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SE VOCÊ NÃO CONHECE, VENHA CONHECER - PARTE 1
por Bruno Malta
Nessa série de quatro partes, o SAMBARIO apresenta um pouco da história
do Carnaval de São Paulo. Falaremos dos desfiles, palcos e pavilhões da capital
paulistana. Trazendo histórias, personagens, curiosidades, desfiles notáveis,
sambas marcantes e o momento atual de cada uma das principais agremiações
da cidade. O desfile
das escolas de samba de São Paulo já tem mais de cinquenta anos de
oficialização. Nesse período, o que não faltaram foram mudanças. Mudou-se o
palco por duas vezes, mudaram as agremiações, as campeãs, os dirigentes, os
modelos de desfile, os julgamentos, os intérpretes, os carnavalescos… tudo ou
quase tudo, mudou. Apesar disso, há algumas histórias que não se apagam e delas
que trataremos nessa série. A intenção dessa “espécie de guia” é apresentar
cada um dos principais pavilhões da capital paulista com todas as suas
peculiaridades, seus momentos, seus desfiles, seus sambas e tudo que o cercam.
Portanto, seja bem-vindo, vem conhecer o Carnaval de São Paulo! Nenê de Vila Matilde
Pavilhão da Nenê de Vila Matilde e suas onze
estrelas do Grupo Especial (Foto: Claudio L.Costa/SRZD)
Fundação: 1º
de Janeiro de 1949 Madrinha:
Portela Títulos: 11
no Grupo Especial: Seis foram conquistados antes da oficialização (1956, 1958,
1959, 1960, 1962 e 1965) e cinco após a
oficialização da folia pelo Prefeito Faria Lima (1968, 1969, 1970, 1985 e 2001)
e 2 no Grupo de Acesso (2010 e 2012) Cores: Azul
e Branco Bairro: Vila
Matilde Hino e
exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=QFW9vfCOypc A história A Nenê
surgiu no fim da década de 40, já como escola de samba. Oriunda da Zona Leste,
conquistou onze títulos do Grupo Especial, sendo seis deles antes da
oficialização da folia por parte do prefeito Faria Lima. Até então,
tinha uma imensa rivalidade com o Unidos do Peruche e com a Lavapés, para
saber quem era a maior da cidade. Após a oficialização da folia, conseguiu um
tricampeonato entre 1968 e 1970, mas com a chegada de outras entidades oriundas
dos blocos e de cordões, como Mocidade Alegre, Vai-Vai e Camisa Verde
e Branco, a Nenê não teve a mesma força de outros tempos. A azul e
branco conquistou nove de seus onze títulos fora da Avenida Tiradentes e do
Sambódromo do Anhembi, mas as duas conquistas isoladas nesses palcos foram bem
marcantes. Em 1985, com o enredo “O Dia Que o Cacique Rodou a Baiana Ai Ó”,
além de conquistar a taça, garantiu o direito de ser a única escola
paulistana a desfilar na Marquês de Sapucaí. Já em 2001, com o enredo “Voei,
Voei, na Vila Aportei, Onde Me Deram a Coroa de Rei” quebrou um
jejum que já durava dezesseis anos, o maior de sua história até então. Após o
último título, a Nenê ainda se manteve forte nos anos seguintes, mas teve como
derradeira participação, via Grupo Especial, no desfile das campeãs no ano de
2004 em um carnaval temático sobre os 450 da cidade de São Paulo. Com o enredo
“A Águia Voa Para o Futuro, Que Legal, É a Bienal no Carnaval! São Paulo 450
anos” sobre a bienal do livro, a azul e branco ficou em quarto
lugar, perdendo o título por um ponto. Depois disso, o declínio foi acentuando
e culminou no inédito rebaixamento ao Grupo de Acesso em 2009, ano em que a
agremiação completou sessenta anos. Desde então, acumulou outros três
rebaixamentos (2011, 2017 e 2020) e seis desfiles fora da elite do Carnaval
(2010, 2012, 2018, 2019, 2020 e 2021). Desfiles notáveis Com nove dos
onze campeonatos conquistados antes de 1977, a Nenê tem apenas dois títulos — 1985 (“O Dia Que o Cacique Rodou a Baiana Ai Ó”) e 2001 (“Voei, Voei, na Vila Aportei, Onde Me
Deram a Coroa de Rei”) — nos últimos cinquenta anos, mas ainda, sim, tem grandes desfiles. Em 1997,
com o enredo “Narciso
