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O Fantástico Conto de Cascaes na Ilha de Santa Catarina (Metáforas e Transformações)
SINOPSE ENREDO 2019

O Fantástico Conto de Cascaes na Ilha de Santa Catarina (Metáforas e Transformações)

Justificativa: 

Para o carnaval de 2019 a Floripa do Samba volta-se para sua história e enxerga nesta a possibilidade de transformação, de dar visibilidade e protagonismo a personagens e histórias desconhecidas pelo grande público. Assim, trazemos Franklin Cascaes – folclorista, ceramista, antropólogo, gravurista e escritor brasileiro – para elucidar as histórias, causos e transformações de Nossa Senhora do Desterro ao longo dos tempos, acreditando encontrar no trabalho e nos registros efetuados por este grande personagem histórico elementos suficientes que firmem uma identidade local (e não um processo de açorianização) para o povo desta cidade. 

Sinopse:

Setor 01: O Salão de Festas – Itaguaçu: O Primeiro Cenário de Cascaes 

“Diz a lenda que as bruxas da região queriam fazer uma linda festa aos moldes da alta sociedade. O local para o encontro festeiro seria a praia do Itaguaçu, em Florianópolis, o mais belo cenário da terra.

Todos seriam convidados, os lobisomens, os vampiros e as mulas-sem-cabeça. Os mitos indígenas também compareceram, entre eles estavam os curupiras, os caiporas, os boitatás, e muitos outros.

Em assembleia, as bruxas decidiram não convidar o diabo pela razão de seu imenso fedor de enxofre e pelas atitudes antissociais, pois ele exige que todas as bruxas lhe beijem o rabo como forma de firmar seu poder debochadamente absoluto.

A orgia se desenrolava, quando surge de surpresa o diabo que entre raios e trovões, raivosamente irritado pela atitude marginalizante das bruxas, as castiga, transformando-as em pedras grandes, que até hoje flutuam nas águas do mar verde e azul da praia do Itaguaçu.” 

2º Setor: Influências na formação do menino Cascaes 

A praia de Itaguaçu, onde Franklin nasceu, é o primeiro cenário que elucida nosso enredo. Foi através do contato com o mar que Francolino, como carinhosamente era chamado, ainda criança, em pleno processo de entender o significado da vida, aprendeu e desenvolveu suas primeiras habilidades. Costumava passear pelas areias de Itaguaçu a procura de seres marinhos que já não resistiam mais a vida, que estavam por dar seus últimos suspiros, e assim, observando a morte destes seres é que o menino deu vida a sua imaginação, fazendo da carcaça de peixes florescer ideais que futuramente lhe renderam prestígio.

Contudo, não somente do contato com a praia cresceu o garoto Franklin. Suas influências também foram outras. O contato com o divino também lhe ofertou boas inspirações, a partir da observação de figuras católicas nos altares da igreja que costumava frequentar com seus familiares. Assim como tais figuras, outra prática cristã observada por Cascaes de costume na Ilha de Santa Catarina tratava-se de trocar figuras de barros feitas pela própria população local nos festejos de final de ano. Prática esta que serviu como molde para que Cascaes projetasse um grande e elaborado presépio de natal com elementos cotidianos da Ilha anos depois… 

Setor 03: Os Personagens das Histórias de Cascaes – O Cotidiano da Ilha 

Assim, observando as práticas cotidianas da Ilha de Santa Catarina que Cascaes formou-se e desenvolveu suas habilidades. Pensar e trazer esta figura para além do processo de açorianização que muitos tentam lhe impor é fundamental para a compreensão de uma cidade plural com práticas locais, findadas e fundadas neste ambiente e não em outros polos.

Através da obra de Franklin Cascaes podemos e temos o conhecimento da figura de pescadores, das suas práticas de lançar redes ao mar, trazendo muita fartura e sustentando famílias principalmente na época do pesquei-o das gloriosas tainhas. Do homem do campo, rural, que trabalhava na roça de sol a sol cuidando do seu gado e de sua plantação: seja ela de milho, mandioca ou feijão. A figura da mulher também entrava em cena nas histórias e relatos de Cascaes no meio cotidiano, tecendo a vida por meio de suas rendas e bilros, e ganhando visibilidade nesta Ilha de encantos e magias através do saber da medicina popular, praticando seus dons de benção e cura contra todo o tipo de benzedura, seja ela cobreiro, zipra, calor de fogo ou quebranto… 

Zagui, rizagui.

Corta cabeça ao rabo.

Que não cresça, não envelheça, não rasgue.

Ficarás, ficarás, ficarás.

Não tornarás, não tornarás, não tornarás.

Seca, seca, seca.”

Setor 4: Entre o Sagrado e o Profano – A Cultura da Ilha 

Nesta Ilha plural, de contos e causos o sagrado se une e mistura-se ao profano nas festividades ao decorrer do ano. É fato de que a procissão que Cascaes mais tenha retratado trata-se de algo (e aqui de fato sim) vindo dos Açores como no caso da Festa do Divino do Espírito Santo, mas também há registros sobre outras manifestações puramente locais.

