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Rainha Nzinga - Símbolo de Resistência Africana (Império da Uva - 2019)

Rainha Nzinga - Símbolo de Resistência Africana (Império da Uva - 2019)

Justificativa / Apresentação do Enredo

Para o Carnaval 2019, o G.R.E.S. Império da Uva de Nova iguaçu convida a todos a embarcar numa viagem de volta ao continente africano que tantas glórias já rendeu ao nosso amado pavilhão. Desta vez, seguiremos para a região que atualmente é reconhecida como Angola, mas, já fora chamada de Reino de Ngola para ilustrar os domínios do grande soberano que reinava sob a unificação do poderio tribal.

Neste cenário surge Nzinga Mbandi Kiluanje, também chamada Dona Ana de Sousa de Angola, ou simplesmente Nzinga para os que rememoram a história da grande soberana do Ndongo e Matamba.

Nzinga foi uma mulher que despertou respeito, medo e resistiu contra tudo que ameaçava a soberania do seu reino. Ousada sim, pois durante quarenta e dois anos de reinado, realizou atos que são considerados feitos grandiosos envolvendo o comércio e política. Entre a paz e a guerra, poucos desafiaram o seu reinado. É a história desta mulher guerreira que o pavilhão verde e branco traz para a Intendente Magalhães com a vontade de ser mais uma vez vitorioso, tal qual Nzinga fora em toda sua vida.

Pedindo a bênção de toda a ancestralidade angolana, a comunidade do Carmary, orgulhosamente, apresenta o enredo: “Rainha Nzinga, Símbolo de Resistência Africana”

Que se faça ecoar por todo mundo a história desta grande guerreira!

Viva a Rainha Nzinga!

Sinopse

Meu nome ultrapassa o tempo,

Aqui me imponho outra vez,

Altiva rainha, Nzinga!

 

A minha história? São minhas glórias!

O meu povo Ambundo, minha raiz,

São ardilosos em suas feitiçarias,

Kimbandeiros, o divino culto à natureza,

Pois do ventre da terra nasce o homem,

E para ela um dia retornaremos.

 

Ngola! Inene foi o grande,

Deste grande potentado o percursor!

Ngola! Kiluanje é meu sangue,

É minha raça, é toda bravura!

Ngola! É o reino maior,

É a soberania da minha terra!

 

Quando ao trono meu irmão subiu,

A invasão de além-mar aconteceu.

Vieram os lusitanos com sanha de riqueza,

Buscavam o brilho da prata e do cobre,

Encontraram resistência!

 

Fui elevada ao posto de embaixadora,

Me fiz ser respeitada em todos os lugares.

Firmei tratados, fui a voz da minha gente,

Os panos coloridos viraram moeda,

Os meus inimigos fiz cativo,

E assim o comércio prosperou!

 

Com a morte misteriosa de meu irmão,

Fui elevada ao posto de soberana!

Quando senhora do trono de Ngola,

Me fiz cristã para agradar os luso-aliados!

Ana de Sousa, assim me chamavam,

Tolos foram eles que acreditaram!

 

Fiz dos meus inimigos povo aliado,

E assim reinei sobre Matamba!

Me fiz rei mesmo sendo rainha,

Pois a subversão era meu lema!

Foram vinte anos de paz,

Até o branco trazer de volta a guerra!

A minha arma sempre foi a bravura,

Nas minhas veias a raça destemida,

Nem o branco de Holanda comigo podia!

 

Assim, escrevi meu nome na história,

Na batalha da reconquista, defendi meu povo!

Entre o sangue derramado e as balas de artilharia,

Soberana me mantive, Ngola é valentia!

Por quatro décadas o meu corpo foi escudo,

E a minha mente foi fortaleza,

Até que um dia deste mundo eu parti!

Meu nome virou lembrança,

Minha imagem sinônimo de esperança!

Minha gente no grilhão, acorrentada,

Desesperada e degradada!

Minha gente resistiu, insistiu,

E lembra de mim com alegria!

 

Eu permaneço viva,

No estandarte da congada,

Entre flores e fitas coloridas!

No ecoar dos tambores,

No grito solto de liberdade!

 

Eu sou Nzinga Mbandi Kiluanje,

Eu sou a fúria e a temperança!

Eu sou Ana de Sousa,

Sou a astúcia e valentia!

Sou a mulher negra,

Sou rei e sou rainha,

Nzinga!

Explanação Histórica

Setor 01 – Ndongo, as Raízes do Meu Povo

As reminiscências da história de Nzinga nos levam até o Ndongo, domínio dos Ambundo, a segunda maior etnia das planícies de Angola.  Destacam-se também como grandes feiticeiros, reconhecidos como Kimbandeiros. Em sua liturgia sagrada, o culto aos elementos da natureza e a terra era de sagrada importância para a manutenção da história de sua gente.

Por volta do século XVI, Ngola a Kiluanje Inene funda a dinastia de reis do Ndongo e Matamba. Desta forma os Ambundo passam a reconhecer seus soberanos com o título de “Ngola”. A partir desta linha sucessória, chegamos a Ngola Mbandi Kiluanje – o quarto Ngola – e Guenguela Cakombe, pais do príncipe Nzinga Mbandi e da princesa Nzinga Mbandi Kiluanje.

Sob o reinado de Ngola Mbandi Kiluanje o reino do Ndongo alcançou grande período de prosperidade. Kiluanje foi o grande unificador dos povos tribais que viviam ao redor dos Ambundo. Graças ao seu grande poder de negociação, sob a sua chefia houve a unificação dos povos que elevaram a região ao grande Reino de Ngola, que, mais tarde se tornaria Angola.