Negro”, a apresentação da azul e branco foi a melhor na
Era Anhembi até então, e o terceiro lugar conquistado marca o início da última
grande fase da Águia da Zona Leste. Em 1998, falando sobre a Mangueira no
enredo “Sementes do Samba. União de Gente Bamba”, fez outro grande desfile e foi vice-campeã. Por
fim, em 2003, o enredo (É Melhor Ler. O Mundo Colorido de um
Maluco Genial) sobre o escritor Ziraldo, também marca mais uma passagem marcante da
Nenê na Era Anhembi e foi corado com um honroso quarto lugar. Curiosidade A Nenê é a
única escola de samba paulistana, até os dias de hoje, que desfilou na Marquês
de Sapucaí. Em 1985 a UESP, então organizadora dos desfiles do Grupo Especial,
conseguiu uma parceria com a Liesa e garantiu vaga para a campeã de São Paulo
no desfile das campeãs do Rio de Janeiro. A Nenê venceu a disputa naquele ano e
representou o Carnaval da cidade. O atual momento e o último desfile
Desfile de 2015 foi uma rara exceção positiva em
meio ao pior momento da história da Nenê (Foto: Lucas Lima/UOL)
Desde 2009,
a Nenê vive uma fase tenebrosa. A escola não conseguiu se estabelecer como
força no Grupo Especial nos últimos anos e acumulou rebaixamentos no período.
No próximo ano, vai desfilar, pela primeira vez em sua história, no Grupo de
Acesso II — terceira
divisão do Carnaval Paulistano. No último Carnaval, a azul e branco fez uma apresentação tímida na defesa do enredo “O Presente da Deusa e o brinde da Águia” e sem a tradicional força da comunidade. Com muitos
erros no quesitos de chão e uma plástica bem limitada, o resultado foi um
desastroso sétimo e último lugar no grupo, culminando no descenso da
agremiação. Sambas marcantes A Nenê é uma
das escolas mais ligadas as temáticas africanas em São Paulo. Seu último grande
samba na elite foi falando de Moçambique, no enredo “Moçambique — A Lendária terra do Baobá
sagrado!”, em 2015. Outra vertente que merece citação é a
das críticas sociais como a de 2002, do enredo “Em Não Se Plantando, Tudo Nos Dão?… Não!!!” que tratava da reforma agrária. No entanto, duas obras memoráveis, que
ecoam até hoje, foram de outras temáticas. Em 1999, com o enredo “Voa Águia, Voa que Sampa é Toda Tua” sobre a cidade de São Paulo, levantou o Anhembi com
uma composição de fácil assimilação e de raríssima felicidade em letra e
melodia. Apesar do rebaixamento, 2009 marca mais uma trilha de grande qualidade
da azul e branco; Com o enredo “60 Anos — Coração Guerreiro, A Grande Refazenda Do Samba”, o fantástico samba foi o ponto mais alto de uma
conturbada apresentação. Unidos do Peruche
Pavilhão do Unidos de Peruche e suas cinco
estrelas do Grupo Especial (Foto: Claudio L.Costa/SRZD)
Fundação: 4
de janeiro de 1956 Madrinha:
Lavapés Títulos: 5
no Grupo Especial todos foram conquistados antes da oficialização (1957, 1962,
1965, 1966 e 1967) e 3 no Grupo de Acesso (1981, 2008 e 2015) Cores: Verde,
Amarelo, Azul e Branco Bairro:
Parque Peruche/Limão Hino e
exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=QFW9vfCOypc A história Fundada em
1956, a Filial do Samba, como é conhecida, é uma das escolas que mais perdeu
força ao longo das décadas, mas ainda mantém inegável contribuição para o
Carnaval Paulistano. Tem cinco títulos, todos antes da oficialização da folia
em 1968. Até aquele
momento, o Peruche disputava com a Nenê, o posto de maior da
cidade. As duas, junto da Lavapés, se revezaram como campeãs do Especial
Paulistano entre 1950 e 1968, período da pré-oficialização. A partir da década
de 70, a agremiação foi perdendo sua força. Com resultados cada vez mais
modestos, amargou o primeiro rebaixamento para o Grupo de Acesso em 1980. Era o
primeiro sinal de alerta na Filial. No entanto,
a partir da segunda metade da década de 80, o Peruche importou artistas
cariocas como Joãozinho Trinta e Laíla e impôs sua força de novo.
