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SOBRINHO

SOBRINHO

   

   

 

 

 

    Nome completo: Fábio Crispiniano do Nascimento

   

  

     Ano de nascimento: 1951

          

    Ano de falecimento: 2018

  

                                                                     

   
Intérprete de voz marcante, dono de um timbre peculiar, um bordão inconfundível – “Vai meu rrrrritmo”, com a pronúncia do “r” se prolongando – e com uma imagem única e característica (alto e magro, óculos com lentes fundo de garrafa e uma vasta cabeleira black power). O cantor foi uma das marcas registradas da ascensão da Unidos da Tijuca na primeira metade dos anos 80.

Sobrinho cantava em blocos carnavalescos até que lá pelos idos de 1973 foi descoberto pelo compositor mangueirense Tolito, que o levou para a Estação Primeira. Ao chegar na Verde e Rosa, o jovem Fábio passou a ser o crooner da quadra e teve que aprender, de saída, mais de 20 sambas de terreiro da escola para animar os ensaios. “Sou capaz de cantar cerca de 200 sambas da Mangueira. Canto coisas que nem seus próprios compositores se lembram”, divertia-se o intérprete.

O apelido veio através do próprio Tolito e do intérprete Jamelão. O novato não tinha carteira da Mangueira e o pessoal da escola estava demorando muito para confeccionar. Certo dia, ele chegou na quadra da verde e rosa acompanhando Tolito que, na entrada, falou: “pode deixar ele entrar porque é o meu sobrinho”. Jamelão também apresentava Fábio como seu sobrinho. Então, o apelido se tornou seu nome artístico.

Seu primeiro grande registro de voz em um disco de samba enredo ocorreu em 1975, quando gravou “Imagens poéticas de Jorge de Lima”, de autoria de seu padrinho Tolito junto com Delson e Mozart. No entanto, isso não lhe garantiu lugar no carro de som da Manga, que à época era reservado apenas para Jamelão e Zagaia.

No ano seguinte, Sobrinho se transferiu para o Império Serrano. No disco e na quadra da Serrinha, deu voz ao samba “Lenda das sereias do mar”, de Vicente Mattos, Dionel Sampaio e Veloso. Segundo o cantor, momentos antes de começar o desfile, com a escola já armada, foi barrado pelo titular Roberto Ribeiro, que se recusou a dividir o microfone com o novato. “O samba fazia sucesso com a tonalidade com que eu gravei a faixa no LP. Roberto cantou uma oitava abaixo e a escola não reconheceu o samba, que não teve um bom desempenho na avenida”, lamentava.

Sobrinho ficou alguns anos ausente das gravações e ressurgiu em grande estilo, em 1981, já contratado como cantor principal da Unidos da Tijuca, que após 22 anos voltava ao Grupo Especial. Ele levou na avenida o histórico “Macobeba – O que dá pra rir, dá pra chorar”, dos compositores Celso Trindade, Nêga, Azeitona, Ronaldo, Ivar, Buquinha e Edmundo Araújo Santos, resultado da junção feita pelo diretor de harmonia Laíla com os três sambas finalistas na disputa da escola. Na escola do Morro do Borel Sobrinho permaneceu por quatro carnavais, tornando-se uma das marcas registradas da agremiação naquele período.

Paralelamente à azul e amarelo da Tijuca, também puxava sambas na Unidos de Bangu. Participou ainda do carnaval de Manaus, onde começou em 1981, por indicação do amigo Ney Vianna, intérprete da Mocidade Independente de Padre Miguel. Sobrinho foi contratado pela Mocidade Independente de Aparecida, escola afilhada da verde e branco de Padre Miguel e cantou por lá por cerca de 20 anos. Sagrou-se tetracampeão pela Mocidade de Aparecida e recebeu diversas vezes o Troféu Imprensa de melhor intérprete, premiação máxima do carnaval da capital do Amazonas.