Assim, conta-se a história que alguns séculos atrás uma imagem teria aportado na Ilha de Desterro, embora seu destino não fosse este, após diversas tentativas de seguir-se o destino da imagem esta acabou por ficar aqui devido ao mal tempo. Assim, os moradores acreditando-se ser este um sinal divino decidiram cultuar aquela imagem e fizeram uma celebração. De lá pra cá lá se vão 258 anos em devoção ao Nosso Senhor dos Passos. Mas, Cascaes ao retratar essa procissão foi preciso e fundamental no seu tempo. Era comum que a população participasse ativamente desta procissão, carregando os móveis das igrejas locais no dia antecedente a procissão, sendo estes os protagonistas iniciais deste movimento que depois davam lugar as figuras religiosas: A Senhora das Dores e o Senhor dos Passos.

Contudo nem só de sagrado vive esta Ilha, existem as festas da carne, a profanidade do povo Ilhéu observada por Cascaes ou aquelas ditas profanas por estarem a margem da sociedade. Foi assim que Cascaes, retratando em seus cadernos sua preocupação de outrora, mas que parece tão atual, sobre a realização dos desfiles das sociedades carnavalescas, utilizando de sua influência para fazer um clamor as autoridades, ou mesmo eternizando manifestações de origem africana que se ressignificaram em diáspora e que aqui, na Ilha de Santa Catarina, se transformaram em cultos, devoções e comemorações a Nossa Senhora do Rosário e dos homens pretos, reduto de resistência para as populações marginalizadas pela elite local…

5º Setor: Metáfora – A Vida Bruxólica na Ilha

“A Palavra embruxar significa uma pessoa que está atacada de determinado mal, é o que acontece nessa ilha, nós ainda vamos ter muitas decepções, o homem está se destruindo. A Cultura está em atrativo turístico.” 

As bruxas de Cascaes saem do anonimato e tecem histórias nessa Ilha de mistérios não para transformá-la em lúdico ou em uma história para amedrontar crianças. Pelo contrário, são criadas em um momento de percepção das transformações que a Ilha estaria prestes a receber. Assim, as bruxas de Cascaes surgem como aviso dessas transformações, do capitalismo chegando ao meio rural e dizimando suas histórias, amedrontando seus moradores e costumes e os transformando. A velha Nossa Senhora do Desterro sofre viradas no tempo, é descoberta e sai do anonimato, ganha as páginas de jornais e percorre o mundo inteiro. As transformações culturais que Cascaes tanto persistiu em manter – E de certa forma continuam intactas em seus registros – hoje ganham novos contornos, se protejam em uma sociedade futura que visa o lucro e não seus costumes. Talvez estes tenham que se renovar e reinventarem para sobreviverem a modernidade. Talvez esteja chegando o momento em que a bruxa buscou nos alertar, o momento em que o carnaval se lançará ao espaço sideral, em que o homem do campo deixe seus animais e substitua-os por máquinas ultramodernas, que o boi que antes era de pano e mamão agora seja feito por máquinas e com tecnologias de últimas gerações e que as procissões, agora, adorem a heróis super tecnológicos ou seres de outros planetas. 

In memoriam a Franklin Cascaes, quem tanto lutou pela história local desta Ilha plural.

Fernando Nilson Constâncio 

Outras Informações Julgadas Necessárias (fontes de consulta, livros etc):

Referências Bibliográficas:

CASCAES, Franklin. “O fantástico na Ilha de Santa Catarina”. Editora da UFSC, 2015.

SCERER, Luciana Zanenga. “A procissão do Nosso Senhor dos passos segundo Franklin Cascaes”, p. 57-86.

DEFREITAS, Patricia Ann. “A presença do negro nas esculturas de Franklin Cascaes”. Fundação Franklin Cascaes, 1996.

MARCO, Edina; MAMIGONIAN, José Rafael; DEPIZZOLATTI, Norberto. Franklin Cascaes – série “Alma de Artistas”. 2013. Disponível em: <https://youtu.be/QXq2kHevw1M>. Acesso em: 18 de outubro de 2018.

PENINHA, Gelci José Coelho. “O Salão de festas da praia de Itaguaçu”. S/D.

PEREIRA, Alda Cristina Duarte. A incorporação do progresso na obra de Franlin Cascaes.

Revista Santa Catarina em História. Florianópolis – UFSC – Brasil. ISSN 1984- 3968, v.5, n.1, 2011.

 

Índice dos manuscritos de Franklin Cascaes, disponível no Marque:

Folhas Avulsas –  Sobre a Procissão do Senhor dos Passos e a Procissão da Mudança
Pasta 02, n° 110, n° 131.
Pasta 04, n°141
Pasta 05, n° 205
Pasta 09, n°84, n°250
Pasta 10, n° 296
Pasta 13, n° 83, n°75
Pasta 14, n°368
Pasta 16, n° 421

Caderno Pequeno
65, p. 4-7
6, p. 6-11
59, 12-19

Folhas Avulsas
Pasta 07, n°40 – Carnaval Floriapolitano
n°48 – Antiguidade é posto. Desaparecerá o famoso carnaval Floriapolitano
Pasta 16 – n° 437 – Carnaval, carros alegóricos