Mesmo sem a taça, que teimou em escapar, desfiles inesquecíveis em 1989 (Os
Sete Tronos dos Divinos Orixás) e 1990 (De Roma Pagã ao Esplendor
da Paulicéia) são considerados marcantes até hoje pelos sambistas da
cidade. Nas décadas seguintes, voltou a se tornar uma escola de meio para fim
de tabela. Apesar da força inegável no chão, os desfiles eram frágeis
plasticamente e a agremiação não se estruturou para o boom dos anos 2000.
Rebaixamentos em 2000 (Cara e Coroa, as Duas Faces de um Império), 2004
(São Paulo é Como Coração de Mãe… Sempre Cabe Mais Um), 2007 (Com
Mauricio de Sousa, a Unidos do Peruche, Abre-Alas, Abre-Livros, Abre-Mentes e
Faz Sonhar), 2009 (Do ventre da Terra à indomável cobiça do homem) e
2011 (Abram as cortinas, o espetáculo vai começar! 100 anos do Teatro
Municipal de São Paulo, Peruche vai apresentar. Bravo! Bravíssimo!)
marcam o período. Desfiles notáveis No segunda
metade da década de 80, o Peruche contou com a forte e revolucionária administração de Walter
Guariglio que, inspirado no que fez Eduardo Basílio,
presidente do Rosas de Ouro, transferiu a escola para o bairro de Limão
em 1984 e deu outra cara para a agremiação. Com uma quadra cheia e bons
segmentos, conseguiu realizar grandes desfiles naquele período. Em 1985, com o
enredo Águas Cristalinas, a Filial terminou em quarto lugar e entrou para a história com mais um
clássico samba-enredo. Em 1989 (Os Sete Tronos dos Divinos Orixás) e 1990 (De Roma Pagã ao Esplendor da Paulicéia), atingiu o ápice com duas apresentações que entraram pra história da
Avenida Tiradentes. Com Joãozinho Trinta, Laíla, Jamelão e Eliana de
Lima, saiu da pista aclamada nos dois anos, mas não conseguiu vencer o
campeonato. No primeiro ano, uma polêmica nota de Dona Zica impediu a
conquista, no ano. seguinte, um mísero ponto impediu o tríplice empate com o Camisa
Verde e Branco e Rosas de Ouro. Curiosidade A atual
quadra do Unidos do Peruche fica na mesma rua — na mesma calçada, literalmente — que a da Mocidade
Alegre. Ambas estão situadas na Rua Samaritá, no bairro da Casa Verde, Zona
Norte de São Paulo desde 2013, quando a Morada do Samba se mudou de endereço. O atual momento e o último desfile
O Peruche vive uma fase de declínio, acumulando
dois rebaixamentos em três anos (Foto: SASP)
Em 2015,
depois de um quase rebaixamento no Grupo de Acesso no ano anterior, a Filial
acordou. Com um lindo samba, dominou o grupo e conseguiu subir para elite,
graças ao talento do carnavalesco Murilo Lobo, de suma importância entre
2015 e 2017. Com a saída do carnavalesco naquele ano, o Peruche voltou a entrar
em curva descendente. De lá pra cá, foram dois rebaixamentos consecutivos e a
