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Coluna do Rixxa Jr

"SAUDADE DAQUELA VOZ QUE SE CALOU..."

10 de fevereiro de 2010, nº 24, ano VI

No ano em que a Acadêmicos do Grande Rio homenageia o camarote de uma cervejaria e revisita grandes carnavais da Era Sambódromo, há uma menção aos intérpretes cujas vozes já se calaram e infelizmente não abrilhantam mais na Marquês de Sapucaí. O Top 10 Sambario enumera dez microfones de ouro da história do carnaval carioca e brasileiro. Segura a emoção!

10º lugar - EDMILSON VILLAS (1974-2003)


Edmilson Villas teve sua carreira interrompida no momento em que estava em ascendência, em 2003. Na época, o cantor estava na Lins Imperial, que tinha conquistado o título no Grupo B e já preparava o desfile para o Grupo A. Antes, o intérprete já havia passado por Arrastão de Cascadura, Villa Rica, Acadêmicos do Sossego e Vila Isabel. A fatalidade de um acidente automobilístico calou a voz de Edmilson Villas.

MELHOR MOMENTO:

No ano 2000, ganhou um prêmio Sambanet de melhor intérprete do Grupo B, quando atuou pela Villa Rica (prêmio dividido com Anderson Paz, na época puxador da Lins Imperial).

 
No sorriso da criança tem amor
A semente é esperança, só quem plantou
Igualdade e saber, viu futuro
Florescer de prosperidade

 “Coração de três raças” (Carlinhos Melodia, Antônio da Conceição, Marciano e Serginho Raiz) – Unidos de Villa Rica 2000.

9º lugar – JACKSON MARTINS (1972-2004)

Em 2004, Jackson Martins também vivia um grande momento na carreira. Estava cantando o fino na sua Caprichosos de Pilares, era requisitado para defender sambas nas disputas, participou do projeto Puxadores de Samba, grupo musical formado com os colegas Dominguinhos do Estácio, Preto Jóia, Serginho do Porto e Wantuir, e planejava retomar sua carreira solo e lançar um CD. Jackson era um cara boa-praça e carismático. Seu estilo vibrante é prosseguido com intérpretes da nova geração, como Zé Paulo Sierra e Lico Monteiro. Os tiros de um revólver durante um assalto calaram a voz de Jackson Martins.

MELHOR MOMENTO:

O próprio Jackson Martins descreveu como “mágico” o momento que a Caprichosos abriu o desfile de segunda-feira no carnaval de 1998, após amargar um ano no Acesso. “Negra origem, negro Pelé, negra Bené” estourou no país inteiro e todo o sambódromo cantou junto o samba com a escola.

Quem tem magia no pé
É Pelé
Quem vem na força da fé
É Mandela
E a voz que veio de lá
Da favela
É da guerreira Bené
Salve ela

 “Negra origem, negro Pelé, negra Bené” (Flávio Quintino, Noquinha, Sidinho da Zoeira, JB e Zé Carlos da Saara) – Caprichosos de Pilares 1998

8º lugar - SOBRINHO (1951)

Da lista de donos de vozes que se calaram, Sobrinho é o único que ainda está vivo. Mas por que se calou? Este é um dos mistérios do carnaval. O cantor andava sumido e muitos pensaram até que havia morrido, o que felizmente, não se confirmou. Sobrinho chegou à Mangueira no início dos anos 70 e se tornou animador de quadra na escola. O cantor também foi marca registrada da ascensão da Unidos da Tijuca na primeira metade dos anos 80, quando a escola se manteve durante vários anos no Grupo Especial. Também circulou por Imperatriz Leopoldinense, Império Serrano, Unidos de Bangu, Vila Isabel, Tupi de Brás de Pina, Acadêmicos de Santa Cruz e Mocidade Independente de Aparecida (Manaus). A última vez em que passou na Sapucaí em um carro de som foi em 1995, pela Mangueira, como apoio de Jamelão. Sobrinho chegou a ser anunciado como intérprete auxiliar de Ito Melodia na União da Ilha do Governador em 2007, mas não se adaptou ao samba e foi dispensado antes do carnaval.

