DOM MARCOS
DOM MARCOS
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Nome completo: Marcos Antônio de Lima
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Ano de nascimento: 1956
Ano de falecimento: 2019
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Dom
Marcos foi um compositor e intérprete de sambas de enredo muito
famoso no Carnaval de São Paulo, sendo considerado uma de suas
maiores vozes.
Foi também o compositor de três sambas considerados
clássicos na história da folia paulistana: “Do
iorubá ao Reino de Oyó” (Cabeções de
Vila Prudente, 1981), “Catopês do milho verde. De escravo a
rei” (Colorado do Brás, 1988) e “Babalotim, a
história dos afoxés” (Leandro de Itaquera, 1989)
– este último, sem assinar.
Dom Marcos iniciou sua trajetória no samba paulistano na
Cabeções de Vila Prudente, no final dos anos 70. No
carnaval de 1980 foi o intérprete e autor do samba
“Crenças fantásticas”. No ano seguinte,
compôs para a verde e rosa da Vila Prudente aquela que é
considerada a sua obra-prima e um dos mais belos sambas-enredos da
história do carnaval de São Paulo, “Do
iorubá ao Reino de Oyó”. Esta pérola
carnavalesca foi (re)descoberta em todo o país ao ser regravada
pelo cantor Leandro Lehart no CD e DVD “Ensaio de Escola de
Samba”, lançado em 2010. A partir daí o samba tomou
proporções gigantescas e passou a ter status de cult,
passando a ser executado nas rodas de samba e em ensaios de escolas de
São Paulo e do Rio de Janeiro e conhecido até mesmo fora
do Brasil.
Há quem diga que o sucesso de “Do iorubá ao Reino
de Oyó”, 20 anos depois de ter passado na Avenida
Tiradentes, motivou o retorno da Cabeções de Vila
Prudente na segunda década do século 21. A
agremiação havia sido extinta logo após o carnaval
de 1982 devido à fusão com a Príncipe Negro para a
gerar a criação da União Independente de Vila
Prudente, que desfilou apenas em dois carnavais (1984 e 1985), com Dom
Marcos de intérprete. Devido ao resultado negativo, alguns
componentes antigos da escola Príncipe Negro deixam a
União e se instalam no bairro da Cidade Tiradentes, no extremo
leste da cidade de São Paulo, reorganizando a
agremiação com a denominação de
Príncipe Negro da Cidade Tiradentes. Em meados de 2013 para
2014, vários componentes da antiga Cabeções da
Vila Prudente se reuniram para retomam os trabalhos. A
agremiação retornou aos desfiles em 2016 no Grupo 4 da
UESP (sexta divisão do carnaval paulistano).
Em 1985 Dom Marcos foi parar na Colorado do Brás, escola por
onde ficou por três carnavais. Em 1988, uma nova obra-prima:
“Catopês do Milho Verde, de Escravo a Rei da Festa”
(em parceria com Roná Gonzaguinha, Edinho, Xixa e Minho e
reeditado pela própria escola em 2008), samba geralmente
incluído em qualquer antologia do gênero. No entanto,
aconteceu com a Colorado o mesmo fenômeno ocorrido sete anos
antes com a Cabeções: um samba lindíssimo que
não conseguiu segurar um desfile cheio de problemas, acarretando
na queda da escola do Especial para o Acesso.
No ano seguinte, Dom Marcos foi para a Rosas de Ouro. Venceu a disputa
de samba para o enredo que homenageava a companhia
cinematográfica Vera Cruz e passou a integrar o carro de som da
escola junto com Royce do Cavaco. Em meio a tudo isso, concorre na
então emergente Leandro de Itaquera e, mesmo sem assinar,
emplaca um terceiro samba épico, desta vez “Babalotim, a
história dos afoxés”. A disputa da Leandro em 1989
até hoje é envolta em mistérios. Oficialmente, o
samba é atribuído aos compositores Thiago Lee, Clarice,
Sandrinha e ao Grupo Relíquia, que defendeu a obra nas
eliminatórias. Consta que a diretoria da Leandro de Itaquera,
para se firmar no carnaval de São Paulo, resolveu investir forte
no desfile, contratando os compositores Dom Marcos e Ronald Elias
Balvetti, o Xixa, em função do sucesso dos
“Catopês” no ano anterior (mas com
discrição, já que os sambistas concorreram e
ganharam o samba no Rosas), a cantora Eliana de Lima para comandar o
canto da escola na avenida e o Mestre Lagrila, para dirigir a bateria,
ambos egressos da Unidos do Peruche. Mistérios e lendas à
parte, o fato é que “Babalotim” tornou a Leandro
fortalecida no carnaval, consagrou definitivamente Eliana de Lima como
intérprete e entrou no seleto rol dos sambas eternos. O samba
foi reeditado pela verde e branco de Itaquera em 2017.
