Coluna do Alessandro Ostelino

NEM LUXO E NEM LIXO: A
PRESERVAÇÃO DA CULTURA DAS ESCOLAS BRASIL AFORA
Não, não é mais uma referência ao
desfile da Beija-Flor “Ratos e urubus larguem minha
fantasia”. O que venho tratar neste espaço agora é sobre
as dicotomias que existem ao redor do fato escola de samba no
Brasil. Algo que se estabelece fora do eixo Rio de Janeiro e São
Paulo, que aparenta ser um espelho às avessas da realidade
dessas duas cidades e forma uma verdadeira batalha contra o
processo de extinção.
Obviamente, o capital investido pela iniciativa pública, seguida
pela privada, é determinante na viabilização dos desfiles e de
todo processo de crescimento da cultura escola de samba em
qualquer lugar. Como a origem do movimento foi na capital
carioca, parte da história se repete nos mais longínquos
municípios desse nosso país. Agremiações enfrentam problemas
sérios que colocam tragicamente em risco sua existência, o
sonho de alcançar sustentabilidade para o fenômeno em outras
partes do Brasil está diretamente condicionado às decisões
políticas, que quase sempre são negativas. Muito mais do que a
busca por recursos financeiros, inúmeras escolas de samba
esbarram atualmente com a dificuldade de desenvolvimento e
perpetuação da cultura orientada para o samba. Sem ter qualquer
pretensão de seguir o caminho da espetacularização e de
ganharem grande visibilidade, na maioria dos casos percebe-se que
a intenção tem como foco central promover interação,
proporcionar entretenimento através do canto, da dança e da
fantasia.
É sabido que o samba de forma geral divide espaço com outros
ritmos que já integram o carnaval atual, o que por um lado é
positivo e mostra a pluralidade da festa. Mas, as agremiações
esbarram em entraves bem mais sérios e complexos, especialmente
como a falta de incentivo e apoio para apresentarem seus
desfiles. Em alguns casos, a tentativa de promover a interação
com a comunidade, desenvolvendo atividades de caráter social,
encontra fortes resistências de naturezas diversas. O que me
leva a pensar que, se as escolas de samba do Rio de Janeiro
tivessem surgido há pouco mais de dez anos, provavelmente não
se tornariam símbolo nacional, tampouco resistiriam a tantos
fatores contrários.
Um país com uma diversidade cultural tão grande e que tem como
ícones o futebol e o carnaval, merece dar melhor tratamento à
cultura carnavalesca de suas escolas de samba. Afinal, por
milhares de quilômetros afora, ainda acredita-se no samba como
promotor das transformações sociais, propiciador do acesso à
cultura e como veículo de manifestação popular. Os
patrimônios imateriais são modos específicos de pensar e de
ver o mundo, onde se incluem as danças, o artesanato e diversos
tipos de cerimônias, danças e artesanatos. Por que não
transformar o gênero que se propagou por todo nosso país, que
se institucionalizou do Rio de Janeiro e percorreu Brasil e que
luta por sobrevivência em outros locais como patrimônio
imaterial cultural nacional? Por que definir de forma quase
cartesiana onde tudo tem que está? Por que não começamos a ter
uma visão mais global de nosso próprio país?
É interessante saber que uma escola quase anônima de uma cidade
pouco conhecida tem como madrinha a Portela ou a Mangueira. É
emocionante descobrir que em nossas imensas terras, muitas
pessoas comungam do mesmo apreço por escolas de samba e podem
vivenciar isto na plenitude máxima que cada realidade pode
oferecer.
Não se trata, neste caso, de ter ou não
ter luxo, mas de solidificar estruturas e legitimar / preservar a
cultura carnavalesca. Afinal, o samba vive clamando por vida e as
primeiras barreiras que devemos derrubar para nosso
desenvolvimento são as internas. Está aí um caminho a ser
seguido, ou melhor, a ser construído.
Alessandro
Ostelino
ostelino@hotmail.com