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RICO MEDEIROS

RICO MEDEIROS

        

 

 

 

         Nome completo: Nilzo de Medeiros 
 

         Ano de nascimento: 1936

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         Ano de falecimento: 2020

     

                                                                     

  
Durante quase duas décadas, ele foi a cara e a voz da Acadêmicos do Salgueiro. Assim poderia ser definido o puxador Rico Medeiros. Sua voz sempre foi identificada com facilidade: uma voz rouca e levemente falseteada, conduzindo o samba com competência. O intérprete esteve à ativa, cantando samba na avenida, até poucos meses antes de seu falecimento, aos 84 anos de idade.

Nascido em Niterói, Rico começou sua trajetória no mundo do samba na Estação Primeira de Mangueira. Além de ser cantor de carnaval, também interpretava vários estilos de música. Participou de vários programas de calouros na TV como Buzina do Chacrinha, Carlos Imperial, Jair de Taumaturgo, César de Alencar entre outros, sendo o primeiro colocado em todos.

Tamanho destaque nos meios de comunicação acabou lhe rendendo convite para interpretar samba na Estação Primeira de Mangueira. Em 1975, ganhou o concurso de melhor puxador de samba, na qual também defendeu o samba campeão dos compositores Tolito e Rubens da Mangueira que descreveram o enredo “No Reino da Mãe do Ouro”. Rico Medeiros passou a ser o primeiro puxador de samba da verde e rosa dentro da quadra, já que na avenida, o cargo era reservado para o intérprete oficial Jamelão, que na época não participava das gravações originais dos LP’s. Depois de ter gravado no estúdio o samba da Mangueira para o Carnaval 1976, os produtores excluíram sua voz do disco e colocaram a de Rubens da Mangueira, irmão de Zuzuca do Salgueiro, e um dos autores do samba.

Profundamente decepcionado, Rico pensou em desistir do carnaval e até da carreira musical. Porém, logo em seguida foi chamado pela gravadora Top Tape, para gravar o samba “Sonhos Dourados” (de Pedrinho da Flor) do então bloco carnavalesco Flor da Mina do Andaraí para o carnaval de 1976. O cantor logo em seguida gravou no LP Carnaval 77 Ensaio Geral, o samba “Nossa querida Mangueira”, do compositor Ney, e o álbum Os Melhores Sambas-Enredo 1977 – Ala dos Compositores, na faixa “Vamos falar de saudade”, dos autores Jonas, Djalma e Tião Grande, um dos sambas derrotados na disputa da Unidos de Vila Isabel.

Rico Medeiros foi levado pelo compositor Renato de Verdade para defender sua obra que concorria pelo Salgueiro ao carnaval de 1978, consagrando o samba campeão na quadra. “Do Yorubá à Luz, à Aurora dos Deuses”, foi vencedor do Estandarte de Ouro de melhor samba-enredo, prêmio oferecido pelo Jornal O Globo. A partir daí e por quase 15 anos (com breves interrupções), Rico se tornou a voz oficial do Salgueiro tanto na avenida quanto nas gravações dos discos de samba-enredo.

Para o carnaval de 1981, gravou duas faixas no LP de sambas-enredos das escolas do Grupo 2-B: Unidos de Nilópolis e Unidos de Cosmos. Fora do Rio de Janeiro no ano seguinte, foi intérprete oficial da Embaixada do Morro, uma das mais tradicionais e vitoriosas escolas de samba de Guaratinguetá, em São Paulo.

Rico Medeiros atribuía para si a arte de ter sido o criador dos alusivos nos discos de samba enredo. Os alusivos são a introdução que os puxadores cantam antes de começar a entoar o samba-enredo propriamente dito na gravação ou no desfile de avenida. Geralmente executados de forma dolente e em ritmo mais lento, os alusivos são formados por um trecho melódico do samba-enredo do ano, por versos de um samba-exaltação da escola, ou são compostos unicamente com o fim de serem alusivos. Foi o que Rico fez. De volta para o Salgueiro após um ano sabático, o intérprete colocou a voz no samba “Traços e Troças” (Bala e Celso Trindade) para o carnaval de 1983. Dentro do estúdio Hawaí, o cantor pediu aos músicos que o acompanhassem em ritmo lento o seguinte refrão: O carnaval é a maior caricatura / na folia o povo esquece a amargura.

