Ivo
Meirelles reúne várias funções no ramo
musical: cantor, compositor, ritmista, produtor, comentarista, foi
diretor de bateria, presidente da escola de samba Estação
Primeira de Mangueira e, claro, também teve o gostinho de cantar
samba-enredo na verde e rosa em plena Marquês de Sapucaí e
sagrar-se campeão logo no primeiro ano que segurou um microfone
no carro de som no Sambódromo.
Ivo passeia com total desenvoltura por vários estilos musicais e
é conhecido pelas fusões rítmicas do samba com a
música pop, funk e soul. Mesmo sendo um músico talentoso,
também é uma figura controversa e polêmica no
carnaval.
Aos 11 anos, Ivo Meirelles desfilou pela primeira vez na Mangueira,
como ritmista. Mesmo tendo sido criado em família verde e rosa
com muito samba de morro (seu pai, Ivan, já falecido, era
compositor da escola, e sua mãe, Lorenilde – a Nanana
– cabrocha e primeira rainha de bateria do carnaval), o garoto
sempre escutou muita black music, de James Brown a Jorge Ben, tendo
inclusive trabalhado como DJ de festa black.
Seus pais se separaram quando era pequeno e ele foi criado pela
avó e pela tia. Sua mãe, passista de conjunto tipo
exportação, sempre viajou muito. Garoto ainda, juntou-se
aos amigos Dirclê, Robson, Alcir Explosão, Julio Cesar,
Elton e Julinho e formou um grupo que ficou conhecido como Os Meninos
da Mangueira. A eles, o jornalista Sergio Cabral dedicou um samba de
sucesso – gravado por Ataulfo Alves Jr em 1976. O grupo, no
entanto, não conseguiu gravar disco. “A gente fazia muita
bagunça na gravadora e os executivos não nos
aguentaram”, lembra Ivo. Mas os Meninos da Mangueira eram muito
requisitados para animar as chamadas “festas de rico”.
Aos 20 anos, Ivo já era diretor de bateria da Mangueira –
o mais jovem a ocupar este cargo. Logo em seguida, em 1983, deixou a
função para ingressar na ala dos compositores da escola.
Como teste, compôs um samba ao estilo antigo que muitos achavam
que fosse de autoria de seu pai. O samba, intitulado “Vou pra
ganhar” fazia menção aos dez anos de jejum sem
título da escola e trazia os versos “quero
reviver os velhos tempos / esse meu jejum vai acabar / não estou
aqui pra brincadeira / quero te dizer que sou Mangueira”. Os versos finais foram usados como alusivo na gravação do samba de 1986.
Já na ala de compositores, concorreu ao lado de Paulinho
Carvalho e Lula e sagrou-se campeão na disputa de samba-enredo
para o tema “Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira
têm”, hino que ajudou a embalar o campeonato de 1986. O
detalhe que, até este ano, Jamelão jamais havia gravado o
samba da Mangueira nos discos oficiais de carnaval, privilégio
sempre dado a um dos compositores da obra. Ivo fez
questão que o velho mestre registrasse a voz na
gravação de seu samba. A partir daí – e
até 2006 – Jamelão passou a cantar os sambas da
Manga nos discos e a Liesa também passou a exigir das escolas
que inscrevessem seus intérpretes oficiais a gravar os sambas
nos discos.
No “ano de Caymmi”, Ivo e Lula foram apoio de
Jamelão no desfile oficial, que aconteceu na noite de
segunda-feira de carnaval. O velho mestre havia desembarcado no Rio de
Janeiro no dia anterior, vindo de uma série de
apresentações no Hotel Hilton, em Nova Iorque,
interrompida justamente para ele vir ao Brasil desfilar na Mangueira.
Mesmo “virado” da viagem, o veterano cantor, na flor de
seus 73 anos, conduziu magistralmente o samba na avenida, sendo um dos
responsáveis pelo show que a Manga deu. A Lula coube ficar mais
na sustentação do canto enquanto Ivo ficava à
vontade para brincar com cacos de empolgação, chamadas e
até arriscar vocalises em falsete na hora do poderoso
refrão “tem xinxim e acarajé / tamborim e samba no pé”.
