A especialidade de
Jair Rodrigues não era puxar sambas enredo na avenida. Mas este
paulista de Igarapava ajudou a divulgar e consagrar o gênero em
disco, nas rádios e internacionalmente.
Jair iniciou a
carreira em 1957, atuando como crooner em casas noturnas do interior de
São Paulo. Seus primeiros LPs foram lançados em 1964.
Nessa época, atingiu grande popularidade com sua
interpretação da música Deixa isso pra
lá (Alberto Paz e Edson Meneses), marcada pela
gesticulação que fazia com a palma da mão. Essa
canção foi considerada precursora do rap brasileiro por
seu refrão “falado”. Em 1965, substituiu Baden
Powell no show realizado no Teatro Paramount, em São Paulo. Foi
nesta ocasião que cantou pela primeira vez ao lado daquela que
seria sua parceira, a estreante Elis Regina, com quem lançou em
seguida o LP “Dois na bossa”, gravado ao vivo. Devido ao
enorme sucesso alcançado pelo disco, formou com a jovem cantora
a dupla Jair e Elis, no comando do programa "O fino da bossa",
produzido pela TV Record (SP), que teve estréia em maio de 1965.
Nesse ano, registrou um de seus grandes sucessos, Tristeza
(Niltinho e Haroldo Lobo). A música obteve grande destaque no
carnaval de 1966 na voz do cantor.
Numa época
em que as gravações dos discos de samba enredo estavam
incipientes, Jair Rodrigues ajudou a divulgar o estilo. Em 1969,
incluiu Bahia de todos os deuses (Salgueiro 1969) no disco
“Jair de todos os sambas”, onde cantava sambistas dos
morros cariocas até então pouco conhecidos como Martinho
da Vila, Zé Di e Oswaldo Nunes. Em 1970, apresentou-se ao lado
do conjunto Os Originais do Samba, em Cannes, na França. Sua
popularidade não se restringiu somente ao Brasil, tendo-se
apresentado com freqüência no exterior, em países
como Portugal, Alemanha, França, Suíça,
Itália, Estados Unidos e Japão. Em 1971, gravou o LP
“Festa para um rei negro”, contendo o samba-enredo
homônimo da Acadêmicos do Salgueiro, do compositor Zuzuca,
um de seus grandes sucessos e um dos mais conhecidos refrões da
história da música popular brasileira: “Ô
lê lê/ ô lá lá/ pega no ganzê/
pega no ganzá”. No ano seguinte, foi a vez de gravar Mangueira,
minha querida madrinha, novamente de autoria de Zuzuca e
também levado à avenida pelo Salgueiro. Em 1973, no LP
“Orgulho de um sambista”, Jair Rodrigues gravou o samba
“Lendas do Abaeté” (Jajá, Manoel e Preto
Rico), hino que levou a Mangueira ao campeonato daquele ano e
“Boi da cara preta”, mais um samba de Zuzuca –
eliminado na disputa do Salgueiro para o enredo “Eneida, amor e
fantasia” – e que emplacou nas paradas de sucesso de todo o
país graças a outro refrão forte, inspirado nas
cantigas infantis: “Boi, boi, boi/ Boi da cara preta/ Pega
essa criança/ Que tem medo de careta”.
Em 1974, Jair
Rodrigues gravou um compacto com os sambas de quatro escolas daquele
ano: Portela (“O mundo melhor de Pixinguinha”); Salgueiro
(“Rei de França na Ilha da
Assombração”); Mocidade (“Festa do
Divino”) e Império Serrano (“Dona Santa, rainha do
maracatu”).
No LP “Minha
hora e vez”, de 1976, gravou o samba enredo “Historia do
Brasil”, que a Nenê de Vila Matilde apresentaria em 1977.
Logo a seguir, em compacto, gravou “Poeta de Miraí”,
samba enredo que a Rosas de Ouro desfilou também naquele ano. Em
81, Jair lançou, também em compacto, o samba enredo da
Imperatriz Leopoldinense “O teu cabelo não nega (Só
dá Lalá)”, de Gibi, Serjão e Zé
Catimba.
A partir
daí, com o lançamento cada vez mais regular dos discos
orginais das escolas de samba, Jair Rodrigues foi deixando de lado a
gravação de sambas enredo, mas os grandes sucessos dos
carnavais ainda estão presentes em seus shows.
Jair Rodrigues reencontrou-se com o samba enredo no CD “500 anos
de folia - 100% ao vivo”, de 1999, ao gravar a faixa
homônima, ao estilo do gênero, e no ano seguinte, no
segundo volume de “500 anos de folia”, quando regravou
“Mangueira minha querida madrinha” e “Festa para um
rei negro”. Jair tem uma voz levemente rouca, porém bem
afinada e um jeito irriquieto de interpretar. Alguns bambas consideram
o puxador Quinho, um “legítimo seguidor do estilo Jair
Rodrigues”.
Jair Rodrigues faleceu no dia 8 de maio de
2014, em sua casa, em Cotia (Grande São Paulo). Tinha 75 anos e
trabalhou até o fim da vida, sempre com a agenda de shows lotada.
A discografia de Jair inclui 44 trabalhos. Os discos foram gravados
entre 1964 e 2014. Seus últimos trabalhos foram os dois volumes
do álbum "Sambo mesmo", em que homenageia gêneros como a
seresta e o samba.
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