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EMBAIXADORES DO SAMBA

IMPERATRIZ NORDESTINA

PRESIDENTE Alexandre Rodrigues Caitano
VICE-PRESIDENTE Charlton Júnior
CARNAVALESCO Charlton Júnior
INTÉRPRETE Raphael Gravino
CORES  Verde e Branco
FUNDAÇÃO 25/12/2015
CIDADE-SEDE Mossoró-RN
SÍMBOLO Coroa
FACEBOOK Link

Fundada em 25 de dezembro de 2015, por um grupo de amigos ligados ao samba, sob o nome de Sociedade Virtual Escolas de Samba, popularmente conhecida como SVES. Diante de reivindicações e conselhos, a diretoria da escola, nas pessoas do presidente, Alexandre Rodrigues; de seu braço direito, o diretor de carnaval, Charlton Júnior, e o carnavalesco Everton Santana, decidiu-se modificar o nome da escola de samba virtual. Diante disso, surgiu um impasse: qual seria o novo nome da escola? Pensamos, pensamos, até que surgiu a ideia de, já que a Escola é constituída majoritariamente por pessoas de sangue e residência nordestina, exaltar esta região que tanto amamos e nos orgulhamos. Surge, aí, uma escola que vem para, além de exaltar a cultura, como é, foi e sempre será a nossa proposta primária, levar, até no nome da agremiação, um título de grandeza para o nosso torrão sagrado.

O Dinossauro que outrora estrelava o nosso pavilhão, recebe uma coroa, coroa esta que passa assumir primeiro plano do pavilhão. O dinossauro dá lugar a coroa. Ao redor da coroa, as palmas, representando a vegetação típica da caatinga/semi-árido, que compõe grande parte da vegetação nordestina. As cores verde e branco permanecem e o brilho da estrela, representa o nosso primeiro título, conquistado recentemente (2017).

A SVES, a partir de agora, atende pelo nome de Sociedade Virtual Imperatriz Nordestina! Fundada como Sociedade Virtual Escolas de Samba, obteve seu primeiro acesso em 2017 conquistando o campeonato do Grupo B. Depois do Carnaval Virtual, mudou seu nome para Imperatriz Nordestina. Com a nova denominação, conquistou a vaga no Grupo Especial com o vice-campeonato. Na estreia na elite, ficou em oitavo.


Ano

Enredo

Colocação

2022 A Noite dos Mortos-Vivos 8º (Especial)
2021 A Pedidos: Lima Barreto 8º (Especial)
2020 Às Margens do Rio Mossoró, Eleva-se a Terra da Liberdade 4º (Especial)
2019 O Poder Mariano - A Fé no Feminino! De Todas as Línguas, Maria, Mãe da América Latina 8º (Especial)
2018 Hoje é dia de Samba. Hoje é dia de Maria – A Saga da Imperatriz Nordestina 2º (A)
2017 Bem-Vindos à Estrada Real 1º (B)
2016 Amigo, hoje a minha inspiração se ligou em você, em forma de samba mandou lhe dizer não desfilou

SINOPSE ENREDO 2022

A Noite dos Mortos-Vivos


DIÁRIO DO APOCALIPSE

DIA 21

Hoje, fazem 21 dias desde que o mundo mudou pra sempre. Ninguém sabe como. Ninguém sabe de onde. Ninguém sabe o porquê. E, mais importante, ninguém sabe quando isso terá um fim. Ou se sequer é imaginável um fim para a nossa situação atual. Amigos e algozes, igualmente, foram consumidos por tudo o que aconteceu. Eu não sei como eles estão.

E é esse tanto de não saber… que me levou a tentar saber. Tentar entender como tudo isso começou. Tentar entender como todas essas histórias ficcionais se tornaram reais. Aliás, de onde vieram essas histórias? Porque sempre assumimos que elas foram ficcionais?

Toda essa história é misteriosa por natureza. E talvez, isso explique porque ela é tão fragmentada.  A primeira menção do termo na língua inglesa foi feita no longínquo 1819, falando sobre outro zumbi imortal – Zumbi dos Palmares. O primeiro registro de hordas de mortos-vivos marchando e causando destruição é mais antigo ainda – vem das histórias de Ishtar, deusa da mitologia suméria. Mas o mais interessante é sobre a origem da própria palavra “zumbi” – que me levou a um caminho que eu nunca imaginava encontrar.  Que talvez… os zumbis sejam os heróis dessa história.

