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ARRANCADA PARA 2011 - VAMOS "RAPOSEAR", MEU POVO?
Vou
explicar como será: ao invés de dar notas para os sambas, contarei minhas
reações ao ouvir o CD. Precisei ouvir os sambas em dois momentos: uma vez para analisar
as obras tecnicamente (e sofrer com algumas delas), outra para documentar minha
reação enquanto folião e ouvinte casual. Esse ano, retorno também com o
comentário de “O que eu faria de diferente no lugar do presidente”; coisas que
eu faria para que o samba melhorasse aos ouvidos dos foliões e julgadores. Fiz
isso em 2009, mas não ano passado.
Seguem os comentários, então, das 24 agremiações que vão dar show esse ano... Link: http://www.4shared.com/file/28K3nAsz/pingA.html GRUPO DE ACESSO 2011
A
Tigres de Niterói segue com sua linha de sambas aguerridos e marrentos, só que
o deste ano foi quase que imperceptivelmente prejudicado pela fusão, o que
torna a melodia meio engessada, fato que é deflagrado pela voz potente de Bruno
Ribas, pontualmente em “Cantar em poesia
a grandeza de um reino” e “Heróis de
um mundo novo/Aportando ideais a eternizar”. Tirando isso, o samba é fluido
e cumpre sua proposta. A solução em “Me
fazer também amante desta terra divinal” é interessantíssima. A obra não
conta com nenhum verso piegas demais, mas o refrão principal parece não ter uma
melodia fixa, já que o intérprete da Unidos da Tijuca o canta em três maneiras
diferentes, o que pode ferir a audição se isso for mantido na versão ao vivo. Problemas: Os citados acima. O que eu faria de diferente no lugar de
Rodrigo Oliveira: Consertaria as indefinições melódicas nos trechos
citados; pegaria no pé do Bruno Ribas para acertar esse refrão principal, e
abandonaria essa imagem de “escola marrenta que desfila pela honra”. Ouvi inteiro.
Um
samba despretensioso e tipicamente paulistano – de melodia fluida em tom maior
e alongamentos inteligentes – para uma escola que fala de São Paulo. Nada mais
justo, certo? A Flor de Lótus investe em produção independente e traz aquele
que é, na minha opinião, um dos melhores dentre os atuais intérpretes de São
Paulo, o canário da Sociedade Rosas de Ouro Darlan Alves, e deu na mão dele um
samba que infelizmente se arrasta por ser todo muito grave, e não permite que o
intérprete exploda, tornando esta obra um samba melodicamente romântico demais.
Problemas: Samba se arrasta por ser
grave demais o tempo inteiro; não explode, e pode cansar. O que eu faria de diferente no lugar de Osvaldo Júnior: Jogaria
essa obra pra cima; não modificaria os trechos “De cada verbo és [a] tradução” e “Não se deixar conduzir é a lei”. Ouvi inteiro.
Igor
Vianna dá uma energia diferente a este samba denso e confuso, mas não salva o
sentido dele. A escola, agora catarinense, traz um enredo sobre Maria
Aparecida, mas o samba demora muito para revelar isso, e acaba disfarçando-se
num enredo sobre a mitologia cristã em geral. Não há qualquer ressalva minha
sobre melodia ou letra, exceto os últimos dois versos, que carregam uma
repetição desnecessária (“Clamando a
glória, romeiros de fé/É a Ponte Aérea, romeiros de fé”). Problemas: O samba é confuso, e impede
o entendimento imediato do enredo. O que
eu faria de diferente no lugar de Maykon Godói: Trocaria o objetivo do
enredo, escolheria um samba mais objetivo... É difícil julgar. Pulei antes do fim.
