Taí uma parceria
nascida no Arranco que fez grande sucesso no carnaval carioca durante
os anos 80. Um era o complemento do outro, tanto nas
composições quanto no canto na avenida. Sylvio Paulo e
Juan Espanhol são dois grandes compositores do Engenho de
Dentro, cuja trajetória se confunde com a própria
história do Arranco.
O falcão azul e branco
surgiu como bloco em 1948 e tornou-se escola de samba em 1973. Em seu
primeiro carnaval, no ano seguinte, o Arranco desfilou com uma obra de
autoria de Espanhol - o samba "Estrela Dalva". Espanhol soma até
agora 13 composições na escola (já contando o
samba para 2006), mais duas na Unidos da Tijuca e uma na Portela,
somando 16 composições (sem contar mais dois sambas que
ganhou no bloco Vai se Quiser - cuja sede também era no Engenho
de Dentro - no fim da década de 70 e começo na de 80).
Mesmo evitando qualquer tipo de comparação com o
compositor mangueirense Hélio Turco, Juan Espanhol está
empatado com Hélio, o maior vencedor de samba-enredo do carnaval
carioca, que ganhou 16 vezes na Mangueira. Humilde, Espanhol reverencia
Hélio Turco como mestre, deixando claro que ele venceu todos os
concursos na verde-e-rosa. "Desnecessário dizer mais nada",
completa o maior vencedor da história do Arranco, que
também considera Silas de Oliveira, Beto Sem Braço e
David Corrêa seus ídolos. Sylvio Paulo, também
compositor, passou a ser a voz oficial da escola em 1980, ao suceder o
puxador Paulo Samara.
Juan é europeu. Nasceu em
Louredo, província de Orense, região da Galícia,
na Espanha, em 26 de agosto de 1951, e chegou ao Brasil em 1961, mais
precisamente em Juiz de Fora (MG). Residiu na cidade mineira até
os 18 anos, quando se mudou para o Rio de Janeiro, indo morar
justamente nos fundos da quadra do ainda bloco Arranco. Entrou para a
ala de compositores da agremiação em 1973.
Sylvio Paulo nasceu em
Nilópolis, em 2 de março de 1953. Sua família
mudou-se para o Engenho de Dentro quando tinha nove anos de idade e foi
morar ao lado da quadra do Arranco. Na época do bloco, foi
ritmista (tocava repique), diretor de bateria e compositor.
A fértil parceria entre
Sylvio e Espanhol teve início em meados da década de 80 e
gerou um período áureo de excelentes
composições. Na avenida, Sylvio entoava sua bela e
afinada voz, complementada pelos cacos de empolgação
geralmente proferidos por Espanhol. O primeiro fruto da parceria
ocorreu em 1985, com o belíssimo samba "Chuê-chuá,
moronguetá cruz credo!", que deu à escola a terceira
colocação no Grupo 1-B (atual Grupo A).
O auge da performance da dupla
aconteceu em 1989, quando o Arranco desfilou pelo Grupo Especial
após 11 anos afastado da elite do carnaval. "Quem vai querer?"
até hoje é considerado o melhor samba de sua
história e gerou uma reedição em 2005, quando a
escola conquistou o vice-campeonato do Grupo B. Em 1990, a dupla
ampliou o seu talento, sendo vitoriosa na Portela, com "É de
ouro e de prata este chão". Sylvio Paulo e Espanhol
também ajudaram Dedé - puxador oficial da Portela na
época - no carro de som. Em 1991, defendendo um samba que
não era de sua autoria, Sylvio Paulo se despediu momentaneamente
do microfone. Ele continuaria ainda a freqüentar ensaios e a
quadra do Arranco, mas não mais como puxador da escola.
Além de disputar no
Arranco, Juan Espanhol ganhou duas vezes na Unidos da Tijuca. Mesmo com
a precoce aposentadoria do amigo, Espanhol prosseguia como compositor e
intérprete de apoio do Arranco do Engenho de Dentro até
2003. O sambista chegou a estar ausente do carro de som da escola
devido à uma crise de depressão.
