Dono de
uma das mais poderosas vozes reveladas nos últimos
tempos, Cremilson Silva, apelidado “Bico Doce”,
segue a linhagem de cantores negros de voz grave e forte,
como Jamelão, Abílio Martins, Monsueto, Nadinho da Ilha
e Noriel Vilela.
Antes de ser intérprete de samba-enredo, Cremílson é
cantor, instrumentista e compositor. Começou seus
primeiros passos no samba no cavaquinho, instrumento que
aprendeu na antiga Funabem, levado por seu pai,
funcionário da instituição. Aos 16 anos começou a
frequentar rodas de samba pela Baixada Fluminense e
depois fez parte do grupo que acompanhava o cantor
Jorginho do Império.
Como intérprete de escola de samba começou a cantar no
final dos anos 90 na escola de samba Leão de Nova
Iguaçu, uma escola onde surgiram cantores consagrados,
como Neguinho da Beija-Flor e Pixulé. A partir de 2000,
ano em que venceu a disputa de sambas-enredo em São
Paulo, nos Acadêmicos do Tatuapé, Cremilson passou a
atuar como cantor e cavaquinhista em algumas das mais
tradicionais rodas-de-samba do eixo Rio-São Paulo, como
a do Traço de União, na capital paulista, e a
Candongueiro, considerada uma das “mais sérias”
do Rio de Janeiro.
Bico Doce assumiu o microfone principal na Sapucaí em
fins de 2009, quando foi convidado a integrar o carro de
som do Império Serrano, juntamente com Bira Silva,
André Moreno e Jovaci.
A partir daí, Cremílson passa a ser requisitado para as
disputas de samba e também foi cooptado pela Portela,
onde integrou um histórico “dream team” de
vozes em 2014 junto com Wantuir, Rixxa, Rogerinho e
Candanda.
No ano seguinte, Cremílson retorna ao Império Serrano
para ser o cantor principal junto com Alex Ribeiro (filho
do saudoso intérprete imperiano Roberto Ribeiro) e
Arlindo Neto (filho do cantor e compositor Arlindo Cruz).
Após o carnaval, foi dispensado pela escola e ficou
livre para participar das disputas.
Quando a
Mangueira
anunciou
o enredo que homenagearia a cantora Maria Bethânia para 2016, foi
chamado por Alemão do Cavaco para juntamente com Ciganerey
defender o samba que sua parceria (formada por Almyr, Cadu, Lacyr D
Mangueira, Paulinho Bandolim e Renan Brandão) compôs. Sua
performance na gravação e nas eliminatórias chamou
a atenção de todos pela bela e potente voz. Com o
falecimento de Luizito, intérprete número 1 da verde e
rosa, a direção da escola oficializou Ciganerey como seu
sucessor. Coube a Bico Doce defender a obra na final e levá-la
ao título. Logo após a escolha, Cremílson foi
efetivado como um dos cantores de apoio da Estação
Primeira, ajudando no título conquistado pela verde-e-rosa, onde
está até hoje (à exceção de 2018,
quando não atuou no carro de som mangueirense).
Em 2017, foi o
intérprete principal da
Leão de Nova Iguaçu, após ter sido apoio de
Nêgo na agremiação em 2016. Em 2018, foi apoio de
Grazzi Brasil na Vai-Vai junto com Belo. Chegou a ser anunciado pela
Império da Uva pra 2022, mas se desligou da escola antes do
desfile e cantou na Unidos de Villa Rica. Para 2023, seria
intérprete oficial da União de Jacarepaguá, na
volta do arroz com couve à Sapucaí. Ele faria dupla
com Luiz Paulo, porém deixou a escola logo após a final
de samba-enredo da agremiação. No Anhembi,
defenderá a Mocidade Unida da Mooca, ao lado de Gui Cruz e
Clayton Reis.
Cremílson Silva se prepara para lançar seu primeiro CD
autoral. O apelido “Bico Doce”, no qual
Cremílson é carinhosamente chamado, é exatamente pela
doçura de seu canto, “másculo até a raiz e sem
perder a ternura jamais”, segundo definição de
outro bamba, Nei Lopes.
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