No desfile da Unidos da Tijuca de 1983, Sobrinho encantou o Rei Roberto Carlos, que estava na Marquês de Sapucaí naquele ano. Ao ser entrevistado pela Rede Globo, Roberto disse ter ficado impressionado com a voz “daquele negão que entoou o samba ‘Brasil, devagar com o andor que o santo é de barro’ (dos autores Djalma e Eli)”. Em entrevista ao site O Batuque, em 01 de junho 2009, Sobrinho relembrou do fato com o Rei: “quando eu passei em frente ao camarote, Roberto Carlos ficou pasmado ao ver um cara magrinho, maior cabeção e um óculos fundo-de-garrafa. Chegou a pensar que a voz fosse de um negão. E ele ainda achava que eu trotava, quando cantava. É que eu faço um movimento para ajudar o diafragma. Depois de tudo isso, o Roberto falou: ‘Bonito’. Então, eu sou bonito nas palavras do Rei. Palavra de rei não volta atrás”, brincou o intérprete.

Após o carnaval de 1984, quando a Unidos da Tijuca caiu para o grupo 1-B (segunda divisão), o puxador foi contratado pela Unidos de Vila Isabel, em substituição a Marcos Moran. Sobrinho chegou a gravar o samba “Parece até que foi ontem”, de David Corrêa, Jorge Macedo e Tião Grande no disco de 1985. No entanto, semanas antes do desfile fora dispensado pela diretoria da Vila, que preferiu dar o microfone principal para o compositor David Corrêa. Logo em seguida, Sobrinho conseguiu guarita na Imperatriz Leopoldinense para cantar “Adolã, a Cidade-Mistério” (Carlinhos Sideral, Doutor, Amaurizão e Guga), como apoio do estreante Preto Joia (com o microfone até mais alto do que o cantor oficial).

Sobrinho ressurgiu novamente dois anos depois para defender a Tupy de Brás de Pina, no Grupo 2-A. Cantou na Tupy em 1987 e 1988, quando a escola passou para o Grupo 1-B. E o bom filho à casa retornou. Em 1989, de volta à Manga, passou a compor o grupo de cantores auxiliares do mestre Jamelão. Já no retorno à verde e rosa, ajudou a cantar “Trinca de reis” (dos compositores Fandinho, Ney da Mangueira e Adilson do Violão), em homenagem aos três reis das noites cariocas Walter Pinto, Carlos Machado e Chico Recarey. Seu caco mais marcante naquele samba (considerado por especialistas como um dos mais fracos hinos da história da Mangueira) ocorreu no verso “mas hoje/ tem o Chico Recarey” e Sobrinho castigava, com seu vozeirão: “Re-ca-rey”. No ano seguinte defendeu com Jamelão e Jurandyr o espetacular “E deu a louca no Barroco”, do próprio Jurandyr,  Hélio Turco e Alvinho, que acabou vencendo o Estandarte de Ouro de Melhor Samba do Grupo Especial do carnaval de 1990, em votação do júri de especialistas do jornal O Globo.

Em seguida, foi contratado para ser a voz da Acadêmicos de Santa Cruz, substituindo Carlinhos de Pilares, que retornara para a Caprichosos. A Santa Cruz tinha voltado novamente para a segunda divisão, agora batizada de Grupo A. Sobrinho ficou por três carnavais na verde e branco da zona rural. Logo no primeiro ano, em 1991, interpretou “Boca do Inferno”, enredo em homenagem ao escritor Gregório de Mattos. O samba, de autoria de Tião da Roça, Doda, Luiz Sérgio, Mocinho, Giovanni e Carlos Henry, conquistou o Estandarte de Melhor Samba do Grupo A. Por conta de um blecaute na Marquês de Sapucaí na hora em que se apresentava, a escola – que era favorita ao título – acabou desfilando às escuras e não foi julgada. Posteriormente, ganhou na Justiça o direito de desfilar entre as grandes no carnaval do ano seguinte. Em 1992 Sobrinho cantou “De quatro em quatro, eu chego lá” (Tião da Roça, Geovani, Nei, Luiz Carlos, Jaime e Brucutu), e a escola foi rebaixada. No ano seguinte, em seu terceiro ano consecutivo na Santa Cruz, interpretou “Quo vadis, meu negro de ouro”, de Doda, Zé Carlos, Carlos Henry, Luis Sérgio, Mocinho e Carlinhos 18.

