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DEZ HOMENAGENS A PERSONALIDADES VIVAS NO CARNAVAL 31 de dezembro de 2010, nº 26, ano VI
Sei que amanhãQuando eu morrer Os meus amigos vão dizer Que eu tinha um bom coração Alguns até hão de chorar E querer me homenagear Fazendo de ouro um violão Mas depois que o tempo passar Sei que ninguém vai se lembrar Que eu fui embora Por isso é que eu penso assim Se alguém quiser fazer por mim Que faça agora. Me dê as flores em
vida Quando eu me chamar
saudade, de Nelson
Cavaquinho e Guilherme de Brito Há muito tempo o carnaval presta homenagens a ídolos da
música, astros e estrelas da televisão e personagens dos mais variados setores
da sociedade brasileira. Mas o expediente de reverenciá-las em vida é
relativamente recente. Até a década de 1980, as escolas preferiam celebrar personalidades
já falecidas e eram raros os homenageados Em 10º lugar: ELIZETH CARDOSO, a Mulata Maior - Unidos de Lucas (1974) / MÃE MENININHA DO GANTOIS – Mocidade Independente de Padre Miguel (1976) Na década de 1970 não era moda prestar tributos a personalidades
vivas no carnaval. Era senso comum de que dava azar, que apenas se homenageava
quem já tinha morrido. Duas escolas ousaram ir contra essa máxima e prestaram
justa reverência a duas grandes damas brasileiras, cada uma no seu ramo de
atuação. A Unidos de Lucas celebrou sua madrinha, a diva da MPB Elizeth Cardoso
com o enredo “Mulata Maior”. A homenagem rendeu à escola o vice-campeonato no
Grupo 2 no carnaval de 1974 e rendeu uma vaga para o Grupo Especial no ano
seguinte. Já a Mocidade Independente de Padre Miguel trouxe axés da Bahia e
levou para a passarela do samba Mãe Menininha do Gantois. Com um desfile
suntuoso, de autoria de Arlindo Rodrigues, e um samba legendário composto por Tôco,
a agremiação obteve o terceiro lugar, embora empatada com os mesmos 116 pontos conquistados
pela Mangueira.
As homenageadas:
Maria Escolástica da Conceição Nazaré (1894 - 1986),
conhecida como Mãe Menininha do Gantois, foi uma iyálorixá (mãe-de-santo, sacerdotisa
do candomblé), e talvez a maior de todas as mães-de-santo brasileiras. Era filha
de Oxum e foi apelidada Menininha
talvez por seu aspecto franzino. Foi iniciada no culto dos orixás de Keto aos 8
anos, e assumiu o Terreiro do Gantois, em Salvador, aos 28 anos. Mãe Menininha
abriu as portas de seu terreiro aos brancos e católicos e modernizou o candomblé
sem permitir que a religião se transformasse num espetáculo para turistas. Nunca
deixou de assistir à missa e até convenceu os bispos da Bahia a permitir a
entrada nas igrejas de mulheres, inclusive ela, vestidas com as roupas
tradicionais do candomblé. Em 1972, Dorival Caymmi compôs, em sua homenagem, a
“Oração de Mãe Menininha” (a estrela mais
linda, hein / Tá no Gantois). Além da Mocidade, em 1976, Mãe Menininha
também foi citada dez anos depois, no samba enredo em que a Mangueira
homenageou Caymmi. 9º lugar: O bem amado PAULO GRACINDO – Unidos da Ponte (1988) Sob a gerência de Edson Tessier, a Unidos da Ponte desfilou
pela sexta vez no Grupo Especial em 1988 e fez uma homenagem ao ator carioca Paulo
Gracindo. Pela Sapucaí, desfilaram dezenas de artistas, principalmente da Rede
Globo, mas também do teatro e até ex-colegas da Rádio Nacional. As alegorias
retratavam os tipos que Gracindão interpretou e que figuram na memória afetiva
das pessoas: Alberto Limonta (O Direito de Nascer), Primo Pobre (Balança mas
não cai), Tucão (Bandeira 2) e Vovô Pepê (Mandala), entre outros. O próprio
homenageado esteve na passarela, no carro que encerrou o desfile caracterizado
de Odorico Paraguassu, seu personagem na novela O Bem Amado. Ao seu lado,
desfilou também o escritor Dias Gomes, criador da obra. Quase todo o elenco das
duas versões da novela, exibida pela TV Globo em 1973 e 1984 participou do
desfile. O belíssimo samba, de autoria de Ambrósio e Mazinho Branco, foi um dos
mais cantados naquele ano. A passagem da Ponte emocionou os presentes no
sambódromo. O homenageado
