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Os sambas de 1974 A GRAVAÇÃO DO DISCO - Pandeiro, tamborim, reco-reco e agogô são os instrumentos que estão presentes como fundo dos sambas, fazendo um som bastante tradicional e diferente do atual que a bateria costuma fazer. A safra de 1974 tem como destaque os sambas da Portela, da Mocidade, da Em Cima da Hora e do Salgueiro, campeão daquele ano. NOTA DA GRAVAÇÃO: 7 (Mestre Maciel). 1A - PORTELA - A escolha da dupla Jair Amorim e Evaldo Gouveia para a autoria do samba-enredo de 1974 da Portela provocou um número elevado de discórdias na escola. Os compositores ficaram inconformados e os diretores revoltados, mas a decisão foi mantida. Jair e Evaldo, consagrados compositores de boleros, não tinham experiência nenhuma com samba. Porém não desperdiçaram a oportunidade oferecida pela Águia: a dupla compôs simplesmente um dos melhores sambas-enredo de todos os tempos. Pixinguinha realmente ganhou uma homenagem singular, com uma letra extraordinária unida a uma melodia emocionante. A dupla conseguiu aproveitar bem o apelido de infância do compositor, tanto que até hoje o samba-enredo é conhecido como Pizidim. A poesia também prevalece no samba, pois tiradas como "A roseira dá rosa em botão/Pixinguinha dá rosa canção" são consideradas inéditas no quesito samba-enredo e dificilmente serão superadas numa tentativa posterior de mesclar criatividade com beleza. E o primeiro refrão então? Desafio o bamba a encontrar algo mais lindo do que a melodia destes versos que são de arrancar lágrimas até de quem não curte muito o samba: "Portela/Teu carinhoso tema é oração/Pra falar de quem ficou/Como devoção/Em nosso coração". Um momento único do carnaval esta obra-prima portelense! Pixinguinha, do céu, até hoje agradece! E a galera que retrucou a decisão do presidente de manter Jair Amorim e Evaldo Gouveia como os únicos compositores da escola cessou um pouco os protestos após se depararem com a maravilha composta pela dupla, que estaria de volta em 1978, responsável pelo samba de enredo "Mulher à Brasileira". NOTA DO SAMBA: 10 (Mestre Maciel). Clique aqui para ver a letra do samba 2A - BEIJA-FLOR - A então pequena e inexpressiva Beija-Flor de Nilópolis retornava ao desfile principal depois do rebaixamento em 1963. E a Beija continuava com a sua característica de fazer enredos enaltecendo as obras do governo militar. Em 1973, a escola foi promovida de grupo com o enredo "Educação para o Desenvolvimento". No ano seguinte, a agremiação aprofundou um pouco mais as exaltações aos militares deixando claro que, com os feitos do governo da época, o país era promissor, e o homem e a máquina alcançariam posteriormente obras de emérito valor. Vivíamos a época do milagre econômico e, durante o governo Médici, foram construídas, entre outras obras, a Rodovia Transamazônica e a Usina Hidrelétrica de Itaipu. A Beija-Flor, no carnaval, tornou-se a grande divulgadora das obras do governo, e manteria tal status também no ano seguinte elogiando "o grande decênio" do comando do Brasil pelos militares. Sobre o samba, possui uma melodia envolvente, com o refrão "É estrada cortando/A mata em pleno sertão/É petróleo jorrando/Com afluência do chão" sendo repetido duas vezes por passada. Desde o ano de 1974, a Beija-Flor nunca mais deixou o desfile principal, sendo hoje uma das mais fortes escolas de samba do carnaval. NOTA DO SAMBA: 9,2 (Mestre Maciel). Clique aqui para ver a letra do samba 3A - SÃO CARLOS - Samba simples e animadinho, mas estão ausentes relevantes variações melódicas. Daqueles sambas-enredo que são esquecidos logo após o desfile. Nem se compara com os dois sambas seguintes que a mesma escola faria nos carnavais posteriores. NOTA DO SAMBA: 7,6 (Mestre Maciel). Clique aqui para ver a letra do samba 4A - IMPERATRIZ - Letra simples aliada a uma melodia animada. O começo com "Recordar é viver" possui, porém, uma melodia feia, mas que melhora conforme o samba-enredo vai sendo cantado. Em termos melódicos, o melhor momento deste samba, que homenageou Silas de Oliveira - compositor imperiano falecido em 1972 -, é o refrão "Vou pegar na viola/Vou cantar o samba/Rendendo esta homenagem/Ao mestre Silas bamba". Mas Silas, pelo seu vasto conjunto de obras-primas, merecia sinceamente uma homenagem melhor. NOTA DO SAMBA: 8,4 (Mestre Maciel). Clique aqui para ver a letra do samba 5A - IMPÉRIO SERRANO - Cantado no disco pelo extraordinário Abílio Martins, um dos primeiros ciganos do carnaval (trocava de escola anualmente), "Dona Santa Rainha do Maracatu" é um samba curto, mas de excelente melodia, com variações bem inspiradas. O refrão central "Ô ô ô ô ô/Olha a costa velha do batuque do tambor/Ô ô ô/Maracatu Elefante chegou" é belíssimo. O excelente samba proporcionou à escola um belo desfile em 1974. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel). Clique aqui para ver a letra do samba 1B - MANGUEIRA - Samba de minguados dezesseis versos e sem refrões. Assim é o hino mangueirense de 1974, cantado no disco pela então jovem Beth Carvalho. O samba-enredo é excelente, com uma melodia para lá de envolvente e um maravilhoso trecho em termos melódicos, formado pelos versos "A congada, boi-bumbá/Ô meu santo, saravá/Ô rendeira, mulher rendá/Ô baiana, ó sinhá". Um excelente samba da Mangueira, porém pouco comentado pelos bambas. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel). Clique aqui para ver a letra do samba 2B - MOCIDADE - A Mocidade Independente de Padre Miguel até então era uma escola de porte médio, conhecida mais pela sua envolvente bateria comandada pelo saudoso Mestre André - o homem que introduziu a paradinha - do que pelos desfiles e sambas. A escola subiu para o Grupo Especial em 1958, quando ganhou o carnaval do Grupo 2. Ingressou entre as grandes em 1959 e permanece entre as principais agremiações do Rio até hoje, sem amargar um único rebaixamento neste tempo. Mas só em 1974 que a Mocidade ganharia espaço dos holofotes, através do enredo "Festa do Divino" e do belíssimo desfile realizado pela escola. Se não fosse uma nota baixa de um jurado atribuída às fantasias, a Mocidade poderia ter levantado o caneco naquele carnaval. A nota deixou a escola apenas na quinta colocação. O samba-enredo é um dos melhores de todos os tempos, de melodia leve e fantástica, daqueles que o bamba não se cansa de ouvir. Detalhe que a Mocidade estreava no carnaval de 1974 o intérprete Ney Vianna, vindo da Em Cima da Hora (onde cantou o extraordinário samba de 1973 da escola), que puxou "Festa do Divino" na avenida junto com Elza Soares. NOTA DO SAMBA: 10 (Mestre Maciel). Clique aqui para ver a letra do samba 3B - VILA ISABEL - Samba cuja letra é marcada pela exaltação exacerbada ao regime militar então vigente, com versos típicos da época como "a grande estrada que passa reinante/por entre rochas, colinas e serras/leva o progresso ao irmão distante...". A Vila preferiu evidentemente não encarar a ditadura ao eleger o grandioso samba de Martinho, que o sambista gravaria mais tarde como "Tribo dos Carajás", cujo refrão de protesto lamentava que o índio "está sumindo da face da terra". A melodia do samba ufanista que desfilou é a mesma em suas duas partes, com oito versos cada, aliados a um refrão de laiá e a um outro bastante agradável. Cantado por Paulinho da Vila (dono de um belo timbre), o hino da Vila de 1974 é muito envolvente em termos melódicos. Mesmo com o belo samba, a escola amargou a última colocação no carnaval. Mas a Vila Isabel safou-se por não haver rebaixamento no carnaval de 1974. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel). Clique aqui para ver a letra do samba 4B - EM CIMA DA HORA - Cantado no disco pelo conjunto vocal "As Gatas", o samba-enredo da Em Cima da Hora para 1974 é um verdadeiro primor. A belíssima melodia se assemelha ao clamor do negro, o que embeleza ainda mais este lindo samba da escola de Cavalcante. Aliás, sambas de enredo afro costumam agradar o rico ouvido do bamba e esta obra-prima de Baianinho não quebra este protocolo. Por essa e outras obras-primas, lamentamos o atual estado em que se encontra a Em Cima da Hora, uma das mais queridas agremiações do Rio de Janeiro, que se encontra atualmente no obscuro no Grupo D. O samba será reeditado no carnaval de 2006 pela escola. Uma pena que se restringirá ao anonimato da Intendente. NOTA DO SAMBA: 10 (Mestre Maciel). Clique aqui para ver a letra do samba 5B - SALGUEIRO - O samba agrada por sua excelente qualidade melódica. Sem dúvida contribuiu para o título salgueirense, dando início a uma seqüência que resultaria para o carnavalesco Joãosinho Trinta um pentacampeonato particular (74 e 75 pelo Salgueiro e 76, 77 e 78 pela Beija-Flor). O tema era "Rei de França na Ilha da Assombração" e a conquista do título resultaria numa gozação dos salgueirenses aos portelenses através de uma paródia do samba da Portela de 1974: "Lá vem Portela/Com Pixinguinha e seu Natal/Para aprender com o Rei de França/Como se ganha o carnaval". Bons tempos aqueles... NOTA DO SAMBA: 9,7 (Mestre Maciel). Clique aqui para ver a letra do samba |
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