RUTINHA
RUTINHA
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Nome completo: Rute Pinto Teixeira
Ano de nascimento: 1948
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A
faixa da Unidos de Padre Miguel no disco do Grupo 1-B de 1985 chama
atenção por dois fatores. O primeiro: seria a primeira
vez em muitos anos que a UPM voltava a participar da
gravação de um disco de sambas enredo. O segundo é
que a vermelho e branco da Vila Vintém trazia uma mulher como
intérprete do samba-enredo “Folia, amor e fantasia”
(composição de Jorge Andorinha e Carlinhos Caldeira), por
si só um fato marcante e exclusivo.
Nascida em Cascadura, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro,
Rutinha apresentava um vozeirão potente, afinado, com uma
entonação inspirada ao estilo das antigas cantoras do
rádio. Sua trajetória na música vem desde muito
criança. “Meu pai, que era músico, tocava todos os
instrumentos de corda. Por isso, comecei a cantar aos cinco anos de
idade acompanhando-o. Aos nove anos eu ganhei meu primeiro prêmio
disputando com outras crianças, numa festa de rua na qual ganhei
uma caneca e uma nota de cinco cruzeiros, por ter cantado a
música ‘Solidão’, da cantora Núbia
Lafayette. Daí não parei mais de cantar”, explica a
intérprete.
Com 14 anos a menina Rute começou a receber vários
convites para audiências na Rádio Nacional com cantores
consagrados, iniciativas que eram bloqueadas por seu pai. Já
adulta, começou a cantar em churrascarias em Padre Miguel e em
outros bairros. Nessa época – final da década de 60
– seu cunhado Valdir, que era compositor da Portela, a levou
até a quadra para que defendesse os sambas de terreiro que ele
fazia. Rutinha passou a ser muito procurada por diversos compositores
que queriam que aquela bonita loira de olhos azuis e um tremendo
vozeirão defendessem suas obras.
Rutinha começou a ficar muito conhecida na Portela (escola pela
qual se tornou torcedora apaixonada) e passou a desfilar ao lado de
ícones da música popular brasileira, como Clara Nunes e
Agepê. A loira de Cascadura passou a ser conhecida como Rutinha
da Portela.
“Depois que fui morar em Padre Miguel, um compositor da Unidos de
Padre Miguel chamado Jesus me convidou para defender seu samba no Bloco
da Amizade, em Magalhães Bastos. Logo em seguida fui convidada
para ir cantar na UPM, onde era muito solicitada para defender sambas
dos compositores, inclusive alguns da Mocidade Independente”.
Sozinha no carro de som em plena Sapucaí
Rutinha foi intérprete da Unidos de Padre Miguel durante 13
anos. O grande momento de sua carreira, claro, foi no carnaval de 1985,
quando gravou o samba da UPM no disco lançado pela gravadora Som
Livre e quando defendeu o hino – sozinha, sem nenhuma outra voz
de apoio no carro de som – em plena Marquês de
Sapucaí. “Eu levava a escola cantando sozinha durante os
70 minutos da apresentação”. Em um raro
vídeo que circula no YouTube extraído da
transmissão da TV Manchete com escassos 6 minutos da
apresentação da Unidos de Padre Miguel (que abrira o
desfile do grupo 1-B em 1985), pode-se ouvir a voz de Rutinha ecoando
solene e solitária nos alto-falantes do sambódromo. Link: https://www.youtube.com/watch?v=AaINHkWl7S0
Segundo Rutinha, nesse tempo ela cantava
durante duas horas sem parar. "Eu olhava para a bateria e só
tinha meia dúzia de gatos pingados. Os ritmistas saíam
exaustos, não aguentando a pressão", se recorda a loira
do samba.
“Na transmissão do desfile da UPM de 1985 pela TV Manchete
sou elogiada pelos comentaristas Fernando Pamplona e Maria
Augusta, dizendo que eu era afinadíssima e que o único
ponto positivo da escola era eu”, diverte-se. E realmente, a
Unidos apresentou um desfile muito modesto que ficou com a 12ª
colocação, ou seja, o último lugar do grupo 1-B.