Em 1984, tornou-se um coadjuvante de luxo no carro de som do Salgueiro, tendo em vista que a preferência para a titularidade do microfone foi dada para David Correa, um dos autores vencedores do samba “Skindô, Skindô”. No ano seguinte, Rico retomou o microfone número 1 na vermelho e branco e também gravou o samba-enredo “Feliz por um dia” (Cícero Pereira e Rocha), da Lins Imperial, pelo Grupo 1-B, mas não pôde desfilar na escola do grupo de acesso devido ao falecimento de seu pai.

Ainda com o Salgueiro, ao gravar o samba para o carnaval de 1986, Rico prestou uma homenagem ao compositor Bicho de Pena, apelido de Pedro Correia de Carvalho, o Pedro Marreco (1957 - 1987), chamado pelos jornais da época de “Dono do Morro”. Por 13 anos, Marreco dominou o comércio de drogas em boa parte da Tijuca. O enredo do Salgueiro era “Tem que se tirar da cabeça aquilo que não se tem no bolso – Tributo a Fernando Pamplona” (dos autores Jorge Melodia, Paulo Emílio, Marcelo Lessa e ele, Bicho de Pena). Na segunda volta da gravação, entre seus cacos, Rico entoa “Alô, Bicho de Pena!”, Segundo o cantor, era uma homenagem ao compositor-traficante, que ouvira e aprovara as mudanças melódicas na gravação do samba, que ficou muito diferente de quando vencera na quadra.

No mesmo ano de 1986 um problema ocorrido no carnaval de Belém do Pará resultou na sua demissão do Salgueiro. Rico Medeiros havia sido contratado para cantar na Acadêmicos da Pedreira no sábado de carnaval. Dominguinhos do Estácio também iria cantar na capital paraense no mesmo dia, na escola de samba Rancho Não Posso Me Amofiná, que por ter sido a campeã no ano anterior iria encerrar o desfile. Só que o desfile todo atrasou, e Dominguinhos foi embora, pois tinha voo marcado para retornar ao Rio de Janeiro, a tempo de puxar a Estácio de Sá, que seria a segunda escola a desfilar no domingo na Sapucaí. Alegando que se não chegasse a tempo corria o risco de até ser assassinado, Dominguinhos pediu para que Rico o substituísse em Belém, pois o salgueirense só iria cantar no sambódromo carioca na noite de segunda-feira. Por ter cantado dois sambas-enredos na mesma noite em Belém, Rico Medeiros foi mandado embora pelo presidente do Salgueiro, Miro Garcia, após o desfile porque sua voz não estava cem por cento. O que afetou a apresentação na avenida, pois, na apuração, o Salgueiro levou um 10 e um 9 no quesito Harmonia, respectivamente pelos jurados Edialeda Nascimento e Milton Gonçalves. A performance do samba-enredo não foi muito bem, recebendo a avaliação de duas notas 9, dadas pelos jurados Iara Vargas e Caribé da Rocha.

No carnaval de 1987, teve uma breve passagem no carro de som da Imperatriz Leopoldinense, a convite do presidente Luizinho Drummond, revezando com Alexandre D’Mendes como cantor principal da escola. Retorna dois anos depois ao Salgueiro – novamente na condição de coadjuvante de luxo – do titular Rixxa. Sua última passagem como intérprete oficial do Sal foi em 1990 com o samba “Sou Amigo do Rei” (Alaor Macedo, Arizão, Demá Chagas, Pedrinho da Flor e Fernando Baster).

No ano de 1993, Medeiros atravessou a ponte e trocou a Cidade Maravilhosa pela sua cidade natal Niterói, mas permaneceu nas cores vermelha e branca. Entrou para a ala de compositores da Unidos da Viradouro e foi o segundo puxador ao lado de Quinzinho no carro de som da escola. Nos dois carnavais seguintes, em 1994 e 1995, Rico assumiu o microfone principal da Viradouro.

Em 1999 defendeu o samba campeão da Viradouro para o enredo “Anita Garibaldi, Heroína das Sete Magias”, dos compositores Gilberto Gomes, Gusttavo, Mocotó, PC Portugal e Dadinho. No ano de 2002 foi vencedor na quadra da Acadêmicos do Cubango do samba-enredo “África, o Exuberante Paraíso Negro”, composto por Jacy Inspiração, Celso Tropical, Rogerão e Gilberth Castro. Em 2010, foi intérprete da escola de samba Souza Soares, de Niterói, com o samba-enredo “Maria Quitéria de Jesus, o Soldado Medeiros”, dos compositores Cabral, Fernanda Lopes, Antônio Carlos e Pará da Souza. Em 2020, seu último carnaval, já com 84 anos idade, gravou e puxou o samba da Acadêmicos da Pedreira, escola onde cantou por mais de 30 anos em Belém do Pará.

