Flavinho Machado forma, juntamente com
Heraldo Faria, – seu parceiro de décadas – uma
das mais férteis duplas de compositores de samba enredo
do carnaval do Rio de Janeiro e de Niterói. Flavinho é
o porta-voz da dupla, ao registrar em discos os sambas
compostos. O ano de 2009 ficará marcado para eles por um
feito poucas vezes repetido: os dois compositores serão
responsáveis pela autoria de sambas em duas escolas
consideradas rivais em duas categorias diferentes: a
Unidos do Viradouro (Grupo Especial) e Acadêmicos do
Cubango (Grupo B ou Grupo RJ1).
A principal característica dos
sambas de Flavinho e Heraldo, além de serem vibrantes e
de fácil comunicação com o público, são os refrões,
geralmente fazendo alusão a saudação a orixás e
divindades das religiões afro. Esta peculiaridade está
presente em 90% das obras compostas por ambos. Como
intérprete, Flavinho Machado (cujo timbre de voz lembra
muito o do sambista Arlindo Cruz), gravou os sambas da
Cubango em disco e comandou o carro de som da escola nos
anos 70 e 80, nos desfiles da Amaral Ferrador.
A gênese do trabalho dos dois
compositores remete à escola de samba Acadêmicos do
Cubango, na época em que a agremiação desfilava em
Niterói. Em 1974, Flavinho já colocava voz no samba
“Festas tradicionais fluminenses” (de autoria
de Wilson Duarte), no primeiro LP oficial de sambas
enredos editado na Cidade Jóia. O disco seguinte, só
seria lançado em 1979. A verde e branco do Morro do
Abacaxi novamente trazia a voz de Flavinho Machado no
antológico “Afoxé” (Heraldo Faria e João
Belém), que deu à escola o campeonato daquele ano.
Em 1980, a parceria Flavinho e
Heraldo é oficialmente firmada, com o belíssimo “Mundo
mágico”. No ano seguinte, novo petardo, com “Fruto
do amor proibido”. Em 1982, a dupla resolve partir
para novos desafios. Flavinho e Heraldo deixam Niterói
de lado e arriscam inscrever um samba na Estação
Primeira de Mangueira para um enredo “As mil e uma
noites cariocas”, elaborado por Fernando Pinto.
Surpreendendo a maioria da nação mangueirense e
superando diversos compositores tradicionais da verde e
rosa, Flavinho e Heraldo (junto com o baluarte Tolito)
vencem a disputa. Em 1983, emplacam o bicampeonato, com
“Verde que te quero rosa... semente viva do samba”.
Este samba, aliás, foi inspiração para a trilha da
cobertura da transmissão do carnaval da Rede Globo, em
1987, na era pré-Globeleza.
Para 1984, ano em que a Mangueira
homenageara o compositor Braguinha, Flavinho Machado e
Heraldo Faria estavam dispostos a um tricampeonato.
Chegaram a ir até a final, mas foram derrotados pelo
samba de Hélio Turco, Jurandir, Comprido, Jajá e Arroz.
No ano seguinte, os compositores retornam a Niterói e
ajudam a Cubango a vencer o carnaval com “Porque
Oxalá usa Ekodidé”.
Após 27 anos de fundação e uma
vitoriosa carreira de 15 títulos de campeã da cidade de
Niterói (cinco dos quais obtidos consecutivamente), a
Acadêmicos do Cubango pediu filiação à Associação
das Escolas de Samba, para desfilar na cidade do Rio de
Janeiro. Em 1986 atravessa a Baía de Guanabara sendo
então avaliada (não concorreu, desfilou como
hors-concurs) e aprovada por suas co-irmãs do Rio de
Janeiro. No ano seguinte, foi vice-campeã no Grupo 4. Em
1988, Flavinho Machado e Heraldo Farias novamente
compõem o hino da Cubango. “Ave Bahia, cheia de
graça” é uma pequena obra-prima, que dá à escola
apenas o 4º lugar no Grupo 3, resultado que foi bastante
contestado na época.
A partir de 1987, a Unidos de
Viradouro, também várias vezes campeã na cidade de
Niterói, começou a participar do concurso carioca.
Flavinho Machado e Heraldo Faria, consagrados na co-irmã
Cubango, decidem passar a concorrer também na Viradouro.
