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Coluna do João Marcos

DE SE JOGAR DA PONTE

27 de fevereiro de 2018, nº 58, ano X


Foto do desfile da Unidos da Ponte em 1984

É impressionante como as escolas estão cada dia mais preguiçosas, buscando apenas o aplauso rápido.


A querida Unidos da Ponte, daqueles sambas maravilhosos dos anos 80, estará de volta a Sapucaí. Não acompanhei os desfiles da Intendente e não entrarei nos méritos do título. A volta foi comemorada nos fóruns de carnaval e por todos aqueles que curtem a história dos desfiles do Rio. A Ponte, assim como a Unidos de Lucas, a Em Cima da Hora e outras tantas que tiveram passagens marcantes nos grupos principais sempre serão lembradas com carinho por quem gosta de carnaval.

A questão é: a Ponte que volta hoje é a mesma dos anos 80?

Evidente que em cada escola de samba,  as pessoas vão mudando com o tempo. Quem fez a Ponte dos anos 80 não faz a Ponte de 2018, assim como a Mangueira da época não é a de agora. Talvez nenhum grupo social no Brasil tenha a mesma configuração de trinta anos atrás.

Mas a essência fica. A essência do Salgueiro persiste. Da Mangueira, idem. Da Portela, também. A essência cria a identidade, a forma como a escola se apresenta. A personalidade.

O problema é que a história tem de continuar a ser escrita para você criar esta essência. Caso contrário, vira peça de museu.

A memória afetiva não pode esconder a realidade. Mas a proposta de reedição de "Oferendas", samba de 1984, não é o resgate da essência ou da personalidade da escola. Não é a volta ao caminho de glórias. Não é a tradição do samba.

A reedição de "Oferendas" é a personificação da preguiça.

E poderá ser a QUARTA reedição da Ponte, que já reeditou 1983, 1989 e 1992.

E aí eu pergunto - Oferendas é um samba popular? Super conhecido? Impulsionará a harmonia da escola como não fez em 1984, quando os sambas tinham mais divulgação? Garantirá as notas 10 que não vieram no desfile original?

Não. Apenas agradará os 15, 20 meninos que descobriram o samba pesquisando, talvez alguns saudosistas (dentre eles alguns críticos de internet) e, no mais, passará despercebido por quase todo mundo.

Além disso, "Oferendas" é mais um enredo afro em uma escola brigando para não cair de grupo. Geralmente, enredos afros são pensados para justificar a utilização de materiais baratos no desfile. Nos últimos anos, o que mais se tem visto no acesso do Rio de Janeiro são desfiles afros com estética pavorosa. As duas últimas colocadas são a prova disso.

Ou seja, teremos um projeto de desfile que se apóia numa ideia preguiçosa pra ganhar aplauso falso, uma enganação buscando emular o passado, com base num samba interessante, que, no entanto, não mexerá com o público, com um provável visual feio e pobre, que não vai modificar em nada a história da escola. E eu nem vou entrar no mérito da execução do samba, por não saber quem irá cantá-lo e com qual andamento a bateria o executará.

Na boa, Ponte, pra isso não precisava subir de grupo, talvez ocupando a vaga de uma escola que poderia fazer algo diferente.

Enfim, é de se jogar da ponte.

NOTA DO EDITOR: Horas depois da nota divulgada pelo blog Repinique do Jornal O Globo, a Unidos da Ponte desmentiu a notícia da reedição do samba-enredo "Oferendas" de 1984, em nota do presidente Rosemberg de Azevedo publicada nas redes sociais da escola.

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Com relação aos resultados do carnaval, no Especial do Rio a apuração foi interessante e recolocou os desfiles nas rodas de discussão da cidade. No Acesso, também tivemos um resultado dentro do esperado.

Em SP, os bons desfiles foram acompanhados de uma apuração desastrosa, que premia a execução e deixa de lado a criatividade. E o pior é que, no meio da enxurrada de notas 10, os poucos 9,9 vieram com justificativas frouxas e genéricas, sem nenhuma ligação com aquilo que as escolas apresentavam.

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Por fim, o repúdio ao prefeito TUCANO de Porto Alegre, que continua a sua saga de exterminar com o tradicional carnaval da cidade. Os desfiles deste ano foram cancelados.

É bom para o sambista saber que o prefeito é do PSDB. SIM, DO PSDB. É importante entender o significado do seu voto.

Entender que votar em determinados políticos, como o prefeito Marcelo Crivella do PRB (guarde essa sigla), pode prejudicar o carnaval, e com isso, a própria vida das cidades.

Os milhares de emprego em turismo, serviços e etc, são arruinados pela politicagem tacanha, que objetiva cegar uma população que não entende os efeitos indiretos dos desfiles nas economias locais. Se você trabalha numa agência de viagem, cia. aérea, empresa de publicidade, restaurante, hotel, cervejaria, gráficas que imprimem material ligado ao carnaval, imprensa, etc., você pode ter sido afetado por isso e não entender que perdeu o emprego por causa da demagogia destes sujeitos.

Ah, bom lembrar que o governador do Rio, do PMDB (ou MDB), também retirou todo o apoio financeiro que o Estado dava para os desfiles, deixando as escolas de samba ainda mais dependentes do Crivella.

Portanto, anote as siglas, veja com quem estes partidos são coligados e pense bem quando estiver na frente da urna. Ou a próxima vítima pode ser a tua escola de coração e o teu emprego. E certamente o dinheiro não irá para segurança, saúde e educação, vide as cidades de Rio e Porto Alegre hoje.

Saudações a todos!