Nascido Pelópidas Guimarães Brandão Gracindo (1911 - 1995),
Paulo Gracindo atuou nas maiores companhias teatrais dos anos 30 e 40. Ator e
radialista, apresentava programas na Rádio Nacional, e foi o protagonista do
estrondoso sucesso da radionovela O Direito de Nascer, na qual interpretou o
papel de Alberto Limonta; além de humorísticos, como o Balança mas Não Cai, com
o quadro do Primo Pobre e Primo Rico, interpretado junto com Brandão Filho. Na TV
fez personagens inesquecíveis, como Tucão da novela Bandeira 2; Coronel Ramiro
Bastos, em Gabriela; João Maciel, de O Casarão, e o padre Hipólito, de Roque
Santeiro. Mas o papel mais marcante de Gracindão foi o prefeito Odorico
Paraguaçu, de O Bem Amado, de Dias Gomes (1973; 1980-1984). 8º lugar: BETINHO, Verás que um filho teu não foge à luta – Império
Serrano (1996) Por pouco o Império Serrano não fora rebaixado para o
Grupo 1-B em
O sociólogo Herbert José de Sousa (1935 - 1997) concebeu e
dedicou-se ao movimento de inclusão social chamado “Ação da Cidadania contra a
Fome, a Miséria e pela Vida”. Betinho tinha uma história de luta contra o regime
militar (ele era o irmão do Henfil
citado na letra da música “O bêbado e a equilibrista”, de João Bosco e Aldir
Blanc, gravada por Elis Regina) e, posteriormente, pela qualidade dos bancos de
sangue nacionais. Ele e seus dois irmãos, o cartunista Henfil e o músico Chico
Mário, eram hemofílicos e haviam contraído o vírus da Aids em transfusões de
sangue sem o necessário controle de qualidade. O objetivo da Ação da Cidadania
era combater a fome das camadas mais pobres e desenvolver ações de capacitação
e de geração de emprego e renda. Ativista dos direitos humanos, Betinho também
liderou a campanha chamada “Natal sem Fome”, que consistia em arrecadar doações
para que todas as famílias brasileiras tivessem o que comer na noite de Natal.
Mesmo doente, Herbert fazia questão de liderar este processo, com a frase: “quem
tem fome tem pressa”. 7º andar: SÍLVIO SANTOS, Hoje é domingo, é alegria. Vamos sorrir e
cantar! – Tradição (2001) Após levar as modelos Luma de Oliveira e Suzana Tiazinha
Alves – esta última então no auge da carreira – como rainhas de bateria,
respectivamente nos anos de 1998 e 1999, o presidente da GRES Tradição, Nésio
Nascimento, desferiu mais um golpe de mestre em sua conhecida habilidade em
atrair as atenções do público para sua escola. A ousadia do dirigente para o
carnaval de 2001 foi levar para o sambódromo um enredo que homenageasse o
apresentador de TV e empresário Sílvio Santos. Foi o ano em que a escola mais
atraiu a atenção do grande público para si. Silvio desfilou como destaque num
carro alegórico com um traje todo prateado. Além do Homem do Baú, a Tradição
também levou para o desfile celebridades do SBT, como, por exemplo, o locutor
Lombardi (que deu o grito de guerra), a apresentadora Hebe Camargo e o elenco
de humoristas do programa A Praça é Nossa. No período pré-carnavalesco, a TV Globo
não contemplava a exibição do samba da Tradição em horário nobre. Entretanto, o
samba assinado por Lourenço e Adalto Magalha era executado constantemente
durante os intervalos da programação do SBT nos meses anteriores ao carnaval.
Na hora do desfile, o povo já conhecia muito bem a letra, o que certamente
ajudou bastante a Tradição. O oitavo lugar foi a segunda melhor colocação da
escola no Grupo Especial. O homenageado
Senor Abravanel (1930) é um administrador de empresas,
apresentador de televisão e empresário brasileiro. É dono do Grupo Silvio
Santos (que inclui vários negócios como o Baú da Felicidade, Jequiti
Cosméticos, Banco Panamericano) e do Sistema Brasileiro de Televisão. Como
apresentador do duradouro Programa Silvio Santos, um dos programas mais antigos
da televisão brasileira, tornou-se um dos mais consagrados e queridos ícones da
televisão e do público brasileiro, sendo considerado um dos maiores
empreendedores e comunicadores da história da televisão no país. 6º lugar: DERCY GONÇALVES – Bravo, bravíssimo - O retrato de um povo.