MELHOR MOMENTO:

Sobrinho saiu do quase anonimato ao reconhecimento nacional ao conduzir a Unidos da Tijuca em 1981. O samba daquele carnaval é lembrado até hoje:

Tira daqui, leva pra lá
O que hoje dá pra rir
Amanhã dá pra chorar
Maldito bicho, se me ouviu
Se não gostou do meu samba
Vai pra longe do Brasil

“Macobeba - O que dá pra rir dá pra chorar” (Celso Trindade, Nêgo, Azeitona, Ronaldo, Ivar, Buquinha e Edmundo Araújo Santos) – Unidos da Tijuca 1981 

7º lugar - DEDÉ DA PORTELA (1939-2003)

Dedé era cria da Portela, compositor de sambas enredo e de “músicas de meio de ano”, gravadas por artistas do quilate de Alcione, Leci Brandão, Roberto Ribeiro e Fundo de Quintal, entre outros. Assumiu o microfone da azul e branco de Madureira após a saída de Silvinho do Pandeiro, em 1986. Junto com Norival Reis, é um dos autores de “Contos de areia”, um dos mais belos sambas da história da Portela. Um enfarte calou a voz de Dedé, às vésperas do carnaval de 2003. 

MELHOR MOMENTO: 

Considerado o melhor samba de 1987, vencendo o Estandarte de Ouro, o samba “Adelaide, a pomba da paz” teve a interpretação magistral de Dedé, que esbanjou emoção num amanhecer de carnaval.

São quatro letras que fazem sonhar
É o amor que se espalha no ar
Neste dia de folia
Sigam o exemplo desta pomba
Desativem esta bomba
Pra ninguém se machucar

“Adelaide, a pomba da paz” (Neném, Mauro Silva, Arizão, Isaac e Carlinhos Madureira) – Portela 1987.

6º lugar - SILVINHO DO PANDEIRO (1935-2001)

Silvinho do Pandeiro foi um dos exemplos de intérprete que dedicou mais tempo a uma escola de samba: 17 anos à frente da Portela. O período de fidelidade só é superado por Jamelão, na Mangueira (58 carnavais), Neguinho, na Beija-Flor (35), e Ney Vianna, na Mocidade (25). Vivenciou uma época áurea de sambas enredos antológicos da Portela e que entraram na história da própria MPB, como “Lendas e mistérios da Amazônia”, “Ilu-Ayê”, “O mundo melhor de Pixinguinha”, “Macunaíma”, entre outros. O sambista emprestou ainda seu talento à Unidos de Viradouro e ao Império Serrano. Em 1998, já aposentado da passarela do samba, fez uma ponta no filme “Orfeu”, de Cacá Diegues. Um câncer na próstata calou a voz de Silvinho do Pandeiro.

Okê-okê Oxossi
Faz nossa gente sambar
Okê-okê, Natal
Portela é canto no ar

“Contos de Areia” (Dedé da Portela e Norival Reis) – Portela 1984.

5º lugar - CARLINHOS DE PILARES (1942-2005)

Carlinhos de Pilares era o rei da alegria. Esbanjava alegria e animação, contagiando os componentes das escolas que defendeu, além de entreter a galera nas arquibancadas. Ao todo, Carlinhos emprestou sua voz a cerca de uma dezena de escolas de samba, entre as quais Lins Imperial, Unidos do Jacarezinho, Santa Cruz, Unidos da Tijuca, Portela, Acadêmicos do Dendê e Acadêmicos da Rocinha, com participação também nos carnavais de Manaus, Porto Alegre e São Paulo. Mas foi na sua “escola querida”, que Caprichosos de Pilares viveu momentos mágicos, como a conquista do título do Grupo 1-B, com o enredo “Moça bonita não paga mas também não leva” (1982), o desfile com a passarela praticamente às escuras (1983), ou a homenagem a Chico Anísio e aos mestres do riso (1984). A voz de Carlinhos foi calada por um tumor maligno no pulmão direito.

MELHOR MOMENTO:

Apesar de ter conquistado um Estandarte de Ouro como melhor puxador em 1988, foi três anos antes, que aconteceu o melhor desfile da história de Carlinhos e da Caprichosos de Pilares. Em uma manhã ensolarada, o cantor conduziu a escola com seus cacos e, ao longo da Marquês de Sapucaí, ia soltando sua gargalhada que, a partir daquele ano, tornou-se sua marca registrada. A escola saiu aclamada da passarela do samba, sendo considerada “campeã do povo”.

