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Coluna do Alessandro Ostelino

CRÔNICA DA MOTIVAÇÃO CARNAVALESCA

23 de maio de 2009, nº 14, ano V

Creio que em certo momento, todos nós somos tomamos por alguma falta de motivação. Isto mesmo, ausência de motivos para realizarmos determinadas coisas. E foi lendo o incrível Rubem Alves que reencontrei alguns dos meus motivos - como se encontra por acaso um grande amigo pelas ruas - para escrever mais uma vez sobre carnaval.

"Aprendi, numa igreja protestante importada (onde me descobri a mim mesmo), que a minha cultura latino-americana era feia merecedora de desprezo, e que os verdadeiros valores da vida eram os norte-americanos. Levou um grande tempo até que aprendesse a dançar e a gostar de samba, pois a única coisa que sabia era cantar as gospels songs norte-americanas". Rubem Alves (A gestação do futuro. Campinas: Papirus, 1987, p. 57).  

Pobre Rubem Alves. Fico a imaginar o quanto seria esse longo tempo que ele levou para aprender a gostar de samba. Partindo de minhas próprias referências, dos meus gostos mais particularizados, não sou capaz de imaginar o que isso realmente significa. Talvez algo que beirasse as trevas, pois ficar um ano longe da Sapucaí já é uma tortura, viver sem o samba então nem se fala.  

Conheço muito brasileiro boa pinta, que fala bem e tudo mais. Muitos desses fazem parte de um grupo que exalta o que é importado, vão para a Europa freqüentemente, falam dois ou três idiomas com propriedade total... Até aí tudo bem. O “x” da questão é que muitos constroem mesquitas internas, onde cultuam uma identidade que não lhes pertence. Assim, como membros superiores, auditores que definem o que é bom, pregam contra qualquer essência latina e não se permitem “bailar la bamba, cair no samba”. São eles as pedras apresentadas também por Rubem Alves em outro momento, não mudam de posição, reforçam conceitos ditados antes.  

O ar estrangeiro, mesmo que contaminado, é chique, dá pompa e ostenta uma felicidade (que quase sempre não é real). Mas, falta-lhes originalidade e aceitação da nossa pátria-mãe-gentil. O outro lado da moeda é transparente, mistura favela com luxo, erudito com popular, inverte papéis e constrói sua própria lógica. Além da batalha pela posse do carnaval, temos ainda a peleja dos contra-nacionalistas... Uma provocação boa, que nos apetece os ânimos e nos faz retomarmos nossas posições de soldados, é de onde às vezes vem nossa motivação. Estendemos as bandeiras, reascendemos nossas chamas interiores em defesa do carnaval.  

Que bom que na vida existe o preto e o branco, o lado A e o lado B, a direita e a esquerda... Tudo isso na verdade serve para nos localizarmos e vermos quem realmente somos. Afinal, o mundo não é feito de espelhos. Mas ser do samba tem um sabor e um sentir que não se pode explicar, e além do mais é algo que realmente nos pertence.

Alessandro Ostelino
ostelino@hotmail.com