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ELZA SOARES

 ELZA SOARES

      

     

 

       

  Nome Completo: Elza da Conceição Soares

 

 

 

  Ano de nascimento: 1930



  
Ano de falecimento: 2022

     

                                                                     

   
Elza Soares foi uma das figuras mais extravagantes, talentosas e de um estilo único na música popular brasileira. Nasceu em uma família muito humilde, composta por dez irmãos, na favela da Moça Bonita, atualmente Vila Vintém, no bairro de Padre Miguel, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, e ainda pequena mudou-se para um cortiço no bairro da Água Santa, onde foi criada.

É considerado como marco inicial de sua carreira sua famosa participação, aos 21 anos, no concurso musical do programa radiofônico Calouros em Desfile, em meados de 1953, que era apresentado pelo compositor Ary Barroso, na Rádio Nacional.

Elza, confiante em seu talento para cantar, se inscreveu para o programa e foi recebida pelo auditório e por Ary Barroso com gargalhadas. A então menina usava um vestido da mãe, aproximadamente vinte quilos mais gorda, ajustado com vários alfinetes de fralda, fazendo um penteado de maria-chiquinha no cabelo. Quando Elza subiu ao palco, Ary tentou ridicularizá-la, perguntando-lhe:

- “De que planeta você veio, minha filha?”
E Elza rebateu:
- “Do mesmo planeta que o senhor, Seu Ary. Do planeta fome”.

Depois, Elza cantou “Lama”, de Paulo Marques e Aylce Chaves, e ganhou a nota máxima do programa. Ary, então, anunciou que, naquele exato momento, acabava de nascer uma estrela. Elza ganhou um pouco de dinheiro pela participação, e o utilizou para comprar os remédios de um de seus três filhos, que estava com pneumonia. Sua participação bem-sucedida no programa de Ary Barroso não se traduziu em oportunidades imediatas de trabalho, inicialmente. Elza passou a cantar no grupo musical de seu irmão Ino, em apresentações em festas, bailes, casamentos e eventos sociais em geral. Nem sempre ela se apresentava, pois alguns clubes não admitiam uma cantora negra no palco.

A mulata surgiu profissionalmente para a música em 1959. Por intermédio da cantora Sylvinha Telles apresentou Elza a seu marido, Aloysio de Oliveira, produtor da Odeon, que a convidou para um teste, a partir do qual ela foi contratada para o seu primeiro registro de uma grande gravadora: “Se Acaso Você Chegasse”, de autoria de Lupicínio Rodrigues, que obteve estrondoso sucesso nas rádios.

Dona de uma voz rouca e rítmica, aliada aos seus scats (uma técnica de canto criada por Louis Armstrong que consiste em cantar vocalizando sem palavras ou com palavras sem sentido e sílabas), deu uma forma inteiramente nova aos dois estilos de samba que se conhecia quando ela surgiu, o samba de raiz e a bossa nova, criando um estilo novo que chegou mesmo a ser chamado de “bossa negra” para implicar com a bossa “branca” feita pelos riquinhos da zona sul do Rio.

Elza experimentou emoções fortes em sua trajetória. Da miséria à riqueza, do assédio ao descaso da mídia, da paixão ao abandono. Ganhou fama, sucesso e dinheiro; obteve elogios de Louis Armstrong, e, em 1962, se casou com Garrincha, o mito do futebol brasileiro, com quem viveu uma intensa paixão. Suportou o alcoolismo do craque e foi condenada pela opinião pública, que julgava ter sido sua a culpa de Garrincha ter morrido pobre e desamparado.

Mesmo com tanta perseguição, no auge da carreira, nos anos 60, Elza Soares gravou e fez muito sucesso com discos clássicos como O Máximo em Samba (1967), Elza Soares & Wilson das Neves (1968), uma série de três álbuns com Miltinho (Elza, Miltinho e Samba), e, em 1972, convenceu a sua gravadora para dividir um LP com o então estreante sambista Roberto Ribeiro – Sangue, Suor e Raça.

A cantora foi pioneira, em 1969, ao aceitar o desafio de cantar samba-enredo de uma escola na avenida, quando a prática não era comum entre as mulheres. Com o enredo “Bahia de Todos os Deuses” (samba de Bala e Manuel Rosa), Elza Soares, já consagrada sambista, foi convidada pela Acadêmicos do Salgueiro para ser a primeira puxadora de sambas de uma escola do Rio de Janeiro. Além de Elza, o carro de som era formado por Noel Rosa de Oliveira e Carlinhos Pepé. Foi campeã na estreia e ajudou o Salgueiro a conquistar seu quarto título.

