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Coluna da Denise

INOVAÇÕES E MARKETING CAUSARAM REAÇÃO NO PÚBLICO E DISPUTARAM O EXCELENTE CARNAVAL 2010

22 de fevereiro de 2010, nº 32, ano III

A festa acabou, mas o carnaval 2010 vai ficar na história como o melhor carnaval da primeira década dos anos 2000. O fato inusitado do carnaval é que os 3 melhores sambas do ano (Vila, Beija e Imperatriz) não tiveram na avenida o efeito desejado. O ponto positivo foi a reação do público, que, mesmo em menos proporção que os carnavais de 1992 e 1993, levantou a “bola” da Unidos da Tijuca, fator primordial para o sucesso da escola.

Um dos resultados mais justos dos últimos anos confirmou o que não era segredo para mais ninguém. Desde os ensaios técnicos, a Tijuca já dava provas claras de que viria para disputar o título. Embalada pela péssima colocação do ano passado, a escola veio disposta a fazer a diferença nos desfiles. E a escola fez por merecer o tão sonhado título, colocando um ponto final no incômodo jejum que a perseguiu por mais de 70 anos. Paulo Barros assimilou as críticas ao seu estilo e deu o seu show sem se descuidar dos quesitos e da parte estética. Da balada comissão de frente, aos carros, alas, Paulo mostrou que o impacto é o fator que pode desequilibrar no desfile e se juntou ao rol dos carnavalescos campeões, parecendo-nos que descobriu a fórmula para o pódio, o que pode abrir um precedente para os desfiles da próxima década.

O paradoxo do ano ficou com a Grande Rio. O enredo merchandising criticado por 10 entre 10 sambistas na fase pré-carnaval, ganhou contornos interessantes na sinopse que acabou refletindo em um dos melhores desfiles já promovido pela escola, sendo considerado pelos jurados como o melhor enredo do ano. O merecido vice-campeonato, a despeito de algumas soluções alegóricas pecarem pela repetição, tem mais é que ser comemorado. Ficamos no aguardo de que a escola apresente para 2011 um enredo que a credencie ao título de forma incontestável. Afinal, das atuais escolas consideradas “competitivas” apenas a Grande Rio ainda não sentiu o gostinho da vitória.

Nas demais posições que credenciavam ao sábado das campeãs, nenhuma novidade. A Beija-flor, riquíssima e talentosa como sempre, até tentou nos brindar com uma Brasília utópica, mas a parte crítica, não decantada no enredo, prejudicou o seu desenvolvimento. A Vila, detentora do melhor enredo do ano, fez um bom desfile, mas ficou a sensação de que poderia ter sido melhor. O problema, a meu ver, foi a falta de empatia com o público e aí talvez tenha faltado um pouco de ousadia. Ousadia que também faltou ao Salgueiro, que repetiu fórmulas, sem grande impacto, e passou bem aquém de sua costumeira garra, para contar a história do livro. O oposto pode se dizer da Mangueira, que pela galhardia do desfile sobre a MPB, merecia uma colocação melhor. Mas no carnaval em que a estética pesa em todos os quesitos, ficou o recado de que a Mangueira, para voltar a almejar títulos, vai ter de melhorar o visual.

Pelo menos duas outras escolas poderiam brigar pela volta no sábado das campeãs. A União da Ilha, que fez o melhor desfile de abertura da década (considerando inclusive Sagüeiro 2006 e Mocidade 2005), com um belíssimo trabalho desenvolvido pela competente Rosa Magalhães, mas que infelizmente ainda não foi suficiente para afastar dos jurados o preconceito existente em relação à escola que ascende de grupo. E a Mocidade, que saiu literalmente do inferno, apesar de ainda não ter conseguido alcançar o paraíso. A força dos componentes talvez tenha sido preponderante, mais até do que o competente trabalho de Cid Carvalho.

Com um belo visual, mas com os corriqueiros problemas de sempre, a Porto da Pedra mais uma vez deixou escapar por ela própria a chance de galgar posições mais atrativas. A Imperatriz abusou do gigantismo e mais uma vez não confirmou na avenida a sua tão esperada retomada ao seleto grupo das escolas que brigam por um título. Talvez a escola precise rever os seus conceitos e apostar em soluções mais simples, bem ao estilo do “mais vale a simplicidade, a criar mil novidade, e criar complicação”.