Nino
do Milênio não combina com sambas engraçados. Isto combinado e ignorado,
tentando ouvir este samba como na voz de outra pessoa, ele não faz feio. Com o
título “Você Tá Com Inveja Das Minhas Bolas?”, o enredo sobre chiclete recebe
uma trilha sonora que alterna entre o ridículo e o romântico. Enfim, o samba
não tem qualquer nexo, mas sabe-se que fala de chiclete. A obra é em vezes
factual (“A origem veio lá da
pré-história/Os soldados mascavam pra relaxar”), possuem trechos
inesperadamente confusos (“Pára tudo,
olha o flash/Astro virou”), e o intérprete ainda sabota o samba em alguns
trechos onde é impossível identificar a palavra (“Receita (?) para um mundo de criança”). Os cacos do mesmo também
não ajudam, principalmente no segundo canto do segundo refrão (“Chicleteiro eu, chicleteira ela...”). O
“show da irreverência nesse carnaval”
não funcionou: este samba mais irrita do que entretém. Problemas: A escolha do intérprete; a fusão dos sei-lá-quantos
sambas não funcionou. O que eu faria de
diferente no lugar de João Marcos: convocaria outro intérprete, no mínimo. Pulei antes do fim.
O
samba do ano no Grupo de Acesso vem na voz de Tiãozinho Cruz, novamente
emprestando sua voz à agremiação de Santa Cruz, extremo oeste da cidade do Rio.
A estória é simples e encantadora: um caboclo nordestino sai do sofrimento da
terra-natal, fugido do solo rachado e da sequidão do pasto e vai para o Rio de
Janeiro para tentar recomeçar a vida, como muitos fazem até hoje. A transição
entre o Nordeste e o Rio, que é o refrão do meio, é sublime e mostra o
sofrimento não apenas de fugir de lá, mas ter saudade (“O pranto rola no meu rosto sem ninguém notar”). O caboclo então
conhece o carnaval carioca e se encanta com o grande circo do Carnaval. No fim
da estória, “o caboclo sonhador se tornou
compositor/E faz sambas magistrais”. Uma via inteligentíssima de se cantar
o carnaval num samba, e não ser óbvio. É o samba para se colocar no repeat e
cantar junto. Problemas: Há uma
corrida desnecessária em “Tristeza era
ver o solo rachado”. O que eu faria
de diferente no lugar de Léo Moreira: Absolutamente nada. Parabéns! Repeti e cantei junto.
Willian
Tadeu traz um enredo curioso, que remete ao primeiro desfile do Uirapuru da
Ilha em 2004, pela estrutura ideológica, juntando antropofagia, ufanismo e até
um pouco de xenofobia, misturando tudo num liquidificador e jogando uma massa
cinzenta nas mãos dos compositores. O resultado é um samba interessantíssimo,
com alguns versos inesperados que chegam a ser engraçados (“Afasta o rock que não é dessa nação/Traz o
samba e o baião pra galera delirar”), mas passagens inteligentíssimas (“O vento reconta e me deixa entender/Que a
minha terra pertence a Zumbi”). Outro destaque positivo é o refrão do meio.
Este samba não é nada ruim, mas atenção, ouvintes de samba cadenciado: a
cadência foi ignorada nesta gravação. A audição deste samba é prejudicada pela
correria, soando como uma versão ao vivo mais do que uma para divulgação e
degustação. Problemas: O intérprete
Miguel Paul não alcança notas básicas, e a produção está aquém do resto do CD,
o que prejudica a audição. O que eu
faria de diferente no lugar de Willian Tadeu: Investiria na produção e
pegaria no pé do intérprete e do pessoal do Letras.com. É carnaval... Pulei antes do fim.
A
Pavão de Osasco roubou da Barra Funda o posto de escola irreverente do ano, e
traz um samba sobre nudez inteligente e divertido, que remete aos da
Caprichosos de Pilares da época de Carlinhos. Léo Moreira está
surpreendentemente bem afinado, e entoa o samba que fala de abandono do
preconceito, fetiches e exageros com primazia única. A referência à Caprichosos
de Pilares é feita, inclusive, no samba mesmo – “A rasgar a fantasia/Desfilar sua alegria, travestida de nudez/Como
caprichosamente já se fez”. O samba também possui uma mensagem
sócio-amigável subliminar (“Hoje é o
melhor momento pra sonhar...”), num ímpeto de clamor anti-preconceito que,
infelizmente, ainda está impregnado, inclusive, no Carnaval Virtual. Problemas: Nenhum. A escola está mais
do que de parabéns. O que eu faria de
diferente no lugar de Juninho Granzoto: Nada. Repeti e cantei junto.
