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Coluna do João Marcos

AS PRIMEIRAS DE 2013

20 de agosto de 2012, nº 53, ano VII

Depois de longo tempo de ausência, eis que volto a escrever para o SAMBARIO. Poucos minutos atrás, um carro de som passou na rua em frente ao prédio onde moro. Pensei que seria propaganda eleitoral já que temos uma eleição no final do ano. Ledo engano – era um samba concorrente! Não sei até que ponto tal solução serve para vencer uma disputa, mas é evidente que deve ter alguma eficácia, nem que seja psicológica, uma demonstração de poder sobre os adversários. Imagine você, compositor de primeira viagem, tentando contratar cantor, arranjar torcida, fogos, dinheiro para a cerveja, uma dificuldade danada com os fatores extra-samba da disputa, e o desgraçado do concorrente consegue até carro de som para tocar o samba dele pelas ruas. É aterrorizador.

Fico imaginando onde isso vai parar. Aí chega o samba da parceria do Diniz, compositor consagrado, com Martinho e Arlindo como parceiros. Parceiros à beça, apenas de não me lembrar dos dois últimos terem gravado algum samba do primeiro em seus CDs. Mas vamos deixar isso de lado. De repente, a internet carnavalesca entra em comoção – milhares de fãs começam a chorar, emocionados por estarem ouvindo a obra mais linda da história do carnaval. Todos estão em êxtase, principalmente os alunos do cursinho. Eles se superaram! Não preciso ouvir mais nada! Fulano de tal é o maior gênio da história do carnaval!

E eu ouvindo o samba, vendo a propaganda do Criança Esperança na TV e tentando entender aquilo tudo. Penso no que ocorria no passado e no que ocorre hoje. Projeto a situação para daqui a alguns anos. Imaginem – você vai ver a novela e, no intervalo, está lá - a propaganda de um samba concorrente! Pouco depois, o compositor do escritório, com sorriso pedindo compaixão, indica um número de telefone para você fazer uma contribuição para a disputa.

Luciano Huck abre o seu Caldeirão e chama o dono do escritório. Abraça o sujeito – esse aqui é gente finíssima, meu amigão do peito e um talento enorme. Faustão, no dia seguinte, enquanto a produção prepara mais um quadro do “Se Vira nos Trinta”, vai conversar com o contrarregra – e aí, Maurição, você prefere o samba de Beltrano ou de Sicrano?

As parcerias estão formadas. A LIESA compra um horário na televisão para a propaganda. Parceria 1 – Zé das Couves, Fulaninho da COHAB, Hebe e Paulo Maluf. Parceria 2 - Mosquitinho do Escritório, João do Pagode  e Garotinho. Esta segunda usa até computação gráfica da Pixar para encantar os telespectadores no seu horário.

A Odebrecht oferece helicópteros para os cantores conseguirem ir a todas as oito eliminatórias do dia, incluindo uma de madrugada em São Paulo. Em Manaus, eles cantam por teleconferência. A Bayern tenta encontrar uma forma de clonar Jamelão para uma parceria que quer entrar forte na Mangueira.

Enquanto isso, o garoto talentoso esconde seus versos num pedacinho de papel, sonhando entrar como estagiário do escritório. Que pagará ajuda alimentação e vale transporte se ele conseguir pelo menos 50 cabeças para a torcida na próxima disputa.

*****

No giro das eliminatórias, a tendência é de uma safra bem mais fraca do que a do último ano. Existem alguns sambas bons em disputa, mas as informações de bastidores não nos dão grandes esperanças.

A safra do Império da Tijuca é decepcionante pelo enredo apresentado, que poderia render sambas com um conteúdo emocional mais forte. Ficaram muito presos aos detalhes da sinopse e não deixaram o coração fluir. Não há nenhuma obra fantástica, apesar de algumas boas. O melhor é de Marcio André e parceria, que ainda assim peca pelo excesso de informações.

Na Mangueira, ocorre algo semelhante, mas existe um samba diferenciado, que é o 33-E. O samba, inicialmente tinha sido gravado pelo ótimo Agnaldo Amaral, cantor com passagem em várias escolas grandes de São Paulo. Foi regravado pelo Ito Melodia sem alterar a qualidade. No Salgueiro, o melhor samba é de Moisés Santiago e parceria. Na Imperatriz, Zé Catimba sobra, apesar de alguns detalhes técnicos que devem ser trabalhados caso ocorresse o inacreditável e ele fosse escolhido. Seguem, depois, os bons sambas de Tuninho e cia., Jurandir e cia, e Lessa e cia.

Na Portela, a parceria campeã fez um samba tecnicamente superior ao do ano passado. A proposta também é um pouco diferente, uma coisa mais na linha do samba de roda, que sempre cai muito bem na escola. Mas aponto também o excelente samba do Caixa D’água como uma alternativa de ótima qualidade.

As safras de São Clemente e Inocentes são muito fracas e as escolas tem apenas sambas funcionais na disputa, sem nenhum de grande brilho.  Na Tijuca, o nível dos últimos anos será mantido – as parcerias favoritas têm obras agradáveis, que não me cativaram, mas que parecem feito para funcionar bem, e só.

Na Ilha, o samba de Eduardo Medrado sobra na disputa, mas tem chances nulas de vitória. Na Beija Flor, os sambas, em geral, erraram em optar pela primeira pessoa, o que gerou versos estranhos, muitas vezes no limite do ‘trash’. O de Tom Tom e cia. é o de melhor qualidade, mas aponto também  o samba de Jarbas e cia., que possui momentos melódicos interessantes. Na Vila, Kakata e cia. merecem destaque – pelo menos, escutem o samba da parceria e a do Zimmerman e cia.

Deixarei para analisar a disputa na Mocidade, as de São Paulo e as demais do Acesso na próxima coluna, que eu espero que seja em breve.
 
Saudações a todos!

João Marcos
joaomarcos876@yahoo.com.br