Rico Medeiros não ficava limitado a interpretar músicas para serem cantadas apenas na passarela do samba. O cantor gravou e compôs sambas de meio de ano. É autor de “Blusa Amarela”, parceria sua com Moacir MM, que foi muito executada nas rádios e nos programas de televisão tornando-se um grande sucesso no final da década de 70 e no início dos anos 80. A música também foi gravada pelos grupos Originais do Samba, Banda Rio-Copa e Terra Samba. Como compositor, Rico teve ainda músicas gravadas pelos sambistas Neguinho da Beija-Flor e Reginaldo Terto.

O sambista também foi político, tendo exercido um mandato de vereador por São Gonçalo-RJ entre 1982 e 1988, sendo o sexto mais votado do município na década de 80.

Em 1986 Rico Medeiros teve participação especial na gravação de “Rei por um Dia” (Almir de Araújo, Marquinho Lessa, Balinha, Hércules Corrêa e Carlinhos de Pilares), faixa do álbum Amor e Paixão, da cantora Simone, juntamente com outros puxadores de samba, como Neguinho da Beija-Flor, Dominguinhos do Estácio, Dedé da Portela, Sobrinho e Carlinhos de Pilares.

Rico participou da coletânea “Escolas de Samba Enredo”, da gravadora Sony Music, no CD da Acadêmicos do Salgueiro, na faixa “Quilombo dos Palmares” (Anescar e Noel Rosa de Oliveira), de 1960. Foi homenageado pela Viradouro na parceria de PC Portugal para o Carnaval 2018, quando compôs o palco e gravou a obra ao lado de outro ex-cantor da escola niteroiense Quinzinho.

Como se não bastasse tudo isso, sua voz ecoou em um filme de Hollywood. O filme 007 Contra o Foguete da Morte, 11º filme da série James Bond, teve várias cenas rodadas no Rio de Janeiro em 1978 e alguns registros do desfile do Salgueiro – no qual Rico Medeiros canta – foram utilizados para a película.

O intérprete faleceu em 24 de abril de 2020, aos 84 anos.
Início: Acadêmicos do Salgueiro, em 1978
1978, 1979, 1980, 1981, 1983, 1985, 1986 e 1990 – Salgueiro (intérprete oficial)
1981 – Unidos de Nilópolis e Unidos de Cosmos (só gravou os sambas no disco)
1982, 1983, 1984, 1985, 1987, 1988 e 1990 – Embaixada do Morro (Guaratinguetá/SP)
1983 – Boêmios da Madama (Niterói)
1984 – Salgueiro (apoio de David Correa)
1985 – Lins Imperial (só gravou o samba no disco)
Entre 1986 e 2020 – Acadêmicos da Pedreira (Belém do Pará)
1987 – Imperatriz Leopoldinense (oficial, junto com Alexandre D’Mendes)
1987 – Vitória Régia (Manaus) – só gravou o samba no disco
1989 – Salgueiro (apoio de Rixxa)
1991 – Jovens Livres (Manaus) – só gravou o samba no disco
1993 – Viradouro (apoio de Quinzinho)
1994 e 1995 – Viradouro (intérprete oficial)
2010 – Souza Soares (Niterói)

 

GRITO DE GUERRA: Simbora, Salgueirooo! (durante seu tempo no Salgueiro) e Alô niteroiense e gonçalense. Explode, Viradooourooo! (na sua passagem pela escola de Niterói). Quando interpretava outras escolas não tinha um grito de guerra específico, variando de agremiação para agremiação

 

CACOS CARACTERÍSTICOS: “Nossa Senhora!”; “muito bonito”; “que beleza”; “simbora pastoras”; “que maravilha”; “deixa pra mim”; “aí, bateria”; “vou chegar juntinho”; “vamos chegando”; “haaaay”; “obrigado”; “alô Bicho de Pena”, "boníquito".

 

SAMBAS DE SUA AUTORIA: “O Bailar da Lua no Esplendor da Noite” (Embaixada do Morro/1982, com Tinca, Danilo e Brando); “Tereza de Benguela, uma Rainha Negra no Pantanal” (Viradouro/1994, com Gilberto Fabrino, Jorge Baiano e PC Portugal); “O Rei e os Três Espantos de Debret” (Viradouro/1995, com Bernardo, Gilberto Fabrino, Gonzaga, João Sergio, José Antonio Olivério, PC Portugal e Wilsinho); “Além do Imaginário ao Reino de Manôa” (Acadêmicos da Pedreira/2020, com Alfredo Reis e Celso Tropical).