Após isso, Dom Marcos teve uma boa passagem pela Nenê de
Vila Matilde, retornou por duas vezes à Rosas de Ouro,
Acadêmicos do Tatuapé, Unidos de São Lucas e firmou
morada na Mocidade Independente da Mooca a partir de 2009. Na MUM,
escola em que teve grande ligação nos últimos
anos, foi voz oficial de 2009 a 2015, presidente da ala e compositores
desde 2015 e um dos autores dos sambas de 2008, 2009, 2010, 2011, 2014,
2015, 2016, 2017, 2018, 2019 e 2020 (este último, in memoriam).
Entre as décadas de 80 e 90, onde conquistou prêmios e
amigos em praticamente todas as agremiações, Dom Marcos
se tornou referência na arte de cantar e compor samba-enredo.
Além de uma bela voz grave, se destacava pelo estilo alegre que
imprimia às interpretações, sem perder a
afinação.
Além das dezenas de sambas que fez para o carnaval, Dom Marcos
também compunha partido alto e sambas românticos. Sua
estreia solo aconteceu em 1985, quando gravou seu primeiro compacto
duplo, um mini vinil contendo quatro faixas, cujo carro-chefe era
“O sapato da nêga”, composição dele em
parceria com Joãozinho do Recife. A mesma música entrou
no pau-de-sebo “Pagode pra arrebentar a boca do
balão”, lançado no ano seguinte.
“Pau-de-sebo”, na gíria fonográfica, era a
designação que se dava aos elepês de
coletâneas que reuniam artistas consagrados e novos
intérpretes, dos quais os que tinham melhor
aceitação acabavam ganhando seus discos-solos. Em
função de seus trabalhos dedicados ao carnaval, o
álbum seguinte, “De bem com a vida”, com
músicas de meio de ano veio só na década de 90. O
título do disco, aliás, dá nome a um
samba-exaltação que Dom Marcos fez em parceria com
Polenghe do Cavaco e Walmir, mas não consta no referido
álbum.
Dom Marcos é pai dos também cantores e compositores Dom
Júnior e Thiago Lima. A Nenê de Vila Matilde planeja
reeditar no carnaval de 2022 o enredo “Narciso Negro”, que
foi ao Anhembi em 1997. O samba, que leva a assinatura de Dom Marcos
(que também foi o intérprete), Vado, Zé Carlos,
Mikal, Nilton da Flôr, Marco e Antonio, é considerado um
dos mais belos da história da “Águia
Guerreira”. Não deixa de ser também uma homenagem a
um dos mais importantes cantores compositores de samba-enredo de
São Paulo.
Dom Marcos faleceu em 15 de junho de 2019.
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INÍCIO: Escola de Samba Cabeções de Vila Prudente, no final da década de 70.
1980 a 1982 – Cabeções de Vila Prudente
1984 e 1985 – União Independente de Vila Prudente
1986 a 1988 – Colorado do Brás
1989 – Rosas de Ouro (em dueto com Royce do Cavaco)
1994 a 1997 – Nenê de Vila Matilde (intérprete principal)
1999 – Rosas de Ouro
2003 – Acadêmicos do Tatuapé (junto com André Ricardo, Dé e Luizinho)
2004 – Rosas de Ouro
2006 – Unidos de São Lucas
2008 a 2010 – Mocidade Unida da Mooca
2011 – Nenê de Vila Matilde (dueto com Royce do Cavaco)
2013 – Mocidade Unida da Mooca (apoio de Bruno Ribas)
2014 e 2015 – Mocidade Unida da Mooca (intérprete principal)
2019
– Mocidade Unida da Mooca (gravou o samba no CD como
participação especial ao lado de Eliana de Lima e dos
intérpretes da escola Gui Cruz e Clayton Reis, mas não
cantou no desfile).