Tem bumbum
De fora pra chuchu
Qualquer dia
É todo mundo nu

“E por falar em saudade...” (Almir de Araújo, Balinha, Marquinho Lessa, Hércules e Carlinhos de Pilares) – Caprichosos de Pilares 1985

4º lugar - NEY VIANNA (1942-1989)

Vinte e cinco anos dedicados à Mocidade Independente de Padre Miguel. Com sua voz grave e levemente anasalada, Ney Vianna era uma das marcas registradas da verde e branco da Vila Vintém. Um dos mais respeitados cantores de carnaval do Rio de Janeiro, Ney iniciou no final dos anos 60 na Em Cima da Hora e teve uma passagem relâmpago pelo Império Serrano em 1984. Um enfarte fulminante, em plena quadra da Mocidade, na noite da final da escolha do samba que contaria o enredo “Vira, virou, a Mocidade chegou”, calou a voz de Ney Vianna.

MELHOR MOMENTO:

Apesar de ter ganho em 1987 seu o Estandarte de Ouro de melhor intérprete, o melhor momento de Ney Vianna na Mocidade foi, sem dúvida, no carnaval de 1985, com o genial enredo “Ziriguidum 2001”.

Quero ser a pioneira
A erguer minha bandeira
E plantar minha raiz

“Ziriguidum 2001, um carnaval nas estrelas” (Gibi, Tiãozinho da Mocidade e Arsênio) – Mocidade Independente de Padre Miguel 1985.

3º lugar - AROLDO MELODIA (1930-2008)

Aroldo Melodia foi um totem do carnaval carioca e brasileiro. Dono de um vozeirão potente e um jeito malandro e gaiato de cantar, foi um dos primeiros intérpretes a utilizar a empolgação como marca pessoal. Aroldo foi um dos protagonistas da projeção e da fase áurea que a União da Ilha do Governador teve – da segunda metade dos anos 70 até a primeira metade da década de 80 – quando consagrou o estilo bom, bonito e barato de fazer carnaval. Além da azul, vermelho e branco insulana, também emprestou seu talento à Mocidade Independente de Padre Miguel, Acadêmicos de Santa Cruz, Caprichosos de Pilares, Unidos da Ponte e até na pequena Camisolão, de Niterói. Deixou de cantar na passarela do samba em 1995, quando passou o cetro a seu filho Ito. Um quadro de insuficiência cardíaca e respiratória calou a voz de Aroldo Melodia, que já estava com a saúde debilitada, após ter sofrido dois AVCs.

MELHOR MOMENTO:

Foram tantos os melhores momentos de Aroldo Melodia na avenida que é difícil citar apenas um. Vamos ficar com o que considero o melhor, na Era Sambódromo, quando o Brasil inteiro cantou “De bar em bar - Didi, um poeta”. Em 1986, foi agraciado com o Estandarte de Ouro de melhor intérprete.

Hoje eu vou tomar um porre!
Não me socorre
Que eu tô feliz!
Nessa eu vou de bar em bar
Beber a vida
Que eu sempre quis

“De bar em bar - Didi, um poeta” (Franco) – União da Ilha do Governador 1991.

2º lugar - ROBERTO RIBEIRO (1940-1996)

Roberto Ribeiro não chegou a liderar carros de som no Sambódromo. No entanto, seu nome não poderia ficar de fora entre as maiores vozes de carnaval de todos os tempos. Aposentou-se em 1981, mas, até 1992, animava as arquibancadas cantando os sambas de esquenta antes dos desfiles da escola da Serrinha, na Sapucaí. A estréia de Roberto Ribeiro como puxador de samba aconteceu em 1971, no Império Serrano. Afastou-se da escola durante dois anos e retomou o posto em 1974 permanecendo por mais sete anos, quando resolveu afastar-se alegando problemas de relacionamento com a diretoria da época. Cantava sempre desfilando no chão da escola.

