Em uma época que as escolas de samba procuraravam marcar a voz
de um puxador como identidade da escola, a Unidos do Cabuçu
inovou e foi uma das pioneiras em dar protagonismo em não apenas
um mas vários intérpretes. E havia até um
revezamento dos cantores no microfone principal. Foi assim que surgiu
Di Miguel.
O carioca Miguel da Silva começou ainda garoto como ritmista da
Cabuçu. O rapaz se enturmava no meio dos adultos, pois naquela
época ainda não existia a escola mirim Miúda da
Cabuçu. Na bateria, o jovem tocava tarol, instrumento que aos
poucos as escolas foram deixando de lado em detrimento da da caixa de
guerra, cuja potência sonora apresenta um som mais ressonante. Di
Miguel foi ritmista da Cabuçu até a adolescência.
A chance de cantar samba na quadra surgiu quando passou a defender
obras de seu tio, um compositor cabuçuense de nome Djalma
Vovô, já de idade avançada. Di Miguel saiu da
bateria para cantar os sambas de seu avô. Na primeira vez, o
samba foi até a semifinal, até ser cortado. A performance
e a bela voz do rapaz chamaram a atenção de outros
compositores, que passaram a convidar Di Miguel a defender sambas nas
disputas da Unidos da Cabuçu.
Numa dessas disputas, Di Miguel defendeu o samba dos compositores
Grajaú e Zé Maria D’Angola para o enredo “De
Daomé a São Luis, a pureza Mina Jêje”, no
carnaval de 1981, cujos carnavalescos eram Luiz Fernando Reis,
Therezinha Monte e Ricardo. Di Miguel gravou o samba no disco oficial
do Grupo 1-B e também cantou na avenida junto com o
próprio Zé Maria e o veterano puxador Beto da
Cabuçu.
A partir daí, Di Miguel passou a integrar o time de puxadores de
samba da Cabuçu, no qual a escola fazia um revezamento para
aproveitar todas as belas vozes disponíveis na ala musical.
Integravam esse time: Beto da Cabuçu, Celsinho, J. Leão,
Zé Maria D’Angola, além do próprio Di Miguel.
No carnaval de 1983 teve a oportunidade de cantar “A Visita de
Ony de Ijé ao Obá de Oió”, em que a escola
contou a história da prisão de Oxalá no Reino de
Oyó, governado por seu filho Xangô. O enredo gerou um dos
mais belos sambas da história do Grupo de Acesso, de autoria de
Grajaú, Jacob e Dudu. A Cabuçu obteve a 4ª
colocação e se cacifou como uma das fortes candidatas a
vencer o carnaval no ano seguinte. Dito e feito.
No ano da inauguração do sambódromo da
Sapucaí (1984) e sob a presidência da jornalista
Therezinha Monte, a Unidos do Cabuçu tem entre suas
glórias a conquista do primeiro campeonato da Passarela do
Samba, com o enredo “Beth Carvalho, a Enamorada do Brasil”.
A escola, que se autodenomina “a primeira campeã da
Sapucaí”, permaneceu no Grupo Especial por seis anos
consecutivos, entre 1985 e 1990. Nessa época passou a ser
conhecida como a escola das homenagens. Entre as personalidades que
serviram de inspiração a enredos da escola,
destacaram-se: a própria Beth Carvalho, Roberto Carlos, Milton
Nascimento, Xuxa, Adolpho Bloch, Os Trapalhões e Mauricio de
Sousa, para mencionar alguns. Casualmente, todos os sambas foram
defendidos por Di Miguel, seja no microfone principal ou como apoio de
luxo. Uma das pessoas que mais incentivou Di Miguel a se efetivar como
intérprete foi a própria presidente da escola, Therezinha
Monte.
Di Miguel foi intérprete oficial da Unidos da Cabuçu
até o carnaval de 1993. Anos depois, seu sobrinho Marcelo
Rodrigues assumiu o carro de som da escola. Di Miguel conta que passou
toda a sua experiência e sabedoria musical a Marcelo, que foi
puxador da agremiação dos bairros do Méier,
Engenho Novo e da região de Lins de Vasconcellos entre os anos
de 2006 a 2011 (ano em que Di Miguel fez uma participação
especial no carro de som comandado pelo sobrinho, no desfile da Estrada
Intendente Magalhães). Marcelo retornou à Cabuçu
em 2018 e logo em seguida, passou o bastão (ou o microfone
número 1) ao seu filho, Maykon Rodrigues, sobrinho-neto de Di
Miguel.
