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História & Samba

O ENREDO DESSA HISTÓRIA

28 de setembro de 2010, nº 1, ano I

Essa história começa quando um garoto sentado em frente a TV num carnaval no meio dos anos 90 teima em ir para a cama. Incrivelmente ele sabia de cor e salteado os sambas de enredo e o nome das Escolas de Samba que ele via naquele televisor. Ele aprendia sobre a União Ibérica com a Grande Rio muito antes que sequer saber o que era Espanha, o que era Portugal. Tudo estava na sua cabeça... “na era do Filipes o Brasil era espanhol...” (...) A minha trajetória profissional começava a se fundir com o meu grande amor, o carnaval.

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Eu sou a arte, e vim brilhar nessa história” 

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Passado alguns anos o meu gosto pela História, que fui apresentado pelo carnaval carioca, foi ficando cada vez maior. Então um belo dia resolvi cursar a graduação de História nas terras de Viradouro e Cubango, em Niterói. 

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Vou atravessar a Ponte, ver o sol dourar o horizonte” 

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E cruzar quase todos os dias a cidade de Vila Isabel até Niterói sempre me renderam muitos fones conectados ao ouvido a escutar tantos e tantos sambas... A História, entendida como disciplina, insistia em invadir a História do meu enredo. Afinal, tudo são histórias... 

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Sábio foi o historiador Marc Bloch que disse que a História é uma vasta experiência da diversidade humana, um longo encontro dos homens. Sábios também, foram os homens que experimentaram essa diversidade humana no caldeirão de uma Escola de samba. Fizeram um encontro que só comprova que a diversidade é o que faz o samba, que a diversidade é que faz o carnaval, que a diversidade é quem faz a História. 

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E nessa história, a História é enredo, parte integrante do carnaval, visão de mundo. Daí nesse desfile quem quer ser Maria Louca? Quem quer ser Zumbi? Quem quer ser Getúlio? Quem quer a fantasia do passado? Afinal, meu caro, ler História no livro didático é muito chato! É muito mais prazeroso ver a nossa história na marcação de um surdo e no requebrado de uma cabrocha. A História pelas mãos do carnaval ganha estilo, vida, cor, som, forma e sentimento. O tão criticado anacronismo dos acadêmicos da área vai para as ruas em forma de alegorias. Dom João montado em seu cavalo no carnaval é vizinho de concentração da estátua de Zumbi. Uma escola depois os franceses da primeira ala da escola tomam um cerveja com os portugueses de alas seguintes em pleno enredo sobre a vinda da corte real para o Rio de Janeiro. Acho que está aí o ponto chave de tal desprezo da maioria dos historiadores por essa história escrita pelo carnaval, escrita com esse “H” minúsculo. As coisas estão mudando, existem muitos competentes historiadores dentro de Escolas de samba dando norte e segurança para as viagens dos carnavalescos. Mas diria eu, é preciso viajar mesmo... na verdade toda e qualquer História a ser contada é uma reapropriação do que houve. Afinal, é aquela coisa, ninguém estava lá pra dizer se foi assim, ou se estava pode contar de seu modo. Então que deixem os enredos relerem a História de suas formas mais diversas, possíveis e carnavalizadas. Confete e serpentina no passado, pois o que passou no tempo, na avenida tornou-se eterno, tornou-se carnaval.

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