inédita participação no Grupo de Acesso II — terceira divisão dos desfiles paulistanos. Buscando voltar ao Acesso I, houve uma
considerável renovação em seu time no último Carnaval. Casal, cantor,
bateria…tudo mudou. Apesar de um bom samba e de um bom desfile, a escola teve
problemas na organização de sua pasta, perdendo décimos preciosos antes mesmo
da apuração, e ficou longe do Acesso. Sambas marcantes A Filial é
uma das escolas mais ligadas às temáticas de raiz africana, apesar de alguns
temas exóticos como o de 1999 (Bill
Gates — o Cérebro do Futuro) sobre o gênio norte-americano da tecnologia. Com isso, seus sambas se
destacam por melodias de muita força. Ademais, merece ser lembrado que também
revelou intérpretes femininas e chamou atenção por isso. Eliana de Lima e Bernardete são os principais casos. Os destaques principais são os sambas do
último período de ouro que se deu entre 1985 (Águas Cristalinas) e 1990 (De Roma Pagã Ao Esplendor da Pauliceia). Em 1988, com o enredo “Filhos da Mãe Preta”, mais uma obra inesquecível sobre o negro. Além deste, é possível
citar obras desse período mais recente como o de 2016 sobre o centenário do
samba (Ponha um pouco de amor numa cadência e
vai ver que ninguém no mundo vence a beleza que tem o samba… 100 anos de samba,
minha vida, minha raiz) e 2017 sobre a cidade de Salvador (A Peruche no maior axé exalta Salvador,
cidade da Bahia, caldeirão de raças, cultura, fé e alegria) que reforçam a tradição de grandes trilhas sonoras da Filial. Mocidade Alegre
Mocidade Alegre possui dez campeonatos no Grupo
Especial de São Paulo (Foto: Claudio L.Costa/SRZD)
Fundação: 24
de Setembro de 1967 Madrinha:
Império do Samba Títulos: 10
no Grupo Especial (1971, 1972, 1973, 1980, 2004, 2007, 2009, 2012, 2013 e 2014)
e 1 no Grupo de Acesso (1970) Cores:
Verde, Vermelho e Branco Bairro:
Limão Hino e
exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=Oiws_JKizCY A história A Mocidade
Alegre tem origem no Bloco das Primeiras Mariposas
Recuperadas do Bom Retiro e foi
fundada em 1967. Sua localização original é no Bairro do Limão. Tem dez títulos
do Grupo Especial. Seu início como escola de samba foi avassalador. Após um
primeiro ano de experiência em 1968, acumulou cinco títulos seguidos entre 1969
e 1973, sendo três deles de forma consecutiva. Depois de um começo tão forte, a
Morada só voltaria a vencer em 1980. Com o enredo “Embaixada de Sonho E
Bamba”, encerrou um jejum que já durava mais de sete anos. Era o quarto
campeonato em apenas dez anos na elite, mas, após o quarto título veio o maior
jejum de sua história. Entre 1980 e
2004, a Mocidade acumulou decepções, equívocos e muitas tentativas frustradas.