Unidos do Viradouro (1991) Eram pouco mais das 18h e com o sol a pino quando a
multicampeã do carnaval de Niterói Unidos do Viradouro adentrou na Marques de
Sapucaí, pela primeira vez no Grupo Especial do Rio de Janeiro. E, para ajudar
na estréia, nada melhor do que recorrer a uma veterana estrela dos palcos, do teatro,
do cinema e da televisão. Dercy Gonçalves era a homenageada no enredo “Bravo, bravíssimo
– Dercy, o retrato de um povo”, desenvolvido pelos carnavalescos Max Lopes e
Mauro Quintaes. A escola já tinha pinta de veterana entre as grandes e se
mostrava disposta a brigar pelas primeiras posições. No alto do carro abre-alas,
que era todo branco, prata e rosa, estava a homenageada, que desfilou com os
seios nus e com uma bengala, pois ela havia sofrido um acidente meses antes do
carnaval. A vida de Dercy estava toda representada em forma de fantasias e
alegorias, desde sua infância pobre em Madalena (RJ) até seus grandes sucessos
no teatro e no cinema. O belíssimo samba, muito bem levado por Quinzinho,
ajudou na empolgação dos componentes e do público. A ala das crianças foi
contemplada com o Estandarte de Ouro da categoria: veio vestida de perereca,
fazendo referência ao sucesso de Dercy: “Perereca da Vizinha”. A homenageada
Dolores Gonçalves Costa (1907 - 2008),
foi uma atriz brasileira, oriunda do teatro de revista, notória por suas participações
na produção cinematográfica brasileira das décadas de 1950 e 1960. Também atuou
em telenovelas e em programas humorísticos na televisão. Celebrada por suas
entrevistas irreverentes, bom humor e emprego constante de palavras de baixo
calão, Dercy foi uma das maiores expoentes do teatro de improviso no Brasil e
um dos maiores mitos da dramaturgia brasileira. 5º lugar: BETH CARVALHO, a Enamorada do Samba
– Unidos do Cabuçu (1984) O grupo 1-B (formado por 12
escolas) foi a primeira categoria a desfilar no recém inaugurado sambódromo do
Rio de Janeiro, na noite do dia 2 de março de
A homenageada A carreira de Elizabeth Santos
Leal de Carvalho (1946) teve origem na bossa nova. Morou em vários bairros do
Rio de Janeiro e seu pai a levava com regularidade aos ensaios das escolas de
samba e rodas de samba. É mangueirense desde a adolescência. No final da década
de 1960, houve o boom dos festivais e
Beth participou de quase todos. No Festival Internacional da Canção (3º FIC) de
1968, conquistou o terceiro lugar com “Andança” e ficou conhecida em todo o
país. Em mais de 40 anos de carreira, a cantora gravou 31 discos, dois DVDs,
conquistou seis prêmios Sharp, 17 discos de ouro, nove de platina, um DVD de
platina, centenas de troféus e premiações diversas. Ao ser campeã com a Unidos
do Cabuçu em 1984, Beth considerou esta como a maior de todas as homenagens já
recebida: “Não existe no mundo, nada mais emocionante do que ser enredo de uma
escola de samba. É a maior consagração que um artista pode ter”, declarou a
sambista. 4º lugar: JORGE AMADO, Axé Brasil – Império
Serrano (1989) O desafio da tradicionalíssima Império
Serrano era enorme. Além de ter a responsabilidade de encerrar o segundo dia de
desfiles do Grupo Especial de 1989, após a passagem de 17 escolas, precisava
também manter o público interessado e empolgado após a revolucionária
apresentação proposta pela Beija-Flor em “Ratos e urubus, larguem minha
fantasia”. Mas o Menino de 47 não se
fez de rogado. Naquela manhã de terça-feira, apresentou o enredo “Jorge Amado,
Axé Brasil”, do carnavalesco Oswaldo Jardim, em que exaltava o escritor baiano
através de seus principais personagens, que eram os grandes convidados para a
comemoração em homenagem ao autor. E estavam todos lá: os capitães de areia,
Gabriela, os coronéis das terras do sem fim, Tereza Batista, Quincas Berro
D’Água, os pastores da noite, Tieta do Agreste, Dona Flor, etc. Jorge Amado
desfilou no último carro, ao lado da esposa Zélia Gattai, e vários amigos e
artistas. O homenageado
Jorge Amado (1912 - 2001) foi um
dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos. Ele é
o autor mais adaptado da televisão brasileira. Verdadeiros sucessos como Tieta
do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Teresa Batista Cansada de Guerra são
criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos, cuja adaptação para o
cinema foi recordista de público no Brasil por 34 anos levando mais 10 milhões
de espectadores aos cinemas brasileiros, até ser ultrapassado em 2010 por Tropa
de Elite 2. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo
também exemplares em braille e em fitas gravadas para cegos. Além de ter sido
adaptada inúmeras vezes para cinema, teatro e televisão, a obra literária de
Jorge Amado foi tema de escolas de samba por todo o Brasil. Alguns exemplos:
“Dona Flor e seus dois maridos” (Lins Imperial/1975), “Capitães de Asfalto” (baseado
no romance Capitães de Areia, São Clemente/1987), “Tenda dos Milagres” (Lins
Imperial/1987), “Amado Jorge Amante” (as mulheres na obra de Jorge Amado, Independentes
do Cordovil/1987) e “Gabriela, Cravo e Canela” (Unidos de São Carlos/1969). 3º lugar: CLEMENTINA DE JESUS, GRANDE OTELO, LUANA
DE NOAILLES, PELÉ E PINAH, A grande constelação das estrelas negras – Beija-Flor
(1983) Em 1983, no último carnaval antes
da construção do sambódromo. O enredo “A grande constelação das
estrelas negras”, do carnavalesco Joãozinho Trinta, fazia uma bela homenagem a
vários negros brasileiros ilustres. Os quase 3 mil componentes a Deusa da
Passarela estavam mordidos com a injusta sexta colocação do ano anterior e nem
se importaram em entrar na Sapucaí pouco depois das 11 horas da manhã sob um
sol escaldante e um calor de quase 40 graus. A Beija-Flor estava bem típica:
carros gigantes, fantasias luxuosas e visual impressionante, acrescidos de um
enredo popular e de fácil assimilação. As estrelas negras citadas no enredo
desfilaram. Clementina de Jesus foi a primeira, sentada numa espécie de trono
no alto de um carro alegórico. Afinal, ela era conhecida como Mãe Quelé. Na
seqüência, vieram a ex-modelo baiana
radicada na França condessa Luana de Noailles, o “homem-show” Grande
Otelo e a “cinderela negra” Pinah, que se consagrou como destaque e cria da
própria escola, além de ter se tornado mundialmente conhecida ao sambar junto
com o Príncipe Charles, quando este visitou o Brasil pela primeira vez, em
1978. O desfile terminou com uma homenagem a Pelé, único ausente no desfile. Os homenageados
Antes de ser descoberta pelo produtor e compositor Hermínio Belo de Carvalho, Clementina de Jesus da Silva (1901 - 1987) trabalhou por mais de 20 anos como doméstica. Estreou como cantora no show Rosa de Ouro, em 1963. Dona de um timbre de voz inconfundível, seu repertório era composto por sambas, corimás, jongos, cantos de trabalho e canções de cunho religioso, recuperando assim a memória da conexão afro-brasileira. Mangueirense, Clementina, também conhecida como Quelé, era considerada a Rainha do Partido Alto. Mesmo tendo iniciado tardiamente sua vida artística e com uma curta carreira, é sem dúvida uma das mais importantes artistas brasileiras.
Raimunda Nonata do Sacramento
(1949) nasceu no bairro do Curuzu e foi criada no bairro da Liberdade,
Sebastião Bernardes de Souza Prata (1915 - 1993) foi um grande artista de cassinos cariocas e do chamado teatro de revista. Grande Otelo atuou em diversos filmes brasileiros de sucesso, entre os quais as famosas chanchadas nos anos 1940/50, que estrelou em parceria com o cômico Oscarito. Na televisão, era contratado da TV Globo, onde atuou em diversas telenovelas e em programas humorísticos, como a Escolinha do Professor Raimundo. Juntamente com Herivelto Martins compuseram o samba “Praça Onze”. Uma curiosidade carnavalesca: três anos após a homenagem da Beija-Flor, Otelo foi enredo da Estácio de Sá. A escola, a segunda a desfilar na noite de domingo de carnaval, precedeu a Unidos da Ponte, que abriu o desfile do Grupo Especial, exaltando seu parceiro Herivelto.