Depois
de um desfile indefectível sobre a tribo Sateré-Mawé no CAESV, a Escola da
Amazônia peca catastroficamente ao trazer um enredo clichê falando sobre
carnaval. O samba conta a história da área da Gamboa, onde ergueu-se a Cidade
do Samba do Rio de Janeiro, e traz toda a saga dos negros africanos que vieram
pra cá, passando por terreiro de macumba, baiana, Tia Ciata... Ou seja: Mais do
mesmo. A melodia também é comum, com único “destaque” para o alongamento em “Ah, se eu ‘deixar falar’... Primeira escola”
(a propósito, as aspas a la Diniz aqui me incomodam em níveis críticos). As
aspas valem por que esse alongamento cai direto numa indefinição melódica bisonha
– “Para o samba ensinar/O carnaval se fez
cultura popular”. Problemas: O
enredo. O que eu faria de diferente no
lugar de Naiara Duarte: Começava tudo de novo. Nem deixei começar.
O
enredo sobre abraços rendeu um samba que fala de amor em geral. Não deixa de
ser o objetivo, mas ainda assim, tornou o enredo e o samba vagos. A melodia é
inteligente, porém cíclica. O samba acaba muito rápido, e lhe falta um momento
de explosão. A produção também deixa a desejar – é a primeira vez que ouço um
grito de guerra grossamente editado. Mas nada que comprometa esse
despretensioso samba. Problemas: Há
um estresse errante em “Aura divina,
reluziu o redentor”. A sonoridade ficou prejudicada. O que eu faria de diferente no lugar de Marcelo Jacaré: Investiria
melhor na produção. Ouvi inteiro.
Muita gente acha que é só marra, mas, não – a
Mocidade Leopoldense veio falar sobre o ouro. Como compositor deste samba,
tenho o direito de criticar a escola por ter retirado alguns momentos de
ousadia da melodia, que era para ser muito mais louca. Mas ainda assim, algumas
foram mantidas, como em “Do firmamento a
bênção vinda de Oyó/O toque de um louco rouba a cor do sol”. A melodia
inteira, aliás, segue linear, e a obra cumpre seu papel de ser a representante
gaúcha do Carnaval Virtual, sem pretensões quaisquer além de ser um samba
alegre e direto ao ponto. Problemas:
Não detectei qualquer um. O que eu faria
de diferente no lugar de Édson Dutra: Nada. Bem vindo de volta à Liga,
negão! Ouvi inteiro. GRUPO ESPECIAL 2011
A
Colibris traz um samba irritante sobre José Datrino, o Profeta Gentileza. Os
versos alternam bruscamente entre o poético e o trash (“Na sua ousadia, a criação se envenenou/Eu sei que o amor foi
esquecido/O mundo caiu no abismo”). A transição entre o conto do Gênese e a
saga do Profeta é brusca e confunde o ouvinte – ela acontece no fim do primeiro
canto para o refrão central. Não há muito o que se falar sobre este samba,
exceto o fato do CD do Grupo Especial ser aberto por um samba que não faz jus
ao legado da Guerreira. Destaque para a empolgação do intérprete. Problemas: O samba inteiro ou faz pouco
sentido, ou é direto demais. Além disso, eu gostaria de ouvir um samba sobre o
Profeta Gentileza, que entoou o amor entre os homens, que não fosse tão
“violento”. O que eu faria de diferente
no lugar de Gustavo Martins: Escolheria outro samba. Nem deixei começar.
O
samba da Sereno de Cachoeiro é uma grata surpresa, não apenas pela presença
nobre de Rogerinho Renascer, mas pelo retorno da Águia de Itapemirim aos sambas
etéreos que a fizeram famosa (vale lembrar os sambas românticos de 2006 e 2007,
respectivamente o campeonato do CAESV e o samba sobre a magia da leitura). A
melodia é simples, linear, porém funcional. Destaque para “Luar brilhou, cada caminho iluminou/Em mil e uma noites de um império
de esplendor”, não pela melodia, mas pelo uso de um português levemente
mais rebuscado, e ao mesmo tempo simplificado. Mas no mais, é um samba sem
grande destaque, que se sobressai justamente pela sua despretensão. Problemas: Faltam momentos explosivos
neste samba. O principal fica no refrão do meio (“Vai a caravana deixando pra mim...”). O que eu faria de diferente no lugar de Milton Batista: Revisaria a
linha melódica da segunda parte deste samba, a partir de “Ao retornar à
viagem...”. Ouvi inteiro.