O início da retomada de sua força aconteceu em 2003 (Omi — O Berço da
Civilização Iorubá) com mais um tema de matiz africana. Após o primeiro
vice-campeonato em quinze anos, a Morada entrou em 2004 querendo mostrar que o
renascimento era pra valer. E conseguiu… Com um lindo samba, se reafirmou e conquistou
mais uma taça e traçou de vez seu retorno aos dias de glória. Reestruturada,
arrebatou mais vitórias nos anos seguintes. Foram mais cinco campeonatos (2007,
2009, 2012, 2013 e 2014), incluindo um tricampeonato consecutivo, o que fez da
Morada, a escola ser batida no século. Além dos títulos, chamou a atenção por
sua imensa competitividade. De 2003 pra cá só ficou fora do desfile das campeãs
em três oportunidades (2011, 2017 e 2019), mostrando acima de tudo sua
regularidade no período. Desfiles notáveis Entre a
mudança da Tiradentes para o Anhembi, a Mocidade passava por um longo período,
onde teve muita dificuldade para conquistar grandes resultados. Apesar disso,
um dos grandes momentos na Tiradentes aconteceu em 1988 (O Cientista Poeta — Paulo Vanzolini) na homenagem a Paulo Vanzolini, quando conquistou o vice-campeonato. A
partir dali, a agremiação só voltaria a deixar sua marca registrada em 2003 (Omi — O Berço da Civilização Iorubá) consagrando um novo estilo de apresentação. Após esse desfile, passou
a ser uma das mais aguardadas. Com grandes desfiles em 2004 (Do Além-Mar à Terra da Garoa… Salve Esta
Gente Boa), 2007 (Posso Ser Inocente, Debochado e
Irreverente… Afinal, Sou o Riso dessa Gente), 2009 (Da Chama da Razão ao Palco das Emoções…
Sou Máquina, Sou Vida… Sou Coração Pulsando Forte na Avenida), 2010 (Da criação do universo ao sonho eterno
do criador … Eu sou espelho e me espelho em quem me criou), 2012 (Ojuobá — No Céu, os Olhos do Rei…
Na Terra, a Morada dos Milagres…
No Coração, Um Obá Muito Amado!), 2014 (Andar com fé eu vou que a fé não costuma
falhar), 2015 (Nos palcos da vida… Uma vida no palco:
Marília) e 2020 (Do canto das Yabás renasce uma nova
Morada) a rubro-verde, sem dúvidas nenhuma é um dos
grandes nomes da Era Anhembi no século XXI. Curiosidade A Mocidade
Alegre passou por uma revolução em sua história nos últimos vinte anos. Nesse
período, ficou no pódio em quinze oportunidades. Foram seis títulos (2004,
2007, 2009, 2012, 2013 e 2014), cinco vices (2003, 2008, 2010, 2015 e 2018) e
quatro medalhas de bronze (2005, 2006, 2016 e 2020). Para se ter uma ideia, nos
treze desfiles anteriores a esse período, jamais tinha conseguido ficar em
primeiro ou segundo lugar. O atual momento e o último desfile
Mocidade Alegre se reencontrou em 2020; Desfile
anima torcida e comunidade (Foto: Cesar R. Santos/SRZD)
Após a
conquista em 2014, a Mocidade Alegre vem num pequeno longo jejum de títulos. Em
carnavais recentes, tomou duas fortes pancadas, em 2017 e 2019 e parecia
trilhar um caminho de fim de domínio, após mais de quinze anos entre as três
mais fortes da cidade. Mas um fantástico desfile em 2020 animou sua comunidade
e torcida. Afinal, com o canto das Yabás, a Morada renasceu. Dona do melhor
samba do ano e com uma plástica arrebatadora a Morada terminou credenciada ao
campeonato. Mesmo sem a taça o desfile trouxe a sensação de de alma lavada e
dever cumprido. Sambas marcantes A Mocidade
sempre se conectou fortemente com as obras de temática africana, especialmente
nos primeiros campeonatos. Tanto em 1973 (Odisseia de Uma Raça), 1980
(Embaixada de Bambas e Samba — A Festa do Povo) e 1981 (Visungo, Canto de Riqueza), a agremiação trouxe enredos afros que geraram sambas marcantes
para a época. Só que no século XXI, com o ressurgimento, o estilo também
mudou. Os sambas afros se mantiveram com destaque como em 2003 (Omi — O Berço da Civilização Iorubá), 2012 (Ojuobá — No Céu, os Olhos do Rei…
Na Terra, a Morada dos Milagres…
No Coração, Um Obá Muito Amado!) e 2020 (Do canto das Yabás renasce uma nova
