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UM RUFAR PARA TRÊS MESTRES
    

30 de abril de 2024, nº 88

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UM RUFAR PARA TRÊS MESTRES



Por ter a música como paixão e influência de família, meu interesse pelo Carnaval começou a se plantar a partir dos quesitos musicais. Não à tôa que, depois do samba-enredo, o quesito por qual mais me interesso é a Bateria. Pra além de passar horas vendo registros, áudios, qualquer coisa que fosse, com o tempo fui me aprofundar pelas características, fundamentos e, sobretudo, conhecer os nomes que fizeram história – e não são poucos – na regência daquele que é o coração da folia.

Recentemente, as cortinas se fecharam para três grandes mestres de bateria. Cada um do seu jeito, esses três homenageados deixaram suas marcas e criaram identidade em três importantes pavilhões do Carnaval, por quem seguirão olhando no céu onde apitam e batucam outros grandes mestres.

Como um apaixonado pelas baterias de escola de samba, é um dever prestar essa homenagem.


 

Mestre Beto: um dos grandes nomes da fase vitoriosa da Imperatriz (Foto: Reprodução/Internet)

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Mestre Beto foi a cara, o ritmo e a característica de uma Imperatriz vencedora. Lá chegado como ritmista em 1984 – contrariando as muitas fontes de internet que creditam sua entrada na escola quatro anos antes – tão logo chegou ao posto de líder da Swing da Leopoldina. E fez história. Foi a história. Adotando um jeito que prezava pela cadência e sustentação do samba, mas sem esquecer do balanço e do espetáculo (e aqui cito o desfile de 1995, uma das melhores atuações da bateria gresilense), regeu o ritmo de seis dos nove títulos da Rainha de Ramos – do histórico “Liberdade Liberdade” de 1989 à “Cana-Caiana” do tricampeonato, em 2001. Foi ele o dono do apito e um dos (muitos) craques da Era de Ouro da verde, branco e dourado.

Fora da Imperatriz, foi ajudar outra escola da região – a Siri de Ramos, por qual foi homenageado em 2022. Mas ainda não estava completo: seu sonho era ver a sua doce Imperatriz campeã novamente. Conseguiu. Foi na Rua Professor Lacê que Alberto da Conceição Guimarães aprendeu a batucar e construiu um amor tão forte quanto a pelo Olaria e pelo Vasco da Gama.


 

Mug: um dos mais importantes mestres da Portela (Foto: Reprodução)

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Mug da Portela (não confundir com seu xará de Vila Isabel, falecido em 2021) vivenciou a Tabajara. Apesar do início como passista na Unidos de Padre Miguel, nos anos 70, foi no celeiro de ritmistas da Águia, tocando agogô, que Arnaldo Manoel de Jesus se encontrou. Ganhou o apelido por ser parecido com um antigo bonequinho. Pegou. E seguiu a herança de Mestre Betinho estreando como diretor principal logo num dos desfiles mais marcantes da azul e branca: “Gosto Que Me Enrosco”, de 1995. Por ironia dos deuses do carnaval, desfile derrotado pela Imperatriz de Mestre Beto.

Mug ainda seria mestre da Tabajara em mais três períodos: 1996 (dividindo o posto com Paulinho Botelho), 1998 à 2002 e 2004, na reedição de “Lendas e Mistérios da Amazônia” - enredo campeão de 1970, chamado às pressas a poucas semanas do desfile. Mug fincou para sempre em Oswaldo Cruz e Madureira seu nome e sua importância como um dos mestres mais identificados com o ritmo que embala a águia altaneira.

 

Paulão: guerreou pelo sonho de uma escola (Foto: Reprodução/Instagram)

 

Paulo Roberto da Silva, o Mestre Paulão, foi um daqueles caras incansáveis pelo sonho de uma escola. Chegado à Renascer de Jacarepaguá no Carnaval de 2005, ano em que a agremiação estreou no então Grupo de Acesso A, conduziu o ritmo da então Bateria Explosiva (nome que batizou) rumo a voos mais altos da agremiação. Demorou sete anos, mas o seu sonho e o de uma comunidade inteira foi realizado. E um de seus momentos mais marcantes foi a emoção estampada e incontida no início do desfile de 2012, ano da (até agora) única participação da agremiação no Grupo Especial e da concretização deste sonho. “Um choro de alguém que lutou por anos por uma escola no Grupo de Acesso e enfim tava vivendo aquele momento”, nas palavras do jornalista Pedro Menezes em uma postagem.

Com o rebaixamento de volta pro Acesso, Paulão deixou a escola e o comando da bateria. Pouco importava o futuro, sua história e sua missão já estavam feitas no rubro guerreiro do Largo do Tanque.

Beto. Mug. Paulão. Condutores do ritmo que encanta a avenida. Três gigantes que merecem todas as reverências. E neste leque, também prestamos reverência eterna à Tião Belo, diretor de bateria da São Clemente por mais de 30 anos – três deles como principal, ao lado do hoje presidente Renatinho.

Suas páginas foram fechadas. Viraram eternidade. Serão lembradas com alegria, entusiasmo e, principalmente, som e cores. Talvez não seja o mais belo ou o mais poético texto para resumir suas carreiras. Mas é o necessário, pela gratidão por toda contribuição aos desfiles. Que será eterna como o tempo.

 

Vamos rufar, bateria!