Nascido em Campos dos Goytacazes, o sambista Joel Teixeira se revelou
como cantor nos programas de calouros da Radio Campista Afonsiana no
início dos anos 60. Foi criado em rodas de jongo que a
mãe promovia no quintal de casa. Antes de chegar ao rádio
cantou em circos e em parques de diversões.
Com 17 anos de idade fugiu para o Rio de Janeiro numa carona de
caminhão para tentar a sorte nos concursos de calouros da TV,
nos programas do Chacrinha (TV Excelsior) “A Grande
Chance”, de Flávio Cavalcante, na TV Tupi.
A primeira gravação aconteceu num pau-de-sebo, disco que
reúne vários intérpretes geralmente iniciantes. No
LP coletivo “Só Entra Quem Sabe” (1975) interpretou
“Bom dia amor”, faixa que viria a batizar seu primeiro
disco solo três anos depois. Do disco, também participaram
Beth Carvalho, Jurema, Totonho, Jorginho do Império, Rubens da
Mangueira, Dicró, e Mano Décio da Viola, entre outros. No
ano seguinte foi levado pelo compositor salgueirense Zuzuca para o
Bloco Bafo de Bode, de Jacarepaguá (origem da futura escola de
samba Renascer de Jacarepaguá), para o qual gravou o
samba-enredo “Festa Junina em Dia de Carnaval”, de
Luís Antônio e Carlito Cavalcanti. Na mesma época,
ingressou na ala de compositores da Acadêmicos do Salgueiro. No
carnaval de 1977 junto com o veterano Noel Rosa de Oliveira, conduziu
na avenida o samba-enredo “Do Cauim ao Efó, com
Moça Branca, Branquinha”, de autoria de Geraldo
Babão. O desfile aconteceu na Avenida Presidente Vargas, no
Mangue, no sentido Praça XI – Correios.
Logo depois do carnaval, preferiu seguir investindo na carreira de
cantor. No entanto, jamais abandonou o carnaval, saindo principalmente
nas escolas do bairro da Tijuca, como Salgueiro e Império da
Tijuca, sempre desfilando no chão ou no abre-alas.
Contratado pela EMI-Odeon, em 1978 lançou o primeiro disco
“Bom dia Amor”, em que a música título, de
autoria do próprio intérprete e Pedro Antônio,
chegou às paradas de sucesso. O disco foi lançado
também no Japão, e abriu as portas daquele país
para o cantor que fez temporada de seis meses, com 33
apresentações em 28 cidades.
Desde então foi lançando discos e empilhando sucessos em
sequência, como “Amanheceu”, de 1979, que trazia a
faixa título com os clássicos versos: “Amanheceu
/ Vou sair pra minha luta / Mais um dia de labuta / Pra ganhar dinheiro
meu / Antes de ir / Acalento os guris / Dou um abraço em minha
sogra / Na minha mulher dou um beijo feliz”.
No ano seguinte foi a vez de “Quando o sol brilhar” (Joel
Teixeira e Pedro Antônio), uma das músicas mais executadas
no carnaval do Rio. No LP “Ciúme da Viola” (1981),
constou “Saudação ao Papa”, samba-enredo dos
compositores Marcão, Moacir e Marquinhos, do bloco
Acadêmicos do Vidigal, sobre a visita que o Papa João
Paulo II fez à Vila do Vidigal na primeira vinda de Sua
Santidade ao Brasil, em 1980. Na época, os moradores do Vidigal
lutavam contra a remoção dos barracos localizados na
área.
Em “Um Sorriso Amigo” (1982), Joel Teixeira incluiu
“Minha terra”, homenagem à mulher campista,
composição feita em parceria com Mauro Silva e Noca da
Portela para o Bloco Recreativo Unidos do Capão (Bruc), de
Campos. No mesmo álbum, Joel gravou “Hoje sou
felicidade”, de Aroldo Melodia e Franco, samba derrotado na
disputa da União da Ilha do Governador para o enredo
“É hoje”, para o carnaval de 1982.
O sambista costumava desfilar em várias escolas, tendo uma
predileção ao Império da Tijuca. No carnaval de
1984, ano da inauguração do sambódromo da
Sapucaí, desfilou em cima do carro abre-alas da escola, que
lembrava um cassino, no enredo “9215”, número da lei
que proibiu os cassinos no Brasil. Joel Teixeira estava ao lado de
Virgínia Lane, a eterna vedete do teatro de revista, e de
Neguinho da Beija-Flor, convidado especial da escola. Durante a
transmissão do desfile pela TV Manchete um repórter da
emissora entregou o microfone a Joel, que cantou ao vivo um trecho do
samba-enredo dos compositores Ailton do Império e Tibu.
O sucesso na carreira de Joel Teixeira prosseguia. Em 1985, com o LP
“Do jeito que o povo gosta”, emplacou o “Pagode do
Compadre”, de Flávio Moreira e Jorge Bento: “Ô compadre, a comadre mandou lhe dizer / Que o senhor tá na gandaia / A criança não tem o que comer”.