Morada), mas também trouxe composições competentes com
enredos lúdicos como em 2007 (Posso
Ser Inocente, Debochado e Irreverente… Afinal, Sou o Riso dessa Gente) e 2009 (Da Chama da Razão ao Palco das Emoções…
Sou Máquina, Sou Vida… Sou Coração Pulsando Forte na Avenida). Biro-Biro, vencedor da disputa interna em nove vezes, é um
destaque da caneta na Morada do Samba. Camisa Verde e Branco
Pavilhão do Camisa Verde e Branco com suas nove
estrelas do Grupo Especial (Foto: Guilherme Queiroz/SRZD)
Fundação: 4
de Setembro de 1953 Madrinha:
Estação Primeira de Mangueira Títulos: 9
no Grupo Especial (1974, 1975, 1976, 1977, 1979, 1989, 1990, 1991 e 1993) e 1
no Grupo de Acesso (1997) Cores: Verde
e Branco Bairro:
Barra Funda Hino e
exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=Y0tdt5GYVsU A história Originário
do cordão carnavalesco e fundado pela família Tobias, o Camisa Verde
e Branco tem nove títulos do Grupo Especial, sendo o último deles
conquistado em 1993. Apesar disso, jamais venceu sozinho na elite paulistana na
Era Anhembi, mas é, até hoje, um dos principais expoentes do samba de São
Paulo. Muito de sua enorme tradição vêm da antiga pista de desfiles, na Avenida
Tiradentes, onde a verde e branco é a mais dominante. O Camisa
venceu quatro campeonatos em catorze desfiles no palco antecessor do Anhembi,
sendo campeão no primeiro ano (1977 com Narainã, A Alvorada Dos Pássaros)
e no último (1990 com Dos Barões do Café a Sarney, Onde Foi Que Eu Errei),
além de ter realizado inúmeros desfiles inesquecíveis, como na homenagem a
madrinha Mangueira realizada em 1987 (Barra Funda Estação Primeira). Além
desse domínio, o Camisa é, até hoje, a única agremiação tetracampeã do
Carnaval Paulistano sem qualquer divisão de seus campeonatos. O Trevo, que
estreou como escola de samba em 1972, conquistou entre 1974 e 1977, quatro
títulos consecutivos de forma isolada. É um feito jamais igualado até o
presente momento. A última passagem do Camisa no Grupo Especial foi em 2012. Falando de amor
(É o Amor…) e tendo Agnaldo Amaral
como intérprete, a verde e
branco fez um desfile acima das expectativas, mas acabou rebaixada na
confusa
apuração. Desde então, já são nove
anos no Grupo de Acesso. A última colocação
notável na elite, no entanto, já faz bastante tempo. Em
2002, com enredo “Quatro:
Vamos Pensar… Isso Vai Dar o Que Falar!”, a alviverde foi
vice-campeã. Foi a última vez, que a escola desfilou nas campeãs por um
resultado conquistado no Grupo Especial. Desfiles notáveis Os
principais desfiles da história do Camisa foram realizados na Avenida
Tiradentes. Foi lá que a alviverde se consagrou e conquistou boa parte de seus
campeonatos como em 1989 (Quem
Gasta Tudo Num Dia, No Outro Assovia) e 1990 (Dos Barões do Café a Sarney, Onde Foi
Que Eu Errei) e nos bons desfiles de 1987 (Barra
Funda Estação Primeira) e 1988 (Boa Noite São Paulo — Convite Para Amar), mas em 2003 certamente foi a derradeira vez que pisou forte no Grupo
Especial. Com um enredo sonegado pela ditadura militar, na década de 80, cantou com competência e emoção, a trajetória do Almirante Negro em A Revolta da Chibata. Sonho, Coragem e
Bravura. Minha história: João Cândido, Um Sonho de Liberdade. Vale também
registrar o último título. O Trevo foi campeão com o enredo Talismã, pela última vez na elite. O título, no entanto, foi
dividido com o Vai-Vai, mas sem grandes contestações, graças a um belíssimo
acordo entre os presidentes Magali dos Santos (Camisa Verde e Branco) e Solón
Tadeu Pereira (Vai-Vai) contado
por Zulu, consagrado locutor da apuração
paulistana, em 2010. Curiosidade Por anos,
especialmente na década de 90, com a ascensão dos Gaviões da Fiel, o
Camisa Verde e Branco foi associado ao Palmeiras, time de futebol rival do
Corinthians, por conta das cores e da localização no bairro da Barra Funda.
