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Coluna do Cláudio Portela

PEQUENAS ESCOLAS, GRANDES SAMBAS-ENREDO

Nessa minha terceira coluna no Sambario, quero aproveitar a oportunidade para comentar sobre um assunto muito pouco discutido nos sites sobre as escolas de samba: os grandes sambas-enredo da história dos Grupos de Acesso. Muito pouco se sabe a respeito do assunto, e isso se deve à dificuldade em se encontrar material disponível por aí. Dentro desse contexto, nunca é demais lembrar a valiosa contribuição que nos tem dado o Luiz Antônio Fernandes, membro da equipe desse site, que colocou à disposição de todos sua coleção gravada em CD. E o que é melhor, a preços módicos, diga-se de passagem.

Mas vamos ao que interessa. Começo reportando-me ao ano de 1973, quando a gloriosa Unidos de São Carlos, hoje Estácio de Sá, nos presenteou com o belo ''Trá la lá, um hino ao carnaval brasileiro'', que contava a história do memorável Lamartine Babo. No ano seguinte, tivemos ''Essa Nega Fulô'', da extinta Tupi de Brás de Pina, uma escola que já havia apresentado em 1961 o antológico ''Seca no Nordeste'', tido como um dos mais belos sambas da história. Nos anos de 75 e 76, a Unidos da Tijuca nos brindou com dois bons sambas, que falavam sobre temas afro-brasileiros. O primeiro, ''Magia africana no Brasil e seus mistérios'', recebeu Estandarte de Ouro como melhor samba do acesso naquele ano, já o segundo,''No mundo encantado dos Deuses afro-brasileiros'', é tido como um dos sambas mais ''carregados'' de todos os tempos. ''Delmiro Gouveia'', que deu o título do Acesso em 80 para a escola do Borel, é outro de seus clássicos.

Quem passou a conhecer a União de Jacarepaguá pelos belos sambas que vem apresentando desde que subiu para o Grupo A, certamente não sabe que ''Acalanto para Uiara'' (1976), sem querer desmerecer a ninguém, dá de dez a zero em qualquer samba da história recente da escola. ''Logun Edé - Príncipe de Efan''(1977), é um dos melhores sambas do Arranco, outra escola que possui um belo acervo de hinos.

A Caprichosos de Pilares, hoje no Especial, tornou-se famosa pelo seu samba ''A Festa da Uva'' (1978), e também viveu outros bons momentos no Acesso, como em 82 (''Moça Bonita não paga'') e 97 (''Do tambor ao computador''). Na década de 80, aliás, tivemos outros dois belos sambas, que traziam em suas letras críticas sociais. São eles: ''Senta que o leão é manso'' (Lucas 83) e ''33, destino D. Pedro II''(Em Cima da Hora 84). Do disco de 84, destaco também o samba ''Acima da coroa de um rei, só Deus'', da Acadêmicos de Santa Cruz.

Mas quando o assunto é samba-enredo do Acesso no início da década de 80, é sempre bom lembrar a Unidos do Cabuçu e seus sambas ''De Daomé a São Luis, a pureza Mina Jêje'', de 1981, e ''A visita do Oni de Ifé ao Obá de Oyó'', de 1983 (ambos disponíveis para Download em nosso site), que fala sobre a prisão do orixá Oxalufã após tentar visitar seu amigo Xangô. Este enredo, aliás, deu origem a outro belo samba do acesso, denominado ''A coroa do perdão na terra de Oyó'' (Império da Tijuca 97). Outro bom samba da escola da Formiga é ''Santos e Pecadores'', de 1983. Nunca é demais lembrar também do correto ''Dan, a serpente encantada do arco -íris''(Engenho da Rainha 90), que conta a história de Oxumaré, orixá que é seis meses homem, seis meses mulher, assumindo durante esse período a forma de uma serpente.

Outra escola do acesso que merece destaque é a simpática Acadêmicos do Cubango, que em 2002, mesmo no Acesso B, cantou um dos melhores sambas de sua história, o emocionante ''África, o exuberante paraíso negro''. Dos tempos em que a agremiação desfilava em Niterói, recomendo aos amigos que corram atrás dos sambas de 1979 (''Afoxé'') e 1981 (''Fruto do amor proibido''), que conta a história de Logun Edé, filho de Oxossi e Oxum, mesmo tema abordado pelo Arranco em 77.

Ultimamente os compositores das escolas ditas menores não tem tido tanta inspiração. O último grande samba digno de menção é ''Orun Ayê'', de 2001, que colocou a Boi da Ilha no mapa do mundo do samba. No grupo B desse ano, por exemplo, quatro escolas irão reeditar enredos antigos, conforme mencionei na minha primeira coluna. Nada disso, porém nos impede de manter a esperança de que em breve teremos belíssimos hinos nesses grupos, e que as ''pequenas-grande escolas'' voltarão a dar um show de criatividade, tanto nos CD's como na avenida. Gostaria de me despedir dizendo que nem todos os belos sambas do Acesso foram mencionados. Existem outros excelentes, e o LP de 1992, por exemplo, reúne alguns deles. O Império Serrano, enquanto esteve no Acesso, teve sambas belíssimos, mas meu objetivo ao escrever essa coluna era exaltar os sambas das escolas menores, ou seja, aquelas de pequeno e médio porte, que muito contribuíram e até hoje contribuem para o samba e a música popular brasileira como um todo. Um grande abraço e até a próxima.

Cláudio Portela

claudioarnoldi@ig.com.br