No Sábado das Campeãs, já sem Jamelão (que
havia retornado a Nova Iorque para seus compromissos profissionais),
Ivo e Lula dividiram a condução do desfile.
Tido como uma revelação na Mangueira e promessa de
renovação na ala dos compositores, Ivo enveredou por
outros caminhos rítmicos com influência do pop. Depois do
titulo de 1986, começou a gravar discos, virou parceiro musical
de Lobão e de Fernanda Abreu. Em 1992 foi eleito vice-presidente
da Mangueira. No ano seguinte, participou da coletânea Escolas de
Samba, da Sony Music, no CD dedicado aos melhores sambas da Mangueira,
pondo voz em duas faixas: no samba de 1986 e em “As quatro
estações”, do carnaval de 1955, de autoria de
Nelson Sargento, Alfredo Português e Jamelão.
Em 1994, foi o autor do enredo “Atrás da verde e rosa
só não vai quem já morreu”, quando a
Mangueira homenageou os “doces bárbaros” Caetano
Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia. Em 1995 criou o
grupo de percussão Funk'n'Lata, que mistura elementos de samba,
soul, funk e samba-rock. A sonoridade do grupo não agradou
à Mangueira e Ivo acabou se afastando da escola. Com o
Funk’n’Lata, gravou dois discos e excursionou pela Europa.
Saiu da banda em 2001 para retomar a carreira solo e lança o
disco “Samba Soul”.
Entre 2000 e 2006, Ivo foi comentarista nas transmissões de
carnaval da Rede Globo e jurado do programa Fama, na mesma emissora. Em
seguida, o músico se tornou presidente de bateria da
Mangueira.
No carnaval de 2008, foi enredo da escola Unidos de Manguinhos, que
apresentou o tema: “A brasilidade rítmica de Ivo Meirelles
a encantar o samba de Manguinhos”.
Em maio de 2009, foi empossado presidente da Estação
Primeira de Mangueira, com o compromisso de manter a
tradição da escola, mas também de
modernizá-la. Em sua gestão na Manga, Ivo propôs
inovações, mas também angariou desafetos: criou a
bateria “Surdo Um”, responsável por paradinhas mais
longas; contratou os intérpretes Zé Paulo Sierra e Rixxa
(depois substituído por Ciganerey) para dividirem o microfone
com o titular Luizito, apelidando o trio de Os Três Tenores;
inovou no carnaval ao criar uma paradinha de bateria de mais de dois
minutos (2011), levou dois carros de som para a avenida (2012) e fez
com que a escola desfilasse com duas baterias (2013). Ivo renunciou
à presidência após o desfile de 2013, sendo
sucedido pelo deputado Chiquinho da Mangueira. Com a saída dele,
o nome Surdo Um deixa de ser usado pela bateria da
agremiação, que volta a adotar o slogan original
“Tem que respeitar meu tamborim”.
Após ter deixado a presidência da Mangueira, Ivo é
expulso do morro a mando do narcotráfico, se muda para
São Paulo e passa fazer muitos shows em teatros e casas
noturnas, além de ter um pouco mais de frequência em
aparições na televisão: participa da sexta
edição do reality show rural A Fazenda (2013), exibido
pela Rede Record, sendo o quinto eliminado da competição;
grava o especial Ensaio (2014) e o programa Provocações
(2015), ambos pela TV Cultura, e comenta o carnaval capixaba pela
Record News (2016).
O músico emprestou ainda sua expertise em conhecimento de
produção e estúdio produzindo os discos de
samba-enredo das escolas de samba da Série A do Rio de Janeiro
em 2009 e 2016.
Em 2017, disputou sambas-enredo nas escolas Acadêmicos do Grande
Rio e Mocidade Alegre (no ano anterior, havia participado da disputa da
União da Ilha), além de investir numa nova fusão
musical, mesclando o samba à música sertaneja. No final
do ano, Ivo Meirelles reencontra seu ex-grupo Funk’n’Lata e
lança o single “Mangueira”, com
participação de Seu Jorge. A intenção
é fazer gravações com nomes consagrados da MPB,
lançar as gravações na web como singles e, depois,
em 2018, reunir os fonogramas em um álbum intitulado #21.
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