Nada disso, entretanto, fazia qualquer sentido. O Camisa, além de não ter
nenhuma ligação com o alviverde, ainda é a madrinha da Torcida Que Samba O atual momento e o último desfile
Homenageando Carlinhos Brown, não conseguiu o
Acesso para a elite do Carnaval (Foto: Igor Cantanhede/SASP)
O Camisa
passa pela pior fase de toda a sua gloriosa história. Além de estar desde 2013
no Grupo de Acesso, não fica entre os cinco primeiros do Grupo Especial desde
2002 e não conquista um título desde 1993. Todos os jejuns atuais são os
maiores de sua trajetória. Em 2020 terminou em quinto lugar no Grupo de Acesso,
sem brigar por uma vaga na elite. Homenageando o cantor Carlinhos Brown. Apesar
do bom desempenho de seus quesitos de chão, a escola não conseguiu ter força
plástica para brigar pelo acesso, frustrando mais uma vez a expectativa de sua — ainda — numerosa
torcida. Sambas marcantes O Trevo tem
uma discografia bem acima da média da cidade de São Paulo e ao contrário de
algumas escolas que determinaram uma linha clara de temática, a alviverde
sempre flutuou entre vários perfis como pode ser muito observado nas sequências
1987, 1988 e 1989 e 2001 (Sertanista
e Indianista Sim, Mas Por Que Não? Orlando Villas Bôas), 2002 (Quatro: Vamos Pensar… Isso Vai Dar o Que
Falar!) e 2003 (A Revolta da Chibata. Sonho, Coragem e
Bravura. Minha história: João Cândido, Um Sonho de Liberdade). Além destes, as obras de 1977 (Narainã, A Alvorada Dos Pássaros), 1982 (Negros Maravilhosos “Mutuo Mundo Kitoko”), 1992 (Banho de Luz Que Me Seduz) e dois sambas sobre a capital paulista se destacam.
Em 1988, com o enredo Boa Noite São Paulo — Convite Para Amar, a onde falou sobre a noite da capital. Já em 2011
foi a vez de falar da Avenida Paulista com o enredo Paulista viva, vista a Camisa. A mais
Paulista das avenidas. Vai-Vai
Pavilhão do Vai-Vai; Saracura tem quinze
campeonatos no Grupo Especial e é, com folga, a maior da cidade (Foto: Fábio
Capeleti)
Fundação: 1
de Janeiro de 1930 Madrinha:
Império do Samba Títulos: 15
no Grupo Especial (1978, 1981, 1982, 1986, 1987, 1988, 1993, 1996,1998, 1999,
2000, 2001, 2008, 2011 e 2015) e 1 no Grupo de Acesso (2020) Cores: Preto
e Branco Bairro: Bela
Vista Hino e
exaltação: https://www.youtube.com/watch?v=81ywzOxYaJc A história Fundado em
1930, o Vai-Vai surgiu como cordão carnavalesco e se tornou escola de
samba em 1972. De lá pra cá, angariou títulos, histórias e personagens, que
ajudaram a construir a mais vitoriosa das agremiações da cidade de São Paulo. A
alvinegra tem quinze títulos no Grupo Especial. Desde a sua
estreia entre as escolas de samba em 1973, a Saracura sempre se colocou como
postulante ao título da elite. Não por acaso que é a única agremiação com
títulos em todas as décadas desde os anos 70. Um outro fato marcante na
trajetória da Escola do Povo é que, ela é a única tetracampeã na Era Anhembi.
