Coluna do Cláudio Carvalho
DISCOGRAFIA DAS ESCOLAS DE SAMBA DO RIO DE JANEIRO – GUIA DO COLECIONADOR (PARTE 2)
30 de novembro de 2021, nº 56
Se inscreva no canal SAMBARIO no YouTube
Coluna anterior: Discografia das Escolas de Samba do Rio de Janeiro - Guia do Colecionador (Parte 1)
Coluna anterior: Sambas de Enredo 2022 - O Bonequinho Ouviu
Coluna anterior: Sambas de Enredo 2022 - Análises e Notas das Versões Concorrentes do Grupo Especial
1998 - Seis
discos, nada menos do que isso, marcaram a consolidação
do Compact Disc como mídia oficial do carnaval carioca (naquele
ano sairia a última fita k7 do Grupo Especial). Alegando
problemas de repasse de verbas dos direitos autorais, o Salgueiro ficou
de fora do disco principal, como já havia feito em 1969, 1971,
1986 e 1987. A escola gravou um single onde, além do samba,
há uma faixa de karaokê e as toadas dos bois Garantido e
Caprichoso, já que o enredo homenageava a ilha de Parintins.
Coincidência ou não, a Liga resolveu lançar,
naquele ano, outros três discos: um com os sambas ao vivo, outro
com sambas de esquenta (que também, por questões
autorais, teve algumas faixas substituídas pelo samba do ano) e
o último com as baterias das escolas. Por fim, o CD do Grupo A,
um dos mais raros do acesso carioca.
1999 - No primeiro ano em que a safra de sambas-enredo
foi lançada exclusivamente em CD, tivemos apenas dois
álbuns. O do Grupo Especial traz os arcos da Praça da
Apoteose dividindo as duas campeãs do ano anterior: Mangueira e
Beija-Flor. Presidente da comissão de carnaval da escola de
Nilópolis e produtor do disco, Laíla gentilmente cedeu
à verde e rosa o direito de ocupar a faixa 1. O disco do Acesso,
que tinha o patrocínio do Jornal O Dia, foi vendido em banca de
jornal, como também aconteceria em 2001 e 2002.
2000 - No ano em que se comemorava
o quinto centenário do descobrimento do Brasil, todas as escolas
do Grupo Especial trouxeram sambas e enredos que remetiam a algum
momento da história do pais, o que empobreceu consideravelmente
a safra. No Acesso, onde não houve essa obrigatoriedade, tivemos
um CD de tiragem limitadíssima, que se tornou tão raro ou
mais do que o de 1998.
2001 -
Além dos CDs do Grupo Especial e do Grupo A, que, por sinal, tem
uma linda capa com os pavilhões das escolas estendidos sob as
areias da Praia de Copacabana, tivemos pela primeira vez, depois de
muito tempo, um disco do terceiro grupo, onde também entraram
escolas convidadas, que na ocasião desfilavam na Avenida Rio
Branco, próxima à Sapucaí.
2002
- No disco do Especial, que traz um componente da tricampeã
Imperatriz Leopoldinense, foi lançado um álbum extra com
sambas históricos das escolas que desfilaram na elite naquele
ano em que tivemos, mais uma vez, discos dos grupos A e B.
2003 - Novamente
três discos, o que parecia se tornar uma tendência do novo
século que se iniciava. Nas capas, as campeãs de cada
grupo: Mangueira, Santa Cruz e Cubango, respectivamente. A escola da
Zona Oeste protagonizou mais uma batalha judicial para garantir seu
direito de desfilar no Grupo Especial. A vice-campeã do Grupo B
de 2002, Inocentes de Belford Roxo, adotava temporariamente o sobrenome
“da Baixada”, no intuito de crescer para além de seu
município de origem.
2004
- Nesse ano, pela primeira vez, houve reedição de
sambas-enredo. Portela e Império Serrano reeditaram seus sambas,
respectivamente, de 1970 (Lendas e Mistérios da Amazônia)
e 1964 (Aquarela Brasileira). A Unidos do Viradouro desfilou com o
samba de 1975 da então denominada Unidos de São Carlos: A
Festa do Círio de Nazaré. A escola chegou a
começar uma disputa de sambas-enredos inéditos, a qual
foi interrompida por determinação do presidente
José Carlos Monassa. A Tradição reeditou o samba
de 1984 da Portela, Contos de Areia, no ano da
reconciliação entre as duas escolas. O expediente da
reedição não trouxe sorte a nenhuma das escolas. A
melhor colocada entre elas foi a vermelha e branca de Niterói,
quarta colocada. A Beija-Flor faturou o bi com um belo e inédito
samba. O CD do Grupo A trouxe uma inusitada faixa de bateria da
escola de samba União do Parque Curicica, do Grupo B, cujo disco
também contou com a participação de escolas
convidadas, como a extinta Foliões de Botafogo.
2005 -
No Grupo Especial, talvez a safra mais fraca do século, com
faixas repletas de merchandising, como a da Grande Rio, que trazia na
letra o slogan e produtos da multinacional Nestlé, patrocinadora
do disco. A Unidos do Porto da Pedra reeditou o samba-enredo de 1989 da
madrinha União da Ilha: Festa Profana. A reedição
chegou ao Grupo B, com a campeã Estácio e a vice Arranco
reeditando seus hinos, respectivamente, de 1976 e 1989, dentre outras
escolas.
2006
- O disco do Grupo Especial, com a tricampeã Beija-Flor na capa,
não trouxe reedições, algo que aconteceria pela
primeira vez no Grupo A, onde a Estácio se sagrou campeã
com “Quem é Você?”, samba de 1984. Nesse
disco, também estão os sambas do Grupo B, algo que se
repetiria em 2007 e 2008 com o expediente do álbum duplo.
Tivemos também uma novidade: pela primeira vez as escolas que
desfilavam na Intendente Magalhães, na Zona Norte do Rio, foram
contempladas com um CD, em parceria do produtor Chico Frota com a
Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de
Janeiro - AESCRJ.
2007
- Mais um ano com os quatro principais grupos contemplados. A farra das
reedições continuava e dessa vez chegou na Intendente.
Nos quatro discos, tivemos reedições de Estácio
1987 (Especial), Tradição 1994 (Grupo A), Lins Imperial
1991 e Tuiuti 1983 (Grupo B) e Engenho da Rainha 1986 (Grupo C). As
duas primeiras escolas foram rebaixadas de grupo e, embora a Lins tenha
se sagrado campeã, o expediente revelava de vez sua face
apelativa.
2008
- Nesse ano não tivemos CD do Grupo C, e o famigerado expediente
da reedição perdia de vez a força (nos dois
principais grupos, apenas a União da Ilha repetiu o samba de
1982). As capas do CD do Especial e do disco duplo dos Grupos A e B
trazem, respectivamente, as campeãs do desfile principal e do
acesso de 2007: Beija-Flor e São Clemente.
2009
- No Grupo Especial, a destaque da bicampeã Beija-Flor,
Fabíola David, foi para a capa, lembrando o que já havia
acontecido com Beth Andrade em 1986. Nesse ano, uma nova entidade, a
Liga das Escolas de Samba do Grupo de Acesso - LESGA, assumiu a
realização dos desfiles do Grupo A, ficando a AESCRJ
responsável pelo Grupo B (que teve CD, separado do Grupo A) e
pelos desfiles da Intendente Magalhães.

