O cantor e compositor Oswaldo
Nunes ficou conhecido nacionalmente por ter sido, durante
anos a fio, a voz do Bloco Carnavalesco Bafo da Onça.
Quando criança não chegou a conhecer os pais e foi
criado em instituições de caridade. Foi baleiro,
engraxate e camelô, além de artista ambulante. Já
maior de idade, enveredou pela marginalidade até que,
freqüentando escolas de sambas e blocos de carnaval,
acabou por enveredar pela carreira artística.
Começou compondo sambas na
década de 1950, para cantoras como Leny Eversong e Dalva
de Andrade. Em 1962, gravou seu primeiro disco, pelo selo
pernambucano Mocambo. Ainda nesse ano, juntamente com o
Bafo da Onça gravou aquele que seria seu maior sucesso,
a batucada “Oba” (Nessa onda que eu vou/
nessa onda, iaiá/ é o Bafo da Onça/ que acabou de
chegar), que continuou a embalar os desfiles do bloco
nas décadas seguintes e que se tornou o hino oficial da
agremiação.
O bloco carnavalesco Bafo da
Onça foi fundado em 1956, por Sebastião Maria, um
carpinteiro que era da polícia. Segundo a história
oficial, Tião era figura notória naquela época, por
sair no carnaval de rua fantasiado de onça e bebia
muito. Durante um desses porres, num boteco no bairro do
Catumbi, é que surgiu o nome do bloco.
Na década de 60, o Bafo da Onça
reunia cerca de 1,5 mil pessoas na Avenida Rio Branco,
por onde passa até hoje. No final da festa, havia a
apresentação das mulatas, oportunidade em que o
empresário Oswaldo Sargentelli ia buscar as moças para
fazer shows. E a voz (e a alma) do Bafo era Oswaldo
Nunes.
O sambista gravou pra o carnaval
de 1965, o do quarto centenário do Rio de Janeiro, as
marchas “A dança da pulga”, de sua autoria e
Pernambuco, e “Saudações ao Rei Momo”, de sua
autoria. Nesse ano, fez grande sucesso com a marcha
“Na onda do berimbau”, de sua autoria, cujos
versos diziam: ("Na onda do berimbau, berimbau,
quero brincar o carnaval, o carnaval/Bate com a mão,
bate com o pé/Que o samba virou candomblé"),
que alcançaram grande aceitação popular. No carnaval
de 1968, destacou-se com a marcha “Voltei”. Na
segunda metade da década de 1960, apresentou-se em shows
acompanhado do grupo The Pop's, com o qual gravou em 1969
o LP "Tá tudo aí". Em 1970, obteve o segundo
lugar no IV Festival de Músicas de Carnaval com o samba
“Não me deixes”, de sua autoria em parceria
com Milton de Oliveira e Helton Menezes. Em 1971,
sagrou-se tricampeão do Concurso Oficial de músicas de
carnaval da Guanabara promovido pela Secretaria de
Turismo da Guanabara, TV Tupi e jornais O Dia e A
Notícia, com o samba “Saberás”, parceria com
R. Gerardi.
Oswaldo Nunes foi o autor da
maioria dos sucessos do Bafo da Onda entre o início dos
anos 60 até meados da década de 70. Numa ocasião,
Nunes brigou com a diretoria da agremiação e acabou
sendo substituído pelo jovem puxador Dominguinhos do
Estácio, – oriundo da escola de samba Unidos de
São Carlos – que cantou por dez anos no bloco.
Numa dessas brigas, Oswaldo Nunes
gravou e defendeu o samba “Recordar é viver”,
da Independentes de Cordovil no carnaval de 1976. Em
1978, lançou o LP “Ai, que vontade”, no qual
interpretou os sucessos “Dança do bole bole”
(João Roberto Kelly) e “Ai, que vontade” (Dão
e Beto Sem Braço).
O cantor foi assassinado misteriosamente em seu
apartamento no Rio de Janeiro em 1991. Onze anos depois,
a Justiça deu a sentença do espólio do cantor. Em
testamento, o sambista deixou um apartamento e todos os
seus direitos autorais para o Retiro dos Artistas, no
Rio.
Uma curiosidade envolvendo o sambista: em 1970,
Oswaldo Nunes gravou o disco "Bota Samba Nisso", pela CBS (atual Sony
Music). O agradável álbum trazia uma sonoridade
meio-samba-meio-jovem-guarda (um precursor mix de samba de gafieira e
batucada de morro com guitarras elétricas e órgão
Hammond), foi produzido por Raul Seixas, na época em que o
futuro maluco beleza trabalhava como produtor da gravadora. Raulzito
e Vavá juntos, reunidos em estúdio, deve ter sido uma
experiência surreal (no bom sentido, é claro!).
|