Outro grande disco foi “Bom de Samba e de Pagode”, de 1988,
que apresentou o sucesso “Mané Carvoeiro”, de
Djalminha e Bicalho.
O último e (talvez) mais importante trabalho da carreira de Joel
Teixeira, foi o show “Samba Sim Sinhô”, dirigido por
Paulo Moura. Lançado em 1990, o espetáculo percorreu
várias cidades brasileiras. A pesquisa e escolha do
repertório foram feitas por Ricardo Cravo Albim. O disco teve a
participação de Zezé Motta na faixa
“Não quero saber mais dela”,
composição de autoria de José Barbosa da Silva, o
Sinhô. Seu último trabalho foi o CD “Luz do
Samba”. Este álbum presenteia os fãs de Joel com um
repertório que reuniu sambas inéditos e
regravações, além de contar com as
participações especiais de Beth Carvalho, Pique Novo e
Grupo Mestiço.
Joel Teixeira morreu vítima de câncer, em 28 de abril de
2004, no Rio de Janeiro. O apresentador de TV Flávio Cavalcanti
(1923 - 1986) deu-lhe o título de “defensor das
mulheres”, por causa das composições “O homem
que bate em mulher é covarde” (Joel Teixeira e B.
Barbosa), “A mulher merece perdão” (Joel e Pedro
Antônio) e “Mulher boa é a de casa” (Jorge
Bento e Pedro Antônio). Em suas músicas, Joel dava um
destaque especial ao carinho e o respeito à família, como
nos versos de “Amanhecer” e em “Um Novo
Amanhecer”, de Pedro Antônio e Joel, praticamente uma
sequência da música do disco de 1979: “Quanta
alegria / Quando a noite vem / É o fim do dia / Vou rever meu
bem / Sempre todo dia me levanto / Dou um beijo em meu amor / E parto
pro meu labor ô ô / Trago em meu semblante um sorriso / Ao
voltar pro paraíso / Que é o meu doce lar”.
Apesar de interpretar sambas dolentes com romantismo ao estilo de
seresta, o sambista também era craque no partido alto com
irreverência e malícia, esbanjando duplo sentido em
algumas letras, como no caso de “Minha Vizinha” (Joel
Teixeira e Pedro Antônio): “Minha vizinha / me empresta a sua enxada / que eu quero tirar o toco / encravado na calçada”, e o supracitado sucesso
“Mané Carvoeiro”: “Trabalho bom / Eu já
disse que é do Mane Carvoeiro / Anda sujo o dia todo / E cheira
pó o ano inteiro / (...) Diz que pó de carvão suja
/ Mas o pó não é sujeira”.
Joel Teixeira foi um dos homenageados na exposição
“Ícones do Samba Campista”, realizada pelo Museu
Histórico de Campos em fevereiro de 2020. A mostra reuniu uma
breve biografia de 14 sambistas da região, que deixaram seu
legado na música brasileira nacional e local. Além de
Joel, nomes como Wilson Baptista (1913 - 1968), Roberto Ribeiro (1940 -
1996), Aluízio Machado (1939), Jurandir da Mangueira (1939 -
2007), Délcio Carvalho (1939 - 2013) e Sebastião Motta
(1916 - ???), campista que teve sua composição
“Fechei a Porta” (com Ferreira dos Santos) gravada por mais
de 80 músicos, entre eles, Jamelão, Elza Soares, Beth
Carvalho e Simone.
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Início: No carnaval, começou no Bloco Carnavalesco Bafo de Bode, de Jacarepaguá, em meados dos anos 70.
1975 – Bafo do Bode
1977 – Salgueiro (intérprete junto com Noel Rosa de Oliveira)
GRITO DE GUERRA: Não tinha
CACOS DE EMPOLGAÇÃO: (bordões muito usados ao cantar os sambas): “vai
machucando que o preto gosta”; “vamos explodir
rapaziada”; “isso é Brasil, meu povo”;
“e agora”; “quero ouvir, quero ouvir”.
DISCOGRAFIA SOLO:
- LP Bom Dia, Amor (Odeon, 1978)
- LP Amanheceu (Odeon, 1979)
- LP Ciúme de Viola (EMI-Odeon, 1981)
- LP Quando o Sol Brilhar (EMI-Odeon, 1981)
- LP Um Sorriso Amigo (EMI-Odeon, 1982)
- LP Eta Vida Boa (EMI-Odeon, 1983)
- LP Do Jeito que o Povo Gosta (Arca Som, 1985)
- LP Bom de Samba e de Pagode (Arca Som, 1986)
- LP Samba Sim “Sinhô” (Copacabana, 1990)
- CD Coisa Bem Brasileira (BMG Brasil, 1996)
- CD Série Pagodes Vol. 1 (Sondise Produções, 1998)
- CD Luz do Samba (CID, 2002)
DISCOGRAFIA DE CARNAVAL / COLETÂNEAS
- LP Blocos de Enredo RJ 1975 – faixa Bafo do Bode (Tapecar, 1974)
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