Setor 02 – A Invasão Portuguesa e os Tratados Comerciais

Depois da morte de Mbandi Kiluanje, seu filho Nzinga Mbandi assumiu o trono como o novo Ngola. Durante o seu reinado, os lusitanos chegam ao Ndongo e aos outros domínios do Reino de Ngola procurando encontrar as jazidas de prata e cobre que permeavam as histórias contadas sobre aquele lugar. De certo que acumulariam grandiosa riqueza, fundaram a vila de São Paulo de Luanda, porém, não imaginaram tamanha resistência que encontrariam.

Os portugueses entraram em conflito inúmeras vezes com as fileiras do exército do Reino de Ngola chefiado por Nzinga Mbandi. Desta forma, nenhuma das riquezas que atraíram os invasores fora encontrada, fazendo com que os mesmos voltassem a atividade comercial para o tráfico de escravos.

O comércio de Cativos era feito através da troca de panos coloridos produzidos no reino e fortemente fiscalizado por Nzinga Mbandi, que proibia o acesso dos portugueses ao interior do seu reino. A escolha das “peças” – como eram chamados os cativos – também eram proibidas, todas eram entregues conforme o gosto do Ngola. Esta era a lei imposta, e caso houvesse desrespeito, era realizada a sumária expulsão ou execução daquele que atentasse contra as leis do rei.

A forma de governar de Nzinga Mbandi gerou outros tantos conflitos com os portugueses que acreditavam serem os verdadeiros senhores daquela região. Desta forma, o grande Ngola envia sua irmã Nzinga Mbandi Kiluanje para Luanda como sua embaixadora para realizar um tratado de paz com João Correia de Sousa, governador português. Quando em Luanda, Nzinga percebe que o governador a recebe como uma qualquer, fazendo a negra ordenar que uma de suas acompanhantes se posicionasse de quarto para que ela sentasse para negociar com o português.

A cena que chocou a todos os presentes rendeu prestigio e respeito a Nzinga, que retornou ao reino com o tratado assinado, garantindo a retomada paz e a continuidade dos tratados comerciais com o reino.

Setor 03 – Resistência – A Soberana de Ngola

Em 1621, o irmão de Nzinga retoma os conflitos contra os portugueses, porém, desta vez a negra mantem-se do lado dos portugueses e com a aliança formada, envenena o irmão. A morte foi revelada aos súditos como algo misterioso, Nzinga jamais assumiu a culpa pelo fato. Assim, com a vacância do trono, enfim, pôde se tornar a primeira mulher a governar o Reino de Ngola.

Dona de grande astúcia política e comercial, Nzinga se converta ao cristianismo para reforçar o tratado de paz com os portugueses. A partir desde momento adota o nome de Ana de Sousa. Ao mesmo tempo, realiza aliança com os Jaga – os maiores inimigos do seu povo – para que lutassem ao seu lado, já que os mesmos eram reconhecidos por sua extrema crueldade em batalha, lutando até a morte do último dos seus ou do inimigo. Desta forma anexa o reino dos antigos inimigos aos seus domínios, se autoproclamando senhora do Ndongo e de Matamba.

Nzinga também desenvolveu hábitos peculiares durante seu reinado. Um deles que chamou atenção era que mantinha uma grandiosa quantidade de escravos homens em um harém particular. Neste local, ela se vestia de homem e os seus escravos de mulher, para então, satisfazer o seu desejo de poder sobre qualquer pessoa. Desta forma, Nzinga dizia aos seus que não era por ser mulher que não poderia dominar qualquer homem. Por algum tempo, ela também proibiu que os súditos a tratassem como “rainha”, lhe dando o devido tratamento apenas como “rei”.

Desta forma, “Dona Ana Nzinga” como ficou conhecida, fez fama e ganhou o respeito de inúmeros nobres. Também garantiu a paz por um período de vinte anos até a iminência da invasão Holandesa em 1641. Traída pelos Jaga, a rainha se alia aos Holandeses e garante seu reinado durante o domínio da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais que perdurou até a Batalha da Reconquista em 1647, quando Portugal retoma o controle da colônia.

Nzinga reinou até 1663, já com oitenta anos de idade e acumulando outras tantas ações que defendiam a prosperidade do seu reino e seus súditos. Após sua morte, os portugueses finalmente conseguiram conquistar os seus domínios e assim anexar o reino de Ngola à colônia de Angola.

O domínio de Portugal sobre Angola enviou através da diáspora africana uma quantidade numerosa de negros desta região à colônia portuguesa no chamado “novo mundo”. Negros escravizados da etnia Ambundo, Bantu e Congo foram os primeiros a chegar para trabalhar erguendo as primeiras vilas e cidades que deram forma ao que hoje reconhecemos como Brasil.

Da influência cultural legada por esses povos à nossa cultura, surgiram inúmeros folguedos. em específico a Congada, que através das suas encenações rememora o poderio dos grandes reis africanos. Um dos soberanos cultuados é a Rainha Nzinga, lembrada por toda luta pelos povos que formavam o Reino de Ngola.

Assim, o G.R.E.S. Império da Uva de Nova Iguaçu sente-se altivo em poder exaltar a história deste grande vulto da história africana, e também honrado, o pavilhão verde e branco reverencia através da alegria de sua gente Nzinga Mbandi Kiluanje, ou simplesmente, Rainha Nzinga.

Sakidila Ngola Nzinga!

Viva a Rainha Nzinga!

Créditos / Referências Bibliográficas

Supervisão Artística: Marco Antônio Falleiros

Pesquisa e texto: Diego Araújo

FONSECA. Mariana Bracks. “Nzinga Mbandi e as Guerras de Resistência em Angola, Século XVII”. Mazza Edições. 2015. Todas as páginas consultadas.

PANTOJA, Selma. “Nzinga Mbandi – Mulher, Guerreira e Escravidão”. Thesauros. 2000. Todas as páginas consultadas.