A nota triste do ano de 2010 ficou por conta dos desfiles da Portela e da Viradouro. Apesar do chão e da bateria, a Portela confirmou na avenida o que já era anunciado desde a escolha do enredo e a divulgação da sinopse. O péssimo desenvolvimento do enredo só não complicou a Portela, por dois motivos: os jurados usaram o critério “nome da escola”, e prefeririam canetar União da Ilha e Porto da Pedra, e, dois, a Unidos do Viradouro pediu, com o desfile apresentado, o rebaixamento. Aliás, a Viradouro já vinha com o sinal vermelho desde 2007, mas alguns setores da escola ainda desfilavam com garra e dispostos a fazer um bom trabalho à altura da tradição da escola. O que se viu em 2010 foi uma escola apática, pra baixo, sem o sentimento de se superar face à falta de recursos. Falta de recursos não pode ser apontada como o fator preponderante para o rebaixamento, pois a escola poderia ter usado a criatividade e ao menos ter se esforçado na parte técnica. Se ao menos nesses aspectos, a escola se garantisse, dificilmente estaria hoje no grupo de acesso.

Em relação ao grupo de acesso, uma confusão generalizada na apuração, resultado da inexperiência da Lesga. Acredito que a Lesga melhorou muito em curtíssimo espaço de tempo, pois mesmo com 12 escolas, fruto da irresponsável “virada de mesa” no ano anterior, o que se viu foi um desfile dinâmico e planejado.

A vitória da São Clemente não pode ser vista como uma surpresa. É lógico que outras escolas foram apontadas pela mídia, assim como em 2009, quando a União da Ilha faturou o campeonato. Mas muitas escolas cometeram erros que lhe foram fatais. E a São Clemente provou, mais uma vez, que samba bom é aquele que é abraçado pelos componentes e que enredo de fácil leitura ainda é o pulo do “gato” para os desfiles do Acesso.

A Rocinha não levar número mínimo de baianas, pelo terceiro ano, já demonstra que a escola precisa rever seus conceitos, pois a parte estética não ganha sozinha o campeonato. Em sentido inverso, a Caprichosos, talvez embalada pela reedição, fez o desfile mais empolgante. Palmas para o chão, harmonia e a evolução da escola. Mas em termos alegóricos, a escola pagou mais um mico na avenida. Fico imaginando como ficaria a Rocinha com o chão de Pilares e como ficaria a Caprichosos com a estética da Rocinha. Acho que essa mesclagem daria uma escola imbatível na avenida.

A Renascer conquistou o público, mas se descuidou do regulamento e foi excessivamente penalizada. Perder 2 pontos em um carnaval de décimos é uma aberração que deve ser revista pela entidade. A Cubango não perdeu pontos no regulamento, mas perdeu pontos para ela mesma. Apontada como franca favorita, em virtude de uma injeção de recursos, para que Niterói não perdesse a vaga no Especial, já que o rebaixamento da Viradouro era cantado bem antes do seu desfile, a Cubango pecou pelo excesso, com um visual irregular e enredo de difícil entendimento.

O Império Serrano mostrou sua tradição, mas ficou faltando algo mais. O que não faltou no desfile da Estácio, que mais um ano se credenciou ao título, não confirmado, entretanto, no dia da apuração.

Santa Cruz e Império da Tijuca fizeram bons desfiles, a primeira corretíssima, mas sem impacto. A segunda, com falhas, mas sedutora com seu samba e sua bateria.

Já Tuiuti e Unidos de Padre Miguel foram as rebaixadas do grupo. A primeira cometeu alguns erros na avenida que lhe foram fatais. A segunda teve a infelicidade de abrir o desfile com o dia claro.

A surpresa do resultado foi o vice-campeonato da Inocentes de Belford Roxo, beneficiada pela perda de pontos de algumas escolas, especialmente a Renascer. Mas mesmo apresentando um enredo sem falhas e até esteticamente bem superior ao apresentado em 2009, o desfile não foi visto pela mídia como capaz de se credenciar a única vaga ao especial. Soma-se a isso a reclamação de um suposto favorecimento pelo fato de o presidente da Lesga ser o presidente da escola.

Independentemente da chiadeira, acho que a organização do desfile do Acesso foi muito bem conduzida pela Lesga. Falhas são comuns, uma vez que 2010 foi o segundo ano de desfile da entidade. Para evitar esse tipo de comentários que pesaram sobre a Inocentes, a presidência da entidade deveria ser ocupada por uma pessoa que não tenha ligação com nenhuma das escolas filiadas.

Nos desfiles da Associação, a Alegria da Zona Sul fez valer seu favoritismo e vai voltar a disputar o acesso ao Grupo Especial. Na Intendente, tivemos a alegria de ver a Em Cima da Hora se sagrar campeã e a tristeza de ver a Unidos de Lucas ser rebaixada para o último grupo dos desfiles.

No mais, é esperar as novidades do carnaval 2011, assunto a ser tratado na próxima coluna.


denisefatima@gmail.com