Xangô
da Mangueira foi um estilista do samba, improvisador, especialmente no
partido-alto e sua influência se estende por vários
representantes do gênero, especialmente Martinho da Vila.
Até 1951, foi o intérprete oficial da
Estação Primeira, posto depois ocupado por Jamelão.
O jovem Olivério iniciou no samba na década de 1940, na
escola de samba União de Rocha Miranda, transferindo-se
posteriormente para a Portela, onde foi discípulo do
célebre Paulo da Portela. Após a saída de Paulo da
escola, Xangô o seguiu por um tempo em outra escola, a Lira do
Amor. Como também admirava a Mangueira, Xangô pediu
permissão ao seu mestre, Paulo, e ingressou na verde e rosa,
onde permaneceu pelo resto da vida, notabilizando-se como diretor de
harmonia, cargo que ocupou por várias décadas.
Xangô foi o intérprete oficial de samba da Mangueira
até 1951, quando foi sucedido por Jamelão. Na
década de 40, ao diretor de harmonia cabia dar a
“puxada” no samba (cantar sozinho a primeira passada no tom
certo) para o coral da escola entrar depois. Surgia então a
expressão “puxador de samba” – antes restrita
ao mundo do carnaval até meados da década de 70, quando o
termo passou a aparecer impresso nos selos dos discos de samba-enredo.
Detalhe: nos primórdios do carnaval, o diretor de harmonia
puxava o samba nos ensaios no terreiro e no desfile SEM microfone ou
carro de som.
Na década de 1970, Xangô da Mangueira gravou quatro LPs
pela gravadora Tapecar e desenvolveu extensa atividade
artística, apresentando-se como cantor em todo o Brasil e no
exterior. Como compositor, teve diversas obras gravadas por cantores
como Clara Nunes e Roberto Ribeiro. Entre seus maiores sucessos:
“Moro na roça”, “Quando eu vim de
Minas”, “Recordações de um batuqueiro”,
“Senhor diretor de harmonia”, “Isso não
são horas”, entre outras.
Embora tenha feito fama com o nome do orixá da justiça,
do fogo, dos raios e das tempestades, e de ter frequentado terreiros,
Xangô da Mangueira era um adepto do budismo, ao qual foi
apresentado pela esposa Sônia, com quem viveu durante 22 anos. O
apelido surgiu ainda na adolescência, quando o compositor
trabalhava numa fábrica de tecidos no bairro de Del Castilho, na
zona norte do Rio. Olivério gostava de apelidar as pessoas, e
passou a chamar um colega de trabalho de Macumba. O colega aceitou, e
notou que Olivério tinha a cara de um desenho do orixá
Xangô impresso em um calendário de parede no
escritório onde ambos trabalhavam. O apelido acabou pegando. No
carnaval, três personalidades levaram o apelido de Xangô:
Joel Toledo, do Morro de São Carlos (Xangô do
Estácio); o professor de história Júlio Machado,
que a cada ano desfilava pelo Salgueiro fantasiado de Xangô (o
padroeiro da escola), sendo chamado pelos mais próximos de
“Xangô do Salgueiro”, e, finalmente. Olivério
Ferreira, o Xangô da Mangueira.
O “senhor diretor de harmonia” sofria de mal de Parkinson e
tinha infecção renal crônica, agravada pelo
diabetes. Olivério Ferreira morreu de complicações
cardíacas, às vésperas de completar 86 anos, no
Hospital do Irajá, sendo velado e enterrado no cemitério
do Cajú. E Xangô da Mangueira entrou definitivamente no
panteão dos orixás do carnaval brasileiro.
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MAIS FOTOS DE XANGÔ DA MANGUEIRA
Xangô e o
estandarte da Mangueira
Capa de seu primeiro disco, "Rei
do partido-alto" (1972)
Capa de seu terceiro disco,
gravado em 1978
Foto pesadíssima com a
fina flor do morro de Mangueira: Padeirinho, Babaú, Xangô,
Nelson Sargento e Jorge Zagaia, nos anos 70
Outra foto pesada: mesa animada
reunindo Xangô, Roberto Ribeiro, João Nogueira, Martinho
da Vila e Mano Décio da Viola, durante as
gravações do programa Levanta a Poeira, que foi ao ar na
TV Globo em 1977
Encontro de duas forças
da natureza: Xangô da Mangueira (esq.) e Clementina de Jesus
(final dos anos 70)
Outra foto que foi
difícil de carregar, de tão pesada: o compositor
Xangô e o ator Grande Otelo
Xangô e sua neta, a jovem
Squel, em 2002. Nessa época, a hoje primeira porta-bandeira da
Mangueira defendia o pavilhão da Grande Rio, escola que desfilou
por dez anos
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