Uma das influências musicais de Di Miguel foi a voz do cantor e
compositor Roberto Ribeiro, que por anos puxou os sambas do
Império Serrano na avenida. “Roberto Ribeiro foi sempre
uma grande inspiração para mim”, afirma o sambista.
Di Miguel foi autor de dois sambas da Unidos da Cabuçu: o de
1993, em homenagem ao desenhista Mauricio de Sousa, e “Todas as
Marias de Nossa Terra”, que ganhou o Estandarte de Ouro de Melhor
Samba-Enredo do Grupo A em 1997, prêmio promovido pelo jornal O
Globo.
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Início: Foi ritmista da Unidos do Cabuçu na década de 60. Como intérprete, começou em 1981.
1981 e 1983 – Cabuçu (com Zé Maria D’ Angola)
1984 – Cabuçu (com J. Leão)
1986 – Cabuçu (com Celsinho)
1987 e 1988 – Cabuçu (com J. Leão)
1989 a 1993 – Cabuçu (cantor principal)
2011 – Cabuçu (apoio de Marcelo Rodrigues)
GRITO DE GUERRA: Alô meu povão brasileiro... Olha a Cabuçu aí!
CACOS DE EMPOLGAÇÃO: “vamos
lá meu povão da Cabuçu”; “alô
família cabuçuense”; , “tá
bonito”, “alô minhas baianas”, “vamos
empolgar; “segura”; “que beleza”;
“alô, xará... segura firme a bateria”;
“beleza, beleza, beleza”; “machuca, machuca”;
“muito obrigado minha presidente”.
SAMBAS DE SUA AUTORIA: “De
quadrinho em quadrinho, lá vai meu recado”
(Cabuçu/1993, com Carlinhos Mad, Nei do Cabuçu e Jadir);
“Todas as Marias de Nossa Terra” (Cabuçu/1997, com
Ney do Cabuçu, Carlos Werneck, Jadir, Sérgio Magnata e
Beto Pernada).
PREMIAÇÃO:
Estandarte de Ouro de Melhor Samba-Enredo do Grupo A (1997)
DISCOGRAFIA DE CARNAVAL:
LP Sambas Enredo Grupo 1-B 1983 (faixa Unidos do Cabuçu)
LP Sambas Enredo Grupo 1-B 1984 (faixa Unidos do Cabuçu)
LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1985 (faixa Unidos do Cabuçu)
LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1986 (faixa Unidos do Cabuçu)
LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1987 (faixa Unidos do Cabuçu)
LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1988 (faixa Unidos do Cabuçu)
LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1989 (faixa Unidos do Cabuçu)
LP Sambas Enredo Grupo 1-A 1990 (faixa Unidos do Cabuçu)
LP Sambas Enredo Grupo A 1991 (faixa Unidos do Cabuçu)
LP Sambas Enredo Grupo A 1992 (faixa Unidos do Cabuçu)
LP Sambas Enredo Grupo A 1993 (faixa Unidos do Cabuçu)
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MAIS FOTOS DE DI MIGUEL
Di Miguel cantando "Deu a louca na história" na Sapucaí (Cabuçu 1986)
Di Miguel e o intérprete Celsinho (atrás, de braços abertos)
Di Miguel (à esq) junto com Celsinho e o filho deste, Celso Jr, cantando na Sapucaí em 1986
Celsinho (à esq) e Di Miguel na vinheta do samba de 1987 em que a Cabuçu homenageou Roberto Carlos
Os intérpretes Di Miguel e J. Leão (à dir.) no desfile de 1988
Di Miguel soltando a voz na Sapucaí em 1988, ano em que a Cabuçu homenageou os Trapalhões
Di Miguel cantando o samba enredo da Cabuçu em homenagem a Xuxa (1992)
Di
Miguel (no centro da foto, com microfone e batendo no peito) fazendo
participação especial no carro de som de som da
Cabuçu em desfile na Intendente Magalhães em 2011.
À direita, de casaco azul escuro, seu sobrinho Marcelo
Rodrigues, que foi o intérprete principal da escola naquele ano
Em foto recente, J.
Leão aparece sentado entre diferentes gerações da Cabuçu. Ao seu lado,
estão Di Miguel (camisa azul de barba), Sandro Mota e Sereno (todo de
branco)
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