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Coluna do Marcelo Guireli

O DESFILE DE 1986

Após um carnaval de muitos atrasos, principalmente na segunda noite de desfiles, o Carnaval 86 correu dentro dos horários que haviam sido estabelecidos, o que causou uma polêmica, pois muitos críticos da imprensa especializada achavam muito estranho um desfile terminando com o dia apenas começando a amanhecer, como aconteceu no Desfile de Domingo. Todos nós estávamos acostumados com desfiles avançando pela manhã e, por vezes, até o início da tarde.  

Pela primeira vez, após a criação do Sambódromo, cadeiras de pista foram construídas na Praça da Apoteose, acabando com aquele tempinho a mais que os foliões tinham para brincar o carnaval. Falou mais alto o interesse econômico, o que é uma pena. A Praça da Apoteose, além de possibilitar aos sambistas mais tempo para curtir o samba, criava uma expectativa para sabermos como as escolas iam ocupar seus espaços. Era um prazer assistir as alas e carros chegando na Apoteose e formando um colorido especial. Sou de opinião que essas cadeiras sejam abandonadas no próximo desfile e que os ingressos dos setores 6 e 13 sejam distribuídos para as comunidades das escolas.  

Voltando ao Desfile de 86, quero deixar registrado que era grande a expectativa pelo primeiro carnaval após o término da Ditadura. O desfile teve início exatamente no horário marcado, às 20:30, e uma das novidades do regulamento foi a implantação do tempo mínimo, de 75 minutos. O tempo máximo para a apresentação de cada escola passou a ser de 90 minutos.   

UNIDOS DA PONTE – Pela terceira vez no grupo principal, a Ponte abriu o desfile das grandes escolas trazendo um enredo em homenagem a Herivelto Martins. “Tá na Hora do Samba que Fala mais Alto, que Fala Primeiro”, era o título do enredo desenvolvido pelos carnavalescos Orlando Pereira e Miltinho. Com aproximadamente 1800 componentes, a Ponte pisou na passarela chamando atenção pela beleza de sua ala de baianas, que vinha logo após o abre-alas, onde desfilou o homenageado. O branco e o prata foram predominantes em todo o desfile, principalmente no início. Mauro Rosas, destaque tradicional do Carnaval Carioca, esbanjou luxo no carro que representava o Teatro Municipal. O bom samba foi interpretado por Grilo que, além de puxador, era também um dos autores da obra. A bateria (foto acima) veio bem vestida e mais uma vez deu seu recado com competência. Apesar da simplicidade apresentada e da dificuldade que alguns carros enfrentaram para entrar na pista, a Unidos da Ponte abriu o desfile de forma correta e simpática. 

ESTÁCIO DE SÁ – Com o enredo “Prata da Noite”, homenagem a Grande Otelo, a tradicional escola do Morro de São Carlos abriu seu desfile de forma emocionante. A fotografia de seu ex-presidente Antonio Gentil, assassinado no final do ano anterior, veio cercada por bandeiras de várias escolas. Em seguida, vinha o abre-alas, trazendo os elementos mais usados por Otelo em seus shows, tais como bengalas, luvas e chapéus. Com um samba empolgante, não tão bom quanto o de 85, mas que foi bem cantado pelo Dominguinhos e pelos animados componentes, a Estácio conseguiu fazer uma apresentação bem melhor que a do ano anterior. Além do vermelho e do branco tradicionais, a escola usou várias cores, com destaque para o verde, bem adequado ao setor que lembrou o filme Macunaíma. Aliás, um dos carros de maior sucesso foi exatamente o que representava a floresta encantada de Macunaíma, onde mulatas banhavam-se numa cascata. No enredo, que foi muito bem desenvolvido, não faltou a citação a Uberlândia, terra natal de Grande Otelo. Foi um bom desfile da Estácio, que a cada ano vinha mostrando mais qualidade em suas apresentações. 