No ano seguinte deu-se a terceira e derradeira volta de Sobrinho à Mangueira. A escola, naquele ano de 1994, contou com um naipe de intérpretes poucas vezes reunido no carnaval carioca. Como se não bastasse a condução do sr. José Bispo Clementino dos Santos no carro de som, o grupo de apoio que cantou “Atrás da verde e rosa só não vai quem já morreu”, era formado pelo próprio Sobrinho, mais Rixxa, Eraldo Caê (que durante mais de uma década estava sendo preparado para ser o substituto de Jamelão) e David Corrêa, um dos compositores do samba, que ainda contou com a assinatura de Fenando de Lima, Carlos Sena e Paulinho de Carvalho. Sobrinho ainda viria na Mangueira em 1995. Desde então não cantou mais na Marquês de Sapucaí.

O “sumiço” de Sobrinho desde então gerou uma série de especulações, inclusive, de que o sambista havia morrido no final da década de 90. Apesar do paradeiro indefinido o puxador ainda aguardava por um convite para voltar a cantar em algum carro de som na Marquês de Sapucaí. Porém, uma miopia de grau avançado atrapalhou sua trajetória nos últimos anos.

Sobrinho chegou a ser anunciado como intérprete auxiliar de Ito Melodia na União da Ilha do Governador para o desfile de 2007, mas não se adaptou ao samba e foi dispensado antes do carnaval. Na década de 2010, já aposentado, mesmo tendo sido ajudado por Mangueira e Tijuca, passou por algumas dificuldades financeiras e de saúde, como cegueira provocada pela diabetes. Ainda assim, era frequentemente visto em bares da Tijuca, bairro onde morava, e costumava cantar sambas com vizinhos.

Sobrinho, o cantor dono de um dos timbres mais espetaculares do carnaval e com uma “voz de negão” que encantou o Rei Roberto Carlos faleceu vítima de infarto em 14 de julho de 2018.

Uma faceta praticamente desconhecida de Sobrinho é que ele também era compositor. Foi autor de vários sambas de quadra da Estação Primeira de Mangueira (assinando como “Sobrinho da Mangueira”) e no bloco carnavalesco Vai Se Quiser: em 1975 compôs o samba “Máscaras e Plumas” junto com Sylvio Paulo, que nos anos seguintes viria a ser intérprete da escola de samba Arranco do Engenho de Dentro. Sobrinho também registrou “Sorriso Aberto”, belíssima composição sua em parceria com Rita de Cássia. A faixa batizou o primeiro disco da cantora baiana Milena (1942 - 2020), lançado em 1975 pela gravadora Odeon.
 
Início: Começo dos anos 70, na Estação Primeira de Mangueira. 

1975 – Mangueira (cantou apenas no disco)
1976 – Império Serrano (cantou apenas no disco)
1981 a 1984 – Unidos da Tijuca
1981 a 1996 – Mocidade Independente de Aparecida (Manaus)
1983 e 1984 – Unidos de Bangu
1985 – Vila Isabel (cantou apenas no disco)
1985 – Imperatriz Leopoldinense (apoio de Preto Joia)
1986 – Unidos de Bangu
1987 e 1988 – Tupi de Brás de Pina
1989 a 1991 – Mangueira (apoio de Jamelão)
1991 a 1993 – Santa Cruz
1994 e 1995 – Mangueira (apoio de Jamelão)

GRITO DE GUERRA: Alô, meu povão (nome da escola)! Vai meu rrrrritmo! Arrebenta a colina!

 

CACOS CARACTERÍSTICOS: “lindo, lindo, lindo”; “diz!”; “vai minhas baianas”; “óh”; “deixa comigo”; “vai”; “que beleza de ritmo”; “que é que tem?”; “diz de novo”; “no gogó”; “diga lá”; “muito bonito”; “coisa fofa”, “vai meu Rio da Prata”; "liberdade e justiça, João"; "minha casa de barro, João"; “Re-ca-rey”. De vez em quando Sobrinho também fazia a chamada com a primeira palavra do verso do samba. O intérprete também gostava de entrar como um “personagem” e dialogar com os versos do samba.


SAMBAS DE SUA AUTORIA: “Máscaras e Plumas” (Bloco Vai Se Quiser/1975, com Sylvio Paulo).