Logo depois, aproximou-se da Mocidade Independente de Padre Miguel, ao gravar, em compacto, “Rio Zé Pereira”, de Edu e Tião da Roça, samba que a mulata ajudou a defender na avenida no carnaval de 1973. No ano seguinte, estourou nas paradas de sucesso com “Salve a Mocidade”, de Luís Reis. A música fez parte da trilha sonora da novela O Rebu (1974).

Em Padre Miguel, bairro onde nascera, a sambista viveu a fase em que a Mocidade Independente começava a se modernizar, ao contratar o carnavalesco Arlindo Rodrigues. Elza fez dobradinha com o puxador Ney Vianna por quatro anos, ao cantar os sambas “Festa do Divino” (Campo Grande, Nezinho e Tatu, no carnaval de 1974), “O mundo fantástico do Uirapurú” (Campo Grande, Nezinho e Tatu, em 1975) e “Mãe Menininha do Gantois” (Djalma Crill e Toco, em 1976). Afastou-se da escola em 1977 e passou a animar festas e bailes de carnaval durante o período da folia.

Em 1979, teve uma experiência no carnaval de Niterói, ao cantar “Afoxé”, de Heraldo Faria e João Belém, pela Acadêmicos do Cubango. No mesmo ano, na Marquês de Sapucaí, cantou o samba “Das Trevas ao Sol, uma Odisseia dos Carajás”, de Leleco e Elinto Pires, pela Unidos de São Carlos (atual Estácio de Sá).

Elza Soares viveu a fase áurea de sua carreira gravando discos memoráveis na Odeon, entre 1959 e 1973. Logo em seguida, foi contratada pelo selo Tapecar onde também gravou bons trabalhos, entre 1974 e 1979. Depois disso, praticamente sumiu dos meios de comunicação e das paradas de sucesso. Nos anos 80, ficou sem emprego e chegou a pensar em desistir de cantar. Foi quando Caetano Veloso a convidou para gravar o samba-rap “Língua”, em seu disco Velô (1984), que Elza voltou a ser notada pela mídia.

A partir daí retornam os convites para gravações. Em 1985, foi convidada pela União da Ilha do Governador a defender o samba “Um enredo, um herói, uma canção”, de Aurinho da Ilha e Didi. A artista chegou a gravar o disco oficial, mas não cantou no sambódromo da Sapucaí. No mesmo ano, participou do disco O Rock Errou, do roqueiro Lobão, dividindo os vocais na faixa “A Voz da Razão” (Lobão e Bernardo Vilhena). Logo em seguida, Caetano e Lobão patrocinaram um disco coroando sua volta: Somos Todos Iguais, pela gravadora Som Livre.

Em 1986, perdeu o único filho que teve com Mané Garrincha – Garrinchinha – num acidente de carro, em 1986. Após mais essa tragédia, a cantora entrou em depressão e se afastou novamente da carreira artística. O trabalho musical foi retomado com a participação do CD Casa de Samba (1996), quando voltou a aparecer mais constantemente na mídia. Gravou novo álbum solo após nove anos, Trajetória (1997), conquistando o Prêmio Sharp de Melhor Cantora de Samba, e depois o independente Carioca da Gema Ao Vivo (1999).

Em 2000, ela voltou a defender um samba enredo na avenida. Vinte anos depois de “Afoxé”, Elza Soares retornou à Acadêmicos do Cubango, onde cantou “Por uma Independência de Fato”, de Altair, Celso Tropical, Pepe, Rolian do Cavaco e Willian. A mulata finalmente estreava em um carro de som na Marquês de Sapucaí.

Quem já viu a energia de Elza Soares no palco pode dizer sem exagero que ela não fica a dever, comparada às maiores divas da música popular do planeta. Nos anos 2000, recebeu o prêmio Melhor Cantora do Milênio pela BBC em Londres, passando a ser considerada “a voz do milênio”.

Mas não foi só de música que viveu Elza Soares. Amiga pessoal de Amácio Mazzaropi, ator e cineasta que foi um dos maiores nomes da comédia brasileira, ela chegou a participar de três de seus filmes entre os anos 1960 e 1970. O primeiro deles foi O Vendedor de Linguiça, de 1962. Elza aparece no final do filme, na cena em que canta “Não Ponha a Mão” (de Mult, Arnô Canegel e Bucy Moreira) durante uma festa de rua. A parceria foi retomada três anos depois, em O Puritano da Rua Augusta. No filme, Elza entoa “O Neguinho e a Senhorita” (Noel Rosa de Oliveria e Abelardo Silva), numa cena em que se apresenta em um nightclub. A terceira e última parceria foi em Um Caipira em Bariloche, de 1973. A participação de Elza se dá na abertura do filme, cantando “Rio, Carnaval dos Carnavais”, gravado no Cristo Redentor. O samba, de autoria de Padeirinho, Nílton Russo e Moacir, foi enredo da Estação Primeira de Mangueira no carnaval de 1972.