MOCIDADE INDEPENDENTE – Os carnavalescos Edmundo Braga e Paulino Espírito Santo queriam que a escola entrasse exatamente à meia-noite, pois isso daria mais realidade ao enredo “Bruxarias e Histórias do Arco da Velha”, mas, como o desfile estava rigorosamente dentro do horário, a campeã de 85 iniciou sua apresentação às 23:30, trazendo 4500 componentes, divididos em enormes 24 alas. Foi um carnaval muito luxuoso e de bom gosto indiscutível, mas a Mocidade foi prejudicada pelo sistema de som, que por vezes falhou durante sua apresentação. Além disso, o samba não era dos melhores e não conseguiu empolgar. Apesar de toda a beleza apresentada, o impacto do ano anterior não se repetiu. Em termos plásticos, destaco a regularidade das fantasias e o bom gosto na divisão cromática que apresentou um “mar” de plumas em tons de verde, misturadas ao branco, prata e dourado. Destaco ainda o bom acabamento das alegorias e a beleza do carro em que vinha Beth Andrade, que trazia serpentes espelhadas.  

IMPÉRIO SERRANO – Com o enredo “Eu Quero”, de Renato Lage e sua esposa Lílian Rabello, o Império conseguiu levantar as arquibancadas e contagiar até os mais comportados assistentes. O belo samba, puxado por Quinzinho, tinha uma letra inteligente e, em conjunto com a grande bateria, proporcionou a escola um de seus melhores momentos na década de 80. Criticados no ano anterior, quando apresentaram alas multicoloridas, Renato e Lílian fizeram praticamente todo o carnaval nas cores da escola e as luzes e neons de 85 deram lugar a um desfile mais tradicional, porém bastante criativo. O carro que clamava por ar puro trazia árvores estilizadas e um pulmão à sua frente; já o setor que pedia por paz apresentou um carro que trazia um revolver que disparava delicadíssimas flores coloridas. Em seguida veio o carro da Paz Universal, que trazia cisnes brancos e corações prateados. As baianas vieram no final do desfile, também com adereços florais alusivos à paz. O desejo que todos nós temos de ver um país e um mundo melhor possibilitou momentos de bom humor, principalmente quando passou diante de nossos olhos o carro que tratava dos crimes de colarinho branco. O pecado da escola foi ter cadenciado demais o início de sua apresentação. Com 4000 componentes, a evolução acabou ficando um pouco prejudicada no final do desfile, pois com mais de 60 minutos, dos 90 permitidos, a escola ainda ocupava toda a Sapucaí. 

VILA ISABEL – A Vila era uma das escolas mais aguardadas, graças à sua bela exibição no ano anterior e ao dinheiro que sabidamente estava sendo investido no barracão. Com o enredo ”De Alegria Cantei, de Alegria Pulei, de Três em Três Pelo Mundo Rodei”, de Max Lopes, a escola entrou na pista com muito luxo e beleza. O enredo era um passeio por vários países e lugares cantados em nossas marchinhas de carnaval. O tema de Max Lopes começou em Portugal, país que foi simbolizado por uma nau, trazendo Roberto Leal como destaque. A seguir, o enredo visitou a Holanda, a África e a Arábia, entre inúmeros outros lugares. A Vila ia encantando pela exuberante beleza, já que seu samba deixava a desejar em relação aos apresentados nos anos anteriores, quando um enorme problema aconteceu: o carro que representava a França quebrou ainda na concentração, impedindo a passagem das alas e carros que vinham a seguir. Um gigantesco buraco se formou até a altura do setor 5, quando as baianas finalmente conseguiram entrar para tentar seguir o final do desfile. Foi uma comoção, pois as baianas passavam chorando e tentando ocupar os espaços, rodopiando quando e como podiam. Faltou comunicação na equipe de Harmonia dirigida pelo experiente Laíla, pois quando o carro quebrou, a escola continuou seguindo em frente e até com certa rapidez. Como se isso não bastasse, o público insistia em cantar o palavrão sugerido no trocadilho de gosto duvidoso nos versos finais do samba. Mesmo com toda a beleza de figurinos, carros e tripés, não houve como conseguir uma boa colocação. Por pouco, a escola não foi rebaixada. 

