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Difícil é não Amar! Quadrilha do Sampaio, 60 Anos de História na Cultura Popular (Difícil é o Nome - 2017)
Difícil é não Amar! Quadrilha do Sampaio, 60 Anos de História na Cultura Popular (Difícil é o Nome - 2017)

A ti, Carmem Perrotta querida… (In Memorian)

Eu vou contar aqui uma linda história. E na carona do “Era uma vez…” apresento a rainha da cultura popular Carmem Perrotta e o reino de brincantes da Quadrilha do Sampaio. E o principal elemento desta história é o amor, aquele sentimento que faz o coração bater mais forte, provoca um friozinho na barriga, cria expectativas, nos faz ficar noites em claro pensando em como surpreender o outro, nos convida a viajar pro reino do faz de conta, e que é visceral, sem medida e sem limite.

Ah, o amor… Ele pode surgir de várias formas e de onde menos se imagina. Ele pode chegar de mansinho, fazer alarde, dizer a que veio ou entrar em nossas vidas sem pedir licença. Mas uma coisa é certa: uma vez verdadeiro, o amor ultrapassa barreiras, elimina obstáculos e, sim!, dura pra sempre!

O amor, na sua mais pura essência, pode passar de pais pra filhos; dos filhos pros amigos; e destes pra tantos outros que surgirem pelo caminho. É assim que se cria elos no coração e se forma uma corrente do bem.

O amor é mágico e a sua magia não tem explicação. Sua trilha sonora pode ser diversificada e seus personagens podem surgir ao longo da estrada, cada um com a sua história. E a magia começa quando os caminhos se cruzam e todos passam a sonhar um mesmo sonho. É assim que se começa uma linda história de amor…

E a que eu vou contar aqui aconteceu num reino não muito distante de nós: o bairro do Engenho Novo, Zona Norte do Rio de Janeiro, local onde fica a Paróquia Nossa Senhora da Conceição. Foi lá que a carioca Carmem Perrotta, uma religiosa de carteirinha, recebeu a missão do padre Alexandre Língua, em 1956, de organizar a festa junina da igreja e ensaiar o grupo de dança.

Festa produzida, personagens criados, pares de dança formados, passos marcados e às vésperas do evento, um desfalque pra abalar a estrutura emocional de qualquer organizador: a noiva caipira, irmã de Carmem e que faria par com Ivan Gonçalves, um nordestino baixinho e muito gaiato, desistiu do “casório”. Carmem não pensou duas vezes: vestiu-se de noiva e foi pro altar com aquele que seis anos mais tarde, e cinco matrimônios caipiras depois, tornou-se o companheiro de toda uma vida. E foram 46 anos de casamento, dois filhos queridos, muitos quadrilheiros amigos e total dedicação à cultura popular e aos serviços sociais.

E foi assim, numa mesma festa, que nasceu o amor de Carmem e Ivan na vida real, a paixão do casal pelos festejos juninos e o grupo de dança da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, que 21 anos depois tornou-se a Quadrilha do Sampaio, um dos mais antigos grupos de dança de roça do Brasil e o mais tradicional do gênero em atividade. Uma genuína referência folclórica!

Mas o Engenho Novo também conheceu a Carmem cidadã, solidária, generosa e guerreira. Muito ligada à comunidade, ela brigava pelos problemas dos moradores do bairro como se fossem seus. E foi durante as “xepas” que fazia na feira livre da região, entre gritos de feirantes e burburinho de fregueses, que ela conheceu as histórias e as dificuldades dos vizinhos. E além das sacolas repletas de produtos a preços mais baratos, Carmem sempre voltava pra casa com um punhado de problemas alheios pra tentar resolver. E de ouvinte pra conciliadora foi um pulo!

Carmem também era amante do Carnaval. Frequentadora assídua da quadra da Difícil É O Nome, nos ensaios costumava ser uma espécie de diretora de harmonia informal. Além disso, desfilou por 13 anos na ala das baianas da Estação Primeira de Mangueira, sua outra escola do coração. Prestativa, ela ainda arrumava tempo para confeccionar fantasias para os amigos foliões que a procuravam. E da sua máquina de costura ganharam vida incontáveis melindrosas, baianinhas, ciganas, índios e piratas que se eternizaram no carnaval de rua do Rio de Janeiro.

Mas a nossa dama do folclore expandiu ainda mais o seu território: por muitos natais ela foi o Papai Noel tão aguardado pela criançada do bairro. E para manter viva a magia e o encanto da festa, nunca permitiu que a sua identidade fosse revelada. Carmem também criou presépios, que ficavam expostos na varanda sua casa e sempre eram inaugurados durante a passagem da procissão de sua santa de devoção, Nossa Senhora da Conceição, no dia 8 de dezembro. Uma verdadeira lição de amor às tradições populares retratada através de Reis Magos, menino Jesus, Maria, José e pastorinhas que entoavam cânticos natalinos num universo colorido e iluminado. Uma tradição que até hoje é mantida pelos herdeiros da nossa rainha e que continua encantando quem passa pelo local.