O
samba da Estrela do Amanhã demora um pouco para dizer a que veio, por ter um
refrão principal inócuo e com uma repetição desnecessária e facilmente
cansativa (“No castelo da menina que um dia
quis sonhar/Sonhar, sonhar”). Mas depois disso, a estrutura é muito bonita,
com versos poéticos e inteligentes. O que macula esta obra, porém, são trechos
que não fazem sentido e apresentam pouca coesão (“Faz do Rio de Janeiro renascimento colossal/Risca no compasso
movimento/Que faz de cada forma um ideal”). O refrão do meio, apesar de
explosivo, é tacanho, e nem parece que é trilhado por uma segunda parte que é o
destaque máximo do samba. O final do samba é um primor: “No disse-me-disse, fantasma existe/Pra quem acredita sem mesmo
enxergar/Vem, que a orquestra divinal/Vai fazer a festa com Maria/Em um baile
sem final” – trazendo a idéia de uma festa sem fim, que é o ideal de todo
carnaval. Problemas: Versos sem
sentido ou coesão espalhados pelo samba inteiro. O que eu faria de diferente no lugar de Thiago Meiners: Resolveria
isso com bom português! E trocaria o refrão do meio inteiro, ele não funciona. Ouvi inteiro.
Na
versão de degustação, imaginei que seria o samba do ano, mas infelizmente
trata-se de um refrão exótico num samba um tanto quanto comum, o que é
decepcionante para a escola que emplacou dois sucessos consecutivos – “Lá vem a mineira guerreira/Que é filha
d’Ogum com Iansã”, e “No reino que um
dia eu sonhei”. O samba sobre o conto original do Pierrot, tal qual contada
pela Commedia dell’Arte, traz Rixxa cantando um samba extremamente grave, cujo
principal momento explosivo reside no refrão do meio, que, inclusive traz uma
estrutura melódica diferente por terminar 1 compasso exato antes do canto da
segunda parte, em oposição ao canto comum (1 compasso e meio). Não é uma
solução nova, mas agrada à audição. A segunda parte também começa num canto
alto, o que não acontece na primeira, que mais passa no chão do que empolga. Problemas: O samba é grave demais nos
momentos em que não deveria (primeira parte). O que eu faria de diferente no lugar de João Pinho: É difícil
julgar. Ouvi inteiro.
Apesar
do refrão que lembra a Império de Casa Verde e a refugada de Edimar Guiã no
grito de guerra, é um dos melhores sambas do Grupo Especial, ignorados os clichês
que espera-se de um samba do Império do Progresso. Destaque para o refrão do
meio (“A floresta inebria o olhar...”)
– uma solução simples, mas que sempre funciona. A melodia remete ao carnaval
paulistano, apesar da raiz da escola ser carioca, e o enredo obre a fantasia da
flora brasileira fica muito bem representada. Problemas: Nenhum. O que eu
faria de diferente no lugar de Diego Araújo: Nada. O samba é um dos
melhores da Progresso. Ouvi inteiro.
O
curioso enredo que liga Tim Maia as Mil-e-Uma-Noites dá à Imperatriz uma
roupagem completamente diferente daquela que estamos acostumados a ver, com um
samba majoritariamente em tom menor, bem pegado, mas com a mesma poesia de
sempre. A proposta misteriosa da obra rende um samba curioso, com refrões e
estribilhos inteligentes (com exceção da repetição desnecessária de “Até encontrar”). O terceiro refrão (“Por ti...”), apesar de trazerem aquelas aspas
estilo Diniz que o João Marcos (diretor de carnaval da Paulista) detesta, têm
uma conexão genial com o verso final (“E
a Imperatriz vai sacudindo a passarela”), e dão um gancho para o refrão
principal que é simplesmente fenomenal. Em tempo: parabéns para a escola por
ter chamado Gilsinho para defender este samba. Um intérprete maravilhoso, que
só potencializou o que há de bom nesta obra. Problemas: Nenhum. O que eu
faria de diferente no lugar de Luís Butti: Teria evitado o “Por ‘Tim’...”. Isso não tem cara de
Imperatriz. Mandei repetir.
