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Coluna da Denise

APERTEM OS CINTOS QUE O ENREDO SUMIU

31 de agosto de 2008, nº 11, ano I

Fernando Pamplona com toda a sua sabedoria proclama: “'Os enredos sumiram e viraram temas” (vide matéria no site www.carnavalesco.com.br).

E é só analisarmos os “enredos” do carnaval 2009 do Grupo Especial para verificarmos que a frase de Pamplona está correta.

O Império Serrano, que volta ao Especial em 2009, grupo do qual nunca deveria ter saído, diga-se de passagem, reedita o seu enredo de 1976. “Lendas das sereias, os mistérios do mar” não deixa de ser um tema, além do que trazer os encantos do mar, para a avenida, não é de todo inédito – a Portela já fez isso muito bem no passado. Poderia o Império trazer os Cinco Bailes, Bumbum Paticundum, Heróis da Liberdade e tantos outros sambas que se originaram de um bom enredo, mas como a moda é levar temas para a avenida... Resta-nos desejar sorte à querida escola de Madureira.

Os Acadêmicos do Grande Rio trazem um enredo para a avenida. A homenagem ao ano da França no Brasil vai trazer um painel cultural da influência francesa nos costumes e artes brasileiras. Também não é um enredo inédito, mas sem sombra de dúvida a escola de Duque de Caxias respira novos ares, após uma enxurrada de enredos amazônicos. Pelo menos há uma promessa de uma nova plástica na escola, especialmente depois de a escola investir num talento ainda a ser lapidado, que é o jovem Cahê Rodrigues, que se destacou este ano na grande Portela.

A Vila Isabel fez de um tema um bom enredo. Deu uma nova leitura a homenagem ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro, já contado em verso e prosa na avenida, mas dessa vez sob a batuta do cicerone  João do Rio. O lado ruim da escolha foi protagonizado pelos dirigentes da Vila ao contratar Paulo Barros para “colaborar” em um enredo já pronto e acabado. Se o estilo de Paulo Barros vai casar com o do também excelente Alex Sousa, só no dia do desfile para sabermos. De concreto, todos muito céticos em relação a esse casamento artístico forçado.

E a Mocidade? Ao contrário da Vila, fez de um enredo um tema. Pelo menos é o que se extrai da sinopse (tanto a primeira, quanto a atual divulgada). Machado de Assis daria sim um maravilhoso enredo, daqueles de fazer qualquer saudosista aplaudir de pé. Preferiu a escola, talvez por necessidade de atrair patrocinadores, focar o personagem, a pretexto do seu centenário, inserindo-o num contexto amplo sobre literatura, cujo mote principal é a Academia Brasileira de Letras. Para completar esse “leque de variedades”, colocou o universo de Guimarães Rosa na abordagem, o que nos pareceu despropositado e fora de contexto.

A Beija-Flor que, bem ou mal, vinha trazendo enredos em forma de sagas, resolveu sair da mesmice e foi buscar no banho o tema para o seu carnaval. Por mais que a escola tenha sido competente em sua sinopse, e, diga-se de passagem, corajosa, por mexer em time que está ganhando, não há como taxar de inusitado o próximo desfile da campeoníssima do atual carnaval.

A Tijuca viaja ao espaço com um tema gostoso, lúdico e interessante e que serve aos propósitos da escola. É uma proposta que a escola vem apostando há algum tempo e que tem lhe rendido melhores resultados em sua longa e árdua trajetória no mundo do samba. Mas não deixa de ser um tema.

O Porto da Pedra traz o competente Max Lopes que decidiu levar um enredo autoral. Falar sobre curiosidades é um tema interessante, do qual o carnavalesco tentou, sem muito êxito, dar uma “cara” de enredo, ao procurar encadear idéias soltas, que ao final, pela divulgação da sinopse, mostrou-se um tanto quanto desconexas.

O Salgueiro nem se deu ao trabalho de tentar dar ao tema “tambor” uma sinopse rebuscada com aparência de enredo. É tema e pronto. Deixou subliminarmente aos leitores da sinopse, os possíveis conectivos dos setores da escola, que facilitará na avenida a leitura do tema proposto.

O Cinqüentenário da Imperatriz bem parecia mais um tema para nosso carnaval, mas Rosa Magalhães não enfocou na sinopse enxertos do passado da escola para a comemoração do jubileu de ouro da agremiação. Pelo contrário, a carnavalesca foi buscar inspiração no bairro de origem, no carnaval e conseguiu dar um contexto histórico e promete levar para a avenida um belo enredo histórico e cultural sobre o samba produzido num local bem característico do Rio de Janeiro.

E a querida Portela. Por mais que o tema seduza o coração dos pierrôs e colombinas apaixonados, fica aquela frustração de ver a águia altaneira se enveredar mais uma vez por temas abstratos na avenida. O enredo é muito parecido com que Caprichosos e Viradouro fizeram no passado. Apesar de uma nova roupagem, pela sinopse, observa-se que a escola não saiu do lugar comum.

O enredo da Mangueira tem um contexto histórico, tem bom encadeamento de idéias, mas em resumo é o que se pode dizer de um enredo batido, muito revisitado no carnaval carioca. Fica a pergunta o que de novo a Mangueira poderá trazer para falar das etnias que formaram o povo brasileiro.

Por fim, a Viradouro fecha o desfile com um estilo complemente diferente. A Bahia, tão decantada na Sapucaí, não poderia ser a mesma sob a batuta de Milton Cunha. Para o tema, percebe-se que Milton extraiu a sutileza do baianês - para qualquer mortal que por aquelas terras já esteve sabe que existe um dicionário próprio naquela região – porém, pareceu-nos pouco objetivo, faltando concatenar as boas sacadas das idéias para transformar a proposta da Viradouro em um bom enredo.

Pelo exposto, apesar do entusiasmo reinante para o carnaval 2009, uma vez que a sombra do patrocínio se mostrou bem mais tímida para algumas escolas, o carnaval do ano que vem nos parece bem próximos daqueles que já passaram. Mas com a omissão do Poder Público e o excelente controle da Liesa, o jeito, para nós amantes do carnaval, é apertar os cintos e encarar essa nova jornada, com a certeza de que os desfiles serão bem sucedidos.

A receita é simples: ligar o piloto automático e fazer um vôo sobre a Marquês de Sapucaí regado de muito glamour, e, para uma aterrissagem tranqüila e segura, é preciso o carimbo selado, registrado rotulado da Liesa dando SIM, SIM, SIM. (a taxa é alta e para ter um lugar ao sol é preciso identidade, caso contrário não vai a lugar nenhum.

Boa viagem, meninos!


denisefatima@gmail.com