Entre 1998 e 2001, ganhou quatro campeonatos. Seu tetracampeonato no entanto,
tem uma diferença em relação ao conquistado pelo Camisa entre 1974 e 1977.
Entre três oportunidades (1999, 2000 e 2001), houve divisão do título entre o
Vai-Vai e mais uma co-irmã. Após o
tetracampeonato, a Saracura amargou um período de sete anos sem conquistas — o maior, até o presente momento, em sua história. Apesar da falta da taça, desfiles como o de 2005 sobre a imortalidade e o de 2006 sobre São Vicente são lembrados até hoje. Desfiles notáveis Apesar de já
ter títulos marcantes na década de 80, como, por exemplo, em 1988 (Amado Jorge, a História de uma Raça
Brasileira) quando falou de Jorge Amado, o Vai-Vai se consolidou como a maior agremiação
da cidade na segunda metade dos anos 90. Durante esse período, a alvinegra se
destacava como a mais forte do Anhembi e com desfiles que chamavam a atenção
pela incrível comunicação com o público. Apresentações
em 1996 (A Rainha, a Noite tudo transforma), 1998 (Banzai! Vai-Vai) e 2000 (Vai-Vai Brasil) são marcos da consolidação popular do Vai-Vai no Anhembi. Além destes,
é possível citar que todos os últimos três campeonatos na elite, também foram
conquistados graças a essa ligação entre comunidade e arquibancada. Tanto 2008
(Vai-Vai acorda Brasil, a saída é ter
esperança), 2011 (A Música Venceu) e 2015 (Simplesmente Elis. A Fábula de uma Voz
na Transversal do Tempo), chamaram
a atenção do público presente no sambódromo, devido a incrível facilidade na
compreensão da mensagem, somada a uma temática popular. Curiosidade O atual
mestre de bateria é o mesmo desde a estreia como escola de samba. Tadeu
comandou “Pegada de Macaco” nos últimos 48 desfiles. Vindo do Lavapés em 1963,
Tadeu, além dos quinze títulos como mestre, também venceu um título quando era
ritmista nos tempos de cordão em 1970. O atual momento e o último desfile
Vai-Vai passa por turbulências internas desde o
último campeonato na elite em 2015 (Foto: Newton Menezes/Futura Press)
Desde seu
último título na elite em 2015, a Saracura sofreu bastante em termos
administrativos e de resultados. Com brigas
internas, problemas
financeiros, saída
de presidente e rebaixamento, só teve um pouco de paz com o retorno à elite conquistado nesse ano.
Pela primeira vez no Grupo de Acesso, mostrou que é a maior escola da cidade.
Com um enredo sobre a própria história, mesmo com alegorias simplórias deu um
sacode típico da alvinegra e traçou seu retorno ao Grupo Especial. Sambas marcantes O Vai-Vai é
uma das escolas com a discografia mais particular. Mesmo sem letras refinadas,
a Saracura consegue trazer o povo para junto de si com grandes sacadas e
melodias de inegável força. Um dos grandes responsáveis por isso é a dupla Zé
Carlinhos e Zeca do Cavaco, donos de mais de quinze sambas da alvinegra. Isso,
fortaleceu o elo entre a alvinegra e o público ao longo das décadas. Ainda nos
tempos da Avenida Tiradentes, a Saracura já brindou o samba de São Paulo com
dois clássicos em 1978 (Na Arca de Noel quem entrou não saiu
mais) e 1982 (Orun Aiyê — O Eterno Amanhecer). Em seu tricampeonato nos anos 80, o samba de 1987 (A Volta ao Mundo em 80 Minutos) também merece um destaque por aqui. Por fim, já na Era Anhembi, apesar
de não levar o campeonato nesses anos, sambas de 2005 (Eu também sou imortal) e 2017 (No Xirê do Anhembi, a Oxum mais
bonita surgiu… Menininha, mãe da Bahia — Ialorixá do Brasil) mostram a
qualidade histórica da discografia da entidade.
Bruno Malta
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