Elza também participou de filmes que não tiveram o envolvimento de Mazzaropi. Seu primeiro crédito no cinema foi em 1960, em Briga, Mulher e Samba. O filme gira em torno da indústria fonográfica, ao acompanhar um rapaz que sonha em se tornar compositor no Rio de Janeiro. Ela divide uma cena com o cantor e compositor Monsueto Menezes, cantando “Ziriguidum”, de autoria do sambista.

Ela também apareceu em A Morte em Três Tempos, dirigido por Fernando Coni Campos em 1964, que acompanha a investigação do assassinato de uma mulher. Mais recentemente, ela pôde ser vista nos filmes Chega de Saudade, de Laís Bodanzky, e em História Antes de Uma História, animação para a qual emprestou a voz.

A cantora foi enredo da Unidos do Cabuçu, pelo Grupo C (quarta divisão), no carnaval de 2012, com o samba “Cabuçu Dá a Elza na Avenida!”, de Sylvinho, Jefferson, Lair e Laércio. Em 2013, Elza Soares recebeu homenagem do Bola Preta de Sobradinho, tradicional agremiação do Distrito Federal, com o enredo “Elza Soares – Planeta Fome, Nasce uma Estrela!”.

A justa homenagem da escola do coração viria em 2020, sendo o tema da Mocidade Independente de Padre Miguel, no desfile “Elza Deusa Soares”.

A cantora morreu aos 91 anos, de causas naturais, em 20 de janeiro de 2022. Na mesma data do falecimento de Garrincha em 1983 e no dia de São Sebastião, representado no sincretismo religioso por Oxóssi, o orixá que rege a sua Mocidade.
 
Sua carreira de cantora teve início nos anos 50. Como intérprete de samba-enredo, começou na Acadêmicos do Salgueiro, em 1969
1969 – Acadêmicos do Salgueiro
1973 a 1976 – Mocidade Independente de Padre Miguel (com Tião da Roça e Ney Vianna)
1979 – Unidos de São Carlos
1979 – Acadêmicos do Cubango (desfile na Amaral Ferrador, em Niterói)
1985 – União da Ilha do Governador (gravou o samba no disco mas não cantou na avenida)
2000 – Acadêmicos do Cubango

GRITO DE GUERRA: Fala nação verde e branca... Niterói. Só vai dar Cubango! Olha eu aí! (em 2000).
 
CACOS DE EMPOLGAÇÃO: Não era muito afeita a cacos. Fazia a chamada com as primeiras palavras dos versos do samba. Quando entrava o refrão, falava “no gogó moçada”.

PREMIAÇÕES:

Título de doutora Honoris causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2019)

Estandarte de Ouro: 2020 (personalidade)
Troféu Sambario: 2020 (personalidade)

DISCOGRAFIA SOLO:

LP Se Acaso Você Chegasse (Odeon, 1960)
LP A Bossa Negra (Odeon, 1960)
LP O Samba é Elza Soares (Odeon, 1961)
LP Sambossa (Odeon, 1963)
LP Na Roda do Samba (Odeon, 1964)
LP Um Show de Elza (Odeon, 1965)
LP Com a Bola Branca (Odeon, 1966)
LP O Máximo em Samba (Odeon, 1967)
LP Elza, Miltinho e Samba (Odeon, 1967)
LP Elza Soares, Baterista: Wilson das Neves (Odeon, 1968)
LP Elza, Miltinho e Samba - vol. 2 (Odeon, 1968)
LP Elza, carnaval & Samba (Odeon, 1969)
LP Elza, Miltinho e Samba - vol. 3 (Odeon, 1969)
LP Samba & Mais Sambas (Odeon, 1970)
“Maschera negra / Che meraviglia” (compacto simples / lançado na Itália, 1970)
LP Elza Pede Passagem (Odeon, 1972)
LP Sangue, Suor e Raça (Odeon, 1972) - c/ Roberto Ribeiro
LP Elza Soares (Odeon, 1973)
LP Elza Soares (Tapecar, 1974)
LP Nos Braços do Samba (Tapecar, 1975)
LP Lição de Vida (Tapecar, 1976)
LP Pilão + Raça = Elza (Tapecar, 1977)
LP Senhora da Terra (CBS, 1979)
LP Elza Negra, Negra Elza (CBS, 1980)
“Som, amor trabalho e progresso / Senta a pua” (compacto simples / RGE, 1982)
“Alegria do povo / As baianas” (compacto simples / Recarey, 1985)
LP Somos Todos Iguais (Som Livre, 1985)
LP Voltei (RGE, 1988)
CD Trajetória (Universal Music, 1997)
CD Carioca da Gema - Ao vivo (1999)
CD Do Cóccix Até o Pescoço (Maianga, 2002)
CD Vivo Feliz (Tratore, 2003)
CD Beba-me - Ao vivo (Biscoito Fino, 2007)
CD A Mulher do Fim do Mundo (Circus, 2015)
CD Deus É Mulher (Deckdisc, 2018)
CD Planeta Fome (Deckdisc, 2019)