Para o carnaval de 2006, a
parceria entre Espanhol e Sylvio Paulo foi reativada e ela novamente
trouxe sorte: a dupla venceu o concurso de sambas para o enredo
"Guelédés, o retrato da alma", novamente pela azul e
branco do Engenho de Dentro. Juan Espanhol não contém a
emoção ao falar da volta da legendária dupla: "O
abraço que nos demos e o marejar nos olhares um do outro
dispensou quaisquer palavras. Apenas prolongamos o abraço...", exalta.
O samba-enredo foi agraciado com o Estandarte de Ouro do Grupo A.
É o primeiro que a dupla levou após mais de três
décadas de carnaval.
Em 2008, a dupla voltou ao
microfone principal do Arranco no Grupo B. Foi a última
oportunidade para ouvirmos Espanhol gritando na Sapucaí: "Na
ilusão dessa avenida, o Arranco é todo amor! Vaaaaai...".
Juan Espanhol foi vice-presidente do Arranco de 2012 até 2017. A
dupla
marcou presença nas eliminatórias de samba
da Portela até 2017. Juan Espanhol faleceu em 25 de fevereiro de
2019.
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Início: ambos
são crias do Arranco e começaram junto com a escola, no
início dos anos 70.
Sylvio Paulo:
1980
a 1991 - Arranco do Engenho de Dentro
1990 - Portela (apoio de Dedé)
2008 - Arranco do Engenho de Dentro
Espanhol:
1985 a 2003 e em 2008-
Arranco (apoio de Sylvio Paulo, Nylson, Nego, Sidney de Pilares, Dedeco
e Fernandinho BM)
1990 - Portela
(apoio de Dedé)
1993 e 1995 -
Unidos da Tijuca (apoio de Waguinho e de Paulinho Mocidade)
GRITO
DE GUERRA (por Espanhol): Na ilusão desta
avenida, o Arranco é todo amor. Vaaaaaaaai...
CACOS
DE EMPOLGAÇÃO: Dependia da letra do samba.
Aparecia os cacos "alô bateria"; "canta baianas"; "vamos
chegando"; "ajuda meu povo"; "d-d-d-d-diz";
SAMBAS
DE AUTORIA DA DUPLA: "As aves que aqui gorjeiam" (Arranco/84);
"Chuê-chuá, moronguetá, cruz credo!" (Arranco/85);
"Sai mais uma" (Arranco/86, com Nylson); "Pra ver a banda passar"
(Arranco/88); "Quem vai querer?" (Arranco/89 e Arranco/2005, com Jarbas
da Cuíca); "É de ouro e prata esse chão"
(Portela/90, com Cila da Portela); "Gueledés, o retrato das
almas" (Arranco/2006, com Fernando, Bola e Bira Só Pagode).
SAMBAS
DE SYLVIO PAULO: "Ou isto ou aquilo" (Arranco/81, com Ormindo e
Wandrey Dedeco).
SAMBAS
DE ESPANHOL: "Estrela Dalva" (Arranco/74);
"Ajoim-Obá, o casamento do rei" (Arranco/75); "Piaburu, o
caminho da montanha do sol" (Arranco/76); "Quem conta um conto, aumenta
um ponto" (Arranco/79, com Nylson); "Como vencer na vida sem fazer
força" (Arranco/82, com Dimas Cordeiro e Nylson); "Dança
Brasil" (Unidos da Tijuca/93, com Azeitona, Dário Lima e Paulo
Ribeiro); "Os nove bravos do Guarani" (Unidos da Tijuca/95, com
Dário Lima); "Chico Anísio, 50 anos de humor"
(Arranco/97, com Fernandinho, J. Comunidade, Nylson e Ormindo); Maria
Terna e Eterna (Bloco Vai se Quiser/79, com Nylson); A Praça
(Bloco Vai se Quiser/início da década de 80, com Bira do
R e Nylson).
Estandarte de Ouro: 2006 (Melhor samba-enredo do
Grupo A). A dupla também ganhou os Prêmios Sambanet e
Jorge Lafond de melhor samba do Grupo A em 2006.
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