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DISCOGRAFIA DE CARNAVAL: 

•    LP Sambas Enredo Grupo 1 1975 (faixa Mangueira)
•    LP Sambas Enredo dos Blocos Carnavalescos do Estado da Guanabara 1975 (faixa Vai Se Quiser)
•    LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1976 (faixa Império Serrano)
•    LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1981 (faixa Unidos da Tijuca)
•    LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1982 (faixa Unidos da Tijuca)
•    LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1983 (faixa Unidos da Tijuca)
•    LP Sambas Enredo Grupo 1-B 1983 (faixa Unidos de Bangu)
•    LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1984 (faixa Unidos da Tijuca)
•    LP Sambas Enredo Grupo 1-B 1984 (faixa Unidos de Bangu)
•    LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1985 (faixa Vila Isabel)
•    LP Sambas Enredo Grupo 2-A 1986 (faixa Unidos de Bangu)
•    LP Sambas Enredo Carnaval de Manaus 1986 (faixa Mocidade Aparecida)
•    LP Sambas Enredo Carnaval de Manaus 1987 (faixa Mocidade Aparecida)
•    LP Sambas Enredo Grupo 1-B 1988 (faixa Tupy de Brás de Pina)
•    LP Sambas Enredo Carnaval de Manaus 1988 (faixa Mocidade Aparecida)
•    LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1989 (participação faixa Mangueira)
•    LP Sambas Enredo Carnaval de Manaus 1989 (faixa Mocidade Aparecida)
•    LP Sambas Enredo Carnaval de Manaus 1990 (faixa Mocidade Aparecida)
•    LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1990 (participação faixa Mangueira)
•    LP Sambas Enredo Grupo 1-B 1991 (faixa Acadêmicos de Santa Cruz)
•    LP Sambas Enredo Carnaval de Manaus 1991 (faixa Mocidade Aparecida)
•    LP Sambas Enredo Grupo 1-B 1992 (faixa Acadêmicos de Santa Cruz)
•    LP Sambas Enredo Grupo 1-B 1993 (faixa Acadêmicos de Santa Cruz)
•    LP Sambas Enredo Grupo Especial 1994 (faixa Mangueira)
•    LP Sambas Enredo Carnaval de Manaus 1996 (faixa Mocidade Aparecida)


DISCOGRAFIA SOLO/COLETÂNEAS:

•    LP No Mundo do Samba (Gravadora Esquema, ano não informado) – faixa “Eu Não Aguento Mais” (Tolito e Sobrinho da Mangueira)
•    LP Raízes da Mangueira (Som/Copacabana, 1973) – faixa “Cântico à Natureza” (Nelson Sargento, Alfredo Português e Jamelão)
•    Compacto Simples (Som Livre, 1974) – faixas “Imagens Poéticas de Jorge Lima” (Tolito, Mosar e Delson) e “Gênios em Desfile” (Tolito)
•    Os Melhores Sambas-Enredo 1977 - Ala dos Compositores (RCA-Camden/Dynaflex, 1977) – faixa “Gente de Todo Lugar” (Maneco, Andorinha, Sobrinho e Malaquias)
•    LP Sambas de Quadra (Top Tape, 1978) – faixa “Lágrimas” (Arlindo Velloso e Luis Carlos)
•    LP Sambola 82 (Gravação Independente, 1982) – faixas “Minha Palavra é Uma Só” (Darci Maravilha, Tião Bateria e Cotinha da Tramela) e “Velho Tronco” (Ferreira da Mocidade).

MAIS FOTOS DE SOBRINHO


Em 2009, com Thatiana Pagung e Ivo Meirelles


Sobrinho (de camisa vermelha) em 2006 na quadra da União da Ilha e dando um beijo em Ito Melodia (fotos enviadas por Igor Munarim)

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Sobrinho cantando com Jamelão o samba da Mangueira no desfile de 1994. Fotos by Rixxa Jr.

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Puxando o samba-enredo da Unidos da Tijuca em 1981

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Contracapa do LP "Os Melhores Sambas-Enredo 1977 - Ala dos Compositores", Sobrinho aparece no topo, na primeira linha das fotos dos compositores

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