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Coluna do Fábio Fabato

Coluna do Fábio Fabato

COISAS MINHAS, COISAS NOSSAS...

Sou um pouco maluco em alguns momentos. Maluco no bom sentido. Fico a ver coisas, a sonhar com elas, achar que foram reais. No fundo aconteceram de verdade. Mas digo que são apenas visões para que não me chamem de maluco na pior das conotações. Visões que compartilhei e que compartilho comigo mesmo. E que mantenho quietas, mas sempre pulsantes, em um acervo pessoal de lembranças. O campeonato do Império Serrano em 2006, por exemplo, acredito que somente alguns poucos tenham visto. "Meninos, eu vi." E foi lindo. Singular. A realidade mágica que jamais esquecerei.

As cabrochas, as pastoras, as tias e os tios, a bateria, o pavilhão verde-pátria, que bonito ver toda uma gente voltar para casa enamorada de vitória e vitalidade. Os jornais estampavam, as televisões noticiavam, os carros paravam, a cidade explodia em versos, prosas e trovas. Título comemorado com jongo, mares e mares de flores para Iemanjá e com fluidos vindos lá de cima, enviados por ele, Silas, o eterno dos eternos.

Coisa pra lá de boa, sô. Nem sei como contar para vocês com precisão. Emoção é um bicho tão egoísta que vem por demais grandioso para ser sintetizado em palavras.Vai tentar casar letrinhas para falar exatamente o que o coração esperneia? Não dá! A tarefa aqui, portanto, é árdua. Afinal de contas, vi tudo isso quase sozinho. Algumas pessoas até estavam lá também. E comemoraram a vitória comigo...

Mas sou eu o dono da história. Aquele título ficou e fica a martelar é na minha cabeça. E me sinto impelido a tentar dividi-lo com vocês. Foi lindo ver a Serrinha ganhar de novo. Iluminada estava. E sorridente, cheia de nobreza e dignidade. Passou e levou o povo com ela. Trouxe a chuva para quem vinha depois, fez o sol em nossas vidas. E nem era a mais bonita. Não foi a mais organizada. Estava longe de ser a mais rica esteticamente falando.

Porém, a mais rica ela foi sim. Só que no tesouro interior, na verdade que emanou de suas ações. Terminou aclamada. Nem teve apuração na quarta de cinzas. Fecharam o congresso. Abriram-se as casas. Sacudiram a poeira. Deram o troféu para a escola ali na Apoteose mesmo. E eu vendo tudo aquilo, ó Deus! Que privilégio poder ter assistido àquelas cenas. Saíram todos cantando sem parar pelas ruas da senhora cidade, tomando de assalto a alegria que andava meio esquecida.

Eu morreria naquela hora. Nasceria também. Daria o beijo dos beijos ali. Descobriria o sabor de alguma primeira vez naquela atmosfera. Encontraria razões para viver toda uma eternidade. E encontrei. E senti. Senti as emoções uma completa existência em tão singelo instante. Não havia relógio, não havia tempo materialmente concretizado no dançar de ponteiros. Havia vida a ser vivida sem medidas.

A bateria, seus agogôs, seu batuque mágico arrastavam até os mais sisudos semblantes, e os transformavam em sorrisos pueris. Que samba! Que raiz! Que herança... O Império, definitivamente, é e foi tudo isso. Inimigos se abraçaram, as outras escolas entraram na roda de festa, naquele instante o mundo se fez apartidário, apolítico, sem religiões, com as diferenças convivendo em harmonia...

Aí, em um dado momento, me senti um pouco tonto. Sentei-me, esfreguei os olhos e uma outra imagem surgiu diante de mim. Estava lá o Império Serrano, lindo, terminando o seu desfile de 2006. A última alegoria passando diante do lugar em que me encontrava. A avenida extasiada.

Não, não foi delírio, não foi sonho, nem obra de um mix alcoólico próprio do carnaval. Era a mais pura verdade. Mas somente poucos viram. Estava meta, além do que a objetividade pode alcançar, implícita e faceira em cada sorriso, em cada componente que passava diante de mim. Os jurados, por exemplo, jamais iriam perceber esta história a que assisti, e que estava diluída no meio do desfile. Aliás, eu nem me lembro da presença do júri em momento algum daquele inesquecível título do Império Serrano.

Só sei que consegui ver e viver aquela vitória fabulosa. Eu e mais alguns "loucos". E aí fechei os olhos, liguei a visão do meu emocional e embarquei. Acabei por descobrir, de fato, quem foi a escola realmente vitoriosa em 2006. Ou, pelo menos, aquela que arrebatou o meu vagabundo coração folião.

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Com esta crônica em homenagem aos valores essenciais da maior de nossas festas populares, venho comemorar o aniversário do SAMBARIO. A importância deste acervo online e também pólo de discussões e profusão de boas idéias é difícil de ser explicada, assim como as emoções citadas no texto. O ideal é que mergulhemos neste vasto universo de conhecimento carnavalesco, e que vivamos as emoções de novas descobertas. Sempre.

Fábio Fabato
fabiofabato@yahoo.com.br