DISCOGRAFIA DE CARNAVAL:

LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1985 (faixa União da Ilha)
CD Sambas Enredo Grupo A 2000 (faixa Acadêmicos do Cubango)

 

Alguns sambas enredo gravados por Elza Soares:

 

“O Mundo Encantado de Monteiro Lobato” (LP O Máximo em Samba, 1967)
“Bahia de Todos os Deuses” (LP Elza, Carnaval e Samba, 1969)
“Heróis da Liberdade” (LP Elza, Carnaval e Samba, 1969, e LP Somos Todos Iguais, 1985)
“Lendas e Mistérios da Amazônia” (compacto, 1969)
“Lendas do Abaeté” (compacto, 1972)
“Rio Zé Pereira” (compacto, 1972)
“Rio Carnaval dos Carnavais” (LP Elza Pede Passagem, 1972)
“Mangueira em Tempo de Folclore” (compacto, 1973)
“Aquarela Brasileira” (LP Elza Soares, 1973)
“Festa do Divino” (compacto, 1974)
“Festa do Círio de Nazaré” (LP Elza Soares, 1974)
“Lendas e Festas das Yabás” (LP Nos Braços do Samba, 1975)
“Afoxé” (LP Senhora da Terra, 1979)

FILMOGRAFIA:

Briga, Mulher e Samba (1961, dir. Sanin Cherques)
O Vendedor de Linguiça (1962, dir. Amácio Mazzaropi)
A Morte em Três Tempos (1964, dir. Fernando Coni Campos)
O Puritano da Rua Augusta (1965, dir. Amácio Mazzaropi)
Um Caipira em Bariloche (1973, dir. Amácio Mazzaropi)
Chega de Saudade (2008, dir. Laís Bodanzky)
História Antes de Uma História (2012, dir. Wilson Lazaretti)

MAIS FOTOS DE ELZA SOARES


Elza no desfile da Mocidade de 2003 (E) e no início dos anos 70 (D)



No auge do casamento com Garrincha, nos anos 60


Em dueto com Jamelão


Capa do disco Elza Carnaval e Samba Vol 1 (1969). Na foto, a cantora veste a fantasia com a qual desfilou cantando no Salgueiro no carnaval do mesmo ano


Elza e Caetano Veloso na época da gravação do lançamento do disco Velô (1984) em que os dois cantam o samba-rap "Língua", que marcou a volta de Elza ao disco


Elza soltando a voz em 1965


Elza foi muito presente nos programas de auditórios de televisão na década de 70


Encontro entre Elza Soares e Louis Armstrong durante a Copa do Mundo no Chile em 1962


Elza puxando "Bahia de Todos os Deuses" no desfile do Salgueiro em 1969. Ao seu lado, o cantor e compositor Noel Rosa de Oliveira


Elza Soares ousou apadrinhar um jovem cantor de nome Roberto Ribeiro no início dos anos 70. Mesmo a contragosto da gravadora Odeon, ambos dividiram um disco em 1972


Além de Salgueiro, Mocidade e Cubango, Elza também cantou na avenida samba-enredo pela Unidos de São Carlos (hoje Estácio de Sá),em 1979


Elza, ao lado de sua mãe, na favela de Moça Bonita, Vila Vintém, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Foto provavelmente tirada nos anos 50. Acervo Globo


Elza cantando "O Neguinho e a Senhorita", durante o filme O Puritano da Rua Augusta (1965), dirigido por Amácio Mazzaropi


Elza, na abertura do filme Um Caipira em Bariloche (1973), com cenas gravadas no Cristo Redentor


Monsueto (de braços abertos e camisa listrada) e Elza Soares (no centro da imagem), em cena do filme Briga, Mulher e Samba (1961)


Lobão (à direita) também foi um dos responsáveis pela volta de Elza Soares às gravações


Elza puxando o samba "Mãe Menininha do Gantois" pela Mocidade Independente de Padre Miguel no carnaval de 1976


Essa nega tem poder. Elza recebendo justíssima homenagem na sua Mocidade no carnaval de 2020

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