PRINCIPAL    EQUIPE    LIVRO DE VISITAS    LINKS    ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES    ARQUIVO DE COLUNAS    CONTATO

TERREIRO DE LAÍLA, TERREIRO DE CAMPEÃ: O QUE SÓ A SAPUCAÍ VIU EM 2025
                

12 de março de 2025, nº 102


Leia as colunas anteriores de Carlos Fonseca



TERREIRO DE LAÍLA, TERREIRO DE CAMPEÃ: O QUE SÓ A SAPUCAÍ VIU EM 2025

Num carnaval dominado pelas novidades (boas e ruins), prevaleceu a emoção. E após três anos, o troféu de campeã voltou pra Baixada Fluminense, mais precisamente nas bandas da Mirandela. Pela décima quinta vez, a Beija-Flor sai da Sapucaí gritando é campeã. Um título simbólico de ponta a ponta. Regido por seu mestre, que lá do orun olhou por sua escola e comandou sua comunidade, lhe dando de novo os caminhos da vitória.

 

A seguir, algumas linhas sobre o que a Sapucaí leva dos desfiles de 2025.

'


Do orun, Laíla comandou sua comunidade: Beija-Flor campeã
(Foto: Carlos Fonseca/SAMBARIO)

E foi com justiça e méritos que a Beija-Flor conquistou o título do Grupo Especial. A escola que entrou na pista na noite de segunda-feira remeteu à aquela Beija-Flor dos anos 2000, aquela, do rolo compressor que Laíla consagrou, do samba com o padrão que o mestre implantou. Foi uma literal incorporação do enredo. Uma despedida perfeita para Neguinho da Beija-Flor, que sai da escola em 2025 do mesmo jeito que entrou em 1976: campeão. E João Vitor Araújo, um artista que sofreu tanto com injustiças, finalmente vive a apoteose e o ápice de sua carreira.

Vejo pessoas despejando teorias absurdas pra desmerecer o título nilopolitano, com os velhos argumentos que fedem a naftalina, com requintes modernos. Coisa de gente desocupada. Tola. A Beija-Flor pode ter, sim, um ou outro título discutível ao longo da história, como quase todas as escolas têm, o que faz parte do folclore do carnaval. O que não é o caso de agora. E nunca será.

'

O desfile que deu à Grande Rio o vice-campeonato
(Foto: Luis Butti/SAMBARIO)
 
 

Sem entrar nas polêmicas pós-apuração, a Grande Rio poderia ter ficado com o troféu – admito ter saído da avenida com a sensação que o título iria para Duque de Caxias. Foi um desfile impecável em visual, chão, letra e melodia. Um deleite para o último ato de Bora e Haddad na tricolor – falaremos disso mais adiante...

Imperatriz e Viradouro completaram, com justiça, o top-4. Ficaram onde deviam ficar. Por mais que achasse que era o típico desfile em que o júri levaria de volta ao sábado das campeãs (e, modéstia à parte, acertei...), o retorno da Portela no G6 é discutível, ainda que tenha valido apenas pela presença de Milton Nascimento – subscrevendo a opinião da amiga Amanda Cardoso. Mangueira também voltou, numa estreia “melhor que a encomenda” de Sidnei França em solo carioca. Sobrou pro Salgueiro, que chiou mais do que devia – e depois recuou...

Aliás, é do quinto lugar pra baixo, se vê o reflexo de um dos piores julgamentos já feitos no Rio de Janeiro, que pelo acaso da sorte que tem os incompetentes, premiou uma campeã justa. O modelo de fechamento de notas a cada dia se mostrou (rapidamente) um fracasso retumbante por produzir cada coisa inconcebível, a começar pelo salto exacerbado de notas 10 em relação à apuração de 2024 – que acabou sendo uma “mãe” para algumas escolas. Quem esperava um julgamento rígido principalmente em Evolução, o grande calcanhar de aquiles do ano, se decepcionou. Uma hora cheguei a pensar que estava vendo um replay da apuração de São Paulo no dia anterior...

A maior prejudicada, claro, foi a Unidos de Padre Miguel, de um inexplicável rebaixamento com notas bastante questionáveis. Como é o caso do que fez Ana Paula Fernandes, julgadora de Samba-Enredo, que além de esquecer de dar nota à três escolas na terça-feira, escreveu coisas que beiram o estapafúrdio, ao justificar o 9.7 à obra da escola por “excesso de palavras em iorubá”. A explicação pra isso? Incompetência misturada com racismo. É uma candidata quase única ao prêmio de Papelão do Ano.

Sentindo-se prejudicada, à escola da Vila Vintém promete brigar para permanecer no Especial – vide as notas oficiais publicadas e o apoio de autoridades e público pelas redes sociais. O Boi Vermelho voltará pro Acesso em 2026, até segunda ordem. Enquanto isso, a novata Acadêmicos de Niterói vem para a estreia na elite.

 

SEÇÃO DE CURIOSIDADES

 

- A Beija-Flor conquistou seu décimo quinto título, se isolando como a terceira maior vencedora dos desfiles do Rio de Janeiro, abrindo seis troféus de distância de Imperatriz, Salgueiro e Império Serrano, ficando a apenas cinco da Mangueira. Além disso, a Deusa da Passarela se consolidou como a maior campeã do Sambódromo (10 títulos) e encerrou a espera de 7 anos na fila, seu segundo maior jejum de vitórias na história do Carnaval, atrás apenas do intervalo entre 1983 e 1998.

 

- Completando 10 anos de atuação no Grupo Especial, o carnavalesco João Vitor Araújo conquistou seu primeiro título. Antes de 2025, o melhor resultado que alcançou na elite foi o oitavo lugar por dois anos seguidos – 2023 pelo Paraíso do Tuitui e 2024 já na Beija-Flor.

 

- Pela quinta vez, a Grande Rio ficou com o vice-campeonato. Os dois últimos (2020 e 2025) sob assinatura dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, que se despediram da agremiação após 5 anos. Pela escola, a dupla ainda conquistou o campeonato de 2022, além de um terceiro (2024) e um sexto lugar (2023).

 

- A Imperatriz não terminava um carnaval na terceira posição desde 2002. Já a sequência de três anos seguidos retornando no desfile das campeãs, à escola de Ramos não engatava havia 10 anos.

 

- Ainda que tenha sido a pior colocação no período recente, a Viradouro mantém sua melhor sequência histórica no Grupo Especial, terminando entre as quatro primeiras colocadas por seis desfiles consecutivos: foram dois campeonatos (2020 e 2024), dois vices (2019 e 2023), um terceiro (2022) e um quarto. Aliás, a vermelha e branca não terminava na quarta posição desde a reedição do Círio de Nazaré, em 2004.

 

- Com o inédito décimo lugar, o Paraíso do Tuiuti vai para o nono carnaval consecutivo no Grupo Especial, melhor sequência histórica da escola na elite. O melhor resultado, como se sabe, foi o vice-campeonato de 2018.

 

- Pela quinta vez no século, a Mocidade Independente de Padre Miguel termina em décimo primeiro lugar. O desfile de 2025 marcou o último trabalho de Márcia Lage ao lado do marido, Renato. A carnavalesca faleceu em 19 de janeiro aos 64 anos. Como assistente, conquistou os títulos de 1982, pelo Império Serrano (por onde conquistou seu único campeonato como carnavalesca, no Grupo de Acesso de 2008), e em 1996 pela própria Mocidade.

 

- Iniciada no carnaval em 2023, quando substituiu a Acadêmicos do Sossego na segunda divisão, a Acadêmicos de Niterói será a primeira estreante no Grupo Especial desde a Inocentes de Belford Roxo, em 2013. Também será a mais jovem a debutar na elite, com 7 anos e 11 meses de criação, superando o feito da própria Inocentes – que tinha 19 anos e 5 meses de fundação quando desfilou pela única vez no Especial.

 

- É a primeira vez na história que a cidade de Niterói terá duas escolas representantes no Grupo Especial.

 

- A Estácio de Sá não era vice-campeã do Grupo de Acesso desde 2014. Vigário Geral (sexta) e União do Parque Acari (oitava) conseguiram seus melhores desempenhos desde que chegaram à Sapucaí. Com o sétimo lugar, o Arranco do Engenho de Dentro obteve seu melhor resultado no Sambódromo desde 1992 – quando apresentou o enredo “Mandacaru, Fruta-flor do Querer".

 

- Com o rebaixamento, a São Clemente deixa a Sapucaí, onde esteve por 41 anos. A preta e amarela voltará a disputar o terceiro grupo, onde esteve pela última vez no carnaval de 1983.

 

- A Unidos do Jacarezinho retorna à Sapucaí depois de 12 anos. Na ocasião, a escola foi rebaixada da então Série A homenageando o centenário de Jamelão – desfile este que foi bancado pela Mangueira através do patrocínio de Cuiabá, enredo da Estação Primeira naquele ano, conforme revelou o então presidente Ivo Meirelles em entrevista ao SAMBARIO em 2020.

 

 

- A equipe de transmissão da Globo para os desfiles do Grupo Especial voltou a sofrer mudanças. Na ancoragem, Alex Escobar, Karine Alves e Milton Cunha ganharam o reforço da jornalista Mariana Gross, que voltou a ancorar desfiles na emissora após três anos. A carismática apresentadora do RJTV comandou a transmissão dos desfiles da Série Ouro (Grupo de Acesso) entre 2013 e 2022, além de narrar a apuração do Grupo Especial desde 2014. Seu nome era constantemente pedido pelo público para ser uma das apresentadoras do carnaval, o que dessa vez foi atendido. Pretinho da Serrinha seguiu nos comentários, já sem a companhia de Leonardo Bruno, que deixou a equipe. Após o retumbante fracasso da inclusão de atrizes e influencers na função de repórter em 2024, a equipe de jornalistas retornou às transmissões do “Globeleza”. O mesmo time se repetiu na transmissão do Desfile das Campeãs pelo Multishow, com o reforço da porta-bandeira Lucinha Nobre.

 

A nota dez

Império Serrano, pelo verdadeiro espetáculo promovido no domingo de carnaval. Inesquecível. Que em 2026 o reizinho volte forte à competição.

 

A nota zero

O modelo de 3 dias de desfile é um retumbante fracasso. E engana-se quem pensa que incluir uma escola a mais será a solução do problema. A ver se a manutenção do formato para 2026 vingará ou continuará preso nos mesmos problemas de 2025.

 

A última volta do ponteiro

E a dança das cadeiras para 2026 já começou! Mas isso é assunto para futuras colunas...

'

Leia as colunas anteriores de Carlos Fonseca

Inscreva-se no canal SAMBARIO no YouTube

Carlos Fonseca
Twitter: @eucarlosfonseca
BlueSky: @falafonseca