|
2010
- Após as reedições “darem um tempo”,
surgiu outro expediente perigoso: o de se utilizarem sambas de meio de
ano como sambas de enredo, e coube à Vila Isabel adaptar a
música "Presença de Noel", de Martinho da Vila, à
trilha sonora de seu desfile. No Grupo A, uma novidade: a capa do CD
passaria a ser ilustrada pela vice-campeã do ano anterior, neste
caso a Renascer de Jacarepaguá. No Grupo B, que passou a se
chamar Rio de Janeiro 1, foi lançado um álbum duplo, com
CD e DVD, que continham sambas e clipes. O cantor Marcelo D2 faz
uma aparição inusitada na faixa de vídeo da Flor
da Mina do Andaraí.
2011 -
A Unidos da Tijuca teve de aguardar 84 anos e alguns grandes desfiles
para, finalmente, ser capa de um disco de desfile principal. Junto
deste, foram lançados os discos do Grupo A e do Grupo B, com
Inocentes de Belford Roxo e Arranco do Engenho de Dentro na capa, no
ano em que a LESGA assumiu a organização dos desfiles da
terça de carnaval. A AESCRJ não se fez de rogada e
lançou um álbum triplo, com sambas das escolas dos grupos
C, D e E em MP3.
'

|
2012 -
Fabiola David voltaria a ser capa do CD depois de três anos e de
um novo título da Beija-Flor. As faixas foram narradas, em seus
inícios, por Jorge Perlingeiro. A LESGA seguiu como
responsável pelo lançamento de dois outros discos: o do
Grupo A, cujas faixas começavam com sambas de
exaltação, e o do Grupo B. Viradouro e Curicica,
respectivamente, estamparam as capas destes álbuns. Assim como
em 2011, a Associação lançou álbum triplo
das escolas dos grupos da Intendente Magalhães.
2013 - Após
a LESGA perder credibilidade diante da RioTur, pelo cancelamento do
rebaixamento e pelo polêmico título da Inocentes, cujo
presidente também presidia a entidade carnavalesca, foi criada a
LIERJ, e o grupo de acesso, que mudou de nome para Série A,
passou a desfilar em dois dias. Há quem diga que o
espetáculo deprimente protagonizado por um componente da
Império de Casa Verde durante a apuração do
carnaval de São Paulo em 2012 também foi decisiva para
essa mudança. Seja como for, a Globo assumiu a
transmissão do desfile, a qual sempre terceirizava, e a AESCRJ
reassumiu a organização dos desfiles do Grupo B, que
passaram a ser realizados na Intendente Magalhães. Naquele ano,
a entidade também lançou três discos, dos grupos B,
C e D em CD.
 |
 |

