Alguns
nomes da MPB ficaram marcados na história por terem composto
canções alinhadas ao ufanismo que interessava ao regime
militar (1964-1985), como, por exemplo, a dupla de cantores
irmãos Dom e Ravel, que, no final dos anos 60, fizeram a
música “Eu te amo meu Brasil”, criticada até
hoje por ter sido utilizada como propaganda da ditadura.
O mesmo ocorreu no carnaval,
com uma então pequena escola de samba da Baixada Fluminense, a
Beija-Flor de Nilópolis, que em 1975 entrou na avenida com um
enredo intitulado “O grande decênio”, no qual
exaltava as realizações da primeira década do
regime militar implantado no país 11 anos antes.
Coube ao compositor Bira
Quininho ter sido o autor e o intérprete do samba que embalou a
escola naquele desfile e que surpreendentemente – ou não
– classificou a escola em 7º lugar (entre 12 concorrentes) e
manteve a azul e branco de Nilópolis no Grupo Especial.
O sambista nasceu no bairro
de Santa Eugênia, na cidade de Nova Iguaçu, também
município da Baixada, e iniciou na ala de compositores do
então bloco Leão de Nova Iguaçu. Um ano antes do
“grande decênio”, Bira participou da coletânea
“Samba é isso aí, gente boa!”, pela gravadora
CBS. O LP reuniu nomes ligados às escolas de samba, mas que
não eram muito conhecidos do grande público, como o
próprio Bira (Leão de Nova Iguaçu e Beija-Flor),
Antonio Grande (compositor e puxador da Vila Isabel nos anos 70), Luis
Grande (que anos depois fora compositor de vários sucessos de
Bezerra da Silva e integrante do Trio Calafrio), Joãozinho da
Pecadora (portelense, que também participou da histórica
série de partido-alto “Partido em 5” e
“Partido em seis”), e Dinalva (salgueirense, que em 1976
registrou sua voz no disco dos sambas enredo interpretando
“Valongo”). No disco, Bira participou de quatro faixas,
entre elas, “Eneida, amor e fantasia”, samba derrotado de
Zuzuca para o Salgueiro em 1973 e que fez um estrondoso sucesso na voz
de Jair Rodrigues naquele carnaval.
A cabeça do polêmico samba da Beija-Flor de 1975 tinha como versos: “É
de novo carnaval/ Para o samba este é o maior prêmio / E o
Beija-Flor vem exaltar / Com galhardia / o grande decênio / Do
nosso Brasil que segue avante / Pelo céu, mar e terra / Nas asas
do progresso constante / Onde tanta riqueza se encerra / Lembrando PIS
e PASEP / E também o FUNRURAL / Que ampara o homem do campo /
Com segurança total”. Plenamente adequado com o que
se propunha a escola: exaltar a primeira década do governo
militar. No entanto, a Beija-flor ficou marcada justamente por escolher
enredos que fizessem propaganda da ditadura, como na trinca 1973-74-75.
E o nome de Bira Quininho, um sambista de bela voz e que cantava
batucando em uma caixa de fósforos, conforme a estirpe da velha
malandragem (que não se fabrica mais), ficou estigmatizado por
ter composto o terceiro e último samba dessa trilogia de ode
à gestão verde oliva.
No entanto, Bira (que
ocupava o posto de puxador de samba da agremiação de
Nilópolis) não teve tempo de ser hostilizado em vida,
falecendo precocemente, logo após o carnaval de 1975.
Após sua morte, Cabana, compositor histórico da
Beija-Flor, apresentou ao patrono, Aniz Abraão David
(Anísio), para ocupar o posto de cantor da escola, um jovem
também oriundo do bloco Leão de Nova Iguaçu, que
atendia pelo apelido de Neguinho da Vala. O novato disputou e venceu o
concurso que escolheu o samba para o enredo “Sonhar com rei
dá leão”, assumiu o microfone da escola e mudou o
nome para Neguinho da Beija-Flor. O resto é história.
No ano de 2013, Bira
Quininho foi citado em verbete no livro "Frutos da terra: sambas e
compositores iguaçuanos", organizado por Otair Fernandes e Edna
Inácio da Silva e Silva, publicado pelo Núcleo LEAFRO
(Laboratório de Estudos Afro-brasileiro e Indígenas), da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFFRJ. Na
publicação, aparecem, nomes de sambistas como Jairo
Bráulio, Pinga, Adilson Magrinho, entre outros.
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