Poucas
pessoas podem se orgulhar de conhecer tão bem o Morro de
Mangueira quanto Tantinho. Negro, baixo, forte, de voz imponente e bom
humor contagiante, ele é considerado por muitos a memória
viva do morro. Formado musicalmente sob a atenção de
personagens emblemáticas da localidade, como Cartola, Carlos
Cachaça, Nelson Cavaquinho e Padeirinho, Tantinho é cria
da Mangueira, onde já desfilou na bateria, ganhou samba-enredo e
até “puxou” samba na quadra.
Aos seis anos de idade, a
mãe, dona Mendes, lavadeira e baiana da escola, sem ter onde
deixá-lo, arrumou uma maneira de incluí-lo na bateria da
Estação Primeira de Mangueira. Ainda menino sua
diversão era cantar e acompanhar os mais velhos nas rodas de
partido alto. Para conseguir seu espaço, começou a compor
sambas aos 11 anos.
Aos 13 anos de idade foi
apresentado por Dona Neuma a Cartola. O menino fez um teste e o velho
Angenor de Oliveira o aprovou para a ala de compositores da verde e
rosa. Como naquela época não era possível viver
só de música, Tantinho teve que trabalhar como
office-boy, laboratorista e em agência de publicidade.
Aposentou-se como funcionário da Funarte em 1996.
No final da década de
60 foi convidado por um amigo ritmista da Mangueira, chamado
Antônio Carlos, a ingressar em um grupo de samba que iria
acompanhar cantores famosos da MPB, participar de festivais musicais e
programas de TV, além de excursionar por todo o Brasil.
Tantinho, que na época não era muito afeito a viagens,
ficou poucos meses no conjunto (que viria a ser batizado como Os
Originais do Samba), para tristeza de seu amigo, que tempos depois
ganhou o apelido de Mussum.
Mesmo assim, Tantinho nunca
abandonou as rodas de samba e era presença certa nos pagodes nas
favelas de Tengo-Tengo, Santo Antônio e Chalé, as
comunidades que formavam o morro de Mangueira.
Tantinho também
participou de Partido Alto, documentário escrito e dirigido por
Leon Hirszman, filmado em 1976 e lançado em 1982. Tantinho
aparece “tocando” prato e faca e mostrando passos de
dança de samba na primeira parte da película, comandada
por Candeia.
Em 1977, ganhou seu primeiro
e até agora único samba-enredo pela Mangueira,
“Panapanã, o segredo do amor”, em parceria com
Jajá. No entanto, sempre apresenta sambas concorrentes fortes
que na maioria das vezes chega às finais das disputas.
Tantinho substituiu
várias vezes Jamelão na quadra da Mangueira, quando o
mestre viajava para fazer shows e Tantinho segurava as pontas cantando
sambas enredos antigos e principalmente sambas de terreiro.
Lançou
seu primeiro disco solo aos 60 anos de idade, o CD duplo
“Tantinho Memória em Verde e Rosa”, uma
reunião de pérolas escondidas (muitas delas jamais antes
gravadas), de compositores mangueirenses da mais alta estirpe, como
Enéas Brites, Moreira da Silva, Geraldo Pereira, Manoel Ramos,
Padeirinho, Pelado, Babaú, Hélio Turco, entre outros. No
álbum, o cantor também fez dueto em duas faixas com dois
nobres baluartes, Nelson Sargento e Xangô da Mangueira. O
trabalho ganhou o Prêmio TIM de melhor CD de samba. Em 2010,
lançou o tributo musical ao compositor Padeirinho no disco
“Tantinho Canta Padeirinho da Mangueira”, vencendo o
Prêmio da Música Brasileira de Melhor CD e arrebatando
ainda na categoria de Melhor Cantor de Samba. Tantinho é
considerado no meio musical referência indiscutível da
história da verde e rosa. No disco lançado por Maria
Bethânia em 2019, "Mangueira - A Menina dos meus Olhos", Tantinho gravou
seu samba-enredo concorrente derrotado para a disputa de 2016, para
muitos superior ao samba que embalou a vitória da verde-e-rosa
na avenida.
Faleceu em 12 de abril de 2020, vítima de diabetes.
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