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Minhas pesquisas primeiro me levaram de volta ao berço da humanidade, a África. Segundo os povos africanos conhecidos como bantos, o criador do mundo chama-se Nzambi Mpungu. No mundo que Nzambi criou, a vida tem o corpo como receptáculo do espírito. Enquanto viva, a pessoa traça seu caminho para que, quando findada sua passagem pela Terra, seu espírito se liberte e seja mandado de volta para a Senzala de Nzambi, sua morada. Porém, aqueles que fizessem atos abomináveis, como o homicídio, não eram bem-vindos lá. Ao invés disso, eles voltavam ao mundo e causavam o mal, tomando corpos de animais e causando destruição, matando crianças no ventre, entre outros presságios. De certa maneira, a vida de uma pessoa moldava o mundo, não só em sua passagem física pelo planeta, mas também na sua pós-vida, na sua espiritualidade. E, depois que esta pessoa fosse embora, seu espírito não era necessariamente eterno – mas durava enquanto esta pessoa fosse lembrada por alguém.

Zambi… é memória.

Quando os europeus chegaram à África e fizeram de lá um grande mercado de escravos, outro conceito passou a ser associado com a grande travessia – Kalunga. Kalunga era um corpo de água que marcava a fronteira entre a vida e a morte. E entre a porta cruzada para a escravidão e o Novo Mundo onde as vítimas deste horror serviriam, havia um grande oceano – o Oceano Atlântico. A travessia do oceano tornou-se um símbolo da “morte”, e ainda acredita-se que, quando um afro-americano morre, seu espírito retorna à África, para ser recebido na Senzala de Nzambi.

Porém, alguns escravos não morriam durante a travessia. Eles chegavam vivos ao novo continente, e lá, passavam a viver num estado de “morte-vida”, em servidão total, sem esperança de viver uma vida de fato novamente. Sem aceitar sua situação, rebelavam-se. Buscavam liberdade. Ali não era seu lugar, e o mundo não era uma epopeia de servidão! Nomes surgiram nesta terra chamada Brasil. Aqualtune, Tereza de Benguela, Negro Cosme, Manuel Congo, Benedito Meia-Légua e tantos outros cujo nome jamais foi esquecido, tantos cujas almas hoje encontram-se ao lado do Criador. No entanto, nenhum teve tanta força quanto o nome “Zumbi dos Palmares”. Zumbi, cujo nome, embora próximo do nome de Nzambi, significava “espectro” – muitas culturas africanas tinham palavras próximas para designar corpos sem alma, almas sem corpo e outras criaturas da morte-vida. Zumbi fez seu nome ser o mais imortal de todos os imortais.

As revoltas e a resistência do Quilombo dos Palmares nunca se entregaram. Quando Zumbi morreu, seus captores fizeram questão de decapitá-lo e expôr sua cabeça em praça pública, para que nunca esquecessem que, para aqueles que se opusessem ao regime, a morte era o fim. Mas a morte não é o fim. A morte só fez Zumbi ser mais lembrado e mais imortalizado. Até os tempos hodiernos, toda resistência negra em território brasileiro inspira-se na luta de Zumbi dos Palmares. Assim, ironicamente, a tentativa de garantir que Zumbi não fosse imortal tornou Zumbi aquele que, eternamente, estará vivo no sangue de cada um que considere-se resistência contra qualquer opressão.

Zumbi… é resistência.

Em outros lugares, a travessia da “nova” Kalunga teve outros frutos. No Haiti, uma das pátrias que a ganância europeia mais destruiu, a morte-vida e o nome de Nzambi se conectaram através do vodu haitiano. Bondyé, o criador segundo os vodus, era inalcançável aos humanos e, portanto, o contato com ele seria feito através dos Iwás, um dos quais era o Baron Samedi. Os feiticeiros vodus, os bokor, serviam aos Iwás e, como regente da morte, aqueles que serviam o Baron Samedi tinham a capacidade de criar zombis – um processo normalmente reservado apenas ao próprio Baron Samedi, para qual a transformação em zombi era um castigo eterno para aqueles que lhe desagradassem. Zombis existiam em duas formas, cada uma tendo metade do ser vivo: corpos que foram privados de seu descanso eterno e receberam a escravidão como castigo, e almas que podiam ser capturadas em um fetiche para empoderar um Bokor.

A dualidade entre empoderar os soberanos e servir sem descanso acabou se tornando parte integral da história do Haiti. Quando a terra sangrava pela escravidão, era frequente o uso da crença nos zombis para dissuadir os escravos do suicídio, afinal, a servidão eterna como zombi não era nada diferente da servidão eterna em vida. Séculos depois, quando François Duvalier, o sanguinário Papa Doc, tornou-se ditador do Haiti, ele moldou no Baron Samedi um culto de personalidade, utilizando figuras do folclore haitiano para impor medo na população que governava. Hoje, o Haiti, ainda fragilizado, continua uma batalha ferrenha contra as mazelas que o universo atirou a ele, e enquanto o mundo olha para seus habitantes como “mortos”, a luta deles está mais “viva” do que nunca.

Zombi… é luta.

Mas ainda faltava algo para os zumbis dominarem o mundo – naquela época, figurativamente, hoje em dia, literalmente. Este algo foi uma mistura fervilhante de culturas nos Estados Unidos da América. Influenciado pelas eternas escritas de obras como “Frankenstein” e os Mitos de Cthulhu, o misticismo da reanimação de corpos deu origem a um filme chamado “Zumbi Branco”, que considera-se ter sido o primeiro filme de zumbis da história, e aquele que introduziu o termo “zombie”, de fato, ao vocabulário da língua inglesa. Mas foi somente em 1968 em que os zumbis de fato despertaram, com o longa-metragem “A Noite dos Mortos-Vivos” de George Romero, por sua vez inspirado no livro “Eu Sou a Lenda”, de Richard Matherson. Este filme codificou o arquétipo do zumbi moderno: ininteligível, lento, agressivo, caminhante em hordas e um ícone do horror.

E foi então que o apocalipse zumbi se espalhou pelo mundo. Michael Jackson eternizou-se fazendo zumbis levantarem-se de seus túmulos para dançarem ao som de Thriller. A indústria dos videogames apresentou a Umbrella Corporation ao mundo pela série Resident Evil. Os quadrinhos entraram na brincadeira com The Walking Dead, que depois virou série de TV e o mundo inteiro aplaudiu. Até em temas mais leves os zumbis começaram a aparecer – sitcoms, obras de romance, animes ecchi! E os fãs começaram a se unir. Formaram sua própria horda, inventaram o “zombie walk” e transformaram a preparação pra um apocalipse zumbi em um hobby.

Zombie… é cultura.

Mas na horda que eu conheço… existe algo de estranho. Embora as origens de zumbis sejam, frequentemente, misteriosas, há especulações sobre o que poderia causar a zumbificação de alguém. Vírus letais, magia e até mesmo uma espécie de fungo chamada Cordyceps que possui a capacidade de zumbificar pequenos animais. Uma vez que eles estejam fora das covas, zumbis são ininteligíveis, lentos e agressivos, assim como eu disse antes. Para proteger-se deles, portas barradas – eles podem tentar derrubá-la, mas não conseguem. É importante também ter uma arma à mão e saber o que fazer com ela. Alguns só morrem com tiros na cabeça, outros podem ser cortados ao meio com uma serra elétrica que funciona tão bem quanto. Mordidas são fatais e vão te transformar em um zumbi. E o mais importante de tudo – mesmo num apocalipse zumbi, nunca deve-se esquecer que o ser humano também é capaz de destruir.

Não são esses os zumbis que estão tomando o mundo. A horda que eu conheci é extremamente inteligente. Ela não tem fome de carne humana e consegue dar brados clamando por africanidade. Os zumbis não nasceram de uma catástrofe biológica ou de magia negra – eles tornaram-se uma horda porque quiseram. Não são meros zumbis – há zumbis que evocam almas de pessoas que, mortas há muito tempo, tornaram-se imortais pelo papel que tiveram para a resistência da cultura popular brasileira. Nenhuma arma os derruba. E eles não vieram destruir o mundo.

Quem sabe… eles vieram retomar o mundo.

Esse mundo onde nós vivíamos, que tanto despreza o afro, e agora vê o zumbi, um ser que nasceu da África, tomar o mundo – primeiro figurativamente, como um ícone cultural, e agora literalmente.

E quem sabe… talvez não fosse melhor eu fazer parte da horda. Tantas vezes os filmes de zumbi já mostraram que a humanidade é tão maléfica quanto os tais “monstros”. Tantas vezes a humanidade falhou em ser humana. E a horda, que carrega com si o peso de sangue, suor, lágrimas e muita batalha, hoje não é mais a inimiga da humanidade, mas sua própria representação.

Ser zumbi, hoje em dia, é não aceitar o jeito que o mundo é.

É querer mudar tudo.

Por isso… eu me juntarei à horda.

Adeus.

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DIÁRIO DO APOCALIPSE

DIA 22

Eu estava certo.

E nós vencemos.

A horda é o povo.

A horda é a africanidade encarnada num ícone popular.

A horda é resistência.

A horda é Zambi, é zombie e é zumbi.

Autor do enredo: Humberto Mansur