CAPRICHOSOS – Com o enredo “Brasil com Z não Seremos Jamais, ou Seremos?”, de autoria do carnavalesco Luiz Fernando Reis, a escola de Pilares foi alvo de crítica de representantes políticos dos EUA, que não aceitavam que um país considerado amigo tecesse críticas tão ácidas aos modismos e influências vindas das terras do Tio Sam. O samba marcheado tinha uma letra bastante crítica e chegou a fazer sucesso na fase pré-carnavalesca. No enredo de Luiz Fernando, os personagens de Maurício de Souza expulsavam as criações de Disney. Isso era mostrado logo no segundo carro, que era grande e muito colorido. Aliás, as cores predominantes nesse ano, eram as cores da bandeira nacional, misturadas às cores da bandeira americana e todo esse colorido acabou não funcionando bem na avenida. Para esse desfile, o carnavalesco criou um personagem que passeava por todo o enredo: o Canariquito, que em uma das alegorias estrangulava a águia americana. Com pouco mais de 4000 componentes a Caprichosos passou sem a mesma alegria e espontaneidade do ano anterior. Acho que a crítica muito agressiva e, diga-se de passagem, muito corajosa, acabou pesando o desfile. 

PORTELA – Passava das 5 horas da manhã quando a águia da Portela apareceu na cabeceira da pista. Dessa vez, a águia vinha toda em branco e não fazia nenhum movimento. À frente estava a velha-guarda, saudando o público na tradicional comissão de frente. Com o enredo ”Morfeu no Carnaval, a Utopia Brasileira”, do carnavalesco Alexandre Louzada, a Portela fez um desfile luxuoso, com fantasias que traziam grandes esplendores e tinham um belíssimo efeito. A bateria de Mestre Marçal imprimiu um andamento maravilhoso ao samba da escola e com suas marcações muito precisas acabou conquistando o Estandarte de Ouro. No enredo que falava dos sonhos impossíveis, houve espaço também para os pesadelos, que eram representados por alas vestidas de azul e roxo, uma verdadeira festa para os olhos. A última alegoria trazia várias águias prateadas e um riquíssimo destaque. Ao final do desfile, já com o dia clareando, o público desceu das arquibancadas e seguiu a escola até a Apoteose. Na minha opinião, a Portela foi a melhor de Domingo, seguida de perto pelo Império Serrano.  

UNIDOS DA TIJUCA – Muita polêmica envolveu a Unidos da Tijuca na fase pré-carnavalesca. Segundo a imprensa especializada e boa parte de sambistas tradicionais, o enredo “Cama, Mesa e Banho de Gato”, de Wany Araújo, apelava excessivamente para o pornográfico. A escola abriu o Desfile de Segunda com seu pavão tradicional no abre-alas. Um bonito carro que não refletia a maior parte da concepção visual que viria a seguir, pois a escola fez um desfile de altos e baixos e nem de longe lembrou o belo carnaval apresentado em 85, quando ganhou o direito de desfilar entre as Grandes. Com 1800 componentes, a escola fez um desfile arrastado. Para se ter uma idéia, a comissão de frente cruzou a linha final da avenida com mais de 60 minutos. Com um samba que atendia ao gosto duvidoso do enredo e um desenvolvimento de carnaval bastante irregular, agravado pela quebra do carro “Motel dos Prazeres”, a escola não conseguiu empolgar nem seus próprios componentes, que pareciam estar em número reduzido às 1800 pessoas anunciadas.  

BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS – Uma grande queima de fogos, acompanhada por centenas de bolas de gás, chamou a atenção de todos que assistiam o início do desfile da escola. Poucas vezes vi uma entrada de tamanho impacto. Ao longe, raios e trovões começavam a preocupar. Não demorou muito e grossos pingos começaram a cair na área de concentração. Com menos de 10 minutos de desfile, o aguaceiro despencou. Uma chuva fortíssima, acompanhada de um ventinho chato, ia prejudicando lentamente o efeito visual de plumas e o couro dos instrumentos da bateria. A Beija-flor, no entanto, seguia em frente com uma garra surpreendente. O samba pouco inspirado cresceu bastante, pois era cantado com muito vigor. Na primeira parte do enredo “O mundo é uma Bola”, de Joãosinho Trinta, a história do futebol foi contada e, é claro que Joãosinho soltou a imaginação e foi buscar a origem da bola e do futebol em civilizações milenares. Essa primeira parte era mais luxuosa e as cores predominantes eram o azul (em vários tons), o branco e o dourado. Quando o enredo chegou ao Brasil, as fantasias ficaram mais leves e foi apresentado o carro “Bumba Meu Boi”: “a bola vem do couro do boi”, explicava o carnavalesco. Foi muito interessante a interpretação dada pelo João aos times cariocas. Nesse setor, destaco o carro do América, que era representado pelo inferno, com direito a belas diabinhas. Na metade do desfile, a pista já tinha se transformado num verdadeiro rio, com pontos de alagamento de quase 20 centímetros. As baianas, coitadas, tinham que desviar das poças que se formaram no setor de recuo da bateria e evoluir como podiam. No final do desfile, uma certeza: a Beija-flor acabara de fazer uma apresentação histórica e de uma qualidade que lhe permitia sonhar com o campeonato.  

UNIÃO DA ILHA – Se a Beija-flor fora prejudicada pela chuva, imaginem a situação da União da Ilha se arrumando na concentração. É inacreditável, mas a escola pisou na pista como se nada tivesse acontecido, pois até mesmo as fantasias pareciam intactas. Alguns carros sofreram prejuízos, mas os problemas foram solucionados a tempo. A escola, no entanto, teve problemas com sua comissão de frente, que precisou ser substituída pela velha-guarda. A Ilha apresentou o enredo “Assombrações”, de Arlindo Rodrigues e, para sua sorte, a chuva diminuiu bastante logo no início de seu desfile. Com 3500 componentes embalados por uma bateria impecável, a Ilha fez um de seus melhores desfiles. Desde o pavor que tomou conta dos índios ao verem as caravelas portuguesas se aproximando da costa, até o medo causado pela mordida do leão do Imposto de Renda, nenhuma assombração faltou no enredo do genial Arlindo. As fantasias eram lindíssimas e, pelo menos boa parte delas, traziam as cores da Ilha. A carruagem de Nhá Jança era um dos carros mais bonitos. Era dourada e trazia caveiras e bruxas sobre ela. A bateria de Mestre Paulão, que eu já elogiei, trazia uns tocadores de prato que davam um colorido especial ao refrão. Era impossível ficar parado. A escola levantou o público, que gritava “já ganhou, já ganhou!”. Dos desfiles da União da Ilha realizados no Sambódromo, não teria a menor dificuldade de apontar o de 1986 como o melhor deles. Ela foi perfeita plasticamente e teve uma evolução vibrante e homogênea. 

IMPÉRIO DA TIJUCA – Com o enredo “Tijuca, Cantos, Recantos e Encantos”, do carnavalesco José Félix, a escola entrou na pista com a responsabilidade aumentada pelas excelentes exibições de Beija-flor e União da Ilha. Na minha opinião, o samba de Pedrinho da Flor, Baster, Belandi, Marinho da Muda, era o melhor do ano, principalmente pelos belos versos que retratavam o verde da Floresta da Tijuca. Desde as moças vestidas de índias, que abriam o desfile na comissão de frente, passando pelos carros em homenagem a Estácio de Sá, Floresta da Tijuca e Vista Chinesa, a escola apresentou um visual bastante simples, porém de bom gosto. José Félix soube trabalhar bem os materiais e jogar bem com o verde e o branco predominantes, além de ter retratado bem a história do bairro. Os quase 2000 componentes passaram corretamente e o desfile deu a todos a certeza de que o Império da Tijuca continuaria no Grupo 1-A.   

ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA – Ainda magoados com a péssima colocação no ano anterior, uma regra estabelecida pelos diretores da escola era que nenhuma ala podia ter mais de 100 componentes. Júlio Matos, sujeito simples que desde a década de 50 prestava sua colaboração ao Carnaval Carioca, foi o carnavalesco responsável pelo enredo “Caymmi, Mostra ao Mundo o que a Bahia e a Mangueira Têm”. Com 4000 componentes divididos em mais de 60 alas, a escola apresentou um visual bastante simples, porém de belo efeito. A comissão de frente trouxe a Lavagem do Bonfim e o abre-alas, o símbolo da escola. Lilico e Mocinha defenderam o pavilhão verde e rosa, dessa vez com fantasias douradas, de muito bom gosto. O samba que já se anunciava como uma das sensações daquele carnaval caiu no gosto dos componentes e do público. No momento do refrão o entusiasmo dos mangueirenses era fantástico e até os mais tímidos passavam requebrando ao som da bateria, que esteve perfeita. A Bahia cantada pelo homenageado foi lembrada em vários de seus aspectos. Não faltaram carros e fantasias referentes à religiosidade, aos pratos típicos, ao mar e nem à Carmem Miranda, personagem do último carro. Mesmo abrindo alguns pequenos claros na Praça da Apoteose, a evolução da Mangueira foi uma das mais entusiasmadas e vibrantes que eu já assisti. 

ACADÊMICOS DO SALGUEIRO – Após onze anos sem vitórias, o Salgueiro resolveu relembrar seus grandes momentos através de uma homenagem a um dos seus maiores nomes: Fernando Pamplona. Com o enredo “Tem que Tirar da Cabeça o que o Bolso não Dá – Tributo a Fernando Pamplona”, desenvolvido pelo carnavalesco Ney Ayan, a escola relembrou os doze carnavais feitos por Pamplona no Salgueiro: Quilombo dos Palmares (1960); Vida e Obra de Aleijadinho (1961); Chico Rei (1964); História do Carnaval Carioca (1965); História da Liberdade no Brasil (1967); Dona Beija, Feiticeira de Araxá (1968); Bahia de Todos os Deuses (1969); Praça Onze, Carioca da Gema (1970); Festa Para Um Rei Negro (1971); Nossa Madrinha, Mangueira Querida (1972); Do Cauim ao Efó, Moça Branca, Branquinha (1977) e Do Yorubá à Luz, a Aurora dos Deuses (1978). A comissão de frente veio formada pelos amigos de Fernando Pamplona, entre eles: Albino Pinheiro, Arlindo Rodrigues e Maria Augusta. Com o apoio de Miro Garcia, o Salgueiro conseguiu fazer um carnaval muito bonito, com muitas alegorias (todas de bom gosto) e fantasias de belo efeito. O bonito samba é que não conseguiu empolgar, apesar da boa atuação do intérprete Rico Medeiros e da boa afinação da bateria.  

UNIDOS DO CABUÇU – Com o enredo: “Deu a Louca na História! E Agora, Stanislaw, Como é Que Fica?”, que marcou a estréia de Ilvamar Magalhães como carnavalesco, a escola fez uma brincadeira bem humorada com a história do Brasil. A Cabuçu entrou após as 5 horas da manhã e isso, para uma escola pouco acostumada ao Grupo Principal, não é muito bom. O samba, apesar de alegre, não foi bem cantado e a escola fez um desfile apenas para cumprir sua missão de permanecer no grupo. A comissão de frente, vestida de jacaré, estava criativa. 

IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE – “Um Jeito pra Ninguém Botar Defeito – Agüenta Coração”, esse foi o enredo desenvolvido pelo carnavalesco Fernando Alvares. A escola entrou na pista com o dia claro, mas completamente nublado. Muitas bandeiras em verde e amarelo coloriram a primeira parte do desfile. A comissão de frente veio mais uma vez formada pelos elegantes homens oriundos do Cacique de Ramos e por jogadores de futebol. Era há alguns anos uma garantia de nota máxima para a Imperatriz. As baianas vestidas de branco e tons de verde foram o ponto alto da apresentação da escola, que apesar da empolgação dos componentes, não fez um bom desfile, pois em vários momentos pecou em evolução e harmonia, além da combinação de cores e materiais não ter sido das melhores. Bom mesmo foi o “arrastão da alegria” que a escola trouxe no final de sua apresentação. 