A
Amigos do Samba é reconhecida por enredos abstratos, muitas vezes cabeçudos
demais para um entendimento imediato, e é o caso do samba deste ano. O samba
que canta a inspiração é um tanto quanto misterioso, vago, às vezes beirando a
obscuridade. A melodia, porém, é primorosa, com destaque para o final (“Estrelas divinas, constelações/Obras e
grandes paixões/Fonte de criação/Iluminai meu pavilhão”), onde a linha
musical engana a mente do sambista mais cascudo, se alonga e sobe no fim. O
refrão do meio também é digno de atenção, sendo mais forte que o principal, que
não dá o cartão de visitas da escola do jeito que deveria. Problemas: O samba é vago demais. A sinopse, inóspita, não
facilitou, mesmo. O que eu faria de
diferente no lugar de Leandro Kfé: Arriscaria um samba um pouco mais direto
ao ponto, como faz Imperial nos seus enredos viajandões da Imperiais do Samba. Ouvi inteiro.
O
samba da Imperatriz do Maranhão é uma pancada que faria justiça aos grandes
sambas da história da Liga, graças à interpretação indefectível de Evandro
Malandro e a evolução quase que assustadora de Thiago Meiners enquanto
compositor. Todo o samba parece explodir, e os três refrões são bem distintos
entre si, mesmo que o segundo e o terceiro sejam colados um no outro. Destaque
absoluto para o terceiro, que é uma porrada à parte (o mencionado acima). A
Altaneiros se recicla e traz o estado de Pernambuco para o Passarela Virtual,
em todas as suas características. É o segundo melhor samba do ano, e só perde
para o samba que vem logo na sequência. Problemas: Nenhum. O que eu faria de
diferente no lugar de Cecel Altaneiros: Absolutamente nada. Parabéns! Repeti e
cantei junto.
“Que me
perdoem as co-irmãs” (já diria o samba do Vai-Vai de 2009), mas é, para
mim, o samba do ano, sem par. A vaidade de Oxum é cantada neste samba
classicista e romântico, que mantém a linha melódica e estilística do samba de
2010, que é também sobre a beleza, apenas num sentido mais generalizado. A
semelhança com o samba do ano passado é comprovada com o estribilho no fim do
samba (“Mulheres de luz que têm o
prazer/De se espelhar em você”), brutalmente similar ao estribilho final do
ano anterior (“Beleza é você na minha
canção/Rainha do meu coração”), com a diferença que este ano traz um refrão
principal bastante forte, enquanto ano passado, não havia um refrão. Outro
destaque é o refrão do meio, o mostrado no trecho recortado acima – melodia
simples, mas mágica, além do eco criado entre o 1º e o 3º versos (“Oh, Rainha! Tua beleza...”), o que dá
uma sonoridade especial à obra. Mas o que me agrada mais ainda neste samba é
que o fato da personagem central ser uma entidade africana e em nenhum momento
o samba se passar por uma obra afro torna esta faixa uma prova de que é
possível fugir dos clichês estéticos da feitura de um samba. Também o amigo
Leonardo Bessa está de parabéns pela interpretação única. Problemas: Ora, por favor... O
que eu faria de diferente no lugar de Ewerton Fintelman: Aumentaria o
salário do carnavalesco. Repeti e cantei
junto.
Meus
ouvidos tremeram ao começar a ouvir este samba: “África...” Qualquer samba que começa assim traz maus presságios.
Mas me prestei a ouvi-lo inteiro, e percebi, além de mais uma apresentação
primorosa do amigo Nino Samba Show, um samba de melodia genérica, grave e
arrastado em certos pontos. Destaque negativo para o trecho “Como as vozes que ecoam nos ventos/Trazem o
alento para se expressar”, que além de melodicamente semi-indefinido, rasteja
no chão de tão grave. Outro destaque negativo é para a entrada do refrão
principal, com o samba já em andamento – “A
inspiração é a minha raiz/Academia de fé...”. O refrão entra embolado, sem
qualquer suavidade, o que já acontece diferente no primeiro canto e no bis. Problemas: O samba é todo muito grave e
não explode. O que eu faria de diferente
no lugar de Victor Raphael: Revisaria a linha melódica principal deste
samba, e jogaria mais para o alto. Além disso, daria um compasso de pausa entre
o fim do samba e o refrão principal. Nem
deixei começar.