Em 1992, já no Grupo Especial, a escola apresenta o
enredo “E a magia da sorte chegou”, que falava
sobre os ciganos. Um fato marcante aconteceu no desfile:
o carro alegórico que representava a Rússia, o
preferido do carnavalesco da época, o Max Lopes, pegou
fogo e a escola acabou perdendo 13 pontos por ter
ultrapassado o tempo máximo permitido pelo regulamento
em 13 minutos. Mesmo assim, a Viradouro ficou em 9º
lugar, bem longe do rebaixamento. O samba, de autoria da
dupla, conquistou o Estandarte de Ouro, promovido pelo
júri do jornal O Globo. Flavinho e Heraldo também
compuseram os sambas da escola em 1993, 1996 e 1997,
sendo que este último serviu de trilha sonora para o
tão esperado e merecido título. O samba "Trevas!
Luz! A explosão do universo", causou impacto na
avenida porque tinha a famosa paradinha em ritmo de funk,
elaborada por Mestre Jorjão, na época diretor de
bateria da vermelho e branco do Barreto.
Em 2001, Flavinho Machado retorna
à Cubango, desta vez com novos parceiros e emplaca mais
um samba. Em 2003, defende na quadra da Portela a
composição que se tornaria vencedora para o enredo
sobre a Cinelândia. Em 2005, com o tema sobre o
candomblé, Flavinho e parceiros conquistam mais um
prêmio Estandarte de Ouro. A partir daí, seja com
Heraldo Faria, seja com outros parceiros, Flavinho
Machado passa a disputar na Viradouro, na Cubango e
também na Porto da Pedra. Em 2008, a escola mirim
Mangueira do Amanhã reedita “Verde que te quero
rosa... semente viva do samba”, o mesmo samba que a
Estação Primeira levou à Marquês de Sapucaí em 1983.
Em 2009, 12 anos após o único
título de campeã, Flavinho, Heraldo e parceiros vencem
a disputa na Viradouro, em um enredo sobre a Bahia. A
Cubango leva ao desfile do Grupo B, o samba “Afoxé”,
inédito na Sapucaí, mas responsável pelo campeonato de
1979, quando ainda desfilava em Niterói.
Faleceu em 9 de novembro de 2020.
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Início: Flavinho Machado
começou na Acadêmicos do Cubango nos anos 70.
1974 – Cubango (cantor principal)
1979 - Cubango (apoio de Elza Soares)
1980 e 1981 – Cubango (cantor principal)
1982 e 1983 – Mangueira (gravou o samba no disco)
1985 – Cubango
1988 – Cubango
GRITO
DE GUERRA: Alô, Cubango! Alegria, meu povo, alegria.
CACOS DE EMPOLGAÇÃO:
“vamos lá meu povo”; “tá
bonito”; “vamos, gente”; “muita
garra”; “firma, gente”; “beleza”;
“alô, bateria”.
SAMBAS DE SUA AUTORIA:
“Mundo mágico” (Cubango/1980, com
Heraldo Faria); “Fruto do amor proibido”
(Cubango/1981, com Heraldo Faria); “As mil e uma
noite cariocas” (Mangueira/1982, com Heraldo
Faria e Tolito); “Verde que te quero
rosa...semente viva do samba” (Mangueira/1983 e
Mangueira do Amanhã/2008, com Heraldo Faria e Geraldo
das Neves); “Porque Oxalá usa Ekodidé”
(Cubango/1985, com Heraldo Faria e Jair); “Ave
Bahia, cheia de graça” (Cubango/1988, com
Heraldo Faria); “E a magia da sorte chegou”
(Viradouro/1992, com Heraldo Faria e Gelson Rubinho); “Amor,
sublime amor” (Viradouro/1993, com Heraldo Faria
e Gelson Rubinho); “Aquarela do Brasil ano 2000”
(Viradouro/1996, com Heraldo Faria, Jorge Baiano e
Mocotó); “Trevas! Luz! A explosão do universo”
(Viradouro/1997, com Heraldo Faria, Dominguinhos do
Estácio e Mocotó); “A Cubango mostra a tua
raça, Niterói é teu berço, a cidade te abraça”
(Cubango/2001, com Rogerão, João Belém, Paulinho
Hadad, William, Juarez, Maurilinho); “O fruto da
África de todos os deuses no Brasil de fé.
Candomblé...” (Cubango/2005, com Rogerão,
Gilberth de Castro, Rubinho, Carlinhos da Penha e
Rafael); “Vira-Bahia, pura energia!”
(Viradouro/2009, com Heraldo Faria, Edu, Rafael e
Floriano Caranguejo).
PRÊMIOS: Estandartes de
Ouro: Melhor samba-enredo do Grupo Especial em 1992 e
Melhor samba-enredo do Grupo A em 2005. Flavinho Machado
também ganhou o Prêmio Sambanet de melhor samba do
Grupo A em 2005 e o Prêmio Sambario de melhor samba do Especial em 2009.
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