 

SUCESSOS:

“Blusa Amarela” (com Moacir MM) e “Tempero de Maria” (com Robertinho Devagar) – Canta: Rico Medeiros em compacto simples do cantor (RCA/Victor, 1978);
“Blusa Amarela” (com Moacir MM) – Canta: Os Originais do Samba no disco “Aniversário do Tarzan” (RCA/Victor, 1978);
“Blusa Amarela” (com Moacir MM) – Canta: Terra Samba no disco “Gerasamba” (Independente, 1989)
“Deixa Eu Te Amar Mais Uma Vez” (com Gesony) – Canta: Neguinho da Beija-Flor no disco “Meu Mundo Novo” (Top Tape, 1983);
“Subindo nas Paredes” (com Elias Silva e Reginaldo Terto) – Canta: Reginaldo Terto no disco “Carnaval 83 – Vol. 2” (Araponga/Lança/Polygram, 1982).

DISCOGRAFIA SOLO:

Compacto simples “Blusa Amarela” / “Tempero de Maria” (RCA/Victor, 1978)

DISCOGRAFIA DE CARNAVAL:

LP Sambas Enredo dos Blocos Carnavalescos do Estado da Guanabara 1976 (faixa Flor da Mina do Andaraí)
LP Carnaval 77 Ensaio Geral (faixa “Nossa Querida Mangueira”)
LP Os Melhores Sambas-Enredo 1977 – Ala dos Compositores (faixa “Vamos Falar de Saudade”)
LP Sambas Enredo Grupo 1 1978 (faixa Salgueiro)
LP Sambas Enredo Grupo 1 1979 (faixa Salgueiro)
LP Sambas Enredo Grupo 1 1980 (faixa Salgueiro)
LP Sambas Enredo Grupo 1 1981 (faixa Salgueiro)
LP Sambas Enredo Grupo 2-B 1981 (faixas Unidos de Cosmos e Unidos de Nilópolis)
LP Sambas de Enredo das Escolas de Samba de Guaratinguetá (SP) – Carnaval 1982 (faixa Embaixada do Morro)
LP Sambas Enredo Carnaval de Niterói 1983 (faixa Boêmios da Madama)
LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1983 (faixa Salgueiro)
LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1985 (faixa Salgueiro)
LP Sambas Enredo Grupo 1-B 1985 (faixa Lins Imperial)
LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1986 (faixa Salgueiro)
LP Sambas Enredo Escolas de Samba de Manaus 1987 (faixa Vitória Régia)
LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1990 (faixa Salgueiro)
LP Sambas Enredo Escolas de Samba de Manaus 1991 (faixa Jovens Livres).
CD Escolas de Sambas-Enredo Acadêmicos do Salgueiro – Coletânea Sony (1993)
CD Sambas Enredo Grupo Especial 1994 (faixa Viradouro)
CD Sambas Enredo Grupo Especial 1995 (faixa Viradouro)

PARTICIPAÇÃO:

LP Amor e Paixão, de Simone (Sony, 1986), na faixa “Rei por um dia”, com outros puxadores do samba.

FILMOGRAFIA:

007 contra o Foguete da Morte (1979, de Lewis Gilbert)

MAIS FOTOS DE RICO MEDEIROS


Com Quinzinho gravando o samba da parceria de PC Portugal para a Viradouro visando o Carnaval 2018


Na gravação do concorrente pra 2018


Rico Medeiros em 1985


Como político, em 1985. Rico foi vereador em São Gonçalo-RJ




Puxando o samba da Viradouro em 1994 (fotos cedidas por Rixxa Jr.)

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Rico à direita, de camisa branca e com o troféu Jorge Lafond recebido de Pelé, então presidente da Cubango

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Rico (de camisa vermelha com paletó branco) nos ensaios do Aprendizes do Salgueiro em agosto de 2007 (foto cedida por Igor Munarim)

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Como apoio da Viradouro em 1993 (foto enviada por Igor Mendes)

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Cena do filme 007 Contra o Foguete da Morte, que teve teve várias cenas rodadas no Rio de Janeiro em 1978 e alguns registros do desfile do Salgueiro, ano de estreia de Rico Medeiros ao microfone da escola

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Rico Medeiros na vinheta do samba da Imperatriz Leopoldinense, exibida antes do desfile da escola na transmissão da TV Globo em 1987 (apesar da voz ouvida no samba ser de Alexandre D'Mendes)

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Coadjuvante de luxo em carro de som: Rico Medeiros foi auxiliar de canto de Rixxa (ao centro da foto) no desfile do Salgueiro em 1989

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Foto de Rico Medeiros, aos 84 anos de idade, antes de seu último carnaval em 2020

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