A
Camisa Dez vem para 2011 com um samba cujo único brilho é o intérprete, Royce
do Cavaco. A obra, mesmo, é bem comum. O samba sobre perfumes e essências é uma
obra típica que embalaria uma escola de São Paulo. O destaque deste samba está
no refrão do meio, que traz ecos inteligentes, apesar de comuns (“Vem de lá o banho das rosas/Vem de lá a luz pra
encantar/Luz da paz nessa passarela/Clareia, deixa clarear”). Os versos que
o seguem também são nobres (“Teu cheiro
dá sabor a meu tempero/Me leve pra onde o vento quiser lhe guiar”).
Infelizmente, o final do samba destrói todo o progresso criado, com um “Será...?” tacanho, um terceiro refrão
desnecessário e piegas, que macula um samba que poderia ser bom, mas acaba
passando uma impressão insatisfatória pelo clichê. Problemas: O samba é, em sua maioria, muito previsível. O que eu faria de diferente no lugar de
Matheus X-9: Trocaria o terceiro refrão por algo com mais força. Pulei antes do fim.
O
samba sobre João Cândido não deixa claro que é sobre ele que se canta. A obra é
vaga, e a transição entre o cenário e o personagem da música é brusca. Os
versos que falam exatamente sobre o Mestre-Sala dos Mares, que é o enredo,
estão soltos no samba, e deixam a audição confusa (“Nasceu, lá nos Pampas viveu, cresceu/Com este país fez
aliança/Desbravou o velho mundo/Coragem, força, bonança”). A segunda
estrofe entra depois do refrão do meio – que já é baixo – lambendo o chão, e
nem Nêgo, que é um excepcional intérprete, conseguiu alcançar tal infrassom.
Este samba não agrada, e deve contrastar horrores com o desfile. Espero que a
escola saiba o que está fazendo... Problemas:
O samba fala mais sobre o cenário do que sobre o personagem. O que aconteceu
com a Ilha das Cobras? O que eu faria de
diferente no lugar de Yuri Aguiar: Escolheria um samba menos poético. Às
vezes, ser factual ajuda. Nem deixei
começar.
Essa
escola é engraçada – não se fixa numa imagem. O samba desse ano beira o
infantil na sua inocência e falta de pretensão, com versos “engraçadinhos”,
como o descrito acima, ou, o principal dentre eles, o final da obra (“Alô, Bussunda! Eu ‘agarântio’/A alegria vem
aí”). Tirando isso, o samba conta com soluções interessantes, como a
utilizada no refrão do meio, que é meu destaque positivo para este samba. O
samba também anuncia uma subida interessante em “Criar... É preciso criar”, que deixa o ouvinte interessado. Uma
pena que ele se liga a um verso horrível – “Cliquei
no link da felicidade”. No mais, é um bom samba, com momentos, mais altos
do que baixos. Pulei antes do fim.
Encerrando
o carnaval virtual do ano, a Imperiais do Samba vem com um típico enredo de
glória-através-do-sofrimento, típico da Fênix de Laranjeiras. A melodia perdeu
um pouco do encanto original na produção do CD, o que diminuiu muito pouco o
brilho deste samba, que talvez seja o mais poético e subjetivo da tricolor de
Santo André. O amigo Igor Vianna dá o tom certo em todas as notas explosivas,
como haveria de ser, e a melodia alterna entre o maior glorioso e o menor aguerrido
com primor. Há também uma mudança de tom inteligente no decorrer do samba, que
o ouvido menos afiado só percebe no final do canto, quando a subida de nota é
forçada pelo retorno do refrão. Problemas:
As aspas em “‘Li’ um adeus no olhar”,
que, assim como não tem cara de Imperatriz, também não tem cara de Imperiais. O que eu faria de diferente no lugar de
Imperial: Demitiria esse tal de Rodrigo Raposa. Repeti e cantei junto. |
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