Após o término dos desfiles a expectativa era grande para sabermos quem seria a campeã. Na minha opinião, cinco escolas tinham chances: Império Serrano, Portela, Beija-flor, União da Ilha e Mangueira. Pela avaliação do Júri da Globo, a Beija-flor seria a campeã e até com uma boa vantagem em relação às demais, já que a escola conquistou 100 pontos (contagem máxima). Quando os envelopes foram abertos no Maracanãzinho, Mangueira e Beija-flor pularam na frente, sempre seguidas de perto pelo Império Serrano. A medida em que a Portela ia se afastando da possibilidade do título aconteceu uma coisa muito bonita. Alguns de seus torcedores passaram a aplaudir todas as notas 10 que a Mangueira recebia, resultando num belo momento de união entre as torcidas das duas escolas de samba mais tradicionais do Rio de Janeiro. O resultado oficial foi o seguinte: 

1º Mangueira – 214 pontos

2º Beija-flor - 211

3º Império Serrano - 209

4º Portela - 207

5º União da Ilha - 207

6º Salgueiro - 205

7º Mocidade - 201

8º Imperatriz - 197

9º Caprichosos - 192

10º Estácio de Sá - 187

11º Vila Isabel – 186

12º Império da Tijuca – 176

13º Unidos do Cabuçu – 172

14º Ponte – 170

15º Unidos da Tijuca – 169 

Para muitos esse resultado é questionável até hoje, mas vale lembrar que Desfile de Escola de Samba não é somente luxo e a Mangueira, além de uma beleza simples e irresistível, fez um carnaval com muito samba no pé. 

Antes de encerrar meus comentários, gostaria de agradecer ao Marco, pela oportunidade que está me dando para que eu possa expor minhas idéias. Gostaria também de deixar claro que a minha intenção não é mostrar conhecimento e sim contribuir para que a história e as estórias dos desfiles não caiam no esquecimento.

Marcelo Guireli

marguireli@uol.com.br

 

NOTAS DE 1986

por Denise

 

Tendo em vista que vi o desfile pelo vídeo, não vou analisar os quesitos EVOLUÇÃO, HARMONIA E BATERIA. Os quesitos MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA e COMISSÃO DE FRENTE somente vou julgar a fantasia e o seu contexto com o enredo. O quesito SAMBA-ENREDO será julgado pela gravação do LP. O quesito ENREDO será julgado pela representatividade no desfile.


1º) UNIDOS DA PONTE
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 6
FANTASIA: 6
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 8
COMISSÃO DE FRENTE: 7
CONJUNTO: 6
ENREDO: 7

2º) ESTÁCIO DE SÁ
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 8
FANTASIA: 8
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 9
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 8
ENREDO: 8

3º) MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 10
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 9
ENREDO: 9

4º) IMPÉRIO SERRANO
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 9
FANTASIA: 9
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 9
ENREDO: 10

5º) UNIDOS DE VILA ISABEL
SAMBA-ENREDO: 8
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 10
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 9
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 8
ENREDO: 9

6º) CAPRICHOSOS DE PILARES
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 8
FANTASIA: 8
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 9
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 8
ENREDO: 10

7º) PORTELA
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADREÇOS: 9
FANTASIA: 9
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSAO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 9
ENREDO: 9

8º) UNIDOS DA TIJUCA
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 8
FANTASIA: 8
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 9
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 8
ENREDO: 9

9º) BEIJA-FLOR
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 10
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 10
ENREDO: 10

10º) UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR
SAMBA-ENREDO: 8
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 10
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 10
CONJUNTO: 9
ENREDO: 9

11º) IMPÉRIO DA TIJUCA
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 8
FANTASIA: 8
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 9
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 8
ENREDO: 9

12º) ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 9
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 10
ENREDO: 10

13º) ACADÊMICOS DO SALGUEIRO
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 9
FANTASIA: 9
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 9
ENREDO: 10

14º) UNIDOS DO CABUÇU
SAMBA-ENREDO: 7
ALEGORIA E ADEREÇOS: 7
FANTASIA: 7
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 8
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 8
ENREDO: 7

15º) IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE
SAMBA-ENREDO: 8
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 7
FANTASIA: 8
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 8
ENREDO: 8