|
2014 -
O disco do Grupo Especial teve as faixas abertas por mini-sinopses dos
enredos, nas vozes dos carnavalescos. O CD da Série A,
organizada pela LIERJ, tem uma capa muito parecida com a de 2012
(talvez por trazer a mesma escola). Em seu último ano antes da
dissolução, a Associação lançou um
álbum triplo, em formato de DVD, com os mesmos grupos do ano
anterior.
 |
 |

|
2015
- Unidos da Tijuca e Estácio de Sá, campeã e vice
dos desfiles do Grupo Especial e da Série A respectivamente,
protagonizaram as capas dos CDs destes grupos. Com o fim da AESCRJ, a
LIERJ assumiu a realização do desfile da Intendente e
lançou um álbum triplo, também em formato de DVD,
o qual não foi vendido, mas sim distribuído pelas escolas
durante a festa de lançamento, na quadra da São Clemente.
2016
- Pela primeira vez desde 1998, voltaríamos a ter seis CDs num
único ano. Isso se deveu, em grande parte, à disputa
entre duas entidades pela organização dos desfiles da
Intendente Magalhães. De um lado, a Liga Independente das
Escolas de Samba do Brasil - LIESB, que ficou com a Série B. Do
outro, a Associação Cultural O Samba É Nosso
(ACSN), que respondeu pelos desfiles dos grupos C, D e E, todos eles
contemplados com discos.
 |
 |

|
2017
- O CD do Grupo Especial traz a inscrição “sambas
de enredo” em diagonal, o que deu margem à teorias da
conspiração de que seria um “teste” para uma
capa de CD dividida entre duas escolas, algo que já poderia ter
acontecido em 2015 e ocorreu justamente no ano seguinte. Bi-vice em
2016, a Unidos de Padre Miguel começou a se consolidar como
“escola da capa do CD da Série A”.
Com o falecimento de Marcos Falcon, presidente da ACSN, e a consequente
dissolução da entidade, a LIESB assumiu a
organização dos desfiles da Intendente, e lançou
um álbum quádruplo, com sambas dos grupos B, C, D e E.
 |
 |

|
2018
- A capa do CD do Grupo Especial traz pela primeira vez a águia
da Portela, que dividiu espaço com o abre-alas da Mocidade. As
duas escolas tiveram que esperar, respectivamente, 34 e 21 anos por
seus títulos. Em sorteio, ficou definido que a faixa um seria da
escola de Padre Miguel. A inscrição “sambas de
enredo” em diagonal endossou a paranoia do ano anterior. No CD da
Série A, quem apareceu foi a Viradouro, que esteve a ponto de
enrolar bandeira no pré-carnaval de 2017 devido a uma
gravíssima crise financeira. Na Intendente, tivemos novo
lançamento de um CD triplo, com o selo Chico Frota
Produções.
2019
- Com apenas uma campeã em 2018, o CD do Grupo Especial voltou a
ter uma capa conservadora. Na Série A, a UPM, mais uma vez, foi
protagonista. Na Intendente, outro CD triplo lançado pela CF
Produções, além da inusitada proposta da LIESB de
se “montar” o CD do Grupo E, baixando os sambas e a capa no
site da entidade.
2020
- No último carnaval antes da pandemia de COVID-19, a loucura
tomou conta dos sambistas e colecionadores quando foi anunciado que o
CD do Grupo Especial não seria vendido nas Lojas Americanas,
principal parceira comercial da LIESA na comercialização
de CDs. O disco, no entanto, pode ser comprado em grandes franquias
como as livrarias Saraiva e Cultura, embora com tiragem menor. Nada que
se compare, no entanto, ao álbum da Série A, que teve
apenas mil cópias, encontradas em lojas
“underground” no Centro do Rio. Ao contrário do que
se imagina, também foi lançado CD da Intendente naquele
ano.
'
2022 -
E chegamos ao “primeiro carnaval do resto de nossas vidas”,
que ainda nem aconteceu e já está rendendo tanta
polêmica. Os CDs do Grupo Especial, da Série A e da Superliga (Intendente), cujos
áudios já estão disponíveis nas plataformas
digitais, já estão confirmados. O primeiro já
está disponível para pré-venda no site da
Universal Music. Também está confirmado que será o
último ano de lançamento do CD em mídia
física, para tristeza de nós, colecionadores. A
migração do samba-enredo para o mundo digital parece um
processo inevitável e irreversível.
Um abraço, Cláudio Carvalho!
Se inscreva no canal SAMBARIO no YouTube
Cláudio
Carvalho
|
|