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Império Serrano, 70 Anos de Glórias (Embalo Carioca - 2017)

Império Serrano, 70 Anos de Glórias (Embalo Carioca - 2017)

As escolas de samba fazem parte do cenário cultural do Brasil, e mais precisamente do Rio de Janeiro. Foram em terras cariocas que o movimento de ascensão do samba, e por conseguinte dos desfiles das escolas de samba, tomaram forma e se criaram. Nascidas em terreiros de Candomblé, tendo como parteiras as mães de santo da época (Tia Ciata que o diga), as escolas de samba são fruto da fusão do sangue negro, das tradições trazidas da África e da malandragem carioca, do suingue e da fé, uma mistura que só encontra ecos num país multifacetado como o Brasil.

Até o fim da década de 70 apenas quatro escolas de samba brigariam pela hegemonia do carnaval carioca, todas quatro da própria cidade do Rio de Janeiro: Mangueira (do morro da Mangueira em São Cristóvão), Salgueiro (do morro do Salgueiro na Tijuca), Portela (da estrada do Portela entre Madureira e Oswaldo Cruz) e o Império Serrano (do morro da Serrinha em Vaz Lobo), nosso grande homenageado, que nasceria do Prazer da Serrinha, uma antiga escola de samba comandada com mão de ferro por Alfredo Costa, seu dono. Os maus resultados do Prazer da Serrinha aliados a uma postura ditatorial do então mandachuva da escola foram o mote para o nascimento do Império Serrano.

O branco é paz

O verde é esperança

Diz o ditado

Quem espera alcança

Eu esperei

E alcancei

Império tudo por ti farei

Esses versos de Antenor resumem um pouco o processo de fundação do Império Serrano, suas cores e a relação quase familiar que os integrantes tinham com a escola. O Império Serrano nasceu com uma política democrática, e parte disso resulta da participação do sindicato dos estivadores, já que muitos moradores e fundadores do Império faziam parte do sindicato e já tinham uma noção de democracia que levaram para a escola de samba recém fundada.

O Império Serrano é fruto da herança dos ex-escravos que foram viver no morro da Serrinha em Vaz Lobo, é fruto das influências que trouxeram o jongo, a capoeira e o candomblé, e tem em suas raízes todos esses elementos, além da política e da noção de fazer “tudo junto”, com todos lutando pelo bem comum, que neste caso é ver a escola desfilar bem e fazer frente às outras grandes do carnaval.

Essa organização do Império Serrano já lhe deu de cara um tetracampeonato histórico, foram quatro títulos seguidos que alicerçaram de vez a escola entre as grandes do carnaval, e que também serviu para criar uma rixa histórica com a irmã e vizinha Portela.

Os quatro primeiros títulos do Império resumem bem os enredos históricos da época, todos com tons ufanistas: o desfile de estreia que se sagrou campeão em 1948 – “Homenagem a Antônio Castro Alves”, o bicampeonato em 1949 com “Exaltação a Tiradentes”, o tricampeonato em 1950 com “Batalha Naval do Riachuelo” e o tetracampeonato em 1951 com “Sessenta e um anos de República”. Esse tetracampeonato daria ao Império Serrano uma posição entre as três consolidadas grandes escolas cariocas. Na época existiam dois grupos que organizavam os desfiles, mas mesmo depois da unificação desses grupos, viria o bicampeonato em 1955 (Exaltação a Caxias) e 1956 (Caçador de esmeraldas ou sonho das esmeraldas) seria a afirmação do Império como parte do chamado grupo das quatro grandes, e azedaria de vez o relacionamento com a coirmã de bairro Portela.

Dentro dos temas ufanistas e históricos ainda haveria o título de 1960 com o enredo “Medalhas e Brasões”, em 1964 o Império Serrano ficaria em 4º lugar com aquele que é considerado o maior samba-enredo de todos os tempos: Aquarela Brasileira, do mestre Silas de Oliveira, que fazia parte da galeria estelar dos grandes compositores do Império: Antenor, Tião Fuleiro, Aniceto, Mano Décio da Viola, Altamiro Maia, Estanislau Silva, Penteado, Dona Ivone Lara, Molequinho, Aluísio Machado, Beto Sem Braço e Arlindo Cruz, entre tantos outros.

O inovador carnavalesco Fernando Pinto daria ao Império Serrano o título de 1972 com o enredo “Alô, alô, taí Carmem Miranda”e ainda faria o antológico desfile de 1976 com o famoso enredo “A Lenda das sereias, rainhas do mar”, a escola ficaria apenas na 7ª colocação, mas o samba se eternizaria na voz de vários intérpretes da MPB.

Em 1982 viria o último título do Império Serrano, o famoso “Bumbum paticumbum prugurundum” cantado a plenos pulmões pelas arquibancadas e até hoje lembrado pelo mundo do samba.

O Império Serrano existe como escola de manifestação popular, sem grandes patronos e sem ajuda financeira de grandes corporações. Talvez seja ainda a única das grandes escolas que exista pelo simples prazer de seus integrantes em formar uma escola de samba. O Império Serrano é uma instituição popular, de herança negra e que ainda terá longa vida no mundo do samba carioca.

Por Vinicius Padilha Carr

Carnavalesco