Em
Edison Arantes do Nascimento (1940)
é o maior jogador da história do futebol. Pelé recebeu o título de Atleta do
Século de todos os esportes em 1981, eleito pelo jornal francês L'Equipe. No
fim de 1999, o Comitê Olímpico Internacional, após uma votação internacional
entre todos os Comitês Olímpicos Nacionais associados, também elegeu Pelé o “Atleta
do Século”. A FIFA também o elegeu, em 2000, numa votação feita por renomados
ex-atletas e ex-treinadores como o Jogador de Futebol do Século XX. Apesar de
ser enaltecido inúmeras vezes no carnaval, o Rei do Futebol jamais saiu em uma
escola de samba. “No dia que eu aceitar o convite de uma, terei que aceitar o
convite de todas”, justifica Pelé. 2º lugar: JOÃOSINHO TRINTA, Sonhar com rei dá
João – União da Ilha do Governador (1990) A
União da Ilha já tinha provocado
grande impacto com “Festa Profana” (1989) e conquistado um
inédito e histórico
terceiro lugar. No mesmo ano, a revolução estética
provocada por Joãosinho
Trinta reforçou e amplificou a admiração que tinha
entre seus colegas
carnavalescos. E foi esse o desafio que o praticamente desconhecido Ney
Ayan
levou em consideração ao propor o enredo da Ilha para o
carnaval de 1990:
prosseguir a boa onda insulana com a apresentação quase
perfeita de “Festa
profana” e fazer um desfile sob a inspiração de
Joãosinho. “Sonhar com rei dá
João” tinha como proposta retratar os dois campeonatos
consecutivos
conquistados pelo artista maranhense no Salgueiro (1974-75), o primeiro
tricampeonato da Beija-Flor (1976-77-78) e encerrar apoteoticamente
relembrando
o espantoso “Ratos e urubus...” do ano anterior. Para tal
ousadia, a União da
Ilha não poupou esforços e duplicou o investimento
dispensado em 1989. Luxo e
requinte estavam presentes em todas as alas da escola e setores do
desfile. O samba foi novamente de autoria da dupla Bujão e J.
Brito, tendo outra vez como ghost writter o compositor Franco.
Na condução do carro de som, a animação de Quinho. O próprio João Trinta
desfilou, rodeado por mendigos, no carro que encerrou o desfile e que o coroava
como “rei do paetê e do miserê”. O homenageado
Considerado o maior carnavalesco
de nossa história, o artista plástico João Clemente Jorge Trinta (1933) é
também uma figura única da cultura popular brasileira, se portando como um filósofo
e crítico da sociedade brasileira. “O povo gosta de luxo; quem gosta de miséria
é intelectual”, teria declarado em uma entrevista, no final da década de 1970. Nascido
numa família pobre de São Luís do Maranhão, Joãosinho mudou-se para o Rio de
Janeiro, para estudar dança clássica no Teatro Municipal. Chegou à então capital
federal exatamente em um sábado de carnaval. Em 45 anos de trabalho dedicados à
folia, comandou o carnaval do Salgueiro, Beija-Flor, Império da Tijuca,
Rocinha, Peruche (São Paulo), Viradouro, Grande Rio e Vila Isabel. Problemas de
saúde em função de uma isquemia sofrida em 1996 e dois AVCs em 2004 provocaram
seu afastamento definitivo do carnaval. Além da homenagem da União da Ilha,
Joãosinho Trinta também teve sua vida e obra exaltada pela Acadêmicos da
Rocinha (2004). 1º lugar: Yes, nós temos BRAGUINHA – Estação Primeira de Mangueira (1984) O tributo que a Estação Primeira
de Mangueira prestou ao compositor João de Barro foi um dos momentos mais
emocionantes e marcantes da história do carnaval. Até a década de 1980, as
escolas preferiam celebrar personalidades já falecidas e eram raros os
homenageados O homenageado
A
musicografia completa do
compositor carioca Carlos Alberto Ferreira Braga (1907 - 2006),
inclusive com
versões e músicas infantis, passa dos 420 títulos,
uma das maiores e de mais
sucessos da música popular brasileira. Mas Braguinha ficou
famoso em função de
suas marchas de carnaval. Músicas como “Pirata da Perna de
Pau”, “Chiquita
Bacana”, “Touradas de Madri”,
“Balancê”, “As Pastorinhas”, “A
turma do Funil”,
“Carinhoso” (feito em parceria com Pixinguinha) e muitas
outras pertencem ao
imaginário musical dos brasileiros. O apelido, João de
Barro, se deve ao fato
de que Braguinha estudava Arquitetura na Escola Nacional de Belas
Artes, quando
ingressou no Bando Os Tangarás, ao lado de Noel Rosa, e resolveu
adotar o
pseudônimo de um pássaro arquiteto, porque o pai
não gostava de ver o nome da
família circulando no ambiente da música popular, mal
visto na época. Outras personalidades que receberam homenagem - Roberto Carlos (Cabuçu/1987) Rixxa Jr. |
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