Do casamento de Carmem e Ivan nasceram Márcio Perrotta e Ana Paula que, para o orgulho dos pais, formaram o casal principal da quadrilha durante 22 anos. Atualmente o patriarca acompanha as histórias do grupo, contadas pelo seu  primogênito. A Ana Paula também já não dança mais, porém está sempre por perto pro que der e vier. E Carmen não está mais entre nós fisicamente: ela desencarnou no dia 8 de janeiro de 2011, mas deixou um legado incontestável e muitas histórias pra contar. Mas, quem é do grupo dos brincantes garante: ela continua reinando absoluta e iluminando cada tema escolhido, cada passo ensaiado. E lá do alto, ela acompanha, orgulhosa, seu filho Márcio dando continuidade ao que ela começou.

Hoje, o nosso “Era uma vez…” pede passagem ao Carnaval 2017 pra escrever mais um capítulo desta linda história de amor. O G. R. E. S. Difícil É O Nome convida você, amante da folia carnavalesca e dos festejos juninos, a comemorar junto com a agremiação os 60 anos da Quadrilha do Sampaio e a aplaudir a cidadã Carmem que dedicou toda uma vida à cultura  popular.

E o nosso encerramento não poderia ser outro, senão este: … E no reino dos brincantes, os componentes da Quadrilha do Sampaio, para orgulho do Seu Ivan e Ana Paula, conduzidos pelo príncipe herdeiro Márcio, protegidos pela padroeira Nossa Senhora da Conceição, eternizados pela Difícil É O Nome e abençoados por Carmem Perrotta, continuam perpetuando os ensinamentos da rainha-mãe. Até porque de dança, amor e união, essa turma entende muito bem! E em ritmo de samba-enredo e tendo a passarela da Estrada Intendente Magalhães como cenário, quadrilheiros e sambistas prometem escrever, juntos, um novo final feliz. Porque…

DIFÍCIL É NÃO AMAR! QUADRILHA DO SAMPAIO, 60 ANOS DE HISTÓRIA NA CULTURA POPULAR

PESQUISA E TEXTO: DENISE CARLA

CONSULTORIA: MÁRCIO PERROTTA

SOBRE A QUADRILHA DO SAMPAIO

A Quadrilha do Sampaio foi fundada no dia 24 de junho de 1956 por Carmem Perrotta. Além de passos bem marcados, cenários primorosos e personagens inesquecíveis, desde a sua criação o grupo sempre se preocupou em desenvolver temas alusivos a nossa cultura popular. Os figurinos dos componentes também são um espetáculo à parte, seja pela beleza das roupas ou pela riqueza dos detalhes.

Ao longo dos anos, Carmem criou apresentações que se tornaram verdadeiras aulas de folclore popular e que fizeram história nos festejos juninos do Rio de Janeiro. Como não falar do trenzinho, do moinho, do carrossel de flores, da Cruz de Malta, do passaraio, da âncora e do pau de fitas? Passos que até hoje arrancam aplausos aonde quer que sejam mostrados!

O reconhecimento por tanto empenho e dedicação faz com que a agenda dessa turma viva lotada. A Sampaio já representou a cidade e o estado do Rio de Janeiro, e até mesmo o Brasil, nos mais variados eventos pelo país afora.

E os convites para participações especiais também não param de chegar!  Não é de hoje que estes quadrilheiros arretados dão consultoria, gravam comerciais e clipes musicais, dividem bastidores e palcos com artistas consagrados e desfilam em escolas de samba. Isso só pra citar alguns trabalhos.

A quadrilha também já bateu ponto em novelas e documentários de televisão. Sem contar a presença constante nos telejornais e as incontáveis matérias e entrevistas nos principais veículos de comunicação. Tudo proporcional aos 60 anos de história sempre dedicados à cultura e à tradição.

Assim são os nossos brincantes: incansáveis, inquietos, guerreiros, apaixonados e apaixonantes. Sempre prontos pra uma nova temporada e sempre prontos pra surpreender. Esses fiéis escudeiros da nossa cultura popular, para alegria da eterna rainha Carmem Perrotta, faz tempo que ultrapassaram o reino do faz de conta. E do bairro do Engenho Novo, onde tudo começou, para o mundo, apresento uma família chamada amor, mas que também atende pelo nome de Quadrilha do Sampaio.

PESQUISA E TEXTO: DENISE CARLA

CONSULTORIA: MÁRCIO PERROTTA