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Samba Paulistana
   
21 de outubro de 2018, nº 33
IMPRESSÕES INICIAIS DA SAFRA PAULISTANA 2019
por Bruno Malta

Resolvi escrever hoje algumas impressões iniciais dos sambas do Grupo Especial de São Paulo. Como sempre friso, essa impressões iniciais nem sempre representam a minha opinião definitiva. Sou da teoria de que samba-enredo é uma obra mutante que cresce e decresce com o tempo. No entanto, claro que há níveis diferentes para esses acontecimentos. Diante desse cenário, a lista abaixo já reflete um ranking provisório que começa do que eu mais gosto pro que eu menos gosto:


Gaviões da Fiel – A reedição da escola alvinegra se destaca nesse início de pré-Carnaval. O lindo samba sobre o Tabaco é forte melodicamente com uma belíssima construção nos refrães e tem uma letra fantástica. Não é por acaso que a escola conseguiu deixar o samba na mente dos torcedores do clube desde 1994. O refrão central ainda é cantado nas arquibancadas nos jogos do clube que deu origem a torcida até os dias atuais. Por tudo isso, a expectativa é alta para a Torcida que Samba.

Vai-Vai – Espetacular. Esse samba sabe Deus por qual motivo, ainda não conquistou todos, mas é espetacular. A letra é uma porrada em todos os versos e consegue trazer uma coerência cronológica no denso enredo da escola. Gosto muito dos ótimos refrães e da fantástica segunda estrofe. No entanto, a melodia que é simplesmente primorosa deixa cada audição irresistível. Pra mim, já desponta como um dos melhores sambas da safra do próximo Carnaval.

Colorado do Brás – Sambaço. A composição é muito bem construída tanto em letra, quanto em melodia, o que contrapõe todas as expectativas diante do enredo. Gosto muito da primeira estrofe que começa com muita força e das sacadas melódicas do refrão central. Em uma oportunidade, escutei a obra ao vivo e fiquei com uma impressão ainda melhor. Tem tudo pra ser uma audição cada vez mais interessante com o passar dos dias.

X-9 Paulistana – Que samba bem feito. A parceria estrelada da escola acertou em cheio na construção da letra e conseguiu fazer com que a composição esteja entre os melhores da safra graças a isso. Apesar disso, acho a melodia ligeiramente abaixo do que se podia fazer. No entanto, fiquei com uma boa impressão da obra quando escutei ao vivo. É outro samba que conquista a cada audição. Vale ficar observando a evolução da obra no CD e nos ensaios.

Mocidade Alegre – Sabe aquele samba que você escuta e simplesmente sabe a escola mesmo sem ouvir o nome? Então, é esse. A composição é simplesmente Mocidade Alegre de ponta a ponta. Forte melodicamente e com versos inspiradíssimos na primeira estrofe, a obra está na parte de cima da safra justamente por ser firme do começo ao fim, sem ter quedas bruscas de qualidade. Por ser um samba coeso e coerente, a trilha da Morada do Samba tem tudo pra ser muito bem cantada no próximo ano.

Império de Casa Verde – Que samba divertido. Não é nenhuma obra-prima e nem quer ser, mas a trilha sonora do Tigre Guerreiro desponta como uma composição leve e sem nenhum grande problema. A letra é bem-feita pro que é o enredo e a melodia é gostosa e sem nenhum sinal de cansaço. Gosto muito do refrão central que tem momentos de pura inspiração. Com Carlos Júnior e a bateria da escola voltando a viver bons momentos, a obra tem potencial pra render muito bem.

Acadêmicos do Tucuruvi – Mais um samba que eu gosto, mesmo sem ser perfeito. A escola da Cantareira tem uma composição bem feita em letra e melodia, mas que peca MUITO no refrão principal que fica pouco coerente com o resto da obra. Mesmo assim, considero que o potencial da composição ainda não foi totalmente explorado. Confesso estar bastante curioso para saber o rendimento do samba ao vivo com a excelente bateria da escola. Leonardo Bessa, estreando na escola, é outro que pode mudar bem a cara da trilha.