Rutinha começou a se desagradar com o carnaval, segundo ela,
pela falta de reconhecimento dos dirigentes e de sua própria
família. “Não fui reconhecida pelo meu
valor”, lamenta. Depois do desfile de 1985, a UPM foi despencando
para os grupos inferiores, chegando até a deixar de desfilar no
início dos anos 90. “Eu fui convidada para ir cantar em
outras escolas, mas os dirgentes da UPM diziam ‘não, a
Rutinha é nossa’, só que continuavam não me
dando valor.
A intérprete declara que teve oportunidade de gravar discos,
pois os compositores a procuravam oferecendo sambas, mas o marido
(muito ciumento) não deixava. “Também fui convidada
para fazer shows no exterior com a Mocidade Independente de Padre
Miguel, mas meu esposo também não deixava porque ele
trabalhava e não podia me acompanhar. Tudo isso foi me
desgostando e acabei desistindo”, afirma.
A loirinha do samba
Muita gente admitia que ao escutar a faixa da UPM no disco do grupo 1-B
de 1985, se tinha a impressão de que a cantora era uma mulata.
Ao saberem quem era Rutinha, todos se surpreendiam por se tratar de uma
loira de olhos azuis. O compositor Baianinho, da Em Cima da Hora (o
mesmo do megassucesso na voz de Clara Nunes, “Ê
baiana”), foi conferir um evento na UPM e ficou encantado com o
gogó de ouro da intérprete. Em homenagem, compôs o
samba de quadra “Loira no samba”.
Rutinha foi aos poucos abandonando o carnaval de avenida e passou a se
apresentar em clubes e bailes carnavalescos nos subúrbios do Rio
de Janeiro. Fumante inveterada, o fôlego da cantora foi
terminando devido a um enfisema pulmonar que lhe acompanha até
hoje e provocou graves problemas de saúde. A cantora de Padre
Miguel se retira da vida artística e passa a ajudar na
criação dos netos. Ela enfrentou recentemente um
câncer, ainda em tratamento, e definitivamente parou de cantar
depois de um pólipo de laringe.
Dona Rute se converteu à religião evangélica e diz
estar muito feliz com a escolha de fé. Parafraseando o samba da
UPM, o “amor” ainda está presente. Já a
“folia” e a “fantasia” pertencem ao passado.
- Obs:
- Meus mais sinceros agradecimentos à Dona Rutinha que nos
autorizou que um pouco de sua história fosse contada no
Sambario.
- Muito obrigado também a sua neta Thaís Cardoso, que prontamente intermediou os contatos com Dona Rutinha.
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INÍCIO: Defendendo
sambas de quadra na Portela, no final da década de 60. Como
intérprete, só desfilou na Unidos de Padre Miguel.
1985 – Unidos de Padre Miguel (intérprete principal)
Rutinha já não se lembra de muita coisa do que viveu no
carnaval, então não foi possível situar com mais
precisão a época em que ela defendeu o microfone
número 1 da Unidos de Padre Miguel.
GRITO DE GUERRA: Avante, Unidos de Padre Miguel...ah!!
GRITO DE EMPOLGAÇÃO:
“Alô bateria”; “diz!”, “alô
Unidos de Padre Miguel”, “bonito!”, “alô,
minha ala de baianas”, “simbora meu povo”,
“ah!”
DISCOGRAFIA: Sambas Enredo Grupo 1-B 1985 (faixa Unidos de Padre Miguel).
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MAIS
FOTOS DE RUTINHA
Rutinha (com blusa branca) abraçada ao pai, reunida com amigos.
Rutinha
(segurando um cigarro), com seu esposo (à direita da foto), o
cunhado, o compositor Valdir Malvadeza, da Portela (segurando o copo) e
um amigo.
Rutinha ao microfone cantando numa festividade social referente ao Dia dos Pais.
No
palco da quadra de ensaios da Unidos de Padre Miguel (provavelmente na
época de "Folia, amor e fantasia", meados dos anos 80). Segundo
Rutinha, nesse tempo ela cantava durante duas horas sem parar. "Eu
olhava para a bateria e só tinha meia dúzia de gatos
pingados. Os ritmistas saíam exaustos, não aguentando a
pressão", diverte-se a loira do samba.
Rutinha em casa, em foto atual. A ex-intérprete completou 70 anos de idade, em 11 de maio de 2018.
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