GRITO DE GUERRA: Alô meu povão (fala a origem da escola). Tá tudo (diz as cores da escola)!
CACOS DE EMPOLGAÇÃO: Costumava fazer a chamada com as primeiras palavras dos versos do samba. Também apareciam cacos como “É
dez... é dez... é mil!”; “alô
bateria”; “oooba!”; “vamos lá”,
“alegria!”; “tá bonito demais”;
“ah que maravilha”; “quero ouvir a galera”;
“diz de novo”; “tudo mundo lá em cima”;
“vambora”; “oi samba aí que eu quero
ver”; “oooo...uhl”; “alô mestre (diz o
nome do diretor de bateria da escola)”.
SAMBAS DE SUA AUTORIA:
“Crenças fantásticas” (Cabeções
de Vila Prudente/1980, com Dema); “Do Iorubá ao Reino de
Oyó” (Cabeções de Vila Prudente/1981);
“Elis Regina, o som da festa eterna desta musa”
(União Independente de Vila Prudente/1984); “Ah! Se eu
fosse Noé” (Colorado do Brás/1986, com Roná
Gonzaguinha e Xixa); “Apocalipse Carnaval” (Colorado do
Brás/1987, com Roná Gonzaguinha e Xixa); “Quilombo
Catopês do Milho Verde (De Escravo a Rei da Festa)”
(Colorado do Brás/1988 e 2008, com Roná Gonzaguinha,
Edinho, Xixa e Minho); “Vera Cruz (A Vedete dos Anos 50)”
(Rosas de Ouro/1989, com Roná Gonzaguinha, Edinho, Xixa e
Minho); “Babalotim, a história dos afoxés”
(Leandro de Itaquera/1989 e 2017, com Xixa, Clarice, Tiago Lee, Grupo
Relíquia e Sandrinha) “Marabha, Pérola do
Oriente” (Mocidade Alegre/1993, com Guy Caçula, Edinho e
Paulinho Imprensa); “Yjo de Jacuta Festa de Xangô”
(Malungos/1993); “Eu te Amo” (Nenê da Vila
Matilde/1995, com Adelson, Rubinho, Marcão, Cizão,
Edinho, Eduardo, J. Reis, Panda, Wagner, Mosquitinho, Adil e Rose);
“Narciso Negro” (Nenê de Vila Matilde/1997, com Vado,
Zé Carlos, Mikal, Nilton da Flor, Marco e Antônio);
“Pintando e contando o número sete revela os seus
segredos” (Mocidade Unida da Mooca/2009); “Da roda ao caos,
da poluição ao combustível do futuro! Pegue carona
com a "Mooca" nesta festa de ilusão, voando baixo na pista da
emoção” (Mocidade Unida da Mooca/2010, com William
Ramos, Thiaguinho, Rick Melodia, Fininho e Beto Cheque Mate);
“Mamma mia, il Mooca ès la nostra terra” (Mocidade
Unida da Mooca/2011, com Beto, Dan Portela, Zé Pereira, Diogo
Ziriguidum, Thiago Melodia, Thiaguinho, Giba, Lucão MMDC,
Ledonas, M. Guedes); “Carinhoso como o tema, imortal como o
poema. Pixinguinha 40 anos de saudade!” (Mocidade Unida da
Mooca/2014); “Brincar e sonhar no reino da
imaginação, a Mooca revive o passado e o presente do
futuro da nação” (Mocidade Unida da Mooca/2015, com
Daniel Pixote e Ivo Caneta); “Carmen Miranda – Made in
Brazil” (Mocidade Unida da Mooca/2016, com Vitor Araújo e
Rodrigo Minuetto); “A Santíssima Trindade de
Oyó” (Mocidade Unida da Mooca/2018, com Vitor Gabriel, Gui
Cruz, Rodrigo Minuetto, Rodolfo Minuetto, Portuga, Luciano Rosa,
Marçal e Reinaldo); “Manto sagrado, a história que
o tempo bordou” (Mocidade Unida da Mooca/2019, com Gui Cruz,
Vitor Gabriel, Imperial, Rodrigo Minuetto, Luciano Rosa, Portuga,
Marçal e Rodolfo Minuetto); “Paz, amor e
revolução – A juventude em
transformação” (Dom Bosco de Itaquera/2019, com
Ronny Potolski, Antonio Júnior, Sandro Deco e Godoi).