MELHOR MOMENTO:

Roberto Ribeiro também era integrante da ala de compositores da Império Serrano. Compôs dois sambas para a escola, entre eles, o belíssimo “Brasil, berço dos imigrantes”. Não chegou a ganhar nenhum Estandarte de Ouro porque o prêmio só passou a ser destinado aos melhores intérpretes a partir de 1982, quando já não puxava mais.

É tempo de carnaval
Hoje as cores do Império
Vem saudar a imigração
Numa doirada alegria
Neste dia de folia
O samba é anfitrião

“Brasil, berço dos imigrantes” (Roberto Ribeiro e Jorge Lucas) – Império Serrano 1977.

1º lugar - JAMELÃO (1913-2008)

A mais célebre das vozes da história do samba enredo. Jamelão dedicou quase seis décadas a cantar o samba de sua Mangueira na avenida. Nos anos 80 e 90 cantou também na Unidos do Peruche (SP) e gravou sambas para escolas de Manaus, na década de 80. Jamelão criticava o termo “puxador”. Dizia que não puxava nada, nem carro, nem droga, nem o saco de ninguém. Ele era cantor. Ele era intérprete!

De 1949 até 2006, Jamelão foi intérprete de samba-enredo na verde e rosa, sendo voz principal a partir de 1952, quando sucedeu Xangô da Mangueira. No carnaval de 1990, Jamelão anunciou o fim da sua carreira de intérprete de escola de samba. Durante o que seria seu último desfile, Jamelão - que havia chegado ao sambódromo com febre alta - passa mal, mas conseguiu terminar o desfile. Na Praça da Apoteose, ele anunciou, pelo microfone do carro de som, sua decisão de parar de cantar em desfiles, dizendo: “Queria agradecer a toda a escola, à bateria, maravilhosa. Estou encerrando aqui meu trabalho como intérprete de samba-enredo.” No entanto, logo foi demovido da idéia e prosseguiu sendo o microfone principal da Manga por mais 16 anos.

Em 1999, foi eleito o intérprete do século do carnaval carioca por 80 jurados do Rio e de São Paulo, em um prêmio oferecido a 20 profissionais, enredos e sambas. Em 2001, Jamelão recebeu a Medalha da Ordem do Mérito Cultural do então presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto, e dormiu durante a cerimônia.

De personalidade forte e sem papas na língua, Jamelão tinha muitas manias. Uma delas era o costume de andar com uma caixa cheia de elásticos no bolso e alguns deles nas mãos. Conforme dizia, carregava os elásticos para utilizá-los no dia em que ganhar bastante dinheiro. Porém, sabe-se que ele adquiriu essa mania do elástico depois de trabalhar muitos anos na polícia do Rio, chegando a aposentar-se naquela instituição.

Numa época em que não havia monopólio da gravação de samba enredo, Jamelão gravou sozinho todos os sambas do Grupo Especial do carnaval de 1975, o que gerou um disco indispensável para quem é apaixonado por sambas.

Uma infecção renal calou a voz de Jamelão, aos 95 anos de idade, que já estava com a saúde debilitada devido a duas isquemias, sofridas meses após seu último carnaval, em 2006. Este era José Bispo Clementino dos Santos, o moleque Saruê, Jamelão, a voz da verde e rosa na avenida e fora dela, presidente de honra da Estação Primeira e porta-voz da sabedoria dos mestres do samba.

MELHOR MOMENTO:

Colecionador de cinco Estandartes de Ouro como melhor intérprete (1982, 1990, 1992, 1996 e 1998) e um de Destaque Masculino (1974), Jamelão teve vários momentos dourados na avenida. Segundo o próprio intérprete, três sambas defendidos na avenida lhe emocionavam: “O mundo encantado de Monteiro Lobato” (1967), “No reino da Mãe do Ouro” (1976) e “Mangueira mostra ao mundo o que Dorival Caymmi tem” (1986). Mas, com certeza, até hoje lembramos com saudade do samba sobre o centenário da abolição.

Pergunte ao Criador (pergunte ao Criador)
Quem pintou esta aquarela
Livre do açoite da senzala
Preso na miséria da favela

 “100 anos de liberdade, realidade ou ilusão?” (Hélio Turco, Jurandir e Alvinho) – Estação Primeira de Mangueira 1988