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Sinopse União do Samba Brasileiro

Manifesto contra o show dos Rolling Stones em Copacabana

Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vítima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores.
(Oswald de Andrade – Manifesto Antropofágico)
 
Nunca tivemos Mozart. Mas tínhamos a Rua do Ouvidor e suas sedas e perucas empoadas. O século XX descobriu o jeans. Devorou-o. Virou a “velha calça desbotada” de Roberto Carlos. Antropofagia.

A ilusão européia, em pleno século XX, do Brasil loiro de olhos claros: renegados por si próprios nas terras de Ibirapitanga. Escureceu-se a cor. Clareou-se. Indefiniu-se o matiz. Pela quebra dos roteiros.
 
O mundo das idéias não concebe a pré-definição. É contrário à lógica da racionalidade humana. Pedro Américo era caricaturista quando criança. Veio Lebreton e a Missão Francesa. Desperdício. Em Ronaldo, a derrota é a graça da raça, embasbacada ante um Luis XIV argelino.
 
Peri beija Ceci. Sentimentalismo vago.

A expressão humana parte da atitude livre. O anti-acadêmico. Os três reis magos peregrinam levando presentes ao enviado de Deus. Padre Pinto os acompanha por terras baianas, em seu amarelo-iorubá: Oxum evoca a todos os orixás. Auto de natal brasileiro. Fizemos o candomblé, a macumba e a urucubaca. Saravá!

A mentira cristã alimentou o barroco. Mas a forma brasileira é pura e simples, como as curvas pecaminosas de uma morena. Deglutição. Suntuosidade e opulência em linhas simples. Oscar Niemeyer, antropófago.
 
Mário de Andrade na Chácara da Sapucaia: o Brasil reinventado em seis dias. Zumbis, Anhangueras, Sepés Tiarajus e Cabrais. Fragmentos. Sintetizou-se: Macunaíma. Com rapidez e praticidade – antropofagicamente.

Luis Inácio, herói e anti-herói, a nossa mais completa tradução. Macunaímico. Antropofágico.
 
Pensávamos depender da plástica européia. Mas sempre tivemos Tarsila. A urutu selvagem, valente e forte. Pescadores. Manacás. São Paulo. Trens. O povo. E o homem que come.

Somos ferozes. Um grande camaleão de mil dentes, entre as texturas da floresta amazônica e a selva de pedra paulistana. Da angústia do Morro do Bumba à magia do boi-bumbá. NON DVCOR DVCO! Em latim, o anti-latim: “não sou conduzido, conduzo!”. Qual Zilda Arns e Irmã Doroty, caucasianas tupiniquins encantadas.

Clara Nunes vestida de branco cantando a alma brasileira. Antropofagia.

1922 foi apenas um som ensurdecedor. 1924 sempre existiu. 1928 sempre existiu. Tudo apenas despertou. Tudo foi e é Brasil.

Da morbidez ao sono profundo. Então, a vida. O Brasil do beletrismo adormecia indiferente às suas possibilidades. Oswald de Andrade, sessenta anos depois: Joãosinho Trinta. Os artistas de 1928 foram os primeiros carnavalescos da história. Não conheciam a Sapucaí. Mário de Andrade deu-lhes a Sapucaia. Uma bofetada nos enfadonhos de seu tempo. A anti-catequese do Brasil mestiço.
 
Nosso Mozart bate tambor no Rio de Janeiro. Ou em Parintins. É um travesti sonhando ser cunha-porã. Antropófago. Pura e maravilhosamente brasileiro. Nosso. Porque não somos o país dos pianos e das óperas. Contra a frieza. Pela vibração. Um povo multicor. A essência de Pindorama.

A compreensão da alma nacional é alcançada com o total desprendimento das academias. Padrões, roteiros, teorias. Lixo. Contra a arte pré-fabricada. Contra as sardinhas de Copacabana, enlatadas ao som do rolar de pedras. Pela criação. Pelo canto de uma lavadeira numa cachoeira a cachoar.

Quando canhões de luz bombardearam a nação e os Rolling Stones invadiram as areias de Copacabana, estavam acompanhados por toda a cultura trash norte-americana, capitaneada pelos personagens do cinema trash de George Lucas, comandados por Howard the duck: Indiana Jones, Darth Vader, Jabba the Hutt e outros mais. Sarah Palin não pôde comparecer, pois estava sendo salva de um homem-bomba nos braços do Superman.

Mas sempre há um Padre Pinto dentro de cada um de nós pronto para despertar. Não somos vítimas do sistema, somos a própria resistência revestida de nação.

Não deixem os ianques tomarem Copabacana, coração do país!
 
Ao índio anarquista. A Rosa Magalhães. A Padre Pinto. A Paulo Barros. A Carmen Miranda e o “camarão ensopadinho com chuchu”. À Tropicália. Ao baile funk no Morro da Mangueira. Antropofagia.
 
Willian Tadeu
Ano 456 da deglutição do Bispo Sardinha
Dedicado a Paulo Führo