DISCOGRAFIA SAMBA-ENREDO:
- LP Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo Especial SP Carnaval de 1981 (faixa Cabeções de Vila Prudente)
- LP Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo Especial SP Carnaval de 1984 (faixa União Independente da Vila Prudente)
- LP Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo Especial SP Carnaval de 1987 (faixa Colorado do Brás)
- LP Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo Especial SP Carnaval de 1988 (faixa Colorado do Brás)
- LP Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo Especial SP Carnaval de 1989 (faixa Rosas de Ouro)
- LP Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo Especial SP Carnaval de 1994 (faixa Nenê de Vila Matilde)
- LP/CD Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo Especial SP Carnaval de 1995 (faixa Nenê de Vila Matilde)
- CD Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo Especial SP Carnaval de 1996 (faixa Nenê de Vila Matilde)
- CD Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo Especial SP Carnaval de 1997 (faixa Nenê de Vila Matilde)
- CD Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo Especial SP Carnaval de 1999 (faixa Rosas de Ouro)
- CD Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo Especial SP Carnaval de 2004 (faixa Rosas de Ouro)
- CD Sambas Enredo das Escolas de Samba de São Paulo Grupo
Especial e Acesso Carnaval de 2019 (faixa Mocidade Unida da Mooca, como
participação especial, ao lado de Dom Marcos os
intérpretes Gui Cruz e Clayton Reis).
DISCOGRAFIA:
- Compacto Duplo “O sapato da nega / Poucas e boas / Fato Consumado / Onde andará” (Nova, 1985).
- LP coletânea “Pagode pra arrebentar a boca do
balão” (Copacabana, 1986) – Faixa: “O sapato
da nega”.
- CD “De bem com a vida” (Nenê Records, 1999).
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MAIS
FOTOS DE DOM MARCOS
Dom
Marcos em visita à quadra da Colorado do Brás, escola
onde defendeu por três carnavais e ainda gerou uma de suas
obras-primas, "Catopês", de 1988 reeditado em 2008. Foto:
Cláudio L. Costa (site SRZD)
Ao microfone da Colorado do Brás, cantando "Apocalipse do Carnaval", em desfile na Avenida Tiradentes em 1987
Com o filho Dom Júnior, ao colo
Compacto duplo gravado em 1985
Na vinheta Globeleza do samba da Rosas de Ouro de 1989
Dom Marcos formou dueto com Royce do Cavaco na Rosas de Ouro em 1989
Em 1997, Dom Marcos conduziu "Narciso Negro" pela Nenê de Vila Matilde, samba que a escola irá reeditar em 2022
Com
Polenghe do Cavaco (à esq.), na quadra do Rosas de Ouro em 1999.
Os dois compuseram para a escola o samba-exaltação "De
bem com a vida"
Em
1999, Dom Marcos teve o carioca Paulo Henrique como apoio no carro de
som da Rosas. No ano seguinte, PH se tornaria intérprete oficial
da Mocidade Independente de Padre Miguel
Capa de seu CD autoral, "De bem com a vida"
Em 2006, Dom Marcos (de gorro vermelho, à esq.) puxou o samba da Unidos de São Lucas
Ao lado do amigo Royce do Cavaco, no clipe da Nenê de Vila Matilde em 2011
Na
gravação do samba da Mocidade Unida da Mooca, fazendo
participação especial com Eliana de Lima (de fones de
ouvido) e os intérpretes da escola, Gui Cruz (à esq. da
foto) e Clayton Reis
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