Águia de Ouro – Quando soube do enredo, tive medo. Quando vi a sinopse, confesso que fiquei com mais medo. Quando soube da fusão de QUATRO sambas, fiquei desesperado de medo. Mesmo assim, contrariando totalmente a lógica, a obra da escola é bem feita. Não chega a ser nada espetacular não, mas é aceitável. Gosto bastante da segunda estrofe que tem ótimos versos. O intérprete Tinga que gravou a obra deu um estilo mais aguerrido a composição que ajudou bastante. É outro samba com potencial de render ainda mais.

Dragões da Real – Outra agradável surpresa. Considerava a sinopse complicada demais para gerar um samba de muita qualidade, mas a escola me surpreendeu. A obra é simples, direta e resolve bem o enredo. Gosto da melodia e a letra tem seus momentos de bom nível. Entretanto, tenho receio da duração do samba ser extremamente curta e causar uma repetição excessiva e cansativa da obra na avenida. Os ensaios já devem dar um direcionamento nesse sentido.

Mancha Verde – Agora já começam as decepções. A maior delas é justamente a Mancha. O enredo da escola é ótimo e podia muito mais na trilha sonora. Não gosto da melodia da obra que parece sempre ser mais do mesmo. Toda vez que escuto o samba, tenho a nítida impressão de que já ouvi aquela melodia em outros sambas. A letra também não brilha e é exageradamente simples. Em nenhum momento, a composição se aprofunda no tema como o enredo exige. Por conta desses fatores, a verde e branco fica aqui no fim da fila no ranking inicial.

Acadêmicos do Tatuapé – Que samba difícil. Sendo bem justo, eu já torcia o nariz para o enredo na divulgação. O considero extremamente superficial e pouco coeso, mas o samba resolveu piorar tudo. Sem nenhum momento de inspiração na letra, a obra tenta se apegar na pouca qualidade de sua melodia. A trilha tem seus bons momentos melódicos como no refrão de meio, mas em boa parte do tempo não diz nada com nada. Em praticamente todos os versos há problemas de coesão e coerência, o que torna a audição apenas um passa-tempo sem qualquer sentido.

Unidos de Vila Maria – Vejo elogios a esse samba nas redes sociais e fico perplexo. É mais um samba que não diz nada com nada em termos de contar o enredo. A história em nenhum momento se aprofunda e fica totalmente superficial. Outro problema dessa composição está na narrativa. Em vários momentos, não tenho ideia de quem é o narrador da obra. Por fim, a melodia é batida e não causa nenhuma empolgação em quem canta. Outra decepção.

Tom Maior – Outro samba inexplicável. Essa obra é incompreensível do ponto de vista de entender o samba pelo enredo. Só por isso, já ficaria aqui atrás. Além disso, a letra também é limitada por si só. São rimas previsíveis e versos, em alguns casos, de péssimo gosto. Some isso ao fato da melodia ser absolutamente comum e enjoativa em cada audição e temos o samba da Tom Maior pra 2019. Ainda temos quase cinco meses até o Carnaval, mas a escola precisa melhorar muito para tornar a trilha aceitável.

Rosas de Ouro – O Rosas de Ouro tem um samba que já ganharia de Vila Maria e Tom Maior por conseguir, ao menos, contar o enredo. No entanto, a obra consegue perder em qualquer outro aspecto para as outras duas escolas no quesito musical. Os versos são absolutamente comuns e em alguns momentos, você completa a frase mesmo sem saber do que se fala. Em várias audições, você consegue perceber que a obra sequer tentou fugir do lugar-comum na letra. A melodia nem é tão lugar-comum como a letra, mas fica extremamente comprometida em várias passagens (especialmente na primeira estrofe e refrão central). Por tudo isso, a composição começa, na minha opinião, como o pior samba da safra nesse início.