SAMBARIO - O site dos sambas-enredo

Ao lado de Gera, o carioca Jorge Tropical formou na Vila Isabel uma das mais afinadas duplas de puxadores de samba-enredo, ao longo de quase uma década. Ex-servidor público, professor de literatura e fã de Jamelão, o sambista chegou à escola de Martinho, Paulo Brazão e outros bambas do bairro de Noel no final da década de 70.

Jorge Tropical é um dos autores, ao lado de Julio Lucchesi, do samba “Vilancete”, clássico da Vila Isabel, que foi até utilizado algumas vezes como alusivo, com os inesquecíveis versos: Vila quero vê-la linda / Quero vê-la ainda muito mais feliz.

Dono de uma voz grave e potente, seu primeiro registro fonográfico aconteceu em 1985, no disco Vida e Sentimento, dedicado aos sambas-exaltação das agremiações do então Grupo 1 A. Dois anos depois, o cantor participava de outra coletânea, O Lado Doce do Samba.

Em 1988, ano do centenário da abolição da escravatura, concorreu e defendeu um samba para o enredo “Kizomba, a festa da raça”. Não venceu a disputa, mas sua interpretação na quadra foi muito elogiada, tanto que recebeu um convite e passou a integrar o grupo de cantores de apoio no carro de som.

Em 1990, Jorge Tropical (junto com Aninha Guedes, Antonio Grande e Vilani Silva “Bombril”) compôs o samba para o polêmico enredo "Se esta terra, se esta terra fosse minha", que tratava sobre a reforma agrária.

Em 1993, participou da coleção Escolas de Samba Enredo, produzida por Rildo Hora, para a gravadora Sony. No CD dedicado à Vila Isabel, fez dueto com Martinho da Vila no clássico “Iaiá do Cais Dourado”, samba-enredo de 1969 (Martinho e Rodolpho). Jorge Tropical se tornou intérprete oficial da escola em 1994, ao lado de Gera, formando uma legendária e afinada dupla de intérpretes até o desfile de 1999. Após aquele carnaval, Gera foi contratado pela Portela e Jorge prosseguiu como microfone número 1 na Vila.

Em 2003, Jorge Tropical compôs sozinho, e sem ter qualquer patrocínio, o samba escolhido para defender o enredo “Oscar Niemeyer – o arquiteto do recanto da princesa”. Os versos do samba caíram no gosto da comunidade e do júri O Globo, o que lhe valeu o Estandarte de Ouro de melhor samba do Grupo A. No entanto, com a derrota de seu samba para o carnaval de 2004 (“A Vila é para ti”), Tropical decidiu se afastar de Vila Isabel.

Em 2005, Jorge foi apoio de Neguinho no carro de som da Beija-Flor. Dois anos depois, em 2007, compôs o carro de som da União da Ilha do Governador, com Ito Melodia. Em 2010, fez parte da equipe de Dominguinhos do Estácio, na Imperatriz.

Aos poucos, Jorge Tropical foi se afastando das alas musicais, passando apenas a desfilar pela sua Vila Isabel. O cantor faleceu em 8 de janeiro de 2021.