIO DO
MARANGÁ: A extinta
agremiação da Taquara exalta o Estado do Ceará com um samba
mediano do estilo "me engana que eu gosto". A primeira
parte do samba é longa, aliada à uma melodia reta, sem
variação. A partir do verso "terra do sol/do agreste
sertão/das belezas do algodoais", o samba cresce de
produção até chegar ao bonito refrão "arreda
gente/deixa meu gado passar/meu gado vem cansado/do sertão do
Ceará". Para o samba não ficar imenso, os
autores tomaram uma atitude "mandrake": depois desse
refrão, colocaram apenas uma estrofe na segunda parte do samba.
Num todo, o samba não é ruim, mas tambem não é a oitava
maravilha do mundo. NOTA DO SAMBA: 8,6 (Luiz Carlos Rosa). Clique
aqui para ver a letra do samba
EM CIMA DA HORA: "Do Astro-Rei à Rainha das
Flores" é um enredo que exalta as estações do ano. O
samba é de um lirismo impressionante. Possui letra simples e uma
melodia leve. A primeira passada do samba é devagar, quase
parando de tão cadenciado. Já na segunda passada com o coral
das pastoras entoando, a obra dá uma aceleradinha de praxe.
Destaco o refrão central "e a primavera/estação das
flores/vem iluminada de amores/trazendo paz, alegria e
sedução/aguardando a chegada do verão" muito bacana!
A bem da verdade, é um samba bonitinho, mas muito chato. NOTA DO SAMBA:
8,8 (Luiz Carlos Rosa). Clique aqui para ver a letra do
samba
UNIDOS DO URAITI: A verde e branco de Rocha Miranda foi a
última a desfilar no Acesso B-79. Apresentou o enredo
"Força da Vida", um tema incompreensível para quem
tem apenas a letra do samba. Mesmo assim, é pródigo ressaltar a
pífia linguagem deste sambinha apelativo e com enormidades de
clichês. O verso "e a inteligência evoluiu e
descobriu/os astros zodiacais" é bizarramente
horrendo. Não há nenhum momento marcante na melodia. E o
refrão final "gira roleta,quero ver girar/quero ver se
vou perder/quero ver se vou ganhar" é um verdadeiro
ponto de interrogação em nossas cabeças. Sambinha
intolerável! NOTA DO SAMBA: 4,9 (Luiz Carlos Rosa). Clique aqui para ver a letra do
samba
JACAREZINHO: Talvez o samba mais popular da escola.
Diferentemente da Uraiti, é um enredo de fácil entendimento por
ser direto: como afastar o azar. É o samba mais animado do
disco. Possui letra curta - caracteristica dos sambas da escola -
e melodia pra lá de contagiante. Gosto do refrão "sexta
feira 13/13 de agosto/muita gente benze a casa/e toma banho de
sal grosso", um verdadeiro achado. A faixa ainda
ganha uns rufores de atabaque. Com toda certeza um dos melhores
sambas da rosa e branco do Jacaré. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Luiz Carlos
Rosa). Clique
aqui para ver a letra do samba
UNIDOS DA TIJUCA: 1979 marca o ano da primeira vez de
Renato Lage como carnavalesco de uma escola de samba. Em 77
e 78, fazia parte da equipe de Fernando Pamplona no Salgueiro.
Lá era escultor e desenhista, até ser convidado para
desenvolver o enredo da Unidos da Tijuca: "Brasil Canta e
Dança". A escola subiu e, no ano seguinte, foi a campeã do
Acesso A, voltando depois de muito tempo ao Grupo Especial em
1981. Renato Lage ficou até 83. Falando do samba, dotado de
letra descritiva e melodia envolvente. O refrão inicial "maracatu,
maculêlê/tem congada e capoeira/e tambem cateretê"
tem uma pegada muito forte. Começava aqui a boa sequencia de
sambas da azul e ouro da Tijuca. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Luiz Carlos
Rosa). Clique
aqui para ver a letra do samba
UNIDOS DE BANGU: Estranhamente, o enredo é semelhante
com o da Unidos da Tijuca. Diferentemente do samba tijucano, o da
agremiação de Bangu tem uma obra de mediana para fraca, com
jeitinho de marcha-enredo indisfarçável. A letra tem momentos
esquecíveis como no verso "Passando na Bahia
abençoada/terra da boa cocada..." só para rimar
abençoada com cocada. Ao invés de um refrão final,
colocaram um forçado "larara" pra encher o samba de
lingüiça. A melodia não é das melhores. Ou seja, um sambinha
que passa despercebido no LP. NOTA DO SAMBA: 7 (Luiz Carlos
Rosa). Clique aqui para
ver a letra do samba
TUPY DE BRÁS DE
PINA: A partir
desse sambinha horrendo, a Tupy de Brás de Pina começava a
viver no ostracismo até 1995, ano em que enrolou a bandeira. A
escola não conseguia fabricar sambas acima da média. É claro
que seria difícil apresentar uma obra do quilate de "Seca
do Nordeste" um dos melhores da história. Porém, a sua ala
de compositores deve ter coçado a cabeça para escolher os
sambas que representariam a escola em qualquer momento. O
sambinha de 79 denominado "Folia-Folia" é um dos
piores sambas de toda a história do carnaval carioca. A começar
pelo intérprete Serginho que comprometeu a faixa. A letra é
cheia de palavreados rebuscados que dão uma impressão de falsa
poesia. A melodia é retíssima até chegar ao refrão único. Os
versos são quilométricos. E o que dizer desse verso:
"sururu convidou a valentia/ela deu navalhada, sopapo,
rasteira e foi parar no xilindró"? Trash até o talo!
Sem querer ser o dono da verdade, mas este sambinha é uma
verdadeira mácula na história da Tupy e do nosso carnaval. NOTA DO SAMBA:
3,1 (Luiz Carlos Rosa). Clique
aqui para ver a letra do samba
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