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Sambando por aí...
  
TOP-10 CONCORRENTES DERROTADOS - PARTE 2: ESCOLAS DE SEGUNDA

4 de novembro de 2019, nº 30


Saudações, caríssimos, estimados e nobre leitores fieis deste Sambario. É a hora de lembrarmos de mais algumas obras que, embora não vão para a Sapucaí, merecem destaque. E por isso que a coluna repete o expediente feito no ano passado, baseado no mesmo modo que o editor-chefe Marco Maciel costuma fazer anualmente no site, apresentando um segundo Top 10 de concorrentes derrotados. Este ano, como se sabe, estão listados apenas os concorrentes de dez das onze disputas do Grupo Especial - os "derrotados" na Série A estão de fora devido as poucas disputas realizadas neste grupo.

Final de samba da Portela (Foto: Léo Cordeiro)

No texto passado, apresentamos os concorrentes derrotados dentre as sete escolas que desfilarão no domingo de carnaval. Agora é a vez das obras eliminadas por quatro das seis escolas que passarão pela Sapucaí na segunda-feira de folia - e mais uma menção honrosa, que explico no fim do texto. Ficam de fora a Unidos da Tijuca, que encomendou seu samba-enredo, e a Vila Isabel, que realizou disputa fechada e só apresentou os demais concorrentes do certame após ter escolhido seu samba.

A lista abaixo obedece a ordem de desfile.

1 - "Entra ano e sai ano, qual será o meu lugar?" - São Clemente (Parceria de Rodrigo Índio) 

Mesmo achando o samba um pouco quilométrico, a letra tem sacadas muito geniais. Destacando, claro, a chutada de balde no refrão principal "Entra ano e sai ano, qual será o meu lugar? / São Clemente, sempre linda! / Quando gira a bandeira tudo pode acontecer / O que vale para mim também vale pra você? / (Tem desconto para mim e dez pontos pra você)" protestando contra alguns julgamentos da aurinegra ao longo dos anos, muito devido ao falado peso de bandeira. Um refrão muito corajoso, mas que poderia acarretar futuras retaliações contra a escola caso fosse o escolhido. Outra tirada muito boa é no trecho "Irmão não quebre a corrente / O bolso não te pertence / Mãos ao alto pra doação" do refrão central, que Evandro Malandro emenda um "Oh, glória!" na gravação.

A obra foi eliminada na semifinal. 


2 - "Hoje o malandro perde a banca pro otário" - São Clemente (Parceria de Thiago Martins)
 

É uma obra bem interessante. Mesmo que a primeira parte não se destaque muito (e até peque em rimas fáceis), a segunda é muito legal. Destaque para o trecho final "Enfim... / A era da modernidade / Chega de malandro levando vantagem / Vendendo a verdade que nunca existiu / Viralizou, é fake news / Caiu na rede, São Clemente explodiu". A obra defendida pelo quarteto Pixulé, Nino do Milênio, Roger Linhares e Juninho Sambista foi uma das finalistas do certame. 


3 - "Vestir Vermelho é se libertar" - Salgueiro (Parceria de Antônio Gonzaga)
 

Mais uma vez Antônio Gonzaga e parceiros batem na trave com um belo samba. Todo trabalhado numa linha melódica emocional, a letra vai na contramão dos demais ao dar ênfase na luta de Benjamim de Oliveira. Caso de versos como "Eu sei, se o negro sempre foi injustiçado / E ainda ecoam dores do passado", "Num país que faz dos capatazes seus heróis / Meu samba é resistência, ergue a voz / De reis e rainhas que o mundo não viu" e do refrão "O palhaço também chora amor / Quando choro mostro a minha cor / Levo a força de uma raça / Que na luta acha a graça pra esquecer a dor". 

Foi um dos finalistas da disputa, mas foi preterida pela obra assinada por Marcelo Motta. Que a hora do Gonzaga vencer na Academia não tarde a chegar. E fica uma mensagem bem oportuna pro momento atual: "Onde houver arte não existe fim".


4 - "Amado é o Meu Torrão" - Salgueiro (Parceria de Demá Chagas)
 

Três autores do samba de 2019 se uniram a Rafa Hecht, que se destacou nas disputas dos últimos anos na Academia. O resultado dessa união foi um bela obra. A melodia toda lírica aliada a uma letra bem inspirada, como nos trechos "Fiz do sonho um desejo / Podem me chamar de “Beijo” / Mas meu nome é Benjamim / A vida me levou na corda bamba / Caí e levantei pra aprender". A força da letra, aliás, está em seus refrães, sobretudo o central: "Sonhar, lutar, acreditar / Sorrir também é resistir!". 

Foi eliminado do certame antes da semifinal.



5 - "A Décima Estrela da Academia" - Salgueiro (Parceria de Dudu Botelho) 

Um samba muito contagiante. A melodia leve é um dos pontos fortes da obra defendida por Wander Pires e Evandro Malandro. A letra, apesar de alguns problemas como na rima "o salto do filho/e as broas de milho" e o verso "O riso que venceu a opressão" cantado de forma meio atropelada, contém passagens muito interessantes como o início da segunda estrofe "Palhaço, moleque Beijo / Pedaço do meu destino..." e o ótimo refrão principal "Vou descer a ladeira meu torrão amado / No caminho te conto da minha alegria / Sou eu... sou eu... / A décima estrela da Academia". 

A obra foi eliminada na semifinal.


 
6 - "Com prazer sou Elza" - Mocidade (Parceria de Zé Glória) 

A Mocidade apresentou uma grande safra em homenagem a Elza Soares, disputando palmo a palmo com a Grande Rio como a melhor de toda a temporada. Mas falemos deste em específico: mesmo ficando um pouco abaixo em relação aos demais que foram a final e tenha algumas limitações na letra - caso do "Samba, samba, samba êê" do refrão principal - é um belo samba. O melhor momento dele é o trecho que abre a segunda estrofe "Sou eu... / Resiliência em meio a tantos nãos / Meu sobrenome é revolução / Eis aqui o teu avesso que aflora / Meu nome é agora / E agora nós vamos à luta quebrar as correntes / Tornar nossas Nildas mais independentes / Ser crença e fé ser o que quiser".




7 - "Por todo canto que Soares, Elza" - Mocidade (Parceria de Jefinho Rodrigues)
 

A parceria campeã de 2019 apresentou outro samba de muita qualidade. Seus versos iniciais "Preta sim! / Porque a dor da favela é a cor da mazela que há em mim / Fiz de sua bandeira a mais verdadeira luta / Onde o que se cala, até hoje é senzala, meu lugar de fala e fim" são impactantes. Outro grande momento da obra é o refrão central "Canta Mulher! / A rouca liberdade / Moça, mulher! / Poder e igualdade / Ergue essa voz por todos nós / Haja o que houver".

Defendida por Diego Nicolau e Igor Sorriso, foi um dos quatro finalistas da disputa.


8 - "Cantar é minha vida" - Mocidade (Parceria de Paulo César Feital)
 

Paulo César Feital e parceiros retornaram a disputa em Padre Miguel nos apresentando uma obra que é um verdadeiro bálsamo para os ouvidos. Mesmo com a melodia um pouco arrastada em alguns momentos, a letra é de uma maestria pura. O trecho "As Elzas são Zuzu Angel também / Perdemos nossos filhos pra maldade / Minha arma é minha voz / Eu canto a dor de um país / Sou contra qualquer algoz dessa raiz" é qualquer coisa de sensacional. A destacar as brilhantes interpretações de Zé Paulo e Grazzi Brasil. 

Foi um dos finalistas do certame verde-branco.



9 - "Essa rua hoje é minha" - Beija-Flor (Parceria de Marcelo Guimarães) 

A safra nilopolitana não chamou tanta atenção, mas além do vencedor, outros sambas merecem destaque, como este. A obra não foge das caracterísiticas de Beija-Flor: samba pesado com versos fortes, como "Quero voltar ao caminho do luxo e da seda". O melhor momento dele é o trecho final "Essa rua hoje é minha / Vou fazer ela brilhar" que desagua no ótimo refrão principal "Na estrada mais linda eu vou te encontrar / Nas idas e vindas do meu caminhar / Em cada olhar, seja onde for / Eu vou com você, meu Beija Flor / Voar com você, Beija Flor". 

Defendido por Wantuir, a obra foi eliminada antes da semifinal.


 
10 - "O dono da rua é meu Beija-Flor" - Beija-Flor (Parceria de J. Velloso) 

Vencedores em várias oportunidades na Deusa da Passarela, as parcerias Samba 4 e Samba 13 se juntaram na disputa deste ano, formando assim a Parceria 134. A exemplo do samba 39, citado anteriormente, ele tem a característica da Beija-Flor: samba pesado, melodia e versos fortes. A destacar o refrão central "Vem pra rua ê pra rua / Pelo sertão, terra pisada / Corta a cidade em procissão / A vida é jornada" e os versos que antecedem o bis principal "Aflora... Um festival de prata em plena pista / Há vidas na esquina do nada / Há falta de afeto e calor / Pelas calçadas cuida delas meu senhor"

Defendida por Emerson Dias e Bakaninha, a obra foi uma das finalistas da disputa.




MENÇÃO HONROSA - "Sempre Marias, são brasileiras" - Viradouro (Parceria de Ana Guerreiro) 

Devido a algumas cobranças e por esquecimento do escriba, volto aos concorrentes do domingo de carnaval para fazer uma menção mais que honrosa a este samba que pintou na disputa da Viradouro. Aliás, samba não. Sambaço! Ele até remete a obras dos anos 70 e 80. A melodia é um pouco difícil, tem algumas alternações que poderiam dificultar a harmonia, mas a letra é espetacular. O trecho da segunda "Vem chegando as lavadeiras / Filhas de pai pescador / São Marias, são guerreiras / Vem lá de São Salvador / Cantam cantigas desde os tempos da senzala / Sabem tratar a dor com doçura / O luar prateia essa voz que não se cala / E ecoa na noite escura" é lindo demais.

Infelizmente, a obra foi cortada na seleção prévia da escola e nem chegou a se apresentar na quadra - apenas doze sambas foram classificados a esta fase. Ventilou-se que o motivo do corte foi um plágio da canção "Bando das Ganhadeiras" no refrão central - "Vem chegando as ganhadeiras / Da praia de Itapuã / Vai ter samba a noite inteira / Só termina de manhã" - que poderia acarretar problemas com direitos autorais.
 


Carlos Fonseca
Twitter: @eucarlosfonseca
Apresentador do Carnaval Show na Rádio Show do Esporte todas às quartas-feiras às 20h
www.radioshowdoesporte.com.br