O cantor e compositor João
Nogueira não foi exatamente um intérprete de samba de
avenida. Porém, em parceria com o também compositor
Paulo César Pinheiro, foi responsável pelos mais belos
sambas que a GRES Tradição levou para a passarela na
primeira fase da escola. Os cinco sambas que compôs para
a Tradição foram registrados em disco pelo próprio
João Nogueira.
Com
apenas 17 anos, Nogueira já era diretor de um bloco
carnavalesco no bairro carioca do Méier. Em 1971, após
já ter sido gravado por nomes importantes da MPB, como
Clara Nunes, Eliana Pittman e Conjunto Nosso Samba,
passou a integrar a ala de compositores da Portela, sua
escola de coração, onde venceu um concurso interno com
o samba “Sonho de Bamba”. Permaneceu na Portela
por quase 15 anos. No final da década de 1970, fundou
também o bloco Clube do Samba, que ajudou a revitalizar
o carnaval de rua carioca. Em 1980, teve uma
participação no filme “Quilombo”, de Cacá
Diegues, no papel de um caçador de escravos. O elenco do
filme reuniu vários nomes do samba e teve como
figurantes moradores de várias comunidades ligadas ao
carnaval.
João Nogueira também participou
de um movimento de dissidência na Portela, que fez
surgir a Tradição. Poucos meses após o carnaval de
1984, sete alas foram eliminadas da águia azul e branco
de Madureira pelo então presidente Carlinhos Maracanã.
Os respectivos diretores de alas, mais Nézio Nascimento
(filho de Natal da Portela) se incorporaram à nova
escola que surgia, bem como outras figuras importantes:
Tia Vicentina (irmã de Natal), Marlene (filha de
Nozinho) e Vilma Nascimento, famosa porta-bandeira.
O primeiro nome da Tradição foi
Sociedade Cultural e Recreativa Portela Tradição. Logo
em seguida, devido a processos na Justiça, este foi
mudado para S.C.R. Amor e Tradição, até que,
finalmente, a agremiação foi batizada com o nome de
G.R.E.S Tradição. Vários compositores famosos foram
convidados para a feitura do samba enredo da escola, mas
os únicos que aceitaram foram Paulo César Pinheiro e
João Nogueira, que, em 1984, tinham um samba já
gravado, chamado “Xingu”, que acabou se
tornando o tema-enredo “Xingu, o pássaro guerreiro”
com o qual a Tradição desfilou e venceu o Grupo 2-B no
ano seguinte. A música está no disco “Pelas terras
do Pau-Brasil”.
Em 1986, o samba levado para a
avenida foi “Rei Sinhô, Rei Zumbi, Rei Nagô”
– registrado no álbum “De amor é bom”
– e a escola venceu o título no Grupo 2-A. No ano
seguinte, com “Sonhos de Natal” (presente no
disco “João Nogueira”, de 1986), a Tradição
terminou empatada em primeiro lugar com a Unidos da
Tijuca, no Grupo 1-B. Na estréia no Grupo Especial, em 1988,
a escola levou “O melhor da raça, o melhor do
carnaval”, um dos mais bonitos sambas do ano. Em
1989, foi a vez de “Rio, samba, amor e Tradição”,
último samba enredo composto pela dupla João
Nogueira/Paulo César Pinheiro, e a agremiação conheceu
seu primeiro rebaixamento.
Com um departamento de carnaval
formado pelos artistas plásticos Rosa Magalhães, Lícia
Lacerda, Paulino Espírito Santo, Edmundo Braga, Viriato
Ferreira, Maria Augusta e João Rosendo – que
trabalhou junto até 1988 – a escola teve uma
ascensão meteórica, passando do 4º Grupo para o
Especial em apenas três carnavais. O intérprete que
comandou o carro de som da Tradição nos cinco primeiros
anos de existência da escola foi Kandanda. Só a partir
do carnaval de 1990, é que a escola de Campinho formou
sua ala de compositores.
João Nogueira morreu no dia 5 de
junho de 2000, vitimado por um enfarte. Um ano antes,
havia se reconciliado com a Portela e voltou a desfilar
por sua escola de coração. Seu filho, o também cantor
e compositor Diogo Nogueira, conseguiu o que seu pai
nunca havia conseguido na ala de compositores da Portela:
emplacar um samba que foi cantado na Marquês de
Sapucaí. Diogo venceu as disputas em 2007, 2008 e 2009.
João Nogueira foi um dos mais
importantes compositores brasileiros, não só no mundo
do samba, mas da Música Popular Brasileira. Em mais de
quatro décadas de atividade, gravou 18 discos.
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Início: Começou em blocos
carnavalescos do Rio de Janeiro. Em 1971, ingressou na
ala de compositores da Portela. Em 1984, fundou a
Tradição. Retornou à Portela em 1999.
Discografia
oficial:
- João Nogueira (1972)
- E Lá Vou Eu (1974)
- Vem Quem Tem (1975)
- Espelho (1977)
- Vida Boêmia (1978)
- Clube do Samba (1979)
- Boca do Povo (1980)
- Wilson, Geraldo, Noel (1981)
- O Homem dos Quarenta (1982)
- Bem Transado (1983)
- Pelas Terras do Pau-Brasil (1984, consta Xingu)
- De Amor é Bom (1985, consta Rei Sinhô, Rei Zumbi,
Rei Nagô)
- João Nogueira (1986, consta Sonhos de Natal)
- João (1988)
- Além do Espelho (1992)
- Parceria - João Nogueira & Paulo César Pinheiro -
Ao Vivo (1994, consta Rio, samba, amor e tradição)
- Chico Buarque, Letra & Música - João Nogueira e
Marinho Boffa (1996)
- João de Todos os Sambas (1998)
- Pirajá - Esquina Carioca – Uma noite com a raiz
do samba (1999)
Participações
em outros discos (cantando samba enredo):
- LP Sambas enredo Grupo 1-B 1986 (Top Tape) –
participa da faixa da Tradição.
- LP Sambas enredo Grupo Especial 1988
(Gravasamba/BMG-Ariola) – interpreta a faixa da
Tradição.
- LP Sambas enredo Grupo Especial 1989
(Gravasamba/BMG-Ariola) – participa da faixa da
Tradição. Pode ser ouvido no coral e nos cacos “Oh,
meu Rio!”
- LP O grande presidente (1989), dividido com Beth
Carvalho
Sambas de
sua autoria: “Xingu” (com Paulo César
Pinheiro, Tradição/1985); “Rei Sinhô, Rei Zumbi,
Rei Nagô” (com Paulo César Pinheiro,
Tradição/1986); “Sonhos de Natal” (com Paulo
César Pinheiro, Tradição/1987); “O melhor da
raça, o melhor do carnaval” (com Paulo César
Pinheiro, Tradição/1988) e “Rio, samba, amor e
tradição” (com Paulo César Pinheiro,
Tradição/1989).
Estandarte de Ouro: Melhor samba do Grupo 1-A em 1987 por “Sonhos de Natal” (com Paulo
César Pinheiro)
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