Maria
Bernadete Raimundo ou simplesmente Bernadete, como era chamada nas
avenidas, é protagonista de uma trajetória singular no
contexto do samba e do carnaval de São Paulo. Fundadora da
escola de samba Império Lapeano, a cantora consagrou-se como a
primeira mulher a interpretar um samba-enredo na
recém-inaugurada passarela do samba do Anhembi, em 1991.
Conhecida como a Tulipa Negra do Samba, a paulistana emplacou sucessos
como “Farsa do Amor” e “Jogo da Vida”, conviveu
com nomes como Armando da Mangueira, Walter Guariglio e Royce do
Cavaco, e ainda quebrou muitos estigmas ao se tornar a primeira mulher
a assumir o cargo de diretora da ala de compositores da Unidos da
Peruche, em 2012.
Nascida no bairro do Tatuapé e criada na Lapa, filha de um
violonista que convidava os amigos para encontros musicais à
base de muito choro e samba, Bernadete se apaixonou pela música
ainda na infância. O desenvolvimento musical aconteceu quando ao
integrava um grupo com o irmão mais velho, o chamado
Sexta-Feira. Anos depois, em época de Carnaval, reunia-se com
colegas do bairro para batucar latas e panelas nos encontros do bloco
Voz do Morro, que se fundiu à escola de samba Império
Lapeano, fundada pela própria Bernadete junto com José
Cruz Gonçalves e Seu Divino, em 1974.
Graças ao período em que esteve envolvida com as
manifestações carnavalescas do bairro onde residia,
Bernadete foi construindo uma carreira sólida dentro do samba.
Sua estreia em âmbito nacional aconteceu em 9 de fevereiro de
1991. Tudo era novidade para aquela aspirante a cantora que até
então trabalhava como secretária da Secretaria do Estado
do Turismo e do Esporte de São Paulo. Bernadete, na época
puxadora da Império Lapeano (escola que desfilava no terceiro
grupo), havia sido contratada pela diretoria da Peruche para ser apoio
no carro de som por conta da agenda de shows e da
gestação de Eliana de Lima, grávida de sua filha
Mônica. A previsão era de que Eliana – puxadora
oficial perucheana – daria a luz no dia 17 de fevereiro, uma
semana depois do carnaval. Mas o nenê nasceu antes, no dia 9 de
fevereiro, no exato dia em que a Unidos do Peruche iria desfilar com o
enredo “Quem não Arrisca não Petisca”, samba
de Ideval Anselmo, Carlinhos e Zelão, e também na data
que celebrou a inauguração do Sambódromo do
Anhembi. Acabou sendo Bernadete a cantar no desfile. Na
televisão e nas rádios, a voz da nova cantora despontava
como um dos assuntos mais comentados do Carnaval daquele ano.
O talento e a maneira como a cantora encarou o microfone e conduziu a
Peruche no desfile acabou deslumbrando os radialistas Gleides Xavier,
Benê Alves e Marquinhos Silveira, da Band FM, grandes
comunicadores da folia à época. O trio convidou Bernadete
para participar da coletânea da emissora, o LP Band Brasil 3, interpretando a música “Farsa do Amor”, de Benê Alves.
Após a estreia em disco em março de 1991, participou do
show promovido pela Band no Ginásio do Ibirapuera em maio
daquele ano, ocasião que celebrava o aniversário da
emissora. “Andanças”, de Paulinho Tapajós,
foi a música escolhida para compor o repertório da
cantora. Depois da apresentação, o público foi ao
delírio.
A boa receptividade do show resultou em uma decisão: a de seguir
carreira solo. Em 1992, além de participar da coletânea Band Brasil 4
com a canção “Tudo Por Uma Criança”,
outra de Benê Alves, Bernadete também gravou seu primeiro
disco, o LP Jogo da Vida,
pelo selo Five Star – Chic Show, com composições de
Marinheiro e Silva, Dhema e Itamaraká, Cleber Augusto (do Grupo
Fundo de Quintal), Enzo Bertoline, Laércio da Costa, Boca
Nervosa e Zeca Sereno.
Bernadete vivia o melhor momento de sua carreira. Apesar dos discos
gravados e figurar como intérprete oficial da Peruche até
1993, a cantora terminou o ano afastada de sua escola do
coração. Para o carnaval de 1994, a direção
da agremiação decidiu que o enredo “O Reino de
Oyó Visto pelos Olhos de Xangô”, de temática
afro e falando sobre os orixás, precisava de uma voz forte e
contratou o intérprete mangueirense Jamelão. Com isso, a
cantora saiu da Peruche. Mas logo em seguida, foi convidada para puxar
a Barroca Zona Sul, que naquele ano subira para o grupo especial. A
artista ficou na “faculdade do samba” até o carnaval
de 1997. Em seguida, recebeu convite para ser intérprete oficial
da recém-fundada Império de Casa Verde, ficando no
comando do microfone do Tigre por quatro carnavais.
Fora da passarela do samba, realizou diversos shows e recebeu
inúmeros convites para participar de várias
coletâneas e gravações ao lado de grandes cantores
da música popular brasileira. Devido ao seu comprometimento com
o samba, a intérprete recebeu convite para retornar à
Peruche, em 2005.
Em 2008, Bernadete se tornou a primeira mulher a assumir o cargo de diretora da ala de compositores da agremiação.
No ano de 2019, Bernadete gravou e lançou O Samba é a
Minha Verdade, seu segundo álbum solo. O repertório do
disco inclui apenas compositores periféricos da cidade de
São Paulo. No mesmo ano, recebeu a homenagem do escritor Yuri
Dinalli, através do livro Bernadete – Tulipa Negra do Samba, publicado pela Editora Kazuá, contando a biografia desta dama do samba e figura icônica dos carnavais.
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INÍCIO: Império Lapeano em 1974
De 1975 a 1990 – Império Lapeano (intérprete oficial)
1991 – Unidos do Peruche (intérprete oficial na avenida, mas nesse ano não gravou o samba no disco)
1992 e 1993 – Unidos do Peruche (intérprete oficial)
1994 a 1997 – Barroca Zona Sul (intérprete oficial)
1996 a 1999 – Império de Casa Verde (junto com Anderson)
2007 – Peruche (apoio de Leandro Alegria, Anderson de Deus)
2010 – Peruche (junto com Toninho Penteado e Rubinho)
2011 – Peruche (junto com Toninho Penteado e Tinga)
2022 - Peruche (gravou o alusivo no CD)
GRITO DE
GUERRA: Não tem. Nas escolas por onde passou o grito de guerra era dado por um dos cantores de apoio.
GRITOS DE
EMPOLGAÇÃO: Prefere interpretar corretamente o samba, sem cacos. De vez em quando faz a chamada com a primeira palavra dos versos do samba.
DISCOGRAFIA DE CARNAVAL:
LP Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo Especial São Paulo Carnaval de 1993 (faixa Unidos do Peruche)
LP Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo Especial São Paulo Carnaval de 1994 (faixa Barroca Zona Sul)
LP/CD Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo 1 São Paulo Carnaval de 1995 (faixa Barroca Zona Sul)
CD Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo 1 São Paulo Carnaval de 1996 (faixa Barroca Zona Sul)
CD Sambas Enredo das Escolas de Samba do Grupo 1 São Paulo Carnaval de 1997 (faixa Barroca Zona Sul)
DISCOGRAFIA DE CARREIRA:
LP Band Brasil 3 – Coletânea (RGE, 1991)
LP Band Brasil 4 – Coletânea (RGE, 1992)
Jogo da Vida (Five Star Record, 1992)
O Samba é Minha Verdade (Independente, 2019)
LIVRO:
“Bernadete — A Tulipa Negra do Samba” (2019), de Yuri De Lucca Dinalli, Editora Kazuá.
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MAIS FOTOS DE BERNADETE
Estreia da cantora na avenida, conduzindo a Peruche no ano da inauguração do sambódromo do Anhembi, em 1991
Ensaio na quadra da Peruche em 1992
Bernadete em entrevista em 1992
Eliana de Lima (esq) e Bernadete, referências de vozes femininas no carnaval de São Paulo nos anos 90
Capa do 1º disco, "Jogo da Vida", gravado em 1992, após o sucesso das apresentações no Anhembi
Soltando a voz no desfile da Peruche em 1992
Em 1994, Bernadete assumiu o carro de som da Barroca Zona Sul
De
volta ao Peruche, Bernadete se tornou diretora da ala de compositores
da escola. Na foto, a cantora está no apoio de Leandro Alegria,
no desfile de 2009
Apesar da imagem pouco nítida, cena da vinheta Globeleza com a letra do samba da Barroca de 1994
Eliana de Lima e Bernadete, duas damas do samba consagradas na Peruche, em entrevista em 2017
A Tulipa do Samba
Fora
da passarela do samba, faz shows e recebe inúmeros convites para
participar de coletâneas e gravações ao lado de
grandes cantores da música popular brasileira
Trajetória da cantora rendeu um livro-biografia
Encarte do